Há dois Passos: o primeiro-ministro liberal e o líder da oposição social-democrata
PERSONALIDADE
Antes
Quem se cruzou com Passos Coelho no governo tem uma palavra para definir a sua forma de estar: teimosia. Como primeiro-ministro, Passos Coelho mostrou-se muitas vezes inflexível e tomou decisões sozinho. Em resultado disso, acabou muito mais isolado, em São Bento, do que começou. Mas a opinião de alguns dos seus fiéis é que ele mostrou ser o político português que melhor faz a leitura da realidade. “Vê a prazo melhor do que toda a gente”, diz um deputado do PSD à VISÃO.
Depois
Como explicava recentemente António Leitão Amaro, vice-presidente da bancada do PSD, à VISÃO, Passos está num registo de transição. “Não pode é virar a pele ao contrário e tornar-se um demagogo”. Neste novo momento político, volta a apresentar-se como líder da oposição responsável que não criará crises políticas desnecessárias. Mas já avisou o Governo: “O PS não tem nenhuma legitimidade para nos pedir seja o que for. No dia em que o PS tiver de depender dos votos do PSD ou CDS para aprovar alguma matéria importante, o que espero é que António Costa peça desculpa ao País e se demita”, disse Passos à RTP1.
ESTRATÉGIA POLÍTICA
Antes
Nos seus primeiros meses de liderança, em 2010, Passos Coelho deu uma mão ao governo de José Sócrates viabilizando vários pacotes de austeridade, os chamados PEC, a bem da estabilidade. Até que um dia, percebendo que podia ganhar as eleições, a direita chumbou o PEC IV no Parlamento, precipitando a demissão de Sócrates. “Tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento”, justificou, então, o social-democrata. Uma vez no governo, austeridade foi a palavra de ordem.
Depois
No lançamento da sua candidatura, no dia 4, Passos Coelho assumiu que não prevê que haja “necessidade de o País voltar a passar pelo que passou”. Mas também não concorda com o programa deste Governo. Por isso, fará uma “oposição construtiva” e guiará o País em direção à prosperidade e à justiça social, com moderação. Mas Passos insistirá, sobretudo, no facto de o projeto com que se apresentou aos portugueses ter ficado a meio. Com o exemplo de 2011 fresco na memória, é caso para perguntar o que fará diferente se for reeleito primeiro-ministro.
IDEOLOGIA
Antes
Em 2008, quando disputava a liderança do PSD com Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho escolheu dizer, na sua sede de candidatura: “Sou um reformista e sou um liberal, não sou de direita nem sou de esquerda, acredito nas pessoas e na sua iniciativa e acredito que são as empresas que criam riqueza, que criam emprego e que criam valor, não é o Estado que cria riqueza e que cria valor”. Na altura, o candidato que acabaria derrotado também criticava o “peso excessivo do Estado na economia”. Estava longe de se definir como social-democrata.
Depois
Hoje, a conversa é bem diferente. Percebendo que as circunstâncias políticas impõem uma evolução, o ex- -governante prefere dizer: “Não me vou reinventar, a situação do País é que mudou” (Expresso). “Mesmo nas medidas de austeridade que adotámos fomos sempre sociais- -democratas”. Na tentativa de chegar-se ao centro, Passos afasta-se do candidato liberal de 2008. “Será que o eleitorado natural se convence de que ele é, afinal outro? De que só fez aquilo que fez por causa da troika?”, questiona-se o analista Pedro Marques Lopes.
EQUIPA
Antes
Durante os quatro anos no governo, Passos foi um líder distante do PSD. Ia a algumas ações do partido, mas era sobretudo em ocasiões eleitorais. Delegou em Jorge Moreira da Silva (primeiro) e Marco António Costa (depois) e deixou-os gerir o partido com autonomia. Eram eles, e não o primeiro-ministro, quem contactava com as bases. José Matos Rosa, secretário-geral, tinha também um papel central na coordenação. Os seus “homens” de confiança incluíam ainda José Matos Correia, Carlos Carreiras, Teresa Leal Coelho e Luís Montenegro. Manuel Rodrigues e Nilza de Sena foram dois outsiders que convidou para o seu núcleo duro político, em 2010.
Depois
Passos Coelho estará de volta ao partido nos próximos tempos. O roadshow que o levará a todos os distritos começou a 5 de fevereiro. Com Passos no centro, os homens fortes da S. Caetano à Lapa perderão alguma influência. O líder está agora a formar uma nova equipa que deverá separar melhor o Parlamento do partido, para poder atacar em duas frentes. Fala-se num núcleo duro renovado que misture velhos indefectíveis (como Carlos Carreiras ou Jorge Moreira da Silva) com novos talentos (como Miguel Morgado ou António Leitão Amaro).
