Glorioso Jornal

11-07-2018
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sexta-feira, abril 30, 2004

Camacho é quem decide

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, abordou ontem os temas que dominam a actualidade encarnada e não fez uso de um discurso politicamente correcto quando se pronunciou a respeito da renovação de Camacho e da relação do emblema com o representante do técnico, Pedro de Felipe.

Renovação do treinador

«Camacho faz parte do projecto. Não vou ser hipócrita e, como já disse anteriormente, é o meu treinador. Não tem sequer de haver convite, tem é de haver vontade de ambas as partes. Camacho é quem decide e o Benfica está onde está hoje e preencheu algumas lacunas graças justamente ao papel do treinador. Ocaso do Mantorras é um bom exemplo. Sabe o que queremos e nós aquilo que ele quer. Há quem diga que fala muito, mas é normal e estamos em democracia »

Críticas dirigidas a Pedro de Felipe

«Não negoceio com empresários. O senhor De Felipe tem de calar-se e não falar mais sobre a instituição Sport Lisboa e Benfica. Só negociamos com o senhor Camacho. As coisas foram como foram o ano passado graças ao senhor de Felipe. Ele devia ter mais respeito pelo Benfica. Depois do que disse hoje [ontem] não voltaremos a falar com ele»

Entrave para o entendimento?

«Camacho é intransigente como eu e não é o senhor De Felipe quem toma decisões. Não acredito que o senhor De Felipe fale em nome de Camacho, porque se assim for é muito grave e é um sinal de que o senhor Camacho não quer ficar no Benfica. Mas Camacho é o meu treinador»

Entrada de José Veiga

«Faz parte do nosso projecto. Mas eu sozinho não decido nada. A temporada ainda não acabou, pois não? Propus esta solução à Direcção e foi aceite por unanimidade »

Há interesse em Rossato?

«Temos de respeitar os nossos profissionais. Mas é óbvio que vamos fazer alguns reajustamentos para a próxima temporada»

Contratação de Alcides

«Nada confirmamos a respeito de jogadores. Mas Mantorras também estava dado como praticamente acabado para o futebol, não estava?»

«Fair-play» para o «derby»

«É um jogo muito importante para as duas equipas. Queremos obviamente ganhar e como presidente do Benfica acredito que o Benfica vai vencer. Tal como o doutor Dias da Cunha pensa o mesmo em relação ao Sporting. Espero que as claques se comportem à altura do espectáculo. Seguramente que no final do jogo, e independentemente do resultado, vou dar um abraço a Dias da Cunha. Vou a Alvalade mas vou ficar num sítio fechado, sem televisão, e vou fazer o mesmo que fiz no jogo com o Inter de Milão. Só ligarei o telemóvel no final. Infelizmente recebi a notícia de que a equipa tinha perdido. É bom que as famílias possam vir ao futebol, porque já existe conforto. Que o futebol seja sempre uma festa. Os dirigentes devem ter uma atitude positiva e não criar guerras e guerrilhas antes do jogo. Que ganhe o melhor e que no futuro o ambiente no futebol seja sempre como este»

Liga dos Campeões é decisiva?

«Para quem chegou ao Benfica, como eu cheguei, e viu como estavam as coisas e tendo em conta aquilo que estamos a construir não é um resultado que vai liquidar o projecto que temos delineado »

Futuro da equipa é promissor

«Neste momento as coisas estão bem encaminhadas, já temos cinco ou seis jogadores na Selecção Nacional, e se calhar para o ano teremos oito ou nove»

Não posso entrar em desespero!

Depois da tesoura voadora que sofreu de um jogador do Botafogo, no jogo do passado domingo, o joelho direito de Alcides ficou solto na perna, era possível mexê-lo da direita para a esquerda, sem resistência. O defesa-central percebeu imediatamente que era uma lesão grave e teve medo. Está a começar a carreira, assinou pelo Benfica e era fácil desesperar, mas

Alcides enfrenta com coragem a operação e uma paragem de seis a oito meses. «Vou voltar a jogar mais depressa do que possam imaginar», prometeu a «A BOLA». Alcides é uma das grandes promessas do futebol brasileiro e a lesão, ao serviço do Santos, deixou chocados os adeptos da equipa treinada por Emerson Leão. Principalmente pela brutalidade da falta de Têti, jogador do Botafogo que colocou em risco a carreira do defesa-central, que recentemente assinou um pré-acordo com o Benfica. «A BOLA» esteve com Alcides no complexo de treinos do Santos e ele contou-nos como tudo se passou no relvado, no balneário e nas dolorosas horas que se seguiram, até à confirmação de que é preciso recorrer a uma intervenção cirúrgica.

— Como está a reagir a este grave problema?

— No fundo estou muito triste, é claro. Mas não posso ficar abatido. Quando senti a dor, no choque, percebi que se tratava de uma lesão grave. Quando o doutor me examinou, no balneário, o joelho saía de um lado para o outro, como se estivesse solto. Percebi que tinha rompido os ligamentos. O doutor ainda me quis animar e disse que talvez não fosse preciso operar, para eu ficar tranquilo... Mas sabia que isso poderia vir a acontecer.

— Mas como aconteceu a lesão?

— Num choque com Têti, num contra-ataque do Botafogo. Junto à linha lateral desarmei o Têti e sentei-o, mas quando me virei para fazer um passe ele fez-me uma tesoura voadora ao joelho direito. Acho que na hora ele não teve boa intenção, mas nem quero entrar por aí. Senti muita dor. A minha mãe e a minha família ficaram muito preocupados e recebi muitos telefonemas de apoio. Tenho recebido muito estímulo.

— O que lhe passou pela cabeça nestes últimos dias?

— Tudo. Afinal, estou apenas a começar a minha carreira. Tantos sonhos que eu tenho e quando me aparece uma grande oportunidade para voltar a jogar na Europa e logo num clube como o Benfica... acontece isto. É para entrar em desespero, mas não posso! Estou muito confiante e acredito que vou voltar a jogar mais rápido do que as pessoas possam imaginar. Vou ultrapassar tudo isto e por isso não tenho medo de ser operado.

— Prefere ser operado em Portugal ou no Brasil?

— O meu empresário falou-me na possibilidade de ser operado em Portugal e não tenho qualquer problema se o Benfica quiser isso. É claro que preferia ficar no Brasil, onde tenho o apoio da minha família e estou em casa, mas se tiver de viajar tudo bem. Estou entregue a Deus e aos homens de boa vontade.

— Teme a recuperação?

— Não. Acho que acabei por ter sorte porque nem sequer me atingiu o menisco. Conheço alguns casos como o meu e sei que a recuperação é lenta mas certa, sem riscos. Daí a minha confiança.

Paragem de seis a oito meses

Alcides está a ser acompanhado pelo doutor Carlos Braga, médico do Santos e conceituado cirurgião. O clínico brasileiro admite a gravidade do problema mas não encontra razão para dramas: «Gravidade há, mas não existe nada que não se possa resolver. Ele teve uma lesão do ligamento cruzado anterior e do colateral medial, que romperam, mas não totalmente. Depois de ser examinado numa clínica em São Paulo, pelo doutor Camacho Silveira, ficou provado que é preciso operar. Vai ficar parado entre seis e oito meses, mas estou certo de que em breve voltará a jogar. Estes casos são normais no futebol e em nenhum dos que já existiram os jogadores ficaram inutilizados para o futebol. O próprio Rivaldo teve problemas de ligamentos quando esteve no Barcelona, foi operado no Brasil e não teve mais problemas», contou Carlos Braga, que afirma não colocar qualquer objecção a que Alcides seja operado na Europa: «O Santos daria todo o apoio mas se o Benfica entender que quer operar o jogador na Europa não coloco qualquer problema. Pelo contrário, estou pronto para ajudar no que for preciso, até para falar com o jogador para que ele não fique psicologicamente afectado.» Carlos Braga assegura que Alcides será operado em São Paulo, caso jogador, empresário e Benfica decidam realizar a intervenção cirúrgica no Brasil.

Sporting em vídeo

O plantel do Benfica viu ontem um vídeo do jogo da primeira voltado campeonato frente ao Sporting. Um encontro de má memória para os benfiquistas, que perderam por 1-3, na Luz. O treino começou mais tarde por causa desta sessão, durante a qual Camacho deverá ter alertado os jogadores para erros que não podem voltar a cometer.

O treino de ontem, no Estádio da Luz, estava marcado para as 17 horas, mas começou 25 minutos mais tarde. Os jogadores não subiram ao relvado à hora prevista porque primeiro estiveram a assistir a um vídeo muito especial: o encontro entre o Benfica e o Sporting, na primeira volta do campeonato. A equipa encarnada perdeu esse jogo por 1-3 e Luisão marcou o chamado golo de honra para a equipa da casa, enquanto que pelo Sporting marcaram Silva, Rochemback e Sá Pinto (os últimos dois na conversão de grandes penalidades). Como habitualmente nos jogos deste nível, a arbitragem foi polémica e a temperatura esteve alta. O Benfica ainda sentiu os efeitos da derrota na jornada seguinte, pois empatou a três golos com o União de Leiria. Nesse primeiro encontro, Camacho utilizou a seguinte equipa titular e estratégia: Moreira na baliza, Miguel na direita, Luisão e Hélder como centrais e Ricardo Rocha na esquerda; Fernando Aguiar e Tiago no centro (Petit vinha de lesão e apenas entrou aos 46 minutos), Zahovic no meio, atrás de uma linha formada por Simão à esquerda, Sokota mais na direita e Nuno Gomes como ponta-de-lança. Uma linha que dificilmente voltará a ser recuperada na íntegra, pois Petit está em boa forma e Fyssas será o lateral-esquerdo, numa dupla de centrais que, à partida, será formada por Luisão e Ricardo Rocha.

Erros a não cometer

Começou assim, em força e com concentração na análise de um vídeo, o arranque da preparação para o jogo de domingo, visto que apenas ontem os jogadores internacionais regressaram ao grupo. José Antonio Camacho terá aproveitado as imagens do desafio da primeira volta para conversar com os seus jogadores sobre erros que não podem voltar a cometer. Um ponto de partida para a estratégia a utilizar no empolgante derby, que pode decidir a conquista do segundo lugar e uma presença na Liga dos Campeões. Importa esclarecer que o técnico espanhol tem por hábito analisar vídeos de jogos dos adversários na companhia do plantel. Uma prática que assume especial relevância nesta jornada, para a qual todos os pormenores contam.

Camacho 4x4x2 4x3x3

O Benfica continua a preparar com todos os cuidados a deslocação ao Alvalade XXI, onde jogará boa parte da sua candidatura à participação na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões de 2004/05. Já com todos os internacionais integrados nos trabalhos, Camacho tem 48 horas para se decidir pelo modelo táctico a apresentar no derby. As vantagens, desvantagens e background, já a seguir...

O treino de ontem do Benfica começou com quase meia hora de atraso sobre o horário previsto. O relógio já batia nas 17.25 horas quando os craques encarnados pisaram o relvado da Luz, abafando, com a tagarelice própria dos jovens, amplificada pelo eco da cobertura da Nova Catedral, o ruído dos automóveis que, na hora de ponta da Segunda Circular, se dedicavam à rotina do pára-arranca. José António Camacho aproveitou o fim do ciclo das selecções para, já com o quórum completo, proceder a uma sessão de vídeo que serviu para identificar as forças e fraquezas do Sporting. Só depois começou a sessão de treino, que acabou por fornecer algumas pistas importantes quanto à natureza do onze benfiquista no Alvalade XXI. Em primeiro lugar, Armando, que deverá primar pela ausência no derby, a contas com uma tendinite. Assim sendo, confirmando-se aquilo que ontem era dado como certo, Miguel regressará a defesa-direito, aliás uma posição a que se adaptou na perfeição e lhe vale, actualmente, um bilhete para o Euro-2004. No que mais respeita ao último reduto encarnado, não subsistem dúvidas: Moreira, na baliza, Luisão e Ricardo Rocha à sua frente (e ontem, estes três jogadores reforçaram a equipa de juniores no treino de conjunto) e Fyssas, ainda amassado pelos 4-0 com que a Holanda brindou a sua Grécia, na esquerda. No meio-campo, Petit e Tiago estão certos, enquanto Manuel Fernandes foi dado como apto para o derby, embora não caiba no onze titular. Igualmente certos na equipa de Camacho estarão Sokota,Nuno Gomes e Simão. Encontrado o «dez», qual será o «onze»? Se o técnico espanhol optar por Zahovic (ver caixa), o desenho será de 4x3x3, com menor amplitude de ala a ala, compensada por uma densidade superior no centro do terreno, à imagem do que aconteceu sempre que o Benfica, esta época, defrontrou o FC Porto e o Sporting. Se for João Pereira (ou Geovanni) a integrar a equipa inicial, haverá um Benfica mais próximo do habitual, rápido, alegre e perigoso a atacar, mas a pedir muito ao duplo pivot (Tiago e Petit) na hora de encontrar equilíbrios defensivos. No treino de ontem, onde Mantorras, ainda aqui e ali defender o joelho, gingando um pouco, pareceu «para as curvas», apenas Tiago e Nuno Gomes esticaram as pernas no «conjunto». Hoje, por certo, o trabalho de Camacho vai ter a ver com as afinações finais para o derby da Liga dos Campeões.

Dia decisivo para Armando

ARMANDO é a única dúvida, de foro clínico, no plantel encarnado. A sua provável ausência obrigaria, automaticamente, o treinador a alterar o sistema táctico utilizado nos últimos dois jogos, mas se vai mesmo ficar de fora...

A lesão de Armando poderá estar a condicionar a estratégia de José Antonio Camacho para o jogo com o Sporting. Sem poder gabar-se de integrar o lote dos titulares absolutos, a verdade é que o jogador já participou em 17 jogos da Superliga, nesta época, sem contar outras competições, como a Taça UEFA. O lateral-direito encarnado tem sido utilizado quase sempre no corredor esquerdo, mas José Antonio Camacho surpreendeu tudo e todos, ao conceder-lhe a titularidade na posição de origem, nos últimos dois jogos, avançando o intocável Miguel para médio-ala direito. Com este sistema, o Benfica conquistou seis pontos e Armando esteve sempre em plano de destaque, sendo legítimo inclui-lo no lote dos potenciais titulares no derby, caso recupere. Nesta altura, só Camacho saberá se conta com Armando ou se Miguel voltará a recuar no terreno, mas a confirmar-se a indisponibilidade do primeiro, por razões físicas, será mesmo a segunda hipótese a prevalecer. Ontem, Armando fez corrida, acompanhado de Manuel Fernandes, e voltou a sentir dores, mas só mediante o que acontecer esta manhã, em Odivelas, se poderá dar por definitiva a sua ausência na lista dos convocados. Habitualmente, José Antonio Camacho não gosta que jogadores ausentes dos treinos da semana sejam titulares, mas Armando tem ainda duas sessões para provar que está em perfeitas condições físicas. Se for aprovado pelo técnico, pode ser que dê... Em situação mais confortável surge Manuel Fernandes, que ainda não completou um único treino esta semana. O benjamim da equipa está francamente melhor e é praticamente certa a sua presença na sessão de hoje. Não obstante, as presenças de Petit e Tiago impedirão a sua estreia titular no derby.

quinta-feira, abril 29, 2004

Todos juntos

AGORA sim, é a sério! Ultrapassada a jornada europeia das selecções, que afinam estratégias para o Euro-2004, José Antonio Camacho terá a partir de hoje à disposição todos os artistas para preparar com afinco o jogo do fim-de-semana, com o Sporting, o tal que pode ser decisivo para aferir qual das equipas da Segunda Circular segue à conquista da qualificação para a Liga dos Campeões. Ao todo foram oito os jogadores com que o treinador espanhol se viu privado por estarem ao serviço das respectivas selecções: cinco na Selecção portuguesa, que ontem defrontou a Suécia, em Coimbra — Miguel, Tiago, Petit e Simão jogaram de início, Nuno Gomes entrou na segunda parte—, e ainda Sokota, que defrontou durante 78 minutos a Macedónia, Fyssas, titular frente à Holanda, e Zahovic, autor de golo à Suíça. Camacho irá, certamente, recebê-los de braços abertos, tendo agendado uma única sessão de treino para hoje, às 17 horas no Estádio da Luz. Treino vespertino precisamente para dar tempo aos atletas que viajam do estrangeiro de integrarem os preparativos para o derby eterno. Ainda assim, não é de descurar que, face à sobrecarga de jogos, o treinador conceda treino diferenciado poupando os internacionais de maiores sobrecargas físicas. Salvo algum contratempo de última hora, tudo indica que Camacho terá a equipa à sua disposição na máxima força, uma vez que nenhum dos jogadores que estiveram ao serviço das selecções se magoou com gravidade, e por outro lado Manuel Fernandes e Armando, que ontem cumpriram trabalho de ginásio, deverão igualmente estar operacionais para dar o respectivo contributo. Agora sim, estão todos juntos!

DÚVIDAS

NÃO se esperam grandes surpresas na equipa titular que José Antonio Camacho vai apresentar para o jogo com o Sporting, no domingo. Mas permanecem algumas dúvidas, poucas, mas que mexem com a estratégia, com a atitude. Jogará Zahovic? Se sim, a opção dificultará a utilização de dois pontas-de-lança em simultâneo, esquema que o treinador espanhol escolheu nas últimas jornadas. E Miguel? Jogará como extremo ou como lateral? São estas as duas grandes incógnitas que interessa desvendar para se perceber que Benfica vamos ter no empolgante derby lisboeta, que para não variar se torna decisivo a duas jornadas do final do Campeonato. Camacho tem feito da coerência e da simplicidade um método de trabalho. Se assim for... o Sporting pode contar com um visitante de olhos postos no golo e nos tão ambicionados três pontos.

Será extremo ou lateral

Onde joga Miguel?

A escolha da posição que Miguel vai ocupar em campo é a outra dúvida para domingo, também esta reveladora da forma como a equipa pretende agarrar o encontro. Para desfazer esta questão é preciso, primeiro, saber se Armando recupera a tempo de uma lesão num tendão, que o impediu de treinar-se ontem. É que no caso de Miguel ser utilizado como extremo-direito, como aconteceu nos dois últimos jogos do Campeonato, será Armando quem vai ocupar o lugar de lateral. Com Miguel mais avançado o Benfica ganha explosão no flanco e não perde consistência defensiva, porque Miguel recua bem e rápido, ajudando a formar uma espécie de muralha a meio-campo. Se, pelo contrário, regressar ao lugar de defesa, está bloqueado o lado direito, mas perde mobilidade a equipa. Importante igualmente perceber que normalmente o Sporting não utiliza extremos e que, num esquema destes, as potencialidades de Miguel podem ficar amarradas se for encostado na defesa. Uma dúvida que pertence a Camacho mas, muito condicionada pela condição física de Armando.

Opção aos dois pontas-de-lança

Zahovic de início?

Com Zahovic na equipa o Benfica entrará em campo com uma atitude mais cautelosa. O esloveno, com a sua experiência e toque de bola, sabe gerir muito bem aqueles quinze minutos iniciais, muitas vezes determinantes para que os jogadores ganhem confiança para o resto do encontro. Mas será essa a intenção? Colocar Za na equipa titular implicará, quase de certeza, abdicar de um ponta-de-lança e, assim, desfazer a dupla formada por Nuno Gomes e Sokota. Estes dois jogadores dão profundidade ao ataque benfiquista e já provaram que, juntos, mesmo sozinhos, conseguem colocar em sentido uma defesa inteira. O Benfica joga em Alvalade a luta pela segunda posição no Campeonato e a participação nas competições europeias, pelo que parece mais lógico que Camacho tome a opção de manter o ataque e a atitude agressiva, na procura do golo, que Sokota e Nuno Gomes têm demonstrado. Por outro lado, Zahovic jogou ontem na Eslovénia, num encontro particular com a Suíça, e importa conhecer a condição física do estratega. Jogou bem marcou um golo, mas o desgaste do desafio e das viagens também pesa. Dvomiti ou podvomiti. É assim que se escreve duvidar em esloveno.

Camacho quer ficar

O nome de José Antonio Camacho voltou a figurar ontem na imprensa espanhola dado como possível substituto de Carlos Queirós no comando técnico do Real Madrid, algo que apesar de não representar novidade não deixa de ser mais um ponto a favor na cotação de credibilidade do treinador espanhol. Confrontado por A BOLA sobre esse cenário, o empresário de Camacho, Pedro de Felipe, negou qualquer contacto, limitando-se a afirmar aquilo que é óbvio: «Nestas alturas, pela ligação que o senhor Camacho tem ao Real Madrid, é natural que surjam essas notícias, mas ninguém falou comigo ou com Camacho sobre esse tema.» Insistindo no imperativo de «respeitar Carlos Queirós, que tem mais um ano de contrato» com os merengues, Pedro de Felipe reitera uma ideia formalizada há muito: «José Antonio Camacho gosta muito do Benfica, pretende ficar, mas a verdade é que também ainda não existiram contactos formais nesse sentido por parte do Benfica. Tudo vai depender do que o Benfica quer no futuro », salientou. O empresário revela ainda que só depois do final do campeonato terão lugar as conversações nesse sentido (à semelhança do que aconteceu no ano passado) e deixou uma garantia: se os encarnados vencerem a Taça de Portugal, o cartel de confiança dos adeptos junto do técnico será ainda maior. «Se assim o seu prestígio é grande, obviamente que será maior ainda se ganhar um título! Mas a sua continuidade não depende de títulos, seria mal se assim fosse. É que ele trabalha em desvantagem relativamente a outros colegas noutros clubes e se conseguir, pelo menos, o segundo lugar, será um verdadeiro êxito!» O que De Felipe gostaria de ver — e considerando que partilha o mesmo discurso de Camacho — era o total esclarecimento por parte de José Veiga a respeito de alguns comentários ouvidos em Espanha. «Aqui diz-se que Veiga terá dito que com ele na administração Camacho teria só de treinar. Ora, Camacho não pensa assim. Mas como isto são só rumores era bom que estas coisas fossem esclarecidas para não causar interpretações maldosas», finalizou.

Alcides operado

Afinal a lesão de Alcides é mais grave do que se pensava: o central vai ter de ser operado e pode vir a parar vários meses. Mesmo assim, o jogador espera que isto não impeça a transferência para a Luz.

