A tradição acima da democracia

18-01-2016
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Os deputados do PS tinham o dever de votar no candidato do PSD e não, como fizeram, no candidato do seu próprio partido. Estranho, não é? Como mostrei, não há uma tradição que exija que o Presidente da Assembleia da República seja do partido com mais deputados. Mas mesmo que fosse uma tradição, seria errada. Seria simular uma eleição para fazer uma nomeação. O que a direita exige é que, perante a novidade de PCP e BE terem decidido passar a participar no jogo do poder, devemos ignorar a verdade dos votos e a ela sobrepor a “tradição”. É ilegítimo que os representantes de um milhão de portugueses participem em soluções de poder. Há uma minoria de deputados que considera um golpe de Estado haver partidos que a eles se opõem e não lhes oferecem a maioria que não tiveram nas urnas. É até inaceitável que deputados votem, para presidir ao Parlamento, no candidato do seu partido. E a todo este absurdo, incompreensível na generalidade das democracias parlamentares, chamam de tradição

Assistir à eleição de Eduardo Ferro Rodrigues como Presidente da Assembleia da República foi muito pedagógico. Pedagógico sobre o olhar que, durante décadas, a classe política teve sobre a democracia portuguesa e as suas regras; pedagógico sobre mais de 40 anos de uma lógica de bloco central rotativo; pedagógico sobre a forma como a direita está a reagir a tudo o que tem acontecido nas últimas semanas e as razões mais imediatas dessa reação.

Quando Ferro Rodrigues foi eleito, o deputado Nuno Magalhães, do CDS, reagiu com violência. Considerou essa eleição um insulto ao Parlamento. Quase uma declaração de guerra. A mesmíssima reação teve o candidato derrotado, Fernando Negrão. A eleição deveria ser sua. Absurda situação: alguém a queixar-se por não ter sido eleito e a reconhecer, no entanto, a legitimidade e legalidade da eleição do seu concorrente. O que o PSD e o CDS, em minoria no Parlamento, disseram foi isto: os deputados do PS tinham o dever de votar no candidato do PSD e não, como fizeram, no candidato do seu próprio partido. Estranho, não é?

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Os deputados do PS tinham o dever de votar no candidato do PSD e não, como fizeram, no candidato do seu próprio partido. Estranho, não é? Como mostrei, não há uma tradição que exija que o Presidente da Assembleia da República seja do partido com mais deputados. Mas mesmo que fosse uma tradição, seria errada. Seria simular uma eleição para fazer uma nomeação. O que a direita exige é que, perante a novidade de PCP e BE terem decidido passar a participar no jogo do poder, devemos ignorar a verdade dos votos e a ela sobrepor a “tradição”. É ilegítimo que os representantes de um milhão de portugueses participem em soluções de poder. Há uma minoria de deputados que considera um golpe de Estado haver partidos que a eles se opõem e não lhes oferecem a maioria que não tiveram nas urnas. É até inaceitável que deputados votem, para presidir ao Parlamento, no candidato do seu partido. E a todo este absurdo, incompreensível na generalidade das democracias parlamentares, chamam de tradição

Assistir à eleição de Eduardo Ferro Rodrigues como Presidente da Assembleia da República foi muito pedagógico. Pedagógico sobre o olhar que, durante décadas, a classe política teve sobre a democracia portuguesa e as suas regras; pedagógico sobre mais de 40 anos de uma lógica de bloco central rotativo; pedagógico sobre a forma como a direita está a reagir a tudo o que tem acontecido nas últimas semanas e as razões mais imediatas dessa reação.

Quando Ferro Rodrigues foi eleito, o deputado Nuno Magalhães, do CDS, reagiu com violência. Considerou essa eleição um insulto ao Parlamento. Quase uma declaração de guerra. A mesmíssima reação teve o candidato derrotado, Fernando Negrão. A eleição deveria ser sua. Absurda situação: alguém a queixar-se por não ter sido eleito e a reconhecer, no entanto, a legitimidade e legalidade da eleição do seu concorrente. O que o PSD e o CDS, em minoria no Parlamento, disseram foi isto: os deputados do PS tinham o dever de votar no candidato do PSD e não, como fizeram, no candidato do seu próprio partido. Estranho, não é?

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