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Há dois Passos: o primeiro-ministro liberal e o líder da oposição social-democrata
PERSONALIDADE
Antes
Quem se cruzou com Passos Coelho no governo tem uma palavra para definir a sua forma de estar: teimosia. Como primeiro-ministro, Passos Coelho mostrou-se muitas vezes inflexível e tomou decisões sozinho. Em resultado disso, acabou muito mais isolado, em São Bento, do que começou. Mas a opinião de alguns dos seus fiéis é que ele mostrou ser o político português que melhor faz a leitura da realidade. “Vê a prazo melhor do que toda a gente”, diz um deputado do PSD à VISÃO.
Depois
Como explicava recentemente António Leitão Amaro, vice-presidente da bancada do PSD, à VISÃO, Passos está num registo de transição. “Não pode é virar a pele ao contrário e tornar-se um demagogo”. Neste novo momento político, volta a apresentar-se como líder da oposição responsável que não criará crises políticas desnecessárias. Mas já avisou o Governo: “O PS não tem nenhuma legitimidade para nos pedir seja o que for. No dia em que o PS tiver de depender dos votos do PSD ou CDS para aprovar alguma matéria importante, o que espero é que António Costa peça desculpa ao País e se demita”, disse Passos à RTP1.
ESTRATÉGIA POLÍTICA
Antes
Nos seus primeiros meses de liderança, em 2010, Passos Coelho deu uma mão ao governo de José Sócrates viabilizando vários pacotes de austeridade, os chamados PEC, a bem da estabilidade. Até que um dia, percebendo que podia ganhar as eleições, a direita chumbou o PEC IV no Parlamento, precipitando a demissão de Sócrates. “Tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento”, justificou, então, o social-democrata. Uma vez no governo, austeridade foi a palavra de ordem.
Depois
No lançamento da sua candidatura, no dia 4, Passos Coelho assumiu que não prevê que haja “necessidade de o País voltar a passar pelo que passou”. Mas também não concorda com o programa deste Governo. Por isso, fará uma “oposição construtiva” e guiará o País em direção à prosperidade e à justiça social, com moderação. Mas Passos insistirá, sobretudo, no facto de o projeto com que se apresentou aos portugueses ter ficado a meio. Com o exemplo de 2011 fresco na memória, é caso para perguntar o que fará diferente se for reeleito primeiro-ministro.
IDEOLOGIA
Antes
Em 2008, quando disputava a liderança do PSD com Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho escolheu dizer, na sua sede de candidatura: “Sou um reformista e sou um liberal, não sou de direita nem sou de esquerda, acredito nas pessoas e na sua iniciativa e acredito que são as empresas que criam riqueza, que criam emprego e que criam valor, não é o Estado que cria riqueza e que cria valor”. Na altura, o candidato que acabaria derrotado também criticava o “peso excessivo do Estado na economia”. Estava longe de se definir como social-democrata.
Depois
Hoje, a conversa é bem diferente. Percebendo que as circunstâncias políticas impõem uma evolução, o ex- -governante prefere dizer: “Não me vou reinventar, a situação do País é que mudou” (Expresso). “Mesmo nas medidas de austeridade que adotámos fomos sempre sociais- -democratas”. Na tentativa de chegar-se ao centro, Passos afasta-se do candidato liberal de 2008. “Será que o eleitorado natural se convence de que ele é, afinal outro? De que só fez aquilo que fez por causa da troika?”, questiona-se o analista Pedro Marques Lopes.
EQUIPA
Antes
Durante os quatro anos no governo, Passos foi um líder distante do PSD. Ia a algumas ações do partido, mas era sobretudo em ocasiões eleitorais. Delegou em Jorge Moreira da Silva (primeiro) e Marco António Costa (depois) e deixou-os gerir o partido com autonomia. Eram eles, e não o primeiro-ministro, quem contactava com as bases. José Matos Rosa, secretário-geral, tinha também um papel central na coordenação. Os seus “homens” de confiança incluíam ainda José Matos Correia, Carlos Carreiras, Teresa Leal Coelho e Luís Montenegro. Manuel Rodrigues e Nilza de Sena foram dois outsiders que convidou para o seu núcleo duro político, em 2010.
Depois
Passos Coelho estará de volta ao partido nos próximos tempos. O roadshow que o levará a todos os distritos começou a 5 de fevereiro. Com Passos no centro, os homens fortes da S. Caetano à Lapa perderão alguma influência. O líder está agora a formar uma nova equipa que deverá separar melhor o Parlamento do partido, para poder atacar em duas frentes. Fala-se num núcleo duro renovado que misture velhos indefectíveis (como Carlos Carreiras ou Jorge Moreira da Silva) com novos talentos (como Miguel Morgado ou António Leitão Amaro).