Foi à meia noite de Lisboa que A BOLA teve conhecimento da evolução dos exames a que Alcides se submeteu durante o dia de ontem: afinal, Alcides rompeu os ligamentos anterior cruzado e lateral do joelho direito, sendo por isso necessária a intervenção cirúrgica. O lance, recorde-se, verificou-se no encontro que o central disputou ao serviço do Santos frente ao Botafogo, na segunda-feira. A notícia não deixa de causar alguma surpresa visto que os primeiros exames realizados ao jogador não denotaram mazela grave. Só que ontem Alcides deslocou-se a uma clínica do famoso especialista Camacho Silveira, em São Paulo, na companhia do médico do Santos, Carlos Braga. Durante uma hora, o internacional sub-20 brasileiro submeteu-se a intensas observações cujo diagnóstico foi aquele que as partes interessados menos queriam ouvir: a gravidade vai redundar num período extenso de paragem que pode ir até aos seis meses. Ao que tudo indica, Alcides será operado na próxima semana, restando agora saber se em território brasileiro ou... na Europa.

Foi uma fatalidade

Apesar do cenário ter ficado mais negro, Alcides mostra enorme serenidade. Foi pouco depois de o jogador saber o seu estado clínico que falou para A BOLA: «Espero antes de mais que isto não me impeça de ir para Portugal ou atrapalhar a minha carreira. Não quero perder esta oportunidade. Foi uma fatalidade, um mero acidente de percurso e espero que passe rápido.»

quarta-feira, abril 28, 2004

Alcides vem a Lisboa

O Benfica quer que Alcides se desloque a Lisboa para ser observado por um médico da confiança do clube, em princípio em Barcelona, por Ramon Cugat, especialista em lesões do joelho. A transferência para a Luz não está em risco. Esta é a garantia do seu empresário, que ontem falou com Filipe Vieira.

O central Alcides, recentemente contratado pelo Benfica, irá deslocar-se a Lisboa nas próximas semanas para ser observado por um especialista em lesões no joelho. Muito provavelmente por Ramon Cugat, médico catalão que acompanhou a recuperação de Mantorras. Esta é a resposta por parte do Benfica às dúvidas levantadas quanto à consumação da transferência. Dúvidas que surgiram na sequência da lesão, aparentemente grave, contraída no desafio deste fim-de-semana, em que o jogador do Santos deixou o relvado, durante o confronto com o Botafogo, com suspeita de rotura de ligamentos no joelho direito, falando-se na altura numa possível paragem de dois meses (no melhor dos cenários) ou de seis a oito, no caso de ter de ser operado.

Vieira falou com empresário

Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica e da SAD, inteirou-se, ontem, pessoalmente de todo o processo junto do empresário do central, Giuliano Bertolucci, e terá ficado mais tranquilo. «Alcides está melhor, sem dor, mais calmo depois do susto que apanhou. Pelas informações prestadas pelos clínicos do Santos, temos 90 por cento de garantias que não será necessário recorrer a intervenção cirúrgica, ou seja, a recuperação será bem mais rápida do que as primeiras previsões», anuiu. «Já passei toda a informação ao presidente do Benfica e ele disse-me que quer que o Alcides vá a Lisboa para ser visto por um médico da confiança deles, para o acompanhar desde já.Não há problema algum com a transferência», garantiu Bertolucci, não especificando, contudo, se o jovem campeão do Mundo Sub-20 recuperará depois na Luz ou se continuará a ser acompanhado no Santos, clube ao qual está ligado até ao fim de Junho. Passado o susto, tudo indica que o central estará apto no arranque da temporada 2004/05.

Ressonância não acusou rotura

Carlos Braga, médico ortopedista do Santos, afirma ser prematura qualquer previsão sobre o tempo de paragem de Alcides. Tudo depende da evolução do joelho direito do jogador nos próximos 15 dias, período em que será submetido a três sessões diárias de fisioterapia. «O choque com o adversário foi violento e ainda por cima estava a chover, o que aumentou o impacto da entrada a pés juntos. O joelho do Alcides ficou preso e sofreu uma torção violenta que afectou bastante os ligamentos. A ressonância magnética realizada não acusou rotura dos ligamentos, embora estes tenham sido afectados», começou por dizer o clínico ao nosso jornal. Em seguida, esclareceu: «Neste tipo de casos a extensão da lesão depende sempre da constituição e preparação física dos jogadores. Alcides já começou a fazer fisioterapia intensa e vai manter esse trabalho durante quinze dias. Será então feita outra ressonância magnética para ver em que estado se encontra a lesão e saber se é necessária ou não a intervenção cirúrgica. Para já é prematuro fazer qualquer previsão.» Se tiver de ser operado, Alcides ficará afastado dos relvados «entre seis e oito meses». Caso contrário, poderá começar a treinar com bola «dentro de oito semanas». Carlos Braga mostra-se esperançado na segunda hipótese.

MANTORRAS Regressou a magia

PEDRO MANTORRAS regressou ontem aos treinos com a equipa e surpreendeu todos os que estavam em Massamá com uma disponibilidade física surpreendente. Já não coxeia, perdeu o medo no confronto do um para um e voltou a maravilhar com algumas das suas habilidades técnicas. E, não menos importante, marcou dois bonitos golos. Com o pé direito. Tem ainda muito para trabalhar, é certo, mas deixou todos com água na boca.

Mantorras chegou anteontem a Lisboa muito optimista e com muita esperança na bagagem. Falou de milagre e que estava pronto para o que desse e viesse. Há que confessar, face ao historial clínico do jogador, que, provavelmente, a maioria apostou no ver para crer. Por isso, o regresso de Mantorras ao treino com a equipa, que ontem se realizou, de manhã, em Massamá, foi acompanhado com muita expectativa. Todos os olhos postos no angolano, nenhum pormenor escapou à lupa. E o que se pode dizer é que Mantorras não estava a fazer bluff. A sua magia começa agora a emergir no relvado.

Já não coxeia

Mantorras começou por fazer os habituais meiinhos com os colegas. Estava cheio de vontade de participar. Depois, fez corrida como os restantes. Bem, acabou por cumprir um programa um pouco diferente, já que alternava corrida com passo acelerado. Mais um ou outro exercício específico e estava pronto para integrar o treino de conjunto. José Antonio Camacho, o treinador, dividiu o plantel em duas equipas de nove jogadores cada. E logo nas suas primeiras movimentações foi possível tirar a primeira conclusão. Bem positiva, por sinal: Mantorras já não coxeia. Algo que era evidente nos treinos que fez antes do programa de recuperação realizado em Barcelona e que agora nem se nota. Mantorras teve papel activo no treino e logo se chegou a outra conclusão igualmente animadora: perdeu o medo dos lances de um para um e sempre que tinha bola atirava-se para cima dos adversários. Num dos primeiros lances, literalmente sentou Hélder no chão, com a sua tão característica finta de corpo.

Dois grandes golos!

Pouco depois das primeiras fintas, um dos momentos mais bonitos do treino quando, descaído sobre a esquerda, rematou forte com o pé direito, em arco, para o lado oposto da baliza. Um golo muito bonito que ainda o animou mais. Mantorras insiste. Dos seus pés uns pós de magia, aquele jeito de jogar desconcertante, aquela finta imprevisível. Veio depois o momento mais alto, quando com algumas movimentações de corpo e novo diálogo com a bola, deixou Argel desconcertado e marcou, de ângulo apertado, novo golo.

Tanto carinho

O treino terminou. Aqualidade permanece intacta, falta trabalho físico intenso. Volta a falar-se em milagre, mas ninguém esconde e emoção por ver renascer um talento puro. Mantorras foi muito acarinhado. Pelos colegas e pelo público, que gritou o seu nome. Ele está a voltar...

Vão ficar surpreendidos

O médico que tem acompanhado o processo de recuperação de Pedro Mantorras, o catalão Ramon Cugat, está contente com a forma como o avançado trabalhou nas últimas três semanas e com a resposta dada pelo joelho direito. «O Pedro está muito bem, com o joelho seco, sem derrame e com uma boa massa muscular. Está com uma grande potência e cumpriu todo o programa estabelecido. Vão ficar surpreendidos». A partir de agora Mantorras estará a trabalhar sob as ordens de Camacho «para dar início à terceira e última fase da recuperação, que é a reintegração no terreno de jogo», destacou, enunciando depois os passos seguidos pelo jogador: «Depois da operação seguiu-se a adaptação ao esforço e agora readaptação ao futebol. Estive a observar Mantorras no domingo e fiquei muito contente. Agora o timing para voltar a jogar dependerá da readaptação ao relvado, é importante ter em consideração aspectos como o esforço físico, a resistência pulmonar, o sistema cardio-respiratório... aqui subiu montanhas, respirou muito, trabalhou muito bem.» Em Terrassa, onde trabalhou nas últimas semanas, o preparador físico que o acompanha preocupou-se em recuperar também a massa muscular do angolano. Cugat diz que neste aspecto «ainda não está a 100 por cento, mas melhorou muito», revelando que Mantorras «sempre teve a massa muscular da perna esquerda superior à da direita ». Mais importante é que o avançado «já não coxeia ». Agora «tudo dependerá dele e de Camacho para voltar a jogar», concretizou.

Liga instaura processo disciplinar

DEPOIS das multas, a Liga decidiu instaurar um inquérito à SAD do Benfica, devido as ausências de Camacho nos flash-interview...

A Liga de clubes decidiu multar o Benfica em 2500 euros, devido ao lançamento de um petardo pelos seus adeptos, em Braga, e abrir, igualmente, um processo à SAD da Luz, motivado pelas ausências do técnico José Antonio Camacho nos flash-interview dos jogos com Sporting de Braga e Estrela da Amadora. Desde o clássico com o FC Porto, da 22.º jornada, que o treinador encarnado se tem recusado a comparecer nos flash-interview, na sequência de um desentendimento com a RTP, estando disposto a manter a sua posição até ser-lhe atribuída a razão pela Liga no diferendo, segundo apurámos junto de fonte próxima do treinador espanhol. De acordo com testemunhas oculares—afectas ao clube da Luz — Camacho ter-se-á sentido desrespeitado por, após o desafio com o FC Porto, o terem feito esperar quase cinco minutos, sem que alguém da RTP se tivesse dignado explicar-lhe (Camacho alega que nem sequer o cumprimentaram) a razão de tanta demora. A fazer fé nas mesmas fontes, a intenção do canal público seria abrir o Telejornal com as declarações do treinador dos encarnados, algo que não veio a suceder, já que essa honra coube à ministra da Justiça, Celeste Cardona, seguindo-se uma entrevista do seu homólogo da Defesa, Paulo Portas, que estava em estúdio.

Benfica prudente

Sentindo-se desrespeitado e impaciente por chegar ao balneário, Camacho retirou-se da sala e não mais voltou a comparecer num flash-interview, apesar das multas que lhe têm sido aplicadas pela Liga. É sabido que o treinador tem por hábito falar aos jogadores a seguir aos jogos e, por isso, procura sempre apresentar-se o mais rapidamente possível no curto diálogo com as televisões, para chegar ao balneário antes de os pupilos se desmobilizarem. O que ajuda a explicar a sua impaciência. O comunicado da Liga já chegou à Luz, mas só hoje, depois de devidamente analisados os pontos que sustentam a abertura do inquérito, deverá haver uma posição da parte da SAD.

terça-feira, abril 27, 2004

Fui um campeão consegui o impossível

MANTORRAS está de volta aos relvados, será hoje reintegrado nos treinos sob o comando de José Antonio Camacho. É o fim de um longo processo de recuperação. Daqui a três semanas poderá receber luz verde para o regresso em pleno à competição. «Fui um campeão.» O elogio não é despropositado.

Adeus tristeza. Bem que pode começar assim a página da crónica de mais um dia na vida de Pedro Mantorras, o angolano que luta pelo regresso aos relvados depois de mais de dois anos de longo calvário face a uma complicada mazelana cartilagem do joelho direito. O avançado voltou ontem, ao fim do dia, de Barcelona, onde esteve a trabalhar nas últimas três semanas, com um vasto sorriso no rosto, disposto a iniciar uma nova etapa já a partir de hoje: voltar a seguir as instruções de Camacho em pleno treino. Sem restrições. O pior já lá vai, «consegui o impossível », recorda o jogador. «Fui um campeão», diz logo de seguida. «Correu tudo bem nestas três últimas semanas em Barcelona. Dei um passo muito importante na minha carreira. Fiz trabalho específico e tenho consciência que sem esse trabalho não conseguiria voltar a jogar. Agora tenho a massa muscular ideal, o doutor Cugat gostou muito. O que acontecer a partir daqui dependerá muito de mister Camacho. A partir de amanhã [hoje] posso começar a trabalhar sem limitações, mas ainda tenho um programa específico para cumprir», anunciou à chegada, como que desejando que o fim do sofrimento. «Vivi momentos difíceis, mas quem corre por gosto não se cansa. Acima de tudo fui um campeão. Consegui o impossível», recorda. Tempo para agradecer a quem não se esqueceu de o apoiar nos momentos menos bons, em particular «ao senhor Nobre, sócio do Benfica», porque «os amigos são para os momentos difíceis e não para dar palmadinhas nas costas quando tudo está bem.» Uma última palavra para desejar boa sorte aos seus companheiros para o jogo de domingo: «O derby, espero que o Benfica vença.»

Fisioterapeuta também veio

Emili Ricart Aguirre, o fisioterapeuta catalão que acompanhou Mantorras nesta última etapa da recuperação, também está em Lisboa para continuar a não perder de vista a forma como o avançado regressará aos relvados. «Mantorras ainda vai ser acompanhado por uma comissão médica e técnica para coordenar o trabalho específico que ainda falta realizar. Falta apenas a readaptação ao relvado, vamos ver se ao fim de três semanas já teremos concluído o nosso trabalho para que ele possa voltar a jogar», concretizou.

É uma final à parte

O gigante brasileiro do Benfica proporcionou ontem uma tarde diferente a cerca de 50 alunos — entre os quais 15 com deficiência auditiva — da Escola Básica 2+3 da Cruz de Pau, no Seixal. Questionado pela pequenada sobre o resultado do derby, prognosticou a vitória encarnada por 3-0, mas apenas a brincar. Mais a sério, aos jornalistas, confessou esperar muitas dificuldades. «O importante é vencer, 1-0 chega», disse.

Satisfeita a curiosidade dos alunos (ver peça à parte), Luisão respondeu a algumas perguntas dos jornalistas sobre a visita a Alvalade. «Vai ser um jogo superdifícil, é uma final à parte da Super-Liga, uma vez que o FC Porto já é campeão. Na primeira volta perdemos e desta vez também esperamos muitas dificuldades», começou por dizer. O camisola 4 da Luz esclareceu em seguida: «Disse às crianças que o Benfica vai ganhar por 3-0 mas foi apenas na brincadeira, para se rirem um pouco. Tudo pode acontecer, não arrisco prognósticos. Acima de tudo espero que o Benfica ganhe, seja qual for o resultado. Vencer por 1-0 já chega, mas se conseguirmos fazer mais golos melhor. O fundamental é vencermos para alcançarmos o segundo lugar.» O facto de o Sporting ter saído derrotado dos dois últimos encontros é desvalorizado pelo jogador encarnado. «Neste tipo de jogos há uma tendência para o equilíbrio, independentemente da situação de cada uma das equipas. As forças igualam-se sempre», justificou.

Fora de casa é que é bom!

Benfica discutirá com o Sporting, no próximo domingo, em Alvalade, o segundo lugar na SuperLiga. Numa análise superficial e teórica, pode dizer-se que existe desvantagem do Benfica por jogar fora. Mas basta estarmos atentos aos números para concluirmos que é precisamente fora de casa que a águia se sente mais confortável para voar alto. Se só valessem os jogos longe da Luz o Benfica seria... campeão.

Quando se fizer o balanço desta SuperLiga se concluirá que foi em casa que o Benfica comprometeu as suas aspirações a ganhar o campeonato. E que foi precisamente o factor casa o mais importante na conquista do título por parte do FC Porto. Para aqueles que gostam sempre de se consolar com alguma coisa, ficará este registo de todo significativo: o Benfica é o campeão nos jogos fora de casa. É a equipa com mais pontos (34), mais vitórias (10) e mais golos marcados (32). É ainda a equipa com maior diferencial entre golos marcados e sofridos (+19). Numa comparação com o que fez o campeão FC Porto nos jogos fora, o Benfica conquistou mais três pontos, amealhou mais duas vitórias, marcou mais oito golos e apenas sofreu mais um golo. Exemplificativo. O problema é que em casa os portistas somaram mais 12 pontos que o Benfica, marcaram mais sete golos e sofreram menos 10 do que os encarnados. De resto, no campeonato dos jogos em casa o Benfica nem sequer ocupa a terceira posição. Essa cabe ao Nacional, que fez mais dois pontos, marcou mais 10 golos e sofreu menos um que os encarnados.

Peixe fora de água

Fora do seu reduto, o Benfica é uma equipa temível, concretizadora, eficaz. Mas os alicerces do título caíram porque no seu reduto os encarnados não fizeram valer, na sua plenitude, o estatuto de equipa candidata a campeã. Derrotas como as registadas na Luz com o Beira-Mar e o concorrente Sporting e empates com o Belenenses (dois golos sofridos nos descontos), Moreirense e FC Porto acabaram por ditar perda de pontos que hoje tanta falta faziam à águia. Porque este não é tempo de lamentar o passado, antes o de lutar pelo importante segundo lugar, fica sempre a esperança de que o Benfica faça jus ao estatuto de melhor equipa do campeonato nos jogos fora. Esperança para os adeptos e equipa encarnada, naturalmente. Está tudo em aberto para a conquista de um importante objectivo. De consolação, é certo. Mas uma consolação que se pode traduzir em muito dinheiro num eventual apuramento para a Liga dos Campeões.

Regresso condicionado

AÍ está o início de uma semana que pode ser decisiva para as aspirações da equipa de Camacho na presente edição da SuperLiga. Vencer no domingo em Alvalade é um passo seguro para a conquista do segundo lugar, mas até lá Camacho vê-se forçado a trabalhar sem algumas pedras fundamentais da estrutura da equipa. A culpa é das selecções.

São oito os jogadores com que José Antonio Camacho não poderá contar no arranque de uma das semanas de trabalho, provavelmente, mais importantes da temporada. A partir de hoje (11 horas em Massamá) todas as atenções estão centradas no derby eterno, no jogo que provoca emoções fortes ao mais comum dos adeptos do futebol, e o treinador espanhol vê-se na contingência de iniciar os preparativos sem pedras fundamentais como Nuno Gomes, Simão, Sokota, Petit, Tiago, Miguel, Zahovic e Fyssas, todos eles ao serviço das respectivas selecções. Os internacionais portugueses (concentrados para o amigável com a Suécia, amanhã em Coimbra) estarão de regresso na quinta-feira, mas quanto aos estrangeiros, na melhor das hipóteses apenas na sexta-feira de manhã estarão à disposição da equipa técnica. Dos oito jogadores ausentes, Zahovic é, aparentemente, aquele que tem menos perspectivas para ser titular em Alvalade. Ou seja, os restantes—caso joguem nas respectivas selecções, o que também deverá acontecer — serão sujeitos a esforço suplementar durante esta semana, algo a que Camacho deverá ser sensível nos últimos treinos, agendando uma preparação diversificada para os atletas em causa. Recorde-se que o Benfica foi a equipa que, desta feita, cedeu mais jogadores à Selecção Nacional (cinco) encontrando-se todos eles com perspectivas de poderem defrontar a Suécia. Terão, depois, três dias para recuperar de forma a apresentar-se em Alvalade com a esperança de conquistar um dos objectivos ainda possíveis: conquistar o acesso à Liga dos Campeões.

segunda-feira, abril 26, 2004

Agora dependemos de nós

O Benfica ruma a Alvalade em igualdade pontual e, mesmo obrigado a vencer para ultrapassar os leões, já não tem de se preocupar com os números de um eventual sucesso. Ou seja, colocou de parte a matemática e passou a depender ainda mais de si próprio. Tiago defende que as probabilidades de vitória são «iguais», mas não se mostra disposto a adiar a decisão para a última jornada: o derby é para ganhar.

O médio do Benfica, acompanhado pelo pai, esteve ontem à tarde na praça central do Centro Comercial Colombo para uma sessão de autógrafos promovida pela agência de viagens Star. Optando por não tecer quaisquer comentários sobre a sua actual condição física, o regresso à competição ou mesmo o jogo da Selecção Nacional com a Suécia, prontificou-se, contudo, a projectar a importante deslocação a Alvalade. «Nestes jogos, sejam eles disputados em Alvalade ou na Luz, tudo pode acontecer, independentemente da melhor forma do Benfica ou do Sporting. A vitória pode cair para qualquer um dos lados no derby», começou por dizer o camisola 30. Em duas semanas o Benfica anulou a diferença pontual de seis pontos para os leões, partindo para Alvalade com a chama do segundo lugar bem acesa. «É o futebol. Nós também perdemos pontos em Leiria e agora foi a vez do Sporting. Vamos ver agora o que acontece no próximo jogo», referiu. As águias têm agora o destino nas próprias mãos, não tendo de se preocupar com os números de uma eventual vitória. «Neste momento dependemos apenas de nós. Sabemos que se empatarmos vamos ter de esperar pelo último jogo, pelo que o nosso objectivo passa claramente por vencer em Alvalade», frisou o médio, recusando a ideia de que o Benfica possa estar mais moralizado: «Não há favorito. Como já disse, é um derby sempre imprevisível. Há 50 por cento de hipóteses para cada lado.»

Nariz partido e... final da Taça

Na última temporada os encarnados venceram por 2-0 em Alvalade pela mão do então recém-chegado Camacho e pelo pé de Tiago, autor de um dos golos. «Jamais me esquecerei desse jogo, por tudo o que me aconteceu. Ficará para sempre gravado na minha memória, tanto pelo golo marcado como pelo nariz partido», recordou, entre sorrisos. Será o derby de domingo o jogo do ano para o Benfica? «Não. Para nós o jogo do ano será a final da Taça de Portugal», rematou.

Gostava de ir para o Benfica

Carlitos, jogador do Estoril, teve ontem a observá-lo o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, mas mantém uma atitude prudente no que se refere à sua provável transferência para a Luz. «Também gostava de saber se isso é verdade, porque o meu empresário nada me disse.

A única garantia que tenho é de que vou continuar aqui, porque tenho contrato até 2007», afirmou. O estorilista não escondeu, porém, o desejo de passar a vestir de encarnado: «Quem não gostaria de jogar no Benfica? Qualquer profissional gostaria de representar um grande. Tenho 21 anos, sou jovem e ambicioso e, como tal, aguardo serenamente por aquilo que o futuro me reserva.» Sobre o facto de ser o principal candidato a receber o prémio atribuído por A BOLA ao melhor jogador da Liga de Honra, Carlitos reagiu com satisfação. «Se isso acontecer, será para mim motivo de grande orgulho. Faço o meu trabalho o melhor que sei e, francamente, penso que seria um prémio merecido, apesar de estar em luta com outros bons jogadores, especialmente o Jorginho. É um excelente futebolista, com grandes qualidades», reconheceu.

INAUGURAÇÃO AINDA SEM DATA OFICIAL

"Megastore" abre até ao Euro

Com as instalações desportivas já concluídas, a preocupação dos responsáveis do Benfica prende-se com a finalização do espaço comercial.

A principal prioridade é "Megastore" do clube, que deverá estar em funcionamento antes do início do Euro'2004. Este evento desportivo trará a Portugal milhares de visitantes e os dirigentes encarnados pretendem tirar partido desta situação.

Neste momento ainda não está definida a data oficial da inauguração.

Golos

15 m

1-0, por Nuno Gomes, de grande penalidade.

45+2 m

2-0, por Sokota, com grande remate de pé direito, de primeira, após excelente passe de Miguel, que foi à linha cruzar atrasado.

85 m

2-1, por Davide, que recebeu passe perfeito de Semedo, rasgou a linha defensiva da águia, isolou-se e finalizou certeiro.

90+3 m

3-1, por Miguel. O melhor. Fantástico drible sobre dois adversários e remate de se lhe tirar o chapéu.

Melhor em Campo

MIGUEL (7)

Duas valentes pedradas no charco ao cair do pano de cada uma das partes. Soberbas. Primeiro, uma arrancada pela direita, a ameaçar vir para o meio, a tocar a bola para a linha final, a cruzar atrasado, perfeito, para o pé direito de Sokota. Em cima do final do jogo, uma tabela com Zahovic, recepção em corrida, drible sobre o adversário directo, cabeça levantada, remate em jeito para o fundo das redes. Foi também um dos jogadores mais activos do Benfica no primeiro tempo, lançando Armando para o lance do primeiro penalty e atirando com força para grande defesa de Veiga. Na segunda parte, porém, caiu na apatia geral.

Sala de Imprensa

JOSÉ ANTONIO CAMACHO (treinador do Benfica)

Camacho aceita diesel

Não foi um jogo bonito e Camacho sabe-o. O técnico espanhol disse que a equipa, ao estar a vencer por 2-0, «não jogou com gasolina extra», usando apenas uma combustão q.b., só voltando a ir à bomba quando o Estrela assustou. E ao contrário do que seria de prever, o treinador dos encarnados compreende o sub-rendimento, justificado com a menor motivação quando vêm aí jogos decisivos. Não poderia entrar na sala de imprensa com sorrisos rasgados porque a exibição da sua equipa deixou bastante a desejar, limitando-se os jogadores a garantirem uma vitória esperada e pouparem-se para o derby de Alvalade. Foi precisamente a velocidade de cruzeiro que motivou uma curiosa comparação de José Antonio Camacho com os derivados do petróleo: «Jogámos este jogo usando o diesel e não gasolina extra. Controlámos o jogo do princípio ao fim, mas quando os jogadores se aperceberam de que estavam a ganhar por 2-0 limitaram-se a gerir. » Com isto quis dizer o treinador espanhol que a equipa sabe quando aumentar o ritmo. A reacção que se seguiu ao golo perturbador do Estrela da Amadora é disso exemplo: «Quando o adversário marcou soubemos imprimir mais velocidade e marcámos outro golo.» Camacho compreende, pois, uma certa modorra que se instalou no encontro de ontem ante os estrelistas. Apesar de a equipa ter marcado «três golos e falhar ainda um penalty», a exibição colectiva esteve longe de algumas realizadas na presente época. Talvez porque tenha sido jogador, entende os estados de espírito diferentes de jogo para jogo. «É normal que numa partida como esta os atletas não tenham a mesma motivação do que por exemplo no jogo que vem aí, em que lutamos por um lugar na Liga dos Campeões», juntou o técnico dos encarnados.

«Se ganharmos por três em Alvalade será melhor»

Camacho falou ainda antes de conhecer o resultado do Sporting em Leiria. Na altura, o Benfica precisaria de vencer por três em Alvalade para superar os leões caso estes vencessem na cidade do Lis e em Guimarães, na última jornada, tendo em conta os critérios de desempate estipulados pela Liga de clubes. Camacho não quis entrar na onda de optimismo manifestada pelo novo administrador da SAD, Rui Cunha, quando este disse durante a semana que os encarnados tinham capacidade para dar essa mini-goleada, mas não deixou de revelar total confiança nos seus jogadores para o embate de Alvalade. Camacho considera mesmo o derby um dos jogos mais importantes da época: «Quis assim o calendário. São duas equipas que lutam por um lugar e será um jogo decisivo. Os meus jogadores têm feito uma temporada muito boa e queremos acabar o Campeonato de forma inabalável. Se temos capacidade para vencer por 3-0? O mais importante é que acredito que possamos vencer. Por 3-0 será melhor, sem dúvida.» O que não o deixa muito satisfeito é o facto de perder «oito ou nove jogadores até quinta-feira» [n.d.r.: ao serviço das selecções nacionais], mas Camacho mantém o optimismo.

NUNO GOMES (jogador do Benfica)

Vamos a Alvalade para ganhar

Nuno Gomes, o autor do primeiro golo da noite, reconheceu que o Benfica esteve longe de fazer uma exibição agradável, mas destacou a importância dos três pontos numa altura crucial do Campeonato. «Pode dizer-se que foi um jogo tranquilo. Jogámos o suficiente para ganhar, embora reconheça que não fizemos uma boa exibição. No actual momento da competição o mais importante é a conquista dos três pontos. Ultrapassado mais este obstáculo, vamos começar a preparar o encontro com o Sporting, na próxima jornada », começou por dizer o ponta-de-lança na flash-interview da Sport TV. O camisola 21, que ontem envergou a braçadeira de capitão, recusou a ideia de que alguns jogadores do Benfica se terão poupado um pouco ao esforço. «Não houve qualquer poupança, acho é que a equipa não esteve colectivamente ao seu melhor nível. Pelo que se viu em campo, pode até pensar-se que alguns jogadores se pouparam, mas o que aconteceu, como já disse, foi resultado de uma exibição menos conseguida em termos colectivos. Há encontros em que até jogamos bem e perdemos pontos, desta vez aconteceu o contrário, jogámos mal e ganhámos», analisou, perspectivando desde logo o confronto do próximo fim-de-semana com o Sporting. «Vai ser decisivo para ditar o segundo lugar e vamos a Alvalade para ganhar, como sempre, sem estarmos a pensar se temos de ganhar por um, dois ou três. A única coisa que prevemos é que temos de ganhar. Será um derby difícil, de resultado imprevisível, no qual só os três pontos nos interessam», rematou.

sábado, abril 24, 2004

Gerido por Camacho e Scolari

Luiz Filipe Scolari convocou anteontem Tiago para o jogo da Selecção frente à Suécia, Camacho também o chamou para o jogo de hoje com o Est. Amadora, mas o médio não deverá jogar os 90 minutos em nenhuma das partidas. Apesar das duas semanas de paragem, a pubalgia de que padece aconselha a alguns cuidados para não o sobrecarregar. Para estar em forma frente ao Sporting e... no Euro-2004.

O seleccionador nacional deu a entender na conferência de Imprensa de anteontem, quando anunciou a lista de convocados para o jogo com a Suécia, que Tiago estava em condições para jogar. Mas Camacho veio ontem dizer que o médio pode fazê-lo, mas não durante 90 minutos. Alegou o técnico espanhol que o camisola 30 não tem o ritmo ideal para voltar à carga máxima, garantindo assim que hoje, frente ao Estrela da Amadora, iniciará o jogo no banco de suplentes. Aparentemente, as palavras de Camacho poderiam entrar em contradição com as de Luiz Felipe Scolari — disse mesmo que não tinha nada a ver com o que afirmaram os responsáveis da equipa das quinas — mas a verdade é que ambos perfilam da mesma opinião. Tiago comunicou ao departamento médico da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que estava em condições para ser convocado, sem que no entanto os médicos do clube tenham enviado qualquer relatório aos homólogos federativos, e isso serviu para Felipão o chamar, chegando mesmo a afirmar que o benfiquista não tinha qualquer problema. No entanto, a verdade é que o seleccionador não deverá colocar Tiago no onze titular na quarta-feira, ou caso o faça, seguramente que o irá retirar a meio do encontro. O médio faz parte do núcleo duro que estará no Europeu e por isso é importante a sua presença em mais uma concentração, mesmo que neste momento não esteja a 100 por cento. O desejo de Scolari é tê-lo no pico de forma a partir de Junho.

Opção para Alvalade

A presença de Tiago na concentração de segunda-feira da selecção nacional é por enquanto um dado adquirido, até porque Camacho só o deverá utilizar ante os estrelistas alguns minutos, pelo que dificilmente o atleta terá qualquer recaída. De qualquer forma, o departamento médico dos encarnados irá elaborar um relatório para o jogador apresentar juntos dos clínicos da FPF atestando o seu estado actual, lembrando que o médio encontra-se a cumprir um programa específico de recuperação da pubalgia. Caso seja utilizado alguns momentos em ambos os jogos, Camacho terá assim o jogador em condições para o jogo com o Sporting—terá sido poupado a esforço redobrado durante mais uma semana e adquire assim algum ritmo competitivo — sem colocar em causa a sua participação no Euro e não deixar o treinador brasileiro pendurado. Não obstante os objectivos e interesses diferentes, Camacho e Luiz Felipe Scolari parecem estar a gerir em consonância uma das pérolas do futebol benfiquista... e português.

Xanana vai abrir o jogo

Aproveitando a presença de Xanana Gusmão em Portugal, a Direcção convidou o presidente da República de Timor-Leste para assistir ao jogo de hoje com o Estrela da Amadora, na companhia de outros dirigentes políticos dos PALOP que se encontram no nosso país para as celebrações dos 30 anos do 25 de Abril. Mas, porque Xanana é sócio honorário, terá direito a subir ao relvado e receber das mãos de Luís Filipe Vieira uma águia de bronze. Muitas nacionalidades mas tudo em português.

Nunca escondeu o seu benfiquismo, nem mesmo quando estava no degredo em Jacarta, e sempre que qualquer Direcção do clube pode a homenagem surge naturalmente. Xanana Gusmão encontra-se em Portugal para participar nas comemorações dos 30 anos da revolução dos cravos e o consequente processo de descolonização, por isso Luís Filipe Vieira não perdeu a ocasião para ter o eterno resistente ao seu lado para assistir ao encontro de hoje, frente ao Estrela da Amadora. Naquela que será a primeira visita de Xanana ao novo estádio, haverá assim lugar a uma cerimónia protocolar, com o líder timorense a subir ao relvado na companhia do dirigente benfiquista e ainda do presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, para cumprimentar os elementos das três equipas e receber uma águia de bronze das mãos de Vieira. Será certamente um momento vivido com alguma intensidade, tendo em conta a empatia que o povo português nutre pelo mítico Xanana Gusmão.

Um toque africano

O Benfica estendeu também o convite a outros dirigentes políticos dos PALOP — à excepção da Guiné-Bissau —, que se encontram em Portugal pelas mesmas razões. Angola estará representada pelo primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional (AN), João Manuel Lourenço, Cabo Verde pelo presidente da AN, Aristides Raimundo Lima, Moçambique pelo presidente da AR, Eduardo Mulémbwé, e São Tomé e Príncipe pelo presidente da Assembleia Nacional, Dionísio Tomé. Refira-se ainda que também o presidente do Parlamento nacional de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, marcará presença na nova catedral. À excepção dos grandes jogos europeus, nunca o Estádio da Luz recebera tantas nacionalidades diferentes. Mas falando todas a mesma língua.

3 jogos = 3 vitórias

E tudo pode acontecer

As contas de Camacho são simples: o Benfica tem de vencer os três derradeiros encontros da SuperLiga se quiser aspirar ao segundo lugar. O treinador do Benfica lembra que o encontro de hoje com o Estrela da Amadora não está ganho e que só depois de cumprir essa missão os encarnados poderão pensar na deslocação a Alvalade. Elogia o espírito competitivo dos jogadores, que «nunca baixaram os braços», mantendo a discussão do segundo lugar em aberto até final. Apartir de agora, sublinha, «tudo pode acontecer».

— A diferença para o Sporting é agora de três pontos. De alguma forma isso influencia o estado de espírito dos jogadores, em termos de motivação?

— Não, a motivação é sempre a mesma. Temos trabalhado e lutado para que isto pudesse acontecer. Faltam três jogos para o final do campeonato e ainda estamos em posição de lutar pelo segundo lugar e estar na Liga dos Campeões. É um grande êxito dos jogadores, que não deixaram cair os braços nem baixaram o moral. Têm jogado e trabalhado para poderem estar precisamente nesta situação.

— O jogo de Alvalade será decisivo para a definição do segundo lugar?

— Penso que para o Sporting sim. Para nós, primeiro é muito mais importante o jogo com o Estrela da Amadora. Temos de vencer os três jogos, pois se assim não for as coisas serão muito mais difíceis. Primeiro vem o Estrela da Amadora e temos de vencer para jogarmos com o Sporting nas actuais condições, pelo menos. Depois se verá.

— Alguma vez pensou que o jogo de Alvalade viesse a assumir tamanha importância?

— Face ao equilíbrio no campeonato, era de esperar que sim, que pudesse vir a ser decisivo. Esperemos que seja realmente decisivo.

— E esperava que o Sporting escorregasse assim tanto por forma a permitir a aproximação do Benfica?

— Nesse aspecto estamos no mesmo, porque nós também falhámos em alguns jogos, também tivemos empates. Até final tudo pode acontecer.

— Ninguém fala na possibilidade de o Benfica perder pontos, pelo facto de o adversário ser o último classificado. Ao invés, o Sporting tem uma deslocação teoricamente complicada. Este cenário não cria uma ideia de facilidade que em nada ajuda o Benfica?

— Sim, mas é difícil combater essa ideia, temos de a aceitar. Espero que os jogadores tenham consciência de que o jogo de amanhã [hoje] é muito importante se quisermos lutar pela Liga dos Campeões até final. Primeiro temos de vencer este jogo e só depois veremos o que acontece, seja a nosso favor ou contra. A nossa única solução é ganhar para chegar a Alvalade com possibilidades de poder disputar o segundo lugar.

Saúde e paz para o mundo...

— Se pudesse optar, preferia ficar em segundo lugar no campeonato ou vencer a Taça de Portugal?

— Prefiro ganhar ao Estrela da Amadora e depois logo se vê. No futebol nunca se sabe o que pode acontecer. Se pudesse escolher, optava por outras coisas. Pediria saúde e paz para todo o mundo, não a vitória num jogo de futebol.

— E neste momento o que está mais ao alcance do Benfica?

— Primeiro temos a luta pelo segundo lugar. Afinal da Taça será o último jogo da época, mas nada tem a ver com o campeonato. Neste momento só me interessa o jogo com o Estrela da Amadora. Na próxima semana, quando regressarem todos os jogadores, na quinta ou sexta-feira, falaremos então no encontro seguinte. Falar do Sporting ou do segundo lugar passa por ganhar ao Estrela da Amadora. Se assim não for dificilmente poderemos chegar ao segundo lugar.

Título está cada vez mais próximo

Filipe Vieira prometeu aos benfiquistas de Santo Tirso a renovação de um título que escapa há uma década, garantindo que esse sonho está «cada vez mais próximo». Raça e coragem, personificadas por jogadores como Petit, são os trunfos para «colocar de pé um gigante adormecido e devolver a mística e tradição vencedoras», apesar de haver quem «queira empurrar o clube para determinadas situações».

Durante a recepção no salão nobre da Câmara Municipal de Santo Tirso, o presidente do Benfica foi interrompido por um adepto que não conseguiu conter a fé no futuro: «Podemos não ser os melhores, mas somos sem dúvida os maiores», gritou com alma encarnada, na primeira de muitas explosões de fé. Foi num clima de grande fervor clubístico que uma comitiva liderada por Luís Filipe Vieira apadrinhou a inauguração da Casa do Benfica de Santo Tirso, um recanto moderno e acolhedor onde os benfiquistas podem discutir passado, presente e futuro. Luís Filipe Vieira, José Henriques, Artur e Petit, entre outras figuras do clube, fizeram as delícias dos seguidores da águia, distribuindo sorrisos, autógrafos e optimismo. Eusébio e Simão foram as ausência mais notadas numa festa que terminou na Quinta do Leigal, freguesia de Lama, a escassos quilómetros de Santo Tirso, onde Luís Filipe Vieira discursou. Ainda na câmara, o líder benfiquista alimentou a esperança numa inversão no que diz respeito à conquista do título de campeão nacional, prometendo ajudar, na medida do possível, clubes como Tirsense e Desp. Aves. Ricardo Rocha, natural de Santo Tirso, foi lembrado como um exemplo das contrapartidas que a região tem para oferecer. «Depois de três anos de um projecto iniciado por Manuel Vilarinho sinto que o dia de dar uma grande alegria ao País e à família benfiquista está cada vez mais perto. É para isso que estamos a trabalhar e está ali um exemplo daquilo que queremos para o Benfica», disse, apontando Petit, sinal recuperado no final do jantar, onde lançou ainda um repto aos amantes da modalidade, no sentido de pacificar o futebol.

Dever cumprido

Luís Filipe Vieira lembrou o momento ímpar e o desejo de comemorar com dignidade o Centenário. «Temos projectos financeiramente decisivos para o curto prazo, veja-se o sucesso da operação obrigacionista», lembrou, puxando do Cartão do Benfica, que permite uma vínculo institucional muito importante aos associados. «Arrumada a casa é tempo de olhar em frente e preparar o futuro: o nosso trajecto europeu, que nos enche de satisfação, a presença na final da Taça Portugal, e a possibilidade de lutar por um lugar na Liga Campeões deixa-nos com a sensação de dever cumprido. Estamos a trabalhar para colocar de pé um gigante adormecido, de forma a tudo fazer para devolver a mística e tradição vencedoras, com a raça, coragem e determinação, que estão de volta a um Benfica que tem em Alvalade um desafio muito importante para a nossa instituição, em que todos devem estar à altura do espectáculo, pois há quem nos queira empurrar para algumas situações... Importante é que todos entendam que são os profissionais a dar uma resposta que sirva de exemplo para todo o País».

sexta-feira, abril 23, 2004

Cheguei a pensar que era melhor ir embora

DEIXOU a pequena cidade de Amparo, no interior de São Paulo, para viver em Portugal. Para jogar no Benfica e experimentar o futebol europeu. Chegou assustado e em poucos meses conheceu o Inferno e o Céu. As críticas foram tantas que Luisão duvidou do seu valor e chegou a pensar em ir embora, voltar para o Brasil. Hoje o defesa-central é titular, confessa que treina cada vez com mais alegria e aceitou partilhar com A BOLA as suas ideias e sentimentos.

— É a primeira vez que está na Europa. Como está a viver a experiência?

— É muito diferente do Brasil. Um outro País, futebol diferente. No início foi complicado, mas agora está a ser excelente. O futebol é mais disputado, aguerrido, mas existe um grande respeito pelo profissional de futebol, o que dá tranquilidade para trabalhar.

— Foi bem recebido no balneário do Benfica?

— Muito. Facilitou estarem Roger, Argel, Geovanni e Cristiano, mas encontrei jogadores suecos, eslovenos, croatas, de outras culturas. Imaginei outra coisa mas depois vi que eles tinham a mesma simplicidade com que eu cheguei. Sou um pouco caipira, de cidade do interior, e fiquei com medo do que ia encontrar, mas a surpresa foi boa.

— Chegou, jogou apenas três jogos e lesionou-se. Como lidou com a situação?

— Fiquei muito triste. Cheguei cheio de esperanças, com um sonho e tive logo uma lesão que demorou a recuperar.

— E logo a seguir teve de decidir entre a selecção e o Benfica. Tornou-se ainda mais complicado?

— Muito. Tinha perdido o lugar na selecção principal do Brasil e por isso disse que queria ir ao torneio no Chile, de Sub-23. Mas não foi para prejudicar o Benfica. Conversámos e acabei por regressar e ficar no clube, sem mágoa.

— As suas exibições mereceram muitas críticas, foram justas?

— No começo as coisas não estavam a correr bem. Não estava a jogar a cem por cento. Caí de rendimento por causa das lesões. O meu trabalho estava a ser posto à prova, existia muito adepto desconfiado e que começava a pensar que tudo o que tinham dito, antes de eu chegar, era mentira. Tinha de provar o meu valor e não estava conseguindo. Mas não fiquei magoado. Sabia que no momento certo iriam apoiar.

— Duvidou do seu valor?

— Tenho de confessar que, depois da segunda lesão, cheguei a pensar que se calhar era melhor eu ir embora. Comecei a duvidar do que podia fazer aqui. Estava triste e não conseguia encontrar resposta para o que estava a acontecer. O psicólogo do Benfica ajudou-me muito e disse-me que não precisava de ter medo deste desafio. Foi nessa altura que comecei a mudar, mas confesso que cheguei a pensar que a minha vinda para o Benfica não tinha sido uma boa.

— Falou com Camacho?

— Particularmente não, mas os actos dele, nos treinos e nos jogos, fizeram-me sentir que podia trabalhar tranquilo porque existia uma pessoa correcta a comandar a equipa. Não tenho palavras para o descrever. É um grande profissional e muito correcto.

«Já falhámos muito! mas acreditamos no segundo lugar»

— Agora está confiante?

— Cada vez mais. Cada dia sinto mais vontade de ir trabalhar, com carinho, com vontade de crescer mais e corrigir os erros.

— É verdade que rende mais como central descaído para a direita?

— Jogo nos dois lados, mas é na direita que me sinto melhor. Com os centrais do Benfica entendo-me bem, com todos, sem preferência. São diferentes, é claro. Ricardo Rocha é o mais novo, mas a qualidade e o talento de Argel e Hélder são muito importantes.

— O que falta a este Benfica para ser campeão? Qualidade?

— Qualidade acredito que não, pois estivemos bem na UEFA, Taça e campeonato. Faltou apenas atenção nos jogos em casa. Perdemos muitos pontos e poderíamos estar a lutar pelo título.

—Apostam tudo na conquista do segundo lugar?

— Acreditamos que vamos conseguir. Já falhámos muito, mas agora temos nova chance, apesar de faltarem poucos jogos. Também já imaginamos a Taça, mas primeiro está o campeonato.

— O jogo frente ao Sporting já afecta o balneário?

— Não. Pensamos nele, mas de nada valerá se facilitarmos com o Estrela. É assim que pensamos.

Dá jeito ter perna comprida

A primeira coisa que ouviu quando chegou ao aeroporto de Lisboa foi: «Luisão, olha que são seis milhões!» Mais tarde, percebeu a mensagem e reconhece agora que o Benfica é grande, que os adeptos estão em todo o lado. Já se apaixonou por Lisboa e passeia muito, apesar de morar sozinho. Não entra numa cozinha, mas já fritou bifes e estaria disposto a fazer um churrasco para o plantel benfiquista. Bem... pelo menos admite tratar da cervejinha. E não deixa de salientar que no campo como na vida «dá jeito ter perna comprida»...

— Como é a sua relação com os adeptos? O que pensa deles?

— É engraçado que a primeira coisa que me disseram no aeroporto, quando cheguei, foi: Luisão, olha lá que são seis milhões! Sempre sonhei jogar numa equipa do povão, como a do Benfica. Em Milão, na Noruega e na Bélgica senti muito o apoio dos adeptos. Eles são maravilhosos e estão em todo o lado... o Benfica é grande!

— Já conhece Lisboa?

— É incrível e uma vergonha, mas não conheço muita coisa. Mas o pouco que conheci já deu para me começar a apaixonar pela cidade.

— Metem-se consigo na rua?

—Sim, já se metem muito. Primeiro cobravam, mas agora já me dão os parabéns e força para a equipa.

— Com a sua altura não passa despercebido...

— É verdade! Não tem jeito [risos]. As pessoas estranham e dizem: não pensava que era tão grande! Sempre olham e se não me conhecerem ficam a olhar e a pensar que devo ser alguma coisa, assim tão grande...

— No Brasil usava segurança?

—Não. Era difícil encontrar um segurança maior do que eu [risos]. Aqui há mais tranquilidade, o que é bom para a nossa vida particular e para o futebol.

— Mora sozinho? O que costuma fazer? — Moro. A minha namorada vem de vez em quando, mas depois também fica sozinha, por causa dos nossos estágios, e sente falta da família. Eu falo três vezes por dia com o meu pai e ponho um samba ou pagode para matar saudades da minha terra. Também passeio muito.

— Costuma cozinhar?

— Não, nunca na vida! Já fritei bifes, mas pode esquecer que numa cozinha eu não entro!

— Mas não cozinhava um prato para o plantel do Benfica?

— Isso sim! Uma picanha, um churrasco para todos. Na minha terra faço muito e fico a tratar da cervejinha.

— Diga-nos alguns truques que usa para travar os adversários.

— Não posso falar tudo! [mais risos]. O importante é cortar caminho e depois o resto vem com a experiência. Dá jeito ter a perna comprida. É como na vida. Muitas vezes parece que não vou chegar lá ,mas acabo por conseguir.

—A arbitragem está a gerar polémica em Portugal. Gostaria de ser árbitro?

— Não. Nem pensar! Acho que no futebol, em todo o Mundo, o árbitro é pressionado. Muitos deles têm outras profissões fora do campo e isso não ajuda. Ele é a única pessoa ligada ao futebol em quem toda a gente coloca os olhos. E ninguém gosta dele.

Paulo Almeida dispensado do Santos

Paulo Almeida, futuro reforço dos encarnados , dificilmente voltará a ter um lugar no onze do Santos até que viaje para Lisboa, no final do mês de Junho. O médio defensivo nem sequer foi convocado para o primeiro jogo do campeonato brasileiro, que começou na madrugada de ontem, num sinal claro de que acabou o seu espaço de manobra pelo facto de já estar vinculado a outro clube. Ao que tudo indica, foi a própria Direcção do Santos que deu instruções a Emerson Leão para o preterir dos jogos.

Paulo Almeida está a viver uma situação semelhante à que viveu Robert Enke há três épocas, quando o Benfica percebeu que o guarda-redes alemão já tinha assinado pelo Barcelona a custo zero mas sem nunca comunicá-lo oficialmente e recusando todas as propostas de renovação. Aí, os dirigentes deram pura e simplesmente instruções a Jesualdo Ferreira para ser Moreira a ocupar a baliza, terminando assim com a relação desportiva e mantendo apenas as obrigações contratuais para com o atleta. O médio brasileiro termina contrato com o Santos em Junho mas a Direcção do eterno clube de Pelé já sabe que o futuro do jogador passa pelo Benfica, pelo que deu indicações ao técnico Emerson Leão para prescindir dos seus serviços a não ser que seja estritamente necessário. O Santos apresentou várias propostas de renovação a Paulo Almeida desde Janeiro mas a resposta foi sempre reservada, com o jogador a dizer que não havia «pressa». Isto é, uma forma diplomática de dizer não e deixar passar o tempo. O compromisso com a formação da Luz, bem mais atractivo financeiramente, já estava formalizado.

Ausente da primeira jornada

Leão ainda chegou a utilizar Paulo Almeida nos importantes e derradeiros encontros do campeonato paulista—o Santos foi eliminado pelo São Caetano nas meias-finais — mas agora que começou o campeonato brasileiro tudo voltou à estaca zero, ou seja, a equipa técnica pode darse ao luxo de prescindir de um jogador da sua valia. Que, bem feitas as contas, só podia contar com e l e apenas um pouco mais de um mês. Assim, não estranhou a sua ausência nos convocados para o primeiro encontro do Santos na competição, realizado na madrugada de ontem em Curitiba, frente ao Paraná. O resultado acabou por ser desfavorável ao peixe (derrota por 2-3).

Alcides jogou segunda parte

Outro dos reforços oriundos do Santos, o central Alcides, jogou a segunda parte frente ao Paraná. Emerson Leão colocou em campo a dupla Alex/André Luís no centro da defesa, mas aos 70 minutos o internacional sub-20 entrou em campo para compensar a expulsão de André Luís, já a vantagem do Paraná estava em 2-1. Pouco depois o adversário aumentou a contenda e nos minutos finais Robinho diminuiu para 2-3. Mesmo assim, Alcides continua a merecer a confiança de Leão.

Ganhar por três em Alvalade

RUI CUNHA é o vice presidente encarnado escolhido para substituir Fonseca Santos na administração da SAD. Antes mesmo de tomar posse, faz um voto de fé no projecto de Luís Filipe Vieira, elogia a política de renovações e contratações, acredita que na próxima época haverá frutos e pede a jogadores e equipa técnica que honrem Fehér e os benfiquistas vencendo a Taça e terminando em segundo lugar.

— O jogo com o Sporting, em Alvalade, deverá ser decisivo quanto ao segundo lugar. Está confiante?

— Só dependemos de nós. Ganhar por três em Alvalade está perfeitamente ao nosso alcance. Por norma, fazemos bons resultados em Alvalade. Estive nos 6-3 no ano em que fomos campeões, espero ver outro grande jogo. Vamos ganhar, claramente. Era extremamente importante estarmos na Liga dos Campeões.

— O segundo lugar e a Taça salvariam a época?

— A única coisa que salva a época do Benfica é sermos campeões. O Benfica está talhado para ser campeão. Época em que nada se ganhe é época perdida.

— Ganhar a Taça seria um prémio de consolação?

— É uma forma de retribuirmos o carinho e apoio de todos os benfiquistas. Gostava de pedir à equipa que o espírito que os benfiquistas revelaram na morte de Fehér se traduzisse na conquista da Taça.

— Como vê o futuro do Benfica?

— Devido à votação que esta lista teve nas eleições, temos uma responsabilidade acrescida. Muita gente acredita neste projecto e eu estou convencido que o projecto de Luís Filipe Vieira tem pernas para andar. No próximo ano vai dar verdadeiros frutos. Os benfiquistas merecem mais do que têm tido.

— E terão mais?

— Para o ano vamos ter um conjunto de meios que nos permitirá discutir de outra maneira todas as competições em que estivermos envolvidos. Esse tem sido o discurso do presidente, que o potencial da equipa será melhorado.

— Missão que começa nas renovações?

— Claro. Esta política de renovações é essencial. Preservar os jogadores que são já hoje símbolos do Benfica. Acho que é uma política que os sócios e adeptos apreciam. Temos de manter os fora-de-série. Espero, sinceramente, que não saia nenhum.

— E quanto à política de reforços?

— Como já disse, o presidente tem um projecto e está a trabalhar para o aumento de potencial da equipa.

quinta-feira, abril 22, 2004

Camacho deve manter Miguel a extremo

SÃO muito fortes as possibilidades de Camacho repetir a ala direita de Braga, com a colocação de Miguel a extremo-direito no encontro com o Estrela da Amadora. É que se a experiência deu resultado na Cidade dos Arcebispos, o facto de Simão Sabrosa estar castigado abre uma vaga no ataque, com Geovanni a perfilar-se como substituto natural para a posição do número 20.

O técnico ainda não abriu o jogo, preferindo resguardar para hoje e amanhã a apresentação das cartas, mas tudo aponta para que o Benfica apresente no sábado à noite um onze inédito, com a introdução de Miguel e Geovanni nas extremidades do ataque. Sabe-se que quando Camacho acerta numa aposta— como foi o caso de subir Miguel e colocar Armando Sá a lateral-direito no jogo frente à formação de Jesualdo Ferreira—gosta de dar continuidade, pelo que o número 23 deverá ter nova oportunidade de recordar os tempos em que se evidenciou como elemento de puro ataque no Estrela da Amadora, precisamente o próximo adversário dos encarnados. Como se isso não bastasse, a lógica consubstancia esta tese, nomeadamente a ausência da partida com os tricolores, por castigo, de Simão Sabrosa. É que se o melhor marcador da equipa pudesse dar o seu contributo, o técnico espanhol poderia recorrer à fórmula tradicional — Geovanni ou João Pereira no lugar de extremo-direito— voltando Miguel a recuar no terreno. Mas perante as circunstâncias, é crível que seja justamente Geovanni — ou mesmo João Pereira — a calcorrear os trilhos de Simão, deixando deste modo via aberta para novo reencontro do ex-estrelista ao lugar de sempre.

Posto isto, é muito provável que os encarnados subam ao relvado com um meio-campo formado por Miguel, na direita, Manuel Fernandes (em substituição do também castigado Petit) e Tiago no miolo e Geovanni no lado esquerdo. Armando, Luisão, Ricardo Rocha e Fyssas deverão formar o quarteto defensivo à frente de Moreira, enquanto Nuno Gomes e Sokota formarão dupla na frente de ataque.

Simão não gosta do Estrela

Esta é a segunda vez que Simão Sabrosa falha um jogo por castigo na corrente época. E, por coincidência, a primeira ocasião deu-se justamente no encontro com o... Estrela da Amadora, na Reboleira, na primeira volta. Se desta vez a ausência foi provocada— o avançado corria o risco de falhar o encontro com o Sporting se visse mais um amarelo, optando por forçar a cartolina em Braga, acumulando assim os cinco cartões — na outra vez o internacional português foi expulso no encontro para a Taça de Portugal, frente à Académica, que precedeu a partida na Amadora—viu dois amarelos do árbitro Paulo Costa, o último deles muito contestado pelos encarnados.

Com a pontaria afinada

ESTRELA DA AMADORA, Sporting e U. Leiria podem começar a ter razões para temer a veia goleadora dos encarnados. Porque o moral está elevado, fruto do encurtamento da distância para os leões, os jogadores parecem ter recuperado os índices técnicos. Ontem, Camacho deve ter ficado satisfeito com a capacidade finalizadora da equipa, pois até os defesas demonstraram estar com a afinação no máximo no capítulo do remate. Bom prenúncio...

Num momento em que o Benfica depende de si para alcançar o objectivo mínimo na SuperLiga — segundo lugar e consequente acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões — nada melhor que ter um conjunto de jogadores com a técnica mais refinada que nunca. Ontem, num treino marcado por intensa chuva, Camacho dedicou grande parte da sessão a exercícios de finalização e a resposta não podia ter sido melhor: sangue-frio no remate, rapidez de execução e enorme pontaria. É certo que nas referidas situações de ataque quem carregava surgia sempre em vantagem numérica relativamente aos defesas, mas noutras ocasiões e no mesmo contexto a taxa de golos costuma ser inferior, pelo que se pode falar de uma franca recuperação no capítulo ofensivo.

Os poucos adeptos que se deslocaram ao Estádio Arnaldo Dias, em Odivelas— as condições climatéricas não ajudaram à habitual romaria —, puderam assim ver pormenores de requinte, quer por parte de Simão, Nuno Gomes, Tiago ou Zahovic quer mesmo dos defesas: Cristiano, Hélder e Ricardo Rocha também mostraram estar de pé quente. Muito quente. No final os sorrisos de Camacho foram sinal claro de que o plantel passou como que um teste com nota elevada.

Refira-se ainda que, mais uma vez, o treinador contou com todos os elementos, à excepção de Pedro Mantorras — realiza tratamento em Barcelona —, ainda que Hélio Pinto tenha realizado apenas corrida. Neste caso destaque para Tiago, que voltou a dar claras indicações de que está apto para defrontar, no sábado, o Estrela da Amadora.

Encarnados não costumam tropeçar neste calendário

QUIS o destino que o Benfica chegasse às três últimas jornadas do Campeonato da SuperLiga a três pontos do Sporting e no terceiro lugar da classificação. Um olhar muito atento sobre os encontros com os adversários directos sugere que os encarnados não costumam tropeçar neste calendário, já que a supremacia nas recepções ao Estrela da Amadora e ao União de Leiria é ainda mais evidente que a forte presença da águia nas visitas ao reino do leão.

Comecemos pelo... princípio. Depois de amanhã o Benfica recebe na sua nova casa o Estrela da Amadora, último classificado da SuperLiga e emblema já despromovido à Liga de Honra, por força da matemática. Mas é precisamente a força dos números que fomos analisar, com o intuito de verificar, do ponto de vista puramente teórico, que probabilidades tem o conjunto de José Antonio Camacho nas derradeiras rondas da SuperLiga.

Pois os amadorenses, quando visitam a Luz, poucas razões têm para sorrir. Num total de 11 partidas disputadas, apenas lograram empatar em duas ocasiões e nem sequer tiveram oportunidade de experimentar o doce sabor do triunfo. O mais recente ponto roubado ao Benfica data de 11 de Janeiro de 1998 quando as duas equipas acabaram o desafio com dois golos cada. Para o lado dos da Reboleira, facturaram José Carlos e Paulo Ferreira, que havia de mudar-se pouco depois para o FC Porto, no que concerne aos da Luz, registe-se o bis de Martin Pringle, aquele sueco exótico que tantas vezes fez desesperar os encarnados antes de rumar a Inglaterra para representar o Charlton. Curiosidade rainha é, todavia, aquela que rodeia o primeiro empate dos amadorenses na catedral. Aconteceu na época de 1993/94, a última em que o Benfica festejaria o título de campeão, e precisamente na jornada que antecedeu a visita Alvalade. Onde é que já vi isto?, estará o leitor a pensar... Isaías, que dispensa apresentações, e Mário Jorge apontariam os golos.

Viagem curta pela Segunda Circular

A predominância verde e branca sobre o Benfica teve o seu auge durante a década de 50, altura em que os fantásticos cinco violinos pouca margem de manobra davam aos rivais. No entanto, as décadas de 60 e 70 rapidamente reporiam os valores de equilíbrio que celebrizariam os dois conjuntos. Nos anos 80, as forças equivaleram-se e só em meados dos anos 90 voltou a assistir-se a uma superioridade clara de uma equipa sobre a outra. O Sporting venceria, a jogar em casa, o Benfica em três temporadas consecutivas, antes de permitir, mais uma vez, que o eterno rival reequilibrasse as contas. O derradeiro trio de anos do século XX ficou marcado pelas festas que os homens da Luz fizeram em Alvalade. Mais recentemente, e desde que mudámos de milénio, a tendência mantém-se. Um empate, um triunfo e uma derrota para cada um dos lados. Mais expressivo do que isto é impossível... Os emblemas que dominam a Segunda Circular nem nos números deixam de teimar.

Quando o Lis vem a Lis... boa

Para o fim ficaram guardados, mas nem por isso são menos importantes. Os homens do Lis até são mais perigosos que os homólogos da Amadora nas visitas efectuadas ao Estádio da Luz. Senão vejamos: em apenas 10 jogos, sempre conseguiram saborear um triunfo. E nem foi há muito tempo. Em Março de 2002—quem havia de ser? — Maciel e Derlei fariam um golo cada e começariam a recolher simpatia junto dos portistas. Para trás, encontram-se também dois empates, mas insuficientes para fazer perigar, ainda assim, a superioridade encarnada nos confrontos entre os dois emblemas. Sete triunfos são, afinal, sinais claros da tendência verificada. Há algo mais, assinale-se, que não deve ser esquecido e que os três adversários do Benfica têm em comum: o último jogo do Benfica contra cada um dos seus opositores deste final de SuperLiga terminou com o resultado pintado de vermelho. Van Hooijdonk derrubaria o E. Amadora (2-1), Tiago e Zahovic gelariam Alvalade (2- 0), Nuno Gomes e Simão, por duas vezes, acertariam nos leirienses.

Argel: «Sinto-me bem»

Argel está à três épocas na Luz

Argel reafirmou, ontem, a intenção de continuar a representar o Benfica, embora tenha recusado a admitir a existência de negociações relativas à renovação do contrato. "A minha vontade é continuar e renovar o contrato. Sinto-me bem no clube, estou adaptado e penso que o Benfica está contente com o trabalho desenvolvido nestes três anos. Tudo depende da Direcção", referiu.

Em relação ao jogo com o Estrela da Amadora, o central não espera facilidades e realça a importância do desafio ante o Sporting . "Temos de respeitar a equipa do Estrela da Amadora, que ficou com o orgulho ferido por ter descido à Liga de Honra e quer uma despedida com mérito. Vamos tentar os três pontos. O Sporting-Benfica, em Alvalade, decide praticamente tudo. Mas vamos pensar, primeiro, no jogo de sábado.

quarta-feira, abril 21, 2004

Que seja um grande espectáculo

FALTAM ainda dez dias para o derby de Alvalade, mas o jogo já mexe com a cabeça dos adeptos. Temendo atitudes e palavras que possam incendiar o ambiente, mais agora que surgiu novo escândalo na arbitragem, Luís Filipe Vieira apela à calma e ao fair play a dirigentes, treinadores, jogadores e público em geral...

Apesar de Benfica e Sporting terem de disputar um jogo de permeio, antes de se defrontarem em Alvalade, o derby já mexe. Luís Filipe Vieira não quer ver o nome do clube envolvido em polémicas e apela à contenção de palavras antes do grande dia, deixando aos jogadores a responsabilidade de decidir o jogo. Numa verdadeira mensagem aos adeptos dos dois clubes, o líder dos encarnados pediu a dirigentes, treinadores, jogadores e público em geral que «saibam estar» à altura do grande espectáculo, que deverá dar, uma vez mais, o «exemplo». «Deixemos os jogadores, os 22 ou 25 que estiverem lá em baixo, decidir, e espero que no final toda a gente saia feliz do estádio», expressou.

Preocupado com incitamentos que possam incendiar o ambiente, Luís Filipe Vieira apelou ao fair play, para que todos os que desejarem ir ao estádio o possam fazer sem receios: «Espero que não comecem a criar ambientes nos quais o Benfica não quer participar e, acredito, o Sporting também não. Não comecem a ligar-nos a situações com as quais nada temos a ver. O que queremos, neste grande derby de Lisboa é que seja um grande espectáculo e que muitas famílias e muita juventude estejam presentes.»

Parceria inédita

Derby à parte, Luís Filipe Vieira expressou também a importância da parceria estabelecida com a Adidas e que, segundo o próprio, irá render muitos dividendos ao clube. «Esta é uma das grandes parcerias, talvez a mais importante que vai haver com o Sport Lisboa e Benfica e, além de ser um projecto inédito, vai permitir ao nosso clube cobrar royalties em que possa haver venda directa da Adidas.

Obviamente, DEMITO-ME

Após onze horas de intensa discussão, Fonseca Santos demitiu-se do cargo de vice-presidente da Direcção. Às quatro da madrugada nada fazia prever que tal viesse a acontecer, como A BOLA ontem lhe deu conta, apesar da enorme pressão dos órgãos sociais, mas na recta final Fonseca Santos acabou por ceder. Não por se considerar esclarecido, mas pelo facto de a sua posição não ser partilhada por nenhum dos restantes membros. Fonseca Santos e Luís Filipe Vieira trocaram argumentos de forma educada e selaram a noite com uma breve conversa e um aperto de mão.

Nada o fazia prever, quer antes do início do plenário, quer à hora do fecho da nossa segunda edição de ontem, mas Fonseca Santos demitiu-se mesmo da Direcção para a qual havia sido eleito como n.º 2 de Luís Filipe Vieira. Isto depois de já ter apresentado a renúncia às funções de administrador em algumas das sociedades participadas do Grupo Benfica, nomeadamente a SAD. Exceptuando duas intervenções de elementos dos órgãos sociais que terão ultrapassado os limites do razoável, a discussão decorreu quase sempre de forma civilizada, com Luís Filipe Vieira e Fonseca Santos a trocarem os respectivos argumentos com educação. Aqui e ali de forma mais acalorada, mas sempre com educação. E, contrariamente ao que A BOLA, divulgou ontem não se abordaram temas como o fim das claques ou terminar com os apoios às casas do clube.

Demissão surgiu no final

Terá sido a última hora e meia de reunião a originar a decisão de Fonseca Santos. Este tinha consciência de que seria pressionado a demitir-se, mas acreditava que a sua posição colheria o apoio de alguns dos elementos dos órgãos sociais. Tal não aconteceu e algumas intervenções, sobretudo na parte final, terão mesmo surpreendido Fonseca Santos. Face ao isolamento, e já com onze horas de reunião, comunicou ao plenário a atitude que viria a tomar. Chegou a ponderar-se a leitura de um comunicado conjunto, mas, face ao cenário criado, tomou primeiro a palavra o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Tinoco de Faria , com o líder do Conselho Fiscal, Walter Marques, a seu lado. Num comunicado qu A BOLA publ na íntegra é re uma «inadm quebra de solidariedade institucional » e a inexistência de «quaisquer actos ou omissões de tipo ilícito ou fraudulento », reconhecendo-se, contudo, «a necessidade de melhorar alguns aspectos organizativos ». É então submetida à «consciência benfiquista » de Fonseca Santos a apresentação do pedido de demissão. Este chegaria cinco minutos depois, com o relógio a assinalar já 5.30 horas da madrugada. «Entendendo que a minha posição não é partilhada por qualquer dos membros dos órgãos sociais do clube, e não vendo razão para a mudar, entendi apresentar a renúncia às funções de vice-presidente da Direcção. Nunca acreditei que todos os órgãos sociais do Benfica, nomeadamente o Conselho Fiscal, tivessem uma opinião distinta da minha », disse Fonseca Santos, justificando a sua mudança de atitude. Ainda assim, fez questão de sublinhar que não saiu esclarecido da reunião.

Renúncia entregue a Tinoco de Faria

Horas depois, ao meio-dia, Fonseca Santos entregou a carta de demissão a Tinoco de Faria, no Estádio da Luz, deslocando-se então à sala de imprensa para divulgar o comunicado no qual enuncia, mais detalhadamente, as razões da sua decisão (igualmente publicado nestas páginas). Por último, o ex-dirigente referiu três aspectos por si considerados de enorme relevância: a relação de controlo do Benfica com as suas sociedades participadas, a responsabilidade solidária (por eventuais prejuízos) de todos os que tomaram posição oposta à sua nas matérias abordadas e, por último, o reconhecimento de que nunca pretendeu pôr em causa a honorabilidade de Luís Filipe Vieira.

Aperto de mãos após o plenário

No final do plenário, enquanto o comunicado dos órgãos sociais era redigido, Luís Filipe Vieira e Fonseca Santos estiveram alguns minutos à conversa e o líder do clube terá deixado aberta uma porta ao nível da relação pessoal entre ambos. É certo que esta nunca mais será a mesma, sobretudo depois da troca de palavras que marcou os últimos dias, mas ambos terão reconhecido alguns excessos nas declarações, selando a noite com um simbólico aperto de mão. Existe agora um acordo de tréguas entre as partes: Fonseca Santos só falará se, porventura, se vir obrigado a tal. Filipe Veira também não se pronunciou.

Três parceiros em três jogos

O miúdo está mesmo na moda. Não há benfiquista que disfarce expectativas em relação ao valor da mais recente exportação das escolas da Luz e Manuel Fernandes assina por baixo, preparando-se para fazer história, já que pode experimentar três parceiros em outros tantos jogos consecutivos. Actuou com Fernando Aguiar, entendeu-se às mil maravilhas com Petit e, agora, se Camacho assim o entender, deve formar dupla com Tiago.

No início da temporada ninguém o conhecia. O único Manuel Fernandes de que os benfiquistas se lembravam era mesmo do tal que lhes azedara a boca ao apontar quatro golos no dia em que o Benfica deixaria Alvalade vergado ao peso de sete golos contra um.

Agora, porém, o nome do actual treinador do Penafiel, que tanto perturbou os ouvidos das gentes da Luz, pode ser impunemente pronunciado entre as hostes encarnadas, em virtude do esforço de um miúdo de 18 anos, que apresenta o selo de qualidade das escolas do Benfica, que tantos anos pareceu perdido. Manuel Fernandes jogava nos juniores e no Benfica B, mas a saída precipitada de Ednilson rumo ao Vitória de Guimarães e a onda de lesões que se abateu sobre o plantel levaram José Antonio Camacho a considerar a hipótese de chamá-lo ao convívio com os mais velhos. Há, claro, aquele pormenor que diz respeito à qualidade que o futebolista já demonstrava.

Depois de conquistado um minuto aqui e ali, o jovem começou a distinguir-se e um golo ao Gil Vicente abriu os olhos a quem vê os jogos do Benfica. Num ápice, deu por si a defrontar, na Luz, estrelas como Toldo, Javier Zanetti ou Recoba. Era o Inter de Milão! Mais recentemente, os problemas de Tiago e Petiti empurraram-no para a titularidade. Experimentou-a, pela primeira vez, frente ao Paços de Ferreira (2-1), na Luz, e ao lado de Fernando Aguiar. No sábado, em Braga (3-0), entendeu-se com Petit como se desde sempre o conhecesse e evidenciou-se no sector mais recuado do miolo.

Agora, Petit está castigado e é seguro que não defronta o Estrela. Ao invés, Tiago está recuperado...

terça-feira, abril 20, 2004

Reunião terminou perto das 6:00

Fonseca Santos renunciou

Fonseca Santos renunciou hoje ao cargo de vice-presidente da direcção do Benfica, na sequência de uma longa reunião dos órgãos sociais, iniciada às 18:00 e concluída perto das 6:00.

Remetendo para mais tarde explicações mais detalhadas, Fonseca Santos indicou ainda assim que decidiu abandonar a direcção do Benfica por a sua posição não ser "partilhada por nenhum dos membros dos órgãos sociais" e por entender que não há razões para a mudar.

O dirigente precisou que entregará às 12:00 a carta de renúncia ao presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, Tinoco Faria. Na mesma altura será entregue um comunicado à imprensa.

Por seu turno, Tinoco Faria comentou no final da reunião dos órgãos sociais, que na mesma foi demonstrado que não havia irregularidades e acrescentou que a renúncia de Fonseca Santos foi aceite pelos órgãos sociais, entendendo que a carta aberta e sucessivas entrevistas nas quais o dirigente criticou a gestão do clube constituíram "objectivamente uma inadmissível quebra de solidariedade institucional".

Santos disparou críticas

Fonseca Santos usou da palavra depois de Luís Filipe Vieira ter rebatido as principais acusações lançadas pelo dirigente demissionário na já célebre carta aberta publicada em A BOLA. Tal como já era esperado, Santos, perante todos os elementos dos órgãos sociais, voltou tecer duras críticas à forma como a Benfica, Estádio está a ser gerida por Luís Filipe Vieira. Fonseca Santos também não poupou nos adjectivos relativamente ao modelo comercial adoptado pelo Benfica, considerando-o, entre outras coisas, como «um falhanço estrondoso». O sistema informático de controle de bilhetes, o facto de os encarnados não terem apostado em bilhetes de época para os sócios bem como o aparente fracasso da venda de lugares cativos foram igualmente farpas lançadas por Fonseca Santos. Luís Filipe Vieira ripostou e acusou o ainda vice-presidente de querer, entre outras coisas, acabar com as claques e votar as casas do Benfica ao esquecimento.

Sim, senhor Presidente

NO âmbito das comemorações do Centenário, o Benfica foi ontem recebido no Palácio de Belém pelo Presidente da República. Aproveitou para o convidar para alguns dos eventos programados, elogiou o seu papel na «dignificação» do futebol e ofereceu-lhe, entre outros presentes, uma camisola com o nome Jorge Sampaio estampado.

A comitiva encarnada foi liderada pelo presidente Luís Filipe Vieira. A seu lado os presidentes da Assembleia Geral e Conselho Fiscal, respectivamente Tinoco de Faria e Walter Marques. Todo o grupo de trabalho do departamento de futebol, da equipa técnica aos jogadores ou médicos, também marcou presença. Tal como Eusébio e Guilherme Espírito Santo, este o presidente honorário do Centenário. Jorge Sampaio recebeu a comitiva encarnada com toda a simpatia. Eram 11.30 horas quando começou a sessão e pouco depois todos foram conduzidos até ao lindíssimo jardim do Palácio para uma foto de família. Tempo ainda para uma agradável troca de impressões num encontro em que todos puderam degustar os famosos pastéis de Belém, acompanhados por sumo ou cola. O Benfica deu a conhecer ao Presidente Jorge Sampaio o que tem programado para assinalar o Centenário. E aproveitou, conforme revelado no final por Tinoco de Faria, para convidar o chefe de Estado para algumas iniciativas, sendo que o sim estará sempre dependente da agenda presidencial. A Jorge Sampaio foi entregue uma camisola do Benfica com o seu nome estampado nas costas, uma águia de prata, uma bola autografada e um livro do Centenário. À saída, Tinoco de Faria falou aos jornalistas dando conta do que aconteceu no encontro e revelou ainda que o Benfica «agradeceu ao Presidente da República o alto patrocínio que tem dado ao futebol, visando a sua dignificação, bem como o magistério de influência que tem exercido nesta área».

Pré-época por marcar

A pré-época dos encarnados continua por definir. Tudo por culpa das dificuldades de calendarização e da indefinição quanto à participação na Taça UEFA ou na Liga dos Campeões...

Não está a ser fácil programar a pré-época do Benfica. Apesar de faltarem apenas três jornadas para o final da SuperLiga, as indefinições quanto ao lugar que a equipa irá ocupar na tabela classificativa e o desempenho da Selecção Nacional— integrada por vários jogadores encarnados — no Euro-2004, tornam extremamente difícil determinar, por agora, a data de apresentação do plantel para a época de 2004/05. Concretamente, a primeira dor de cabeça começa pelo facto de ninguém poder determinar nesta altura se o Benfica vai ficar no 2.º ou 3.º lugar. Caso se confirme a primeira hipótese, o clube terá de ter em conta que primeira mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões se disputará nos dias 10 e 11 de Agosto, ao marcar a data de início dos trabalhos. Mas chegado a este ponto, outro obstáculo se levanta: se Portugal for apurado para a final do Euro-2004, os jogadores só entrarão de férias a 5 de Julho, tendo, portanto, pouco tempo para descansar. Até porque a equipa teria de realizar alguns jogos de preparação antes de participar no jogo da pré-eliminatória. Situação que, obviamente, ninguém deseja na Luz, mas que aliviaria o departamento de futebol em relação à calendarização da pré-época e dos jogos de preparação, é a equipa garantir apenas o 3.º lugar. Neste caso, os encarnados entrariam em acção apenas em finais de Agosto, mas contabilizando o período de férias mínimo que um futebolista deve ter e a necessidade de disputar pelo menos três jogos de preparação antes de atacar os jogos oficiais, o panorama não será muito diferente.

Argel e Sokota na SAD

Acresce ainda a calendarização da SuperLiga e da Supertaça que, internamente, deverá ser o primeiro jogo da época. Esta é, pelo menos, a opinião do director- geral da SAD encarnada, e António Simões, o homem que está a tentar desbloquear esta complexa situação. «É verdade que as dúvidas quanto à classificação da equipa estão a gerar alguma indefinição sobre a pré-época, mas temos várias hipóteses em carteira. Estamos preocupados, mas penso que até 2 de Maio, a seguir ao jogo com o Sporting, tudo ficará definido», admitiu. Noutro âmbito, António Simões recebeu ontem as visitas de Argel e Sokota, dois jogadores que se encontram em fase de renovação de contratos. Nada transpirou sobre os motivos da presença de ambos jogadores na SAD, mas sabe-se que após o acordo alcançado com Moreira, garantir

sexta-feira, abril 30, 2004

Camacho é quem decide

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, abordou ontem os temas que dominam a actualidade encarnada e não fez uso de um discurso politicamente correcto quando se pronunciou a respeito da renovação de Camacho e da relação do emblema com o representante do técnico, Pedro de Felipe.

Renovação do treinador

«Camacho faz parte do projecto. Não vou ser hipócrita e, como já disse anteriormente, é o meu treinador. Não tem sequer de haver convite, tem é de haver vontade de ambas as partes. Camacho é quem decide e o Benfica está onde está hoje e preencheu algumas lacunas graças justamente ao papel do treinador. Ocaso do Mantorras é um bom exemplo. Sabe o que queremos e nós aquilo que ele quer. Há quem diga que fala muito, mas é normal e estamos em democracia »

Críticas dirigidas a Pedro de Felipe

«Não negoceio com empresários. O senhor De Felipe tem de calar-se e não falar mais sobre a instituição Sport Lisboa e Benfica. Só negociamos com o senhor Camacho. As coisas foram como foram o ano passado graças ao senhor de Felipe. Ele devia ter mais respeito pelo Benfica. Depois do que disse hoje [ontem] não voltaremos a falar com ele»

Entrave para o entendimento?

«Camacho é intransigente como eu e não é o senhor De Felipe quem toma decisões. Não acredito que o senhor De Felipe fale em nome de Camacho, porque se assim for é muito grave e é um sinal de que o senhor Camacho não quer ficar no Benfica. Mas Camacho é o meu treinador»

Entrada de José Veiga

«Faz parte do nosso projecto. Mas eu sozinho não decido nada. A temporada ainda não acabou, pois não? Propus esta solução à Direcção e foi aceite por unanimidade »

Há interesse em Rossato?

«Temos de respeitar os nossos profissionais. Mas é óbvio que vamos fazer alguns reajustamentos para a próxima temporada»

Contratação de Alcides

«Nada confirmamos a respeito de jogadores. Mas Mantorras também estava dado como praticamente acabado para o futebol, não estava?»

«Fair-play» para o «derby»

«É um jogo muito importante para as duas equipas. Queremos obviamente ganhar e como presidente do Benfica acredito que o Benfica vai vencer. Tal como o doutor Dias da Cunha pensa o mesmo em relação ao Sporting. Espero que as claques se comportem à altura do espectáculo. Seguramente que no final do jogo, e independentemente do resultado, vou dar um abraço a Dias da Cunha. Vou a Alvalade mas vou ficar num sítio fechado, sem televisão, e vou fazer o mesmo que fiz no jogo com o Inter de Milão. Só ligarei o telemóvel no final. Infelizmente recebi a notícia de que a equipa tinha perdido. É bom que as famílias possam vir ao futebol, porque já existe conforto. Que o futebol seja sempre uma festa. Os dirigentes devem ter uma atitude positiva e não criar guerras e guerrilhas antes do jogo. Que ganhe o melhor e que no futuro o ambiente no futebol seja sempre como este»

Liga dos Campeões é decisiva?

«Para quem chegou ao Benfica, como eu cheguei, e viu como estavam as coisas e tendo em conta aquilo que estamos a construir não é um resultado que vai liquidar o projecto que temos delineado »

Futuro da equipa é promissor

«Neste momento as coisas estão bem encaminhadas, já temos cinco ou seis jogadores na Selecção Nacional, e se calhar para o ano teremos oito ou nove»

Não posso entrar em desespero!

Depois da tesoura voadora que sofreu de um jogador do Botafogo, no jogo do passado domingo, o joelho direito de Alcides ficou solto na perna, era possível mexê-lo da direita para a esquerda, sem resistência. O defesa-central percebeu imediatamente que era uma lesão grave e teve medo. Está a começar a carreira, assinou pelo Benfica e era fácil desesperar, mas

Alcides enfrenta com coragem a operação e uma paragem de seis a oito meses. «Vou voltar a jogar mais depressa do que possam imaginar», prometeu a «A BOLA». Alcides é uma das grandes promessas do futebol brasileiro e a lesão, ao serviço do Santos, deixou chocados os adeptos da equipa treinada por Emerson Leão. Principalmente pela brutalidade da falta de Têti, jogador do Botafogo que colocou em risco a carreira do defesa-central, que recentemente assinou um pré-acordo com o Benfica. «A BOLA» esteve com Alcides no complexo de treinos do Santos e ele contou-nos como tudo se passou no relvado, no balneário e nas dolorosas horas que se seguiram, até à confirmação de que é preciso recorrer a uma intervenção cirúrgica.

— Como está a reagir a este grave problema?

— No fundo estou muito triste, é claro. Mas não posso ficar abatido. Quando senti a dor, no choque, percebi que se tratava de uma lesão grave. Quando o doutor me examinou, no balneário, o joelho saía de um lado para o outro, como se estivesse solto. Percebi que tinha rompido os ligamentos. O doutor ainda me quis animar e disse que talvez não fosse preciso operar, para eu ficar tranquilo... Mas sabia que isso poderia vir a acontecer.

— Mas como aconteceu a lesão?

— Num choque com Têti, num contra-ataque do Botafogo. Junto à linha lateral desarmei o Têti e sentei-o, mas quando me virei para fazer um passe ele fez-me uma tesoura voadora ao joelho direito. Acho que na hora ele não teve boa intenção, mas nem quero entrar por aí. Senti muita dor. A minha mãe e a minha família ficaram muito preocupados e recebi muitos telefonemas de apoio. Tenho recebido muito estímulo.

— O que lhe passou pela cabeça nestes últimos dias?

— Tudo. Afinal, estou apenas a começar a minha carreira. Tantos sonhos que eu tenho e quando me aparece uma grande oportunidade para voltar a jogar na Europa e logo num clube como o Benfica... acontece isto. É para entrar em desespero, mas não posso! Estou muito confiante e acredito que vou voltar a jogar mais rápido do que as pessoas possam imaginar. Vou ultrapassar tudo isto e por isso não tenho medo de ser operado.

— Prefere ser operado em Portugal ou no Brasil?

— O meu empresário falou-me na possibilidade de ser operado em Portugal e não tenho qualquer problema se o Benfica quiser isso. É claro que preferia ficar no Brasil, onde tenho o apoio da minha família e estou em casa, mas se tiver de viajar tudo bem. Estou entregue a Deus e aos homens de boa vontade.

— Teme a recuperação?

— Não. Acho que acabei por ter sorte porque nem sequer me atingiu o menisco. Conheço alguns casos como o meu e sei que a recuperação é lenta mas certa, sem riscos. Daí a minha confiança.

Paragem de seis a oito meses

Alcides está a ser acompanhado pelo doutor Carlos Braga, médico do Santos e conceituado cirurgião. O clínico brasileiro admite a gravidade do problema mas não encontra razão para dramas: «Gravidade há, mas não existe nada que não se possa resolver. Ele teve uma lesão do ligamento cruzado anterior e do colateral medial, que romperam, mas não totalmente. Depois de ser examinado numa clínica em São Paulo, pelo doutor Camacho Silveira, ficou provado que é preciso operar. Vai ficar parado entre seis e oito meses, mas estou certo de que em breve voltará a jogar. Estes casos são normais no futebol e em nenhum dos que já existiram os jogadores ficaram inutilizados para o futebol. O próprio Rivaldo teve problemas de ligamentos quando esteve no Barcelona, foi operado no Brasil e não teve mais problemas», contou Carlos Braga, que afirma não colocar qualquer objecção a que Alcides seja operado na Europa: «O Santos daria todo o apoio mas se o Benfica entender que quer operar o jogador na Europa não coloco qualquer problema. Pelo contrário, estou pronto para ajudar no que for preciso, até para falar com o jogador para que ele não fique psicologicamente afectado.» Carlos Braga assegura que Alcides será operado em São Paulo, caso jogador, empresário e Benfica decidam realizar a intervenção cirúrgica no Brasil.

Sporting em vídeo

O plantel do Benfica viu ontem um vídeo do jogo da primeira voltado campeonato frente ao Sporting. Um encontro de má memória para os benfiquistas, que perderam por 1-3, na Luz. O treino começou mais tarde por causa desta sessão, durante a qual Camacho deverá ter alertado os jogadores para erros que não podem voltar a cometer.

O treino de ontem, no Estádio da Luz, estava marcado para as 17 horas, mas começou 25 minutos mais tarde. Os jogadores não subiram ao relvado à hora prevista porque primeiro estiveram a assistir a um vídeo muito especial: o encontro entre o Benfica e o Sporting, na primeira volta do campeonato. A equipa encarnada perdeu esse jogo por 1-3 e Luisão marcou o chamado golo de honra para a equipa da casa, enquanto que pelo Sporting marcaram Silva, Rochemback e Sá Pinto (os últimos dois na conversão de grandes penalidades). Como habitualmente nos jogos deste nível, a arbitragem foi polémica e a temperatura esteve alta. O Benfica ainda sentiu os efeitos da derrota na jornada seguinte, pois empatou a três golos com o União de Leiria. Nesse primeiro encontro, Camacho utilizou a seguinte equipa titular e estratégia: Moreira na baliza, Miguel na direita, Luisão e Hélder como centrais e Ricardo Rocha na esquerda; Fernando Aguiar e Tiago no centro (Petit vinha de lesão e apenas entrou aos 46 minutos), Zahovic no meio, atrás de uma linha formada por Simão à esquerda, Sokota mais na direita e Nuno Gomes como ponta-de-lança. Uma linha que dificilmente voltará a ser recuperada na íntegra, pois Petit está em boa forma e Fyssas será o lateral-esquerdo, numa dupla de centrais que, à partida, será formada por Luisão e Ricardo Rocha.

Erros a não cometer

Começou assim, em força e com concentração na análise de um vídeo, o arranque da preparação para o jogo de domingo, visto que apenas ontem os jogadores internacionais regressaram ao grupo. José Antonio Camacho terá aproveitado as imagens do desafio da primeira volta para conversar com os seus jogadores sobre erros que não podem voltar a cometer. Um ponto de partida para a estratégia a utilizar no empolgante derby, que pode decidir a conquista do segundo lugar e uma presença na Liga dos Campeões. Importa esclarecer que o técnico espanhol tem por hábito analisar vídeos de jogos dos adversários na companhia do plantel. Uma prática que assume especial relevância nesta jornada, para a qual todos os pormenores contam.

Camacho 4x4x2 4x3x3

O Benfica continua a preparar com todos os cuidados a deslocação ao Alvalade XXI, onde jogará boa parte da sua candidatura à participação na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões de 2004/05. Já com todos os internacionais integrados nos trabalhos, Camacho tem 48 horas para se decidir pelo modelo táctico a apresentar no derby. As vantagens, desvantagens e background, já a seguir...

O treino de ontem do Benfica começou com quase meia hora de atraso sobre o horário previsto. O relógio já batia nas 17.25 horas quando os craques encarnados pisaram o relvado da Luz, abafando, com a tagarelice própria dos jovens, amplificada pelo eco da cobertura da Nova Catedral, o ruído dos automóveis que, na hora de ponta da Segunda Circular, se dedicavam à rotina do pára-arranca. José António Camacho aproveitou o fim do ciclo das selecções para, já com o quórum completo, proceder a uma sessão de vídeo que serviu para identificar as forças e fraquezas do Sporting. Só depois começou a sessão de treino, que acabou por fornecer algumas pistas importantes quanto à natureza do onze benfiquista no Alvalade XXI. Em primeiro lugar, Armando, que deverá primar pela ausência no derby, a contas com uma tendinite. Assim sendo, confirmando-se aquilo que ontem era dado como certo, Miguel regressará a defesa-direito, aliás uma posição a que se adaptou na perfeição e lhe vale, actualmente, um bilhete para o Euro-2004. No que mais respeita ao último reduto encarnado, não subsistem dúvidas: Moreira, na baliza, Luisão e Ricardo Rocha à sua frente (e ontem, estes três jogadores reforçaram a equipa de juniores no treino de conjunto) e Fyssas, ainda amassado pelos 4-0 com que a Holanda brindou a sua Grécia, na esquerda. No meio-campo, Petit e Tiago estão certos, enquanto Manuel Fernandes foi dado como apto para o derby, embora não caiba no onze titular. Igualmente certos na equipa de Camacho estarão Sokota,Nuno Gomes e Simão. Encontrado o «dez», qual será o «onze»? Se o técnico espanhol optar por Zahovic (ver caixa), o desenho será de 4x3x3, com menor amplitude de ala a ala, compensada por uma densidade superior no centro do terreno, à imagem do que aconteceu sempre que o Benfica, esta época, defrontrou o FC Porto e o Sporting. Se for João Pereira (ou Geovanni) a integrar a equipa inicial, haverá um Benfica mais próximo do habitual, rápido, alegre e perigoso a atacar, mas a pedir muito ao duplo pivot (Tiago e Petit) na hora de encontrar equilíbrios defensivos. No treino de ontem, onde Mantorras, ainda aqui e ali defender o joelho, gingando um pouco, pareceu «para as curvas», apenas Tiago e Nuno Gomes esticaram as pernas no «conjunto». Hoje, por certo, o trabalho de Camacho vai ter a ver com as afinações finais para o derby da Liga dos Campeões.

Dia decisivo para Armando

ARMANDO é a única dúvida, de foro clínico, no plantel encarnado. A sua provável ausência obrigaria, automaticamente, o treinador a alterar o sistema táctico utilizado nos últimos dois jogos, mas se vai mesmo ficar de fora...

A lesão de Armando poderá estar a condicionar a estratégia de José Antonio Camacho para o jogo com o Sporting. Sem poder gabar-se de integrar o lote dos titulares absolutos, a verdade é que o jogador já participou em 17 jogos da Superliga, nesta época, sem contar outras competições, como a Taça UEFA. O lateral-direito encarnado tem sido utilizado quase sempre no corredor esquerdo, mas José Antonio Camacho surpreendeu tudo e todos, ao conceder-lhe a titularidade na posição de origem, nos últimos dois jogos, avançando o intocável Miguel para médio-ala direito. Com este sistema, o Benfica conquistou seis pontos e Armando esteve sempre em plano de destaque, sendo legítimo inclui-lo no lote dos potenciais titulares no derby, caso recupere. Nesta altura, só Camacho saberá se conta com Armando ou se Miguel voltará a recuar no terreno, mas a confirmar-se a indisponibilidade do primeiro, por razões físicas, será mesmo a segunda hipótese a prevalecer. Ontem, Armando fez corrida, acompanhado de Manuel Fernandes, e voltou a sentir dores, mas só mediante o que acontecer esta manhã, em Odivelas, se poderá dar por definitiva a sua ausência na lista dos convocados. Habitualmente, José Antonio Camacho não gosta que jogadores ausentes dos treinos da semana sejam titulares, mas Armando tem ainda duas sessões para provar que está em perfeitas condições físicas. Se for aprovado pelo técnico, pode ser que dê... Em situação mais confortável surge Manuel Fernandes, que ainda não completou um único treino esta semana. O benjamim da equipa está francamente melhor e é praticamente certa a sua presença na sessão de hoje. Não obstante, as presenças de Petit e Tiago impedirão a sua estreia titular no derby.

quinta-feira, abril 29, 2004

Todos juntos

AGORA sim, é a sério! Ultrapassada a jornada europeia das selecções, que afinam estratégias para o Euro-2004, José Antonio Camacho terá a partir de hoje à disposição todos os artistas para preparar com afinco o jogo do fim-de-semana, com o Sporting, o tal que pode ser decisivo para aferir qual das equipas da Segunda Circular segue à conquista da qualificação para a Liga dos Campeões. Ao todo foram oito os jogadores com que o treinador espanhol se viu privado por estarem ao serviço das respectivas selecções: cinco na Selecção portuguesa, que ontem defrontou a Suécia, em Coimbra — Miguel, Tiago, Petit e Simão jogaram de início, Nuno Gomes entrou na segunda parte—, e ainda Sokota, que defrontou durante 78 minutos a Macedónia, Fyssas, titular frente à Holanda, e Zahovic, autor de golo à Suíça. Camacho irá, certamente, recebê-los de braços abertos, tendo agendado uma única sessão de treino para hoje, às 17 horas no Estádio da Luz. Treino vespertino precisamente para dar tempo aos atletas que viajam do estrangeiro de integrarem os preparativos para o derby eterno. Ainda assim, não é de descurar que, face à sobrecarga de jogos, o treinador conceda treino diferenciado poupando os internacionais de maiores sobrecargas físicas. Salvo algum contratempo de última hora, tudo indica que Camacho terá a equipa à sua disposição na máxima força, uma vez que nenhum dos jogadores que estiveram ao serviço das selecções se magoou com gravidade, e por outro lado Manuel Fernandes e Armando, que ontem cumpriram trabalho de ginásio, deverão igualmente estar operacionais para dar o respectivo contributo. Agora sim, estão todos juntos!

DÚVIDAS

NÃO se esperam grandes surpresas na equipa titular que José Antonio Camacho vai apresentar para o jogo com o Sporting, no domingo. Mas permanecem algumas dúvidas, poucas, mas que mexem com a estratégia, com a atitude. Jogará Zahovic? Se sim, a opção dificultará a utilização de dois pontas-de-lança em simultâneo, esquema que o treinador espanhol escolheu nas últimas jornadas. E Miguel? Jogará como extremo ou como lateral? São estas as duas grandes incógnitas que interessa desvendar para se perceber que Benfica vamos ter no empolgante derby lisboeta, que para não variar se torna decisivo a duas jornadas do final do Campeonato. Camacho tem feito da coerência e da simplicidade um método de trabalho. Se assim for... o Sporting pode contar com um visitante de olhos postos no golo e nos tão ambicionados três pontos.

Será extremo ou lateral

Onde joga Miguel?

A escolha da posição que Miguel vai ocupar em campo é a outra dúvida para domingo, também esta reveladora da forma como a equipa pretende agarrar o encontro. Para desfazer esta questão é preciso, primeiro, saber se Armando recupera a tempo de uma lesão num tendão, que o impediu de treinar-se ontem. É que no caso de Miguel ser utilizado como extremo-direito, como aconteceu nos dois últimos jogos do Campeonato, será Armando quem vai ocupar o lugar de lateral. Com Miguel mais avançado o Benfica ganha explosão no flanco e não perde consistência defensiva, porque Miguel recua bem e rápido, ajudando a formar uma espécie de muralha a meio-campo. Se, pelo contrário, regressar ao lugar de defesa, está bloqueado o lado direito, mas perde mobilidade a equipa. Importante igualmente perceber que normalmente o Sporting não utiliza extremos e que, num esquema destes, as potencialidades de Miguel podem ficar amarradas se for encostado na defesa. Uma dúvida que pertence a Camacho mas, muito condicionada pela condição física de Armando.

Opção aos dois pontas-de-lança

Zahovic de início?

Com Zahovic na equipa o Benfica entrará em campo com uma atitude mais cautelosa. O esloveno, com a sua experiência e toque de bola, sabe gerir muito bem aqueles quinze minutos iniciais, muitas vezes determinantes para que os jogadores ganhem confiança para o resto do encontro. Mas será essa a intenção? Colocar Za na equipa titular implicará, quase de certeza, abdicar de um ponta-de-lança e, assim, desfazer a dupla formada por Nuno Gomes e Sokota. Estes dois jogadores dão profundidade ao ataque benfiquista e já provaram que, juntos, mesmo sozinhos, conseguem colocar em sentido uma defesa inteira. O Benfica joga em Alvalade a luta pela segunda posição no Campeonato e a participação nas competições europeias, pelo que parece mais lógico que Camacho tome a opção de manter o ataque e a atitude agressiva, na procura do golo, que Sokota e Nuno Gomes têm demonstrado. Por outro lado, Zahovic jogou ontem na Eslovénia, num encontro particular com a Suíça, e importa conhecer a condição física do estratega. Jogou bem marcou um golo, mas o desgaste do desafio e das viagens também pesa. Dvomiti ou podvomiti. É assim que se escreve duvidar em esloveno.

Camacho quer ficar

O nome de José Antonio Camacho voltou a figurar ontem na imprensa espanhola dado como possível substituto de Carlos Queirós no comando técnico do Real Madrid, algo que apesar de não representar novidade não deixa de ser mais um ponto a favor na cotação de credibilidade do treinador espanhol. Confrontado por A BOLA sobre esse cenário, o empresário de Camacho, Pedro de Felipe, negou qualquer contacto, limitando-se a afirmar aquilo que é óbvio: «Nestas alturas, pela ligação que o senhor Camacho tem ao Real Madrid, é natural que surjam essas notícias, mas ninguém falou comigo ou com Camacho sobre esse tema.» Insistindo no imperativo de «respeitar Carlos Queirós, que tem mais um ano de contrato» com os merengues, Pedro de Felipe reitera uma ideia formalizada há muito: «José Antonio Camacho gosta muito do Benfica, pretende ficar, mas a verdade é que também ainda não existiram contactos formais nesse sentido por parte do Benfica. Tudo vai depender do que o Benfica quer no futuro », salientou. O empresário revela ainda que só depois do final do campeonato terão lugar as conversações nesse sentido (à semelhança do que aconteceu no ano passado) e deixou uma garantia: se os encarnados vencerem a Taça de Portugal, o cartel de confiança dos adeptos junto do técnico será ainda maior. «Se assim o seu prestígio é grande, obviamente que será maior ainda se ganhar um título! Mas a sua continuidade não depende de títulos, seria mal se assim fosse. É que ele trabalha em desvantagem relativamente a outros colegas noutros clubes e se conseguir, pelo menos, o segundo lugar, será um verdadeiro êxito!» O que De Felipe gostaria de ver — e considerando que partilha o mesmo discurso de Camacho — era o total esclarecimento por parte de José Veiga a respeito de alguns comentários ouvidos em Espanha. «Aqui diz-se que Veiga terá dito que com ele na administração Camacho teria só de treinar. Ora, Camacho não pensa assim. Mas como isto são só rumores era bom que estas coisas fossem esclarecidas para não causar interpretações maldosas», finalizou.

Alcides operado

Afinal a lesão de Alcides é mais grave do que se pensava: o central vai ter de ser operado e pode vir a parar vários meses. Mesmo assim, o jogador espera que isto não impeça a transferência para a Luz.

Foi à meia noite de Lisboa que A BOLA teve conhecimento da evolução dos exames a que Alcides se submeteu durante o dia de ontem: afinal, Alcides rompeu os ligamentos anterior cruzado e lateral do joelho direito, sendo por isso necessária a intervenção cirúrgica. O lance, recorde-se, verificou-se no encontro que o central disputou ao serviço do Santos frente ao Botafogo, na segunda-feira. A notícia não deixa de causar alguma surpresa visto que os primeiros exames realizados ao jogador não denotaram mazela grave. Só que ontem Alcides deslocou-se a uma clínica do famoso especialista Camacho Silveira, em São Paulo, na companhia do médico do Santos, Carlos Braga. Durante uma hora, o internacional sub-20 brasileiro submeteu-se a intensas observações cujo diagnóstico foi aquele que as partes interessados menos queriam ouvir: a gravidade vai redundar num período extenso de paragem que pode ir até aos seis meses. Ao que tudo indica, Alcides será operado na próxima semana, restando agora saber se em território brasileiro ou... na Europa.

Foi uma fatalidade

Apesar do cenário ter ficado mais negro, Alcides mostra enorme serenidade. Foi pouco depois de o jogador saber o seu estado clínico que falou para A BOLA: «Espero antes de mais que isto não me impeça de ir para Portugal ou atrapalhar a minha carreira. Não quero perder esta oportunidade. Foi uma fatalidade, um mero acidente de percurso e espero que passe rápido.»

quarta-feira, abril 28, 2004

Alcides vem a Lisboa

O Benfica quer que Alcides se desloque a Lisboa para ser observado por um médico da confiança do clube, em princípio em Barcelona, por Ramon Cugat, especialista em lesões do joelho. A transferência para a Luz não está em risco. Esta é a garantia do seu empresário, que ontem falou com Filipe Vieira.

O central Alcides, recentemente contratado pelo Benfica, irá deslocar-se a Lisboa nas próximas semanas para ser observado por um especialista em lesões no joelho. Muito provavelmente por Ramon Cugat, médico catalão que acompanhou a recuperação de Mantorras. Esta é a resposta por parte do Benfica às dúvidas levantadas quanto à consumação da transferência. Dúvidas que surgiram na sequência da lesão, aparentemente grave, contraída no desafio deste fim-de-semana, em que o jogador do Santos deixou o relvado, durante o confronto com o Botafogo, com suspeita de rotura de ligamentos no joelho direito, falando-se na altura numa possível paragem de dois meses (no melhor dos cenários) ou de seis a oito, no caso de ter de ser operado.

Vieira falou com empresário

Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica e da SAD, inteirou-se, ontem, pessoalmente de todo o processo junto do empresário do central, Giuliano Bertolucci, e terá ficado mais tranquilo. «Alcides está melhor, sem dor, mais calmo depois do susto que apanhou. Pelas informações prestadas pelos clínicos do Santos, temos 90 por cento de garantias que não será necessário recorrer a intervenção cirúrgica, ou seja, a recuperação será bem mais rápida do que as primeiras previsões», anuiu. «Já passei toda a informação ao presidente do Benfica e ele disse-me que quer que o Alcides vá a Lisboa para ser visto por um médico da confiança deles, para o acompanhar desde já.Não há problema algum com a transferência», garantiu Bertolucci, não especificando, contudo, se o jovem campeão do Mundo Sub-20 recuperará depois na Luz ou se continuará a ser acompanhado no Santos, clube ao qual está ligado até ao fim de Junho. Passado o susto, tudo indica que o central estará apto no arranque da temporada 2004/05.

Ressonância não acusou rotura

Carlos Braga, médico ortopedista do Santos, afirma ser prematura qualquer previsão sobre o tempo de paragem de Alcides. Tudo depende da evolução do joelho direito do jogador nos próximos 15 dias, período em que será submetido a três sessões diárias de fisioterapia. «O choque com o adversário foi violento e ainda por cima estava a chover, o que aumentou o impacto da entrada a pés juntos. O joelho do Alcides ficou preso e sofreu uma torção violenta que afectou bastante os ligamentos. A ressonância magnética realizada não acusou rotura dos ligamentos, embora estes tenham sido afectados», começou por dizer o clínico ao nosso jornal. Em seguida, esclareceu: «Neste tipo de casos a extensão da lesão depende sempre da constituição e preparação física dos jogadores. Alcides já começou a fazer fisioterapia intensa e vai manter esse trabalho durante quinze dias. Será então feita outra ressonância magnética para ver em que estado se encontra a lesão e saber se é necessária ou não a intervenção cirúrgica. Para já é prematuro fazer qualquer previsão.» Se tiver de ser operado, Alcides ficará afastado dos relvados «entre seis e oito meses». Caso contrário, poderá começar a treinar com bola «dentro de oito semanas». Carlos Braga mostra-se esperançado na segunda hipótese.

MANTORRAS Regressou a magia

PEDRO MANTORRAS regressou ontem aos treinos com a equipa e surpreendeu todos os que estavam em Massamá com uma disponibilidade física surpreendente. Já não coxeia, perdeu o medo no confronto do um para um e voltou a maravilhar com algumas das suas habilidades técnicas. E, não menos importante, marcou dois bonitos golos. Com o pé direito. Tem ainda muito para trabalhar, é certo, mas deixou todos com água na boca.

Mantorras chegou anteontem a Lisboa muito optimista e com muita esperança na bagagem. Falou de milagre e que estava pronto para o que desse e viesse. Há que confessar, face ao historial clínico do jogador, que, provavelmente, a maioria apostou no ver para crer. Por isso, o regresso de Mantorras ao treino com a equipa, que ontem se realizou, de manhã, em Massamá, foi acompanhado com muita expectativa. Todos os olhos postos no angolano, nenhum pormenor escapou à lupa. E o que se pode dizer é que Mantorras não estava a fazer bluff. A sua magia começa agora a emergir no relvado.

Já não coxeia

Mantorras começou por fazer os habituais meiinhos com os colegas. Estava cheio de vontade de participar. Depois, fez corrida como os restantes. Bem, acabou por cumprir um programa um pouco diferente, já que alternava corrida com passo acelerado. Mais um ou outro exercício específico e estava pronto para integrar o treino de conjunto. José Antonio Camacho, o treinador, dividiu o plantel em duas equipas de nove jogadores cada. E logo nas suas primeiras movimentações foi possível tirar a primeira conclusão. Bem positiva, por sinal: Mantorras já não coxeia. Algo que era evidente nos treinos que fez antes do programa de recuperação realizado em Barcelona e que agora nem se nota. Mantorras teve papel activo no treino e logo se chegou a outra conclusão igualmente animadora: perdeu o medo dos lances de um para um e sempre que tinha bola atirava-se para cima dos adversários. Num dos primeiros lances, literalmente sentou Hélder no chão, com a sua tão característica finta de corpo.

Dois grandes golos!

Pouco depois das primeiras fintas, um dos momentos mais bonitos do treino quando, descaído sobre a esquerda, rematou forte com o pé direito, em arco, para o lado oposto da baliza. Um golo muito bonito que ainda o animou mais. Mantorras insiste. Dos seus pés uns pós de magia, aquele jeito de jogar desconcertante, aquela finta imprevisível. Veio depois o momento mais alto, quando com algumas movimentações de corpo e novo diálogo com a bola, deixou Argel desconcertado e marcou, de ângulo apertado, novo golo.

Tanto carinho

O treino terminou. Aqualidade permanece intacta, falta trabalho físico intenso. Volta a falar-se em milagre, mas ninguém esconde e emoção por ver renascer um talento puro. Mantorras foi muito acarinhado. Pelos colegas e pelo público, que gritou o seu nome. Ele está a voltar...

Vão ficar surpreendidos

O médico que tem acompanhado o processo de recuperação de Pedro Mantorras, o catalão Ramon Cugat, está contente com a forma como o avançado trabalhou nas últimas três semanas e com a resposta dada pelo joelho direito. «O Pedro está muito bem, com o joelho seco, sem derrame e com uma boa massa muscular. Está com uma grande potência e cumpriu todo o programa estabelecido. Vão ficar surpreendidos». A partir de agora Mantorras estará a trabalhar sob as ordens de Camacho «para dar início à terceira e última fase da recuperação, que é a reintegração no terreno de jogo», destacou, enunciando depois os passos seguidos pelo jogador: «Depois da operação seguiu-se a adaptação ao esforço e agora readaptação ao futebol. Estive a observar Mantorras no domingo e fiquei muito contente. Agora o timing para voltar a jogar dependerá da readaptação ao relvado, é importante ter em consideração aspectos como o esforço físico, a resistência pulmonar, o sistema cardio-respiratório... aqui subiu montanhas, respirou muito, trabalhou muito bem.» Em Terrassa, onde trabalhou nas últimas semanas, o preparador físico que o acompanha preocupou-se em recuperar também a massa muscular do angolano. Cugat diz que neste aspecto «ainda não está a 100 por cento, mas melhorou muito», revelando que Mantorras «sempre teve a massa muscular da perna esquerda superior à da direita ». Mais importante é que o avançado «já não coxeia ». Agora «tudo dependerá dele e de Camacho para voltar a jogar», concretizou.

Liga instaura processo disciplinar

DEPOIS das multas, a Liga decidiu instaurar um inquérito à SAD do Benfica, devido as ausências de Camacho nos flash-interview...

A Liga de clubes decidiu multar o Benfica em 2500 euros, devido ao lançamento de um petardo pelos seus adeptos, em Braga, e abrir, igualmente, um processo à SAD da Luz, motivado pelas ausências do técnico José Antonio Camacho nos flash-interview dos jogos com Sporting de Braga e Estrela da Amadora. Desde o clássico com o FC Porto, da 22.º jornada, que o treinador encarnado se tem recusado a comparecer nos flash-interview, na sequência de um desentendimento com a RTP, estando disposto a manter a sua posição até ser-lhe atribuída a razão pela Liga no diferendo, segundo apurámos junto de fonte próxima do treinador espanhol. De acordo com testemunhas oculares—afectas ao clube da Luz — Camacho ter-se-á sentido desrespeitado por, após o desafio com o FC Porto, o terem feito esperar quase cinco minutos, sem que alguém da RTP se tivesse dignado explicar-lhe (Camacho alega que nem sequer o cumprimentaram) a razão de tanta demora. A fazer fé nas mesmas fontes, a intenção do canal público seria abrir o Telejornal com as declarações do treinador dos encarnados, algo que não veio a suceder, já que essa honra coube à ministra da Justiça, Celeste Cardona, seguindo-se uma entrevista do seu homólogo da Defesa, Paulo Portas, que estava em estúdio.

Benfica prudente

Sentindo-se desrespeitado e impaciente por chegar ao balneário, Camacho retirou-se da sala e não mais voltou a comparecer num flash-interview, apesar das multas que lhe têm sido aplicadas pela Liga. É sabido que o treinador tem por hábito falar aos jogadores a seguir aos jogos e, por isso, procura sempre apresentar-se o mais rapidamente possível no curto diálogo com as televisões, para chegar ao balneário antes de os pupilos se desmobilizarem. O que ajuda a explicar a sua impaciência. O comunicado da Liga já chegou à Luz, mas só hoje, depois de devidamente analisados os pontos que sustentam a abertura do inquérito, deverá haver uma posição da parte da SAD.

terça-feira, abril 27, 2004

Fui um campeão consegui o impossível

MANTORRAS está de volta aos relvados, será hoje reintegrado nos treinos sob o comando de José Antonio Camacho. É o fim de um longo processo de recuperação. Daqui a três semanas poderá receber luz verde para o regresso em pleno à competição. «Fui um campeão.» O elogio não é despropositado.

Adeus tristeza. Bem que pode começar assim a página da crónica de mais um dia na vida de Pedro Mantorras, o angolano que luta pelo regresso aos relvados depois de mais de dois anos de longo calvário face a uma complicada mazelana cartilagem do joelho direito. O avançado voltou ontem, ao fim do dia, de Barcelona, onde esteve a trabalhar nas últimas três semanas, com um vasto sorriso no rosto, disposto a iniciar uma nova etapa já a partir de hoje: voltar a seguir as instruções de Camacho em pleno treino. Sem restrições. O pior já lá vai, «consegui o impossível », recorda o jogador. «Fui um campeão», diz logo de seguida. «Correu tudo bem nestas três últimas semanas em Barcelona. Dei um passo muito importante na minha carreira. Fiz trabalho específico e tenho consciência que sem esse trabalho não conseguiria voltar a jogar. Agora tenho a massa muscular ideal, o doutor Cugat gostou muito. O que acontecer a partir daqui dependerá muito de mister Camacho. A partir de amanhã [hoje] posso começar a trabalhar sem limitações, mas ainda tenho um programa específico para cumprir», anunciou à chegada, como que desejando que o fim do sofrimento. «Vivi momentos difíceis, mas quem corre por gosto não se cansa. Acima de tudo fui um campeão. Consegui o impossível», recorda. Tempo para agradecer a quem não se esqueceu de o apoiar nos momentos menos bons, em particular «ao senhor Nobre, sócio do Benfica», porque «os amigos são para os momentos difíceis e não para dar palmadinhas nas costas quando tudo está bem.» Uma última palavra para desejar boa sorte aos seus companheiros para o jogo de domingo: «O derby, espero que o Benfica vença.»

Fisioterapeuta também veio

Emili Ricart Aguirre, o fisioterapeuta catalão que acompanhou Mantorras nesta última etapa da recuperação, também está em Lisboa para continuar a não perder de vista a forma como o avançado regressará aos relvados. «Mantorras ainda vai ser acompanhado por uma comissão médica e técnica para coordenar o trabalho específico que ainda falta realizar. Falta apenas a readaptação ao relvado, vamos ver se ao fim de três semanas já teremos concluído o nosso trabalho para que ele possa voltar a jogar», concretizou.

É uma final à parte

O gigante brasileiro do Benfica proporcionou ontem uma tarde diferente a cerca de 50 alunos — entre os quais 15 com deficiência auditiva — da Escola Básica 2+3 da Cruz de Pau, no Seixal. Questionado pela pequenada sobre o resultado do derby, prognosticou a vitória encarnada por 3-0, mas apenas a brincar. Mais a sério, aos jornalistas, confessou esperar muitas dificuldades. «O importante é vencer, 1-0 chega», disse.

Satisfeita a curiosidade dos alunos (ver peça à parte), Luisão respondeu a algumas perguntas dos jornalistas sobre a visita a Alvalade. «Vai ser um jogo superdifícil, é uma final à parte da Super-Liga, uma vez que o FC Porto já é campeão. Na primeira volta perdemos e desta vez também esperamos muitas dificuldades», começou por dizer. O camisola 4 da Luz esclareceu em seguida: «Disse às crianças que o Benfica vai ganhar por 3-0 mas foi apenas na brincadeira, para se rirem um pouco. Tudo pode acontecer, não arrisco prognósticos. Acima de tudo espero que o Benfica ganhe, seja qual for o resultado. Vencer por 1-0 já chega, mas se conseguirmos fazer mais golos melhor. O fundamental é vencermos para alcançarmos o segundo lugar.» O facto de o Sporting ter saído derrotado dos dois últimos encontros é desvalorizado pelo jogador encarnado. «Neste tipo de jogos há uma tendência para o equilíbrio, independentemente da situação de cada uma das equipas. As forças igualam-se sempre», justificou.

Fora de casa é que é bom!

Benfica discutirá com o Sporting, no próximo domingo, em Alvalade, o segundo lugar na SuperLiga. Numa análise superficial e teórica, pode dizer-se que existe desvantagem do Benfica por jogar fora. Mas basta estarmos atentos aos números para concluirmos que é precisamente fora de casa que a águia se sente mais confortável para voar alto. Se só valessem os jogos longe da Luz o Benfica seria... campeão.

Quando se fizer o balanço desta SuperLiga se concluirá que foi em casa que o Benfica comprometeu as suas aspirações a ganhar o campeonato. E que foi precisamente o factor casa o mais importante na conquista do título por parte do FC Porto. Para aqueles que gostam sempre de se consolar com alguma coisa, ficará este registo de todo significativo: o Benfica é o campeão nos jogos fora de casa. É a equipa com mais pontos (34), mais vitórias (10) e mais golos marcados (32). É ainda a equipa com maior diferencial entre golos marcados e sofridos (+19). Numa comparação com o que fez o campeão FC Porto nos jogos fora, o Benfica conquistou mais três pontos, amealhou mais duas vitórias, marcou mais oito golos e apenas sofreu mais um golo. Exemplificativo. O problema é que em casa os portistas somaram mais 12 pontos que o Benfica, marcaram mais sete golos e sofreram menos 10 do que os encarnados. De resto, no campeonato dos jogos em casa o Benfica nem sequer ocupa a terceira posição. Essa cabe ao Nacional, que fez mais dois pontos, marcou mais 10 golos e sofreu menos um que os encarnados.

Peixe fora de água

Fora do seu reduto, o Benfica é uma equipa temível, concretizadora, eficaz. Mas os alicerces do título caíram porque no seu reduto os encarnados não fizeram valer, na sua plenitude, o estatuto de equipa candidata a campeã. Derrotas como as registadas na Luz com o Beira-Mar e o concorrente Sporting e empates com o Belenenses (dois golos sofridos nos descontos), Moreirense e FC Porto acabaram por ditar perda de pontos que hoje tanta falta faziam à águia. Porque este não é tempo de lamentar o passado, antes o de lutar pelo importante segundo lugar, fica sempre a esperança de que o Benfica faça jus ao estatuto de melhor equipa do campeonato nos jogos fora. Esperança para os adeptos e equipa encarnada, naturalmente. Está tudo em aberto para a conquista de um importante objectivo. De consolação, é certo. Mas uma consolação que se pode traduzir em muito dinheiro num eventual apuramento para a Liga dos Campeões.

Regresso condicionado

AÍ está o início de uma semana que pode ser decisiva para as aspirações da equipa de Camacho na presente edição da SuperLiga. Vencer no domingo em Alvalade é um passo seguro para a conquista do segundo lugar, mas até lá Camacho vê-se forçado a trabalhar sem algumas pedras fundamentais da estrutura da equipa. A culpa é das selecções.

São oito os jogadores com que José Antonio Camacho não poderá contar no arranque de uma das semanas de trabalho, provavelmente, mais importantes da temporada. A partir de hoje (11 horas em Massamá) todas as atenções estão centradas no derby eterno, no jogo que provoca emoções fortes ao mais comum dos adeptos do futebol, e o treinador espanhol vê-se na contingência de iniciar os preparativos sem pedras fundamentais como Nuno Gomes, Simão, Sokota, Petit, Tiago, Miguel, Zahovic e Fyssas, todos eles ao serviço das respectivas selecções. Os internacionais portugueses (concentrados para o amigável com a Suécia, amanhã em Coimbra) estarão de regresso na quinta-feira, mas quanto aos estrangeiros, na melhor das hipóteses apenas na sexta-feira de manhã estarão à disposição da equipa técnica. Dos oito jogadores ausentes, Zahovic é, aparentemente, aquele que tem menos perspectivas para ser titular em Alvalade. Ou seja, os restantes—caso joguem nas respectivas selecções, o que também deverá acontecer — serão sujeitos a esforço suplementar durante esta semana, algo a que Camacho deverá ser sensível nos últimos treinos, agendando uma preparação diversificada para os atletas em causa. Recorde-se que o Benfica foi a equipa que, desta feita, cedeu mais jogadores à Selecção Nacional (cinco) encontrando-se todos eles com perspectivas de poderem defrontar a Suécia. Terão, depois, três dias para recuperar de forma a apresentar-se em Alvalade com a esperança de conquistar um dos objectivos ainda possíveis: conquistar o acesso à Liga dos Campeões.

segunda-feira, abril 26, 2004

Agora dependemos de nós

O Benfica ruma a Alvalade em igualdade pontual e, mesmo obrigado a vencer para ultrapassar os leões, já não tem de se preocupar com os números de um eventual sucesso. Ou seja, colocou de parte a matemática e passou a depender ainda mais de si próprio. Tiago defende que as probabilidades de vitória são «iguais», mas não se mostra disposto a adiar a decisão para a última jornada: o derby é para ganhar.

O médio do Benfica, acompanhado pelo pai, esteve ontem à tarde na praça central do Centro Comercial Colombo para uma sessão de autógrafos promovida pela agência de viagens Star. Optando por não tecer quaisquer comentários sobre a sua actual condição física, o regresso à competição ou mesmo o jogo da Selecção Nacional com a Suécia, prontificou-se, contudo, a projectar a importante deslocação a Alvalade. «Nestes jogos, sejam eles disputados em Alvalade ou na Luz, tudo pode acontecer, independentemente da melhor forma do Benfica ou do Sporting. A vitória pode cair para qualquer um dos lados no derby», começou por dizer o camisola 30. Em duas semanas o Benfica anulou a diferença pontual de seis pontos para os leões, partindo para Alvalade com a chama do segundo lugar bem acesa. «É o futebol. Nós também perdemos pontos em Leiria e agora foi a vez do Sporting. Vamos ver agora o que acontece no próximo jogo», referiu. As águias têm agora o destino nas próprias mãos, não tendo de se preocupar com os números de uma eventual vitória. «Neste momento dependemos apenas de nós. Sabemos que se empatarmos vamos ter de esperar pelo último jogo, pelo que o nosso objectivo passa claramente por vencer em Alvalade», frisou o médio, recusando a ideia de que o Benfica possa estar mais moralizado: «Não há favorito. Como já disse, é um derby sempre imprevisível. Há 50 por cento de hipóteses para cada lado.»

Nariz partido e... final da Taça

Na última temporada os encarnados venceram por 2-0 em Alvalade pela mão do então recém-chegado Camacho e pelo pé de Tiago, autor de um dos golos. «Jamais me esquecerei desse jogo, por tudo o que me aconteceu. Ficará para sempre gravado na minha memória, tanto pelo golo marcado como pelo nariz partido», recordou, entre sorrisos. Será o derby de domingo o jogo do ano para o Benfica? «Não. Para nós o jogo do ano será a final da Taça de Portugal», rematou.

Gostava de ir para o Benfica

Carlitos, jogador do Estoril, teve ontem a observá-lo o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, mas mantém uma atitude prudente no que se refere à sua provável transferência para a Luz. «Também gostava de saber se isso é verdade, porque o meu empresário nada me disse.

A única garantia que tenho é de que vou continuar aqui, porque tenho contrato até 2007», afirmou. O estorilista não escondeu, porém, o desejo de passar a vestir de encarnado: «Quem não gostaria de jogar no Benfica? Qualquer profissional gostaria de representar um grande. Tenho 21 anos, sou jovem e ambicioso e, como tal, aguardo serenamente por aquilo que o futuro me reserva.» Sobre o facto de ser o principal candidato a receber o prémio atribuído por A BOLA ao melhor jogador da Liga de Honra, Carlitos reagiu com satisfação. «Se isso acontecer, será para mim motivo de grande orgulho. Faço o meu trabalho o melhor que sei e, francamente, penso que seria um prémio merecido, apesar de estar em luta com outros bons jogadores, especialmente o Jorginho. É um excelente futebolista, com grandes qualidades», reconheceu.

INAUGURAÇÃO AINDA SEM DATA OFICIAL

"Megastore" abre até ao Euro

Com as instalações desportivas já concluídas, a preocupação dos responsáveis do Benfica prende-se com a finalização do espaço comercial.

A principal prioridade é "Megastore" do clube, que deverá estar em funcionamento antes do início do Euro'2004. Este evento desportivo trará a Portugal milhares de visitantes e os dirigentes encarnados pretendem tirar partido desta situação.

Neste momento ainda não está definida a data oficial da inauguração.

Golos

15 m

1-0, por Nuno Gomes, de grande penalidade.

45+2 m

2-0, por Sokota, com grande remate de pé direito, de primeira, após excelente passe de Miguel, que foi à linha cruzar atrasado.

85 m

2-1, por Davide, que recebeu passe perfeito de Semedo, rasgou a linha defensiva da águia, isolou-se e finalizou certeiro.

90+3 m

3-1, por Miguel. O melhor. Fantástico drible sobre dois adversários e remate de se lhe tirar o chapéu.

Melhor em Campo

MIGUEL (7)

Duas valentes pedradas no charco ao cair do pano de cada uma das partes. Soberbas. Primeiro, uma arrancada pela direita, a ameaçar vir para o meio, a tocar a bola para a linha final, a cruzar atrasado, perfeito, para o pé direito de Sokota. Em cima do final do jogo, uma tabela com Zahovic, recepção em corrida, drible sobre o adversário directo, cabeça levantada, remate em jeito para o fundo das redes. Foi também um dos jogadores mais activos do Benfica no primeiro tempo, lançando Armando para o lance do primeiro penalty e atirando com força para grande defesa de Veiga. Na segunda parte, porém, caiu na apatia geral.

Sala de Imprensa

JOSÉ ANTONIO CAMACHO (treinador do Benfica)

Camacho aceita diesel

Não foi um jogo bonito e Camacho sabe-o. O técnico espanhol disse que a equipa, ao estar a vencer por 2-0, «não jogou com gasolina extra», usando apenas uma combustão q.b., só voltando a ir à bomba quando o Estrela assustou. E ao contrário do que seria de prever, o treinador dos encarnados compreende o sub-rendimento, justificado com a menor motivação quando vêm aí jogos decisivos. Não poderia entrar na sala de imprensa com sorrisos rasgados porque a exibição da sua equipa deixou bastante a desejar, limitando-se os jogadores a garantirem uma vitória esperada e pouparem-se para o derby de Alvalade. Foi precisamente a velocidade de cruzeiro que motivou uma curiosa comparação de José Antonio Camacho com os derivados do petróleo: «Jogámos este jogo usando o diesel e não gasolina extra. Controlámos o jogo do princípio ao fim, mas quando os jogadores se aperceberam de que estavam a ganhar por 2-0 limitaram-se a gerir. » Com isto quis dizer o treinador espanhol que a equipa sabe quando aumentar o ritmo. A reacção que se seguiu ao golo perturbador do Estrela da Amadora é disso exemplo: «Quando o adversário marcou soubemos imprimir mais velocidade e marcámos outro golo.» Camacho compreende, pois, uma certa modorra que se instalou no encontro de ontem ante os estrelistas. Apesar de a equipa ter marcado «três golos e falhar ainda um penalty», a exibição colectiva esteve longe de algumas realizadas na presente época. Talvez porque tenha sido jogador, entende os estados de espírito diferentes de jogo para jogo. «É normal que numa partida como esta os atletas não tenham a mesma motivação do que por exemplo no jogo que vem aí, em que lutamos por um lugar na Liga dos Campeões», juntou o técnico dos encarnados.

«Se ganharmos por três em Alvalade será melhor»

Camacho falou ainda antes de conhecer o resultado do Sporting em Leiria. Na altura, o Benfica precisaria de vencer por três em Alvalade para superar os leões caso estes vencessem na cidade do Lis e em Guimarães, na última jornada, tendo em conta os critérios de desempate estipulados pela Liga de clubes. Camacho não quis entrar na onda de optimismo manifestada pelo novo administrador da SAD, Rui Cunha, quando este disse durante a semana que os encarnados tinham capacidade para dar essa mini-goleada, mas não deixou de revelar total confiança nos seus jogadores para o embate de Alvalade. Camacho considera mesmo o derby um dos jogos mais importantes da época: «Quis assim o calendário. São duas equipas que lutam por um lugar e será um jogo decisivo. Os meus jogadores têm feito uma temporada muito boa e queremos acabar o Campeonato de forma inabalável. Se temos capacidade para vencer por 3-0? O mais importante é que acredito que possamos vencer. Por 3-0 será melhor, sem dúvida.» O que não o deixa muito satisfeito é o facto de perder «oito ou nove jogadores até quinta-feira» [n.d.r.: ao serviço das selecções nacionais], mas Camacho mantém o optimismo.

NUNO GOMES (jogador do Benfica)

Vamos a Alvalade para ganhar

Nuno Gomes, o autor do primeiro golo da noite, reconheceu que o Benfica esteve longe de fazer uma exibição agradável, mas destacou a importância dos três pontos numa altura crucial do Campeonato. «Pode dizer-se que foi um jogo tranquilo. Jogámos o suficiente para ganhar, embora reconheça que não fizemos uma boa exibição. No actual momento da competição o mais importante é a conquista dos três pontos. Ultrapassado mais este obstáculo, vamos começar a preparar o encontro com o Sporting, na próxima jornada », começou por dizer o ponta-de-lança na flash-interview da Sport TV. O camisola 21, que ontem envergou a braçadeira de capitão, recusou a ideia de que alguns jogadores do Benfica se terão poupado um pouco ao esforço. «Não houve qualquer poupança, acho é que a equipa não esteve colectivamente ao seu melhor nível. Pelo que se viu em campo, pode até pensar-se que alguns jogadores se pouparam, mas o que aconteceu, como já disse, foi resultado de uma exibição menos conseguida em termos colectivos. Há encontros em que até jogamos bem e perdemos pontos, desta vez aconteceu o contrário, jogámos mal e ganhámos», analisou, perspectivando desde logo o confronto do próximo fim-de-semana com o Sporting. «Vai ser decisivo para ditar o segundo lugar e vamos a Alvalade para ganhar, como sempre, sem estarmos a pensar se temos de ganhar por um, dois ou três. A única coisa que prevemos é que temos de ganhar. Será um derby difícil, de resultado imprevisível, no qual só os três pontos nos interessam», rematou.

sábado, abril 24, 2004

Gerido por Camacho e Scolari

Luiz Filipe Scolari convocou anteontem Tiago para o jogo da Selecção frente à Suécia, Camacho também o chamou para o jogo de hoje com o Est. Amadora, mas o médio não deverá jogar os 90 minutos em nenhuma das partidas. Apesar das duas semanas de paragem, a pubalgia de que padece aconselha a alguns cuidados para não o sobrecarregar. Para estar em forma frente ao Sporting e... no Euro-2004.

O seleccionador nacional deu a entender na conferência de Imprensa de anteontem, quando anunciou a lista de convocados para o jogo com a Suécia, que Tiago estava em condições para jogar. Mas Camacho veio ontem dizer que o médio pode fazê-lo, mas não durante 90 minutos. Alegou o técnico espanhol que o camisola 30 não tem o ritmo ideal para voltar à carga máxima, garantindo assim que hoje, frente ao Estrela da Amadora, iniciará o jogo no banco de suplentes. Aparentemente, as palavras de Camacho poderiam entrar em contradição com as de Luiz Felipe Scolari — disse mesmo que não tinha nada a ver com o que afirmaram os responsáveis da equipa das quinas — mas a verdade é que ambos perfilam da mesma opinião. Tiago comunicou ao departamento médico da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que estava em condições para ser convocado, sem que no entanto os médicos do clube tenham enviado qualquer relatório aos homólogos federativos, e isso serviu para Felipão o chamar, chegando mesmo a afirmar que o benfiquista não tinha qualquer problema. No entanto, a verdade é que o seleccionador não deverá colocar Tiago no onze titular na quarta-feira, ou caso o faça, seguramente que o irá retirar a meio do encontro. O médio faz parte do núcleo duro que estará no Europeu e por isso é importante a sua presença em mais uma concentração, mesmo que neste momento não esteja a 100 por cento. O desejo de Scolari é tê-lo no pico de forma a partir de Junho.

Opção para Alvalade

A presença de Tiago na concentração de segunda-feira da selecção nacional é por enquanto um dado adquirido, até porque Camacho só o deverá utilizar ante os estrelistas alguns minutos, pelo que dificilmente o atleta terá qualquer recaída. De qualquer forma, o departamento médico dos encarnados irá elaborar um relatório para o jogador apresentar juntos dos clínicos da FPF atestando o seu estado actual, lembrando que o médio encontra-se a cumprir um programa específico de recuperação da pubalgia. Caso seja utilizado alguns momentos em ambos os jogos, Camacho terá assim o jogador em condições para o jogo com o Sporting—terá sido poupado a esforço redobrado durante mais uma semana e adquire assim algum ritmo competitivo — sem colocar em causa a sua participação no Euro e não deixar o treinador brasileiro pendurado. Não obstante os objectivos e interesses diferentes, Camacho e Luiz Felipe Scolari parecem estar a gerir em consonância uma das pérolas do futebol benfiquista... e português.

Xanana vai abrir o jogo

Aproveitando a presença de Xanana Gusmão em Portugal, a Direcção convidou o presidente da República de Timor-Leste para assistir ao jogo de hoje com o Estrela da Amadora, na companhia de outros dirigentes políticos dos PALOP que se encontram no nosso país para as celebrações dos 30 anos do 25 de Abril. Mas, porque Xanana é sócio honorário, terá direito a subir ao relvado e receber das mãos de Luís Filipe Vieira uma águia de bronze. Muitas nacionalidades mas tudo em português.

Nunca escondeu o seu benfiquismo, nem mesmo quando estava no degredo em Jacarta, e sempre que qualquer Direcção do clube pode a homenagem surge naturalmente. Xanana Gusmão encontra-se em Portugal para participar nas comemorações dos 30 anos da revolução dos cravos e o consequente processo de descolonização, por isso Luís Filipe Vieira não perdeu a ocasião para ter o eterno resistente ao seu lado para assistir ao encontro de hoje, frente ao Estrela da Amadora. Naquela que será a primeira visita de Xanana ao novo estádio, haverá assim lugar a uma cerimónia protocolar, com o líder timorense a subir ao relvado na companhia do dirigente benfiquista e ainda do presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, para cumprimentar os elementos das três equipas e receber uma águia de bronze das mãos de Vieira. Será certamente um momento vivido com alguma intensidade, tendo em conta a empatia que o povo português nutre pelo mítico Xanana Gusmão.

Um toque africano

O Benfica estendeu também o convite a outros dirigentes políticos dos PALOP — à excepção da Guiné-Bissau —, que se encontram em Portugal pelas mesmas razões. Angola estará representada pelo primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional (AN), João Manuel Lourenço, Cabo Verde pelo presidente da AN, Aristides Raimundo Lima, Moçambique pelo presidente da AR, Eduardo Mulémbwé, e São Tomé e Príncipe pelo presidente da Assembleia Nacional, Dionísio Tomé. Refira-se ainda que também o presidente do Parlamento nacional de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, marcará presença na nova catedral. À excepção dos grandes jogos europeus, nunca o Estádio da Luz recebera tantas nacionalidades diferentes. Mas falando todas a mesma língua.

3 jogos = 3 vitórias

E tudo pode acontecer

As contas de Camacho são simples: o Benfica tem de vencer os três derradeiros encontros da SuperLiga se quiser aspirar ao segundo lugar. O treinador do Benfica lembra que o encontro de hoje com o Estrela da Amadora não está ganho e que só depois de cumprir essa missão os encarnados poderão pensar na deslocação a Alvalade. Elogia o espírito competitivo dos jogadores, que «nunca baixaram os braços», mantendo a discussão do segundo lugar em aberto até final. Apartir de agora, sublinha, «tudo pode acontecer».

— A diferença para o Sporting é agora de três pontos. De alguma forma isso influencia o estado de espírito dos jogadores, em termos de motivação?

— Não, a motivação é sempre a mesma. Temos trabalhado e lutado para que isto pudesse acontecer. Faltam três jogos para o final do campeonato e ainda estamos em posição de lutar pelo segundo lugar e estar na Liga dos Campeões. É um grande êxito dos jogadores, que não deixaram cair os braços nem baixaram o moral. Têm jogado e trabalhado para poderem estar precisamente nesta situação.

— O jogo de Alvalade será decisivo para a definição do segundo lugar?

— Penso que para o Sporting sim. Para nós, primeiro é muito mais importante o jogo com o Estrela da Amadora. Temos de vencer os três jogos, pois se assim não for as coisas serão muito mais difíceis. Primeiro vem o Estrela da Amadora e temos de vencer para jogarmos com o Sporting nas actuais condições, pelo menos. Depois se verá.

— Alguma vez pensou que o jogo de Alvalade viesse a assumir tamanha importância?

— Face ao equilíbrio no campeonato, era de esperar que sim, que pudesse vir a ser decisivo. Esperemos que seja realmente decisivo.

— E esperava que o Sporting escorregasse assim tanto por forma a permitir a aproximação do Benfica?

— Nesse aspecto estamos no mesmo, porque nós também falhámos em alguns jogos, também tivemos empates. Até final tudo pode acontecer.

— Ninguém fala na possibilidade de o Benfica perder pontos, pelo facto de o adversário ser o último classificado. Ao invés, o Sporting tem uma deslocação teoricamente complicada. Este cenário não cria uma ideia de facilidade que em nada ajuda o Benfica?

— Sim, mas é difícil combater essa ideia, temos de a aceitar. Espero que os jogadores tenham consciência de que o jogo de amanhã [hoje] é muito importante se quisermos lutar pela Liga dos Campeões até final. Primeiro temos de vencer este jogo e só depois veremos o que acontece, seja a nosso favor ou contra. A nossa única solução é ganhar para chegar a Alvalade com possibilidades de poder disputar o segundo lugar.

Saúde e paz para o mundo...

— Se pudesse optar, preferia ficar em segundo lugar no campeonato ou vencer a Taça de Portugal?

— Prefiro ganhar ao Estrela da Amadora e depois logo se vê. No futebol nunca se sabe o que pode acontecer. Se pudesse escolher, optava por outras coisas. Pediria saúde e paz para todo o mundo, não a vitória num jogo de futebol.

— E neste momento o que está mais ao alcance do Benfica?

— Primeiro temos a luta pelo segundo lugar. Afinal da Taça será o último jogo da época, mas nada tem a ver com o campeonato. Neste momento só me interessa o jogo com o Estrela da Amadora. Na próxima semana, quando regressarem todos os jogadores, na quinta ou sexta-feira, falaremos então no encontro seguinte. Falar do Sporting ou do segundo lugar passa por ganhar ao Estrela da Amadora. Se assim não for dificilmente poderemos chegar ao segundo lugar.

Título está cada vez mais próximo

Filipe Vieira prometeu aos benfiquistas de Santo Tirso a renovação de um título que escapa há uma década, garantindo que esse sonho está «cada vez mais próximo». Raça e coragem, personificadas por jogadores como Petit, são os trunfos para «colocar de pé um gigante adormecido e devolver a mística e tradição vencedoras», apesar de haver quem «queira empurrar o clube para determinadas situações».

Durante a recepção no salão nobre da Câmara Municipal de Santo Tirso, o presidente do Benfica foi interrompido por um adepto que não conseguiu conter a fé no futuro: «Podemos não ser os melhores, mas somos sem dúvida os maiores», gritou com alma encarnada, na primeira de muitas explosões de fé. Foi num clima de grande fervor clubístico que uma comitiva liderada por Luís Filipe Vieira apadrinhou a inauguração da Casa do Benfica de Santo Tirso, um recanto moderno e acolhedor onde os benfiquistas podem discutir passado, presente e futuro. Luís Filipe Vieira, José Henriques, Artur e Petit, entre outras figuras do clube, fizeram as delícias dos seguidores da águia, distribuindo sorrisos, autógrafos e optimismo. Eusébio e Simão foram as ausência mais notadas numa festa que terminou na Quinta do Leigal, freguesia de Lama, a escassos quilómetros de Santo Tirso, onde Luís Filipe Vieira discursou. Ainda na câmara, o líder benfiquista alimentou a esperança numa inversão no que diz respeito à conquista do título de campeão nacional, prometendo ajudar, na medida do possível, clubes como Tirsense e Desp. Aves. Ricardo Rocha, natural de Santo Tirso, foi lembrado como um exemplo das contrapartidas que a região tem para oferecer. «Depois de três anos de um projecto iniciado por Manuel Vilarinho sinto que o dia de dar uma grande alegria ao País e à família benfiquista está cada vez mais perto. É para isso que estamos a trabalhar e está ali um exemplo daquilo que queremos para o Benfica», disse, apontando Petit, sinal recuperado no final do jantar, onde lançou ainda um repto aos amantes da modalidade, no sentido de pacificar o futebol.

Dever cumprido

Luís Filipe Vieira lembrou o momento ímpar e o desejo de comemorar com dignidade o Centenário. «Temos projectos financeiramente decisivos para o curto prazo, veja-se o sucesso da operação obrigacionista», lembrou, puxando do Cartão do Benfica, que permite uma vínculo institucional muito importante aos associados. «Arrumada a casa é tempo de olhar em frente e preparar o futuro: o nosso trajecto europeu, que nos enche de satisfação, a presença na final da Taça Portugal, e a possibilidade de lutar por um lugar na Liga Campeões deixa-nos com a sensação de dever cumprido. Estamos a trabalhar para colocar de pé um gigante adormecido, de forma a tudo fazer para devolver a mística e tradição vencedoras, com a raça, coragem e determinação, que estão de volta a um Benfica que tem em Alvalade um desafio muito importante para a nossa instituição, em que todos devem estar à altura do espectáculo, pois há quem nos queira empurrar para algumas situações... Importante é que todos entendam que são os profissionais a dar uma resposta que sirva de exemplo para todo o País».

sexta-feira, abril 23, 2004

Cheguei a pensar que era melhor ir embora

DEIXOU a pequena cidade de Amparo, no interior de São Paulo, para viver em Portugal. Para jogar no Benfica e experimentar o futebol europeu. Chegou assustado e em poucos meses conheceu o Inferno e o Céu. As críticas foram tantas que Luisão duvidou do seu valor e chegou a pensar em ir embora, voltar para o Brasil. Hoje o defesa-central é titular, confessa que treina cada vez com mais alegria e aceitou partilhar com A BOLA as suas ideias e sentimentos.

— É a primeira vez que está na Europa. Como está a viver a experiência?

— É muito diferente do Brasil. Um outro País, futebol diferente. No início foi complicado, mas agora está a ser excelente. O futebol é mais disputado, aguerrido, mas existe um grande respeito pelo profissional de futebol, o que dá tranquilidade para trabalhar.

— Foi bem recebido no balneário do Benfica?

— Muito. Facilitou estarem Roger, Argel, Geovanni e Cristiano, mas encontrei jogadores suecos, eslovenos, croatas, de outras culturas. Imaginei outra coisa mas depois vi que eles tinham a mesma simplicidade com que eu cheguei. Sou um pouco caipira, de cidade do interior, e fiquei com medo do que ia encontrar, mas a surpresa foi boa.

— Chegou, jogou apenas três jogos e lesionou-se. Como lidou com a situação?

— Fiquei muito triste. Cheguei cheio de esperanças, com um sonho e tive logo uma lesão que demorou a recuperar.

— E logo a seguir teve de decidir entre a selecção e o Benfica. Tornou-se ainda mais complicado?

— Muito. Tinha perdido o lugar na selecção principal do Brasil e por isso disse que queria ir ao torneio no Chile, de Sub-23. Mas não foi para prejudicar o Benfica. Conversámos e acabei por regressar e ficar no clube, sem mágoa.

— As suas exibições mereceram muitas críticas, foram justas?

— No começo as coisas não estavam a correr bem. Não estava a jogar a cem por cento. Caí de rendimento por causa das lesões. O meu trabalho estava a ser posto à prova, existia muito adepto desconfiado e que começava a pensar que tudo o que tinham dito, antes de eu chegar, era mentira. Tinha de provar o meu valor e não estava conseguindo. Mas não fiquei magoado. Sabia que no momento certo iriam apoiar.

— Duvidou do seu valor?

— Tenho de confessar que, depois da segunda lesão, cheguei a pensar que se calhar era melhor eu ir embora. Comecei a duvidar do que podia fazer aqui. Estava triste e não conseguia encontrar resposta para o que estava a acontecer. O psicólogo do Benfica ajudou-me muito e disse-me que não precisava de ter medo deste desafio. Foi nessa altura que comecei a mudar, mas confesso que cheguei a pensar que a minha vinda para o Benfica não tinha sido uma boa.

— Falou com Camacho?

— Particularmente não, mas os actos dele, nos treinos e nos jogos, fizeram-me sentir que podia trabalhar tranquilo porque existia uma pessoa correcta a comandar a equipa. Não tenho palavras para o descrever. É um grande profissional e muito correcto.

«Já falhámos muito! mas acreditamos no segundo lugar»

— Agora está confiante?

— Cada vez mais. Cada dia sinto mais vontade de ir trabalhar, com carinho, com vontade de crescer mais e corrigir os erros.

— É verdade que rende mais como central descaído para a direita?

— Jogo nos dois lados, mas é na direita que me sinto melhor. Com os centrais do Benfica entendo-me bem, com todos, sem preferência. São diferentes, é claro. Ricardo Rocha é o mais novo, mas a qualidade e o talento de Argel e Hélder são muito importantes.

— O que falta a este Benfica para ser campeão? Qualidade?

— Qualidade acredito que não, pois estivemos bem na UEFA, Taça e campeonato. Faltou apenas atenção nos jogos em casa. Perdemos muitos pontos e poderíamos estar a lutar pelo título.

—Apostam tudo na conquista do segundo lugar?

— Acreditamos que vamos conseguir. Já falhámos muito, mas agora temos nova chance, apesar de faltarem poucos jogos. Também já imaginamos a Taça, mas primeiro está o campeonato.

— O jogo frente ao Sporting já afecta o balneário?

— Não. Pensamos nele, mas de nada valerá se facilitarmos com o Estrela. É assim que pensamos.

Dá jeito ter perna comprida

A primeira coisa que ouviu quando chegou ao aeroporto de Lisboa foi: «Luisão, olha que são seis milhões!» Mais tarde, percebeu a mensagem e reconhece agora que o Benfica é grande, que os adeptos estão em todo o lado. Já se apaixonou por Lisboa e passeia muito, apesar de morar sozinho. Não entra numa cozinha, mas já fritou bifes e estaria disposto a fazer um churrasco para o plantel benfiquista. Bem... pelo menos admite tratar da cervejinha. E não deixa de salientar que no campo como na vida «dá jeito ter perna comprida»...

— Como é a sua relação com os adeptos? O que pensa deles?

— É engraçado que a primeira coisa que me disseram no aeroporto, quando cheguei, foi: Luisão, olha lá que são seis milhões! Sempre sonhei jogar numa equipa do povão, como a do Benfica. Em Milão, na Noruega e na Bélgica senti muito o apoio dos adeptos. Eles são maravilhosos e estão em todo o lado... o Benfica é grande!

— Já conhece Lisboa?

— É incrível e uma vergonha, mas não conheço muita coisa. Mas o pouco que conheci já deu para me começar a apaixonar pela cidade.

— Metem-se consigo na rua?

—Sim, já se metem muito. Primeiro cobravam, mas agora já me dão os parabéns e força para a equipa.

— Com a sua altura não passa despercebido...

— É verdade! Não tem jeito [risos]. As pessoas estranham e dizem: não pensava que era tão grande! Sempre olham e se não me conhecerem ficam a olhar e a pensar que devo ser alguma coisa, assim tão grande...

— No Brasil usava segurança?

—Não. Era difícil encontrar um segurança maior do que eu [risos]. Aqui há mais tranquilidade, o que é bom para a nossa vida particular e para o futebol.

— Mora sozinho? O que costuma fazer? — Moro. A minha namorada vem de vez em quando, mas depois também fica sozinha, por causa dos nossos estágios, e sente falta da família. Eu falo três vezes por dia com o meu pai e ponho um samba ou pagode para matar saudades da minha terra. Também passeio muito.

— Costuma cozinhar?

— Não, nunca na vida! Já fritei bifes, mas pode esquecer que numa cozinha eu não entro!

— Mas não cozinhava um prato para o plantel do Benfica?

— Isso sim! Uma picanha, um churrasco para todos. Na minha terra faço muito e fico a tratar da cervejinha.

— Diga-nos alguns truques que usa para travar os adversários.

— Não posso falar tudo! [mais risos]. O importante é cortar caminho e depois o resto vem com a experiência. Dá jeito ter a perna comprida. É como na vida. Muitas vezes parece que não vou chegar lá ,mas acabo por conseguir.

—A arbitragem está a gerar polémica em Portugal. Gostaria de ser árbitro?

— Não. Nem pensar! Acho que no futebol, em todo o Mundo, o árbitro é pressionado. Muitos deles têm outras profissões fora do campo e isso não ajuda. Ele é a única pessoa ligada ao futebol em quem toda a gente coloca os olhos. E ninguém gosta dele.

Paulo Almeida dispensado do Santos

Paulo Almeida, futuro reforço dos encarnados , dificilmente voltará a ter um lugar no onze do Santos até que viaje para Lisboa, no final do mês de Junho. O médio defensivo nem sequer foi convocado para o primeiro jogo do campeonato brasileiro, que começou na madrugada de ontem, num sinal claro de que acabou o seu espaço de manobra pelo facto de já estar vinculado a outro clube. Ao que tudo indica, foi a própria Direcção do Santos que deu instruções a Emerson Leão para o preterir dos jogos.

Paulo Almeida está a viver uma situação semelhante à que viveu Robert Enke há três épocas, quando o Benfica percebeu que o guarda-redes alemão já tinha assinado pelo Barcelona a custo zero mas sem nunca comunicá-lo oficialmente e recusando todas as propostas de renovação. Aí, os dirigentes deram pura e simplesmente instruções a Jesualdo Ferreira para ser Moreira a ocupar a baliza, terminando assim com a relação desportiva e mantendo apenas as obrigações contratuais para com o atleta. O médio brasileiro termina contrato com o Santos em Junho mas a Direcção do eterno clube de Pelé já sabe que o futuro do jogador passa pelo Benfica, pelo que deu indicações ao técnico Emerson Leão para prescindir dos seus serviços a não ser que seja estritamente necessário. O Santos apresentou várias propostas de renovação a Paulo Almeida desde Janeiro mas a resposta foi sempre reservada, com o jogador a dizer que não havia «pressa». Isto é, uma forma diplomática de dizer não e deixar passar o tempo. O compromisso com a formação da Luz, bem mais atractivo financeiramente, já estava formalizado.

Ausente da primeira jornada

Leão ainda chegou a utilizar Paulo Almeida nos importantes e derradeiros encontros do campeonato paulista—o Santos foi eliminado pelo São Caetano nas meias-finais — mas agora que começou o campeonato brasileiro tudo voltou à estaca zero, ou seja, a equipa técnica pode darse ao luxo de prescindir de um jogador da sua valia. Que, bem feitas as contas, só podia contar com e l e apenas um pouco mais de um mês. Assim, não estranhou a sua ausência nos convocados para o primeiro encontro do Santos na competição, realizado na madrugada de ontem em Curitiba, frente ao Paraná. O resultado acabou por ser desfavorável ao peixe (derrota por 2-3).

Alcides jogou segunda parte

Outro dos reforços oriundos do Santos, o central Alcides, jogou a segunda parte frente ao Paraná. Emerson Leão colocou em campo a dupla Alex/André Luís no centro da defesa, mas aos 70 minutos o internacional sub-20 entrou em campo para compensar a expulsão de André Luís, já a vantagem do Paraná estava em 2-1. Pouco depois o adversário aumentou a contenda e nos minutos finais Robinho diminuiu para 2-3. Mesmo assim, Alcides continua a merecer a confiança de Leão.

Ganhar por três em Alvalade

RUI CUNHA é o vice presidente encarnado escolhido para substituir Fonseca Santos na administração da SAD. Antes mesmo de tomar posse, faz um voto de fé no projecto de Luís Filipe Vieira, elogia a política de renovações e contratações, acredita que na próxima época haverá frutos e pede a jogadores e equipa técnica que honrem Fehér e os benfiquistas vencendo a Taça e terminando em segundo lugar.

— O jogo com o Sporting, em Alvalade, deverá ser decisivo quanto ao segundo lugar. Está confiante?

— Só dependemos de nós. Ganhar por três em Alvalade está perfeitamente ao nosso alcance. Por norma, fazemos bons resultados em Alvalade. Estive nos 6-3 no ano em que fomos campeões, espero ver outro grande jogo. Vamos ganhar, claramente. Era extremamente importante estarmos na Liga dos Campeões.

— O segundo lugar e a Taça salvariam a época?

— A única coisa que salva a época do Benfica é sermos campeões. O Benfica está talhado para ser campeão. Época em que nada se ganhe é época perdida.

— Ganhar a Taça seria um prémio de consolação?

— É uma forma de retribuirmos o carinho e apoio de todos os benfiquistas. Gostava de pedir à equipa que o espírito que os benfiquistas revelaram na morte de Fehér se traduzisse na conquista da Taça.

— Como vê o futuro do Benfica?

— Devido à votação que esta lista teve nas eleições, temos uma responsabilidade acrescida. Muita gente acredita neste projecto e eu estou convencido que o projecto de Luís Filipe Vieira tem pernas para andar. No próximo ano vai dar verdadeiros frutos. Os benfiquistas merecem mais do que têm tido.

— E terão mais?

— Para o ano vamos ter um conjunto de meios que nos permitirá discutir de outra maneira todas as competições em que estivermos envolvidos. Esse tem sido o discurso do presidente, que o potencial da equipa será melhorado.

— Missão que começa nas renovações?

— Claro. Esta política de renovações é essencial. Preservar os jogadores que são já hoje símbolos do Benfica. Acho que é uma política que os sócios e adeptos apreciam. Temos de manter os fora-de-série. Espero, sinceramente, que não saia nenhum.

— E quanto à política de reforços?

— Como já disse, o presidente tem um projecto e está a trabalhar para o aumento de potencial da equipa.

quinta-feira, abril 22, 2004

Camacho deve manter Miguel a extremo

SÃO muito fortes as possibilidades de Camacho repetir a ala direita de Braga, com a colocação de Miguel a extremo-direito no encontro com o Estrela da Amadora. É que se a experiência deu resultado na Cidade dos Arcebispos, o facto de Simão Sabrosa estar castigado abre uma vaga no ataque, com Geovanni a perfilar-se como substituto natural para a posição do número 20.

O técnico ainda não abriu o jogo, preferindo resguardar para hoje e amanhã a apresentação das cartas, mas tudo aponta para que o Benfica apresente no sábado à noite um onze inédito, com a introdução de Miguel e Geovanni nas extremidades do ataque. Sabe-se que quando Camacho acerta numa aposta— como foi o caso de subir Miguel e colocar Armando Sá a lateral-direito no jogo frente à formação de Jesualdo Ferreira—gosta de dar continuidade, pelo que o número 23 deverá ter nova oportunidade de recordar os tempos em que se evidenciou como elemento de puro ataque no Estrela da Amadora, precisamente o próximo adversário dos encarnados. Como se isso não bastasse, a lógica consubstancia esta tese, nomeadamente a ausência da partida com os tricolores, por castigo, de Simão Sabrosa. É que se o melhor marcador da equipa pudesse dar o seu contributo, o técnico espanhol poderia recorrer à fórmula tradicional — Geovanni ou João Pereira no lugar de extremo-direito— voltando Miguel a recuar no terreno. Mas perante as circunstâncias, é crível que seja justamente Geovanni — ou mesmo João Pereira — a calcorrear os trilhos de Simão, deixando deste modo via aberta para novo reencontro do ex-estrelista ao lugar de sempre.

Posto isto, é muito provável que os encarnados subam ao relvado com um meio-campo formado por Miguel, na direita, Manuel Fernandes (em substituição do também castigado Petit) e Tiago no miolo e Geovanni no lado esquerdo. Armando, Luisão, Ricardo Rocha e Fyssas deverão formar o quarteto defensivo à frente de Moreira, enquanto Nuno Gomes e Sokota formarão dupla na frente de ataque.

Simão não gosta do Estrela

Esta é a segunda vez que Simão Sabrosa falha um jogo por castigo na corrente época. E, por coincidência, a primeira ocasião deu-se justamente no encontro com o... Estrela da Amadora, na Reboleira, na primeira volta. Se desta vez a ausência foi provocada— o avançado corria o risco de falhar o encontro com o Sporting se visse mais um amarelo, optando por forçar a cartolina em Braga, acumulando assim os cinco cartões — na outra vez o internacional português foi expulso no encontro para a Taça de Portugal, frente à Académica, que precedeu a partida na Amadora—viu dois amarelos do árbitro Paulo Costa, o último deles muito contestado pelos encarnados.

Com a pontaria afinada

ESTRELA DA AMADORA, Sporting e U. Leiria podem começar a ter razões para temer a veia goleadora dos encarnados. Porque o moral está elevado, fruto do encurtamento da distância para os leões, os jogadores parecem ter recuperado os índices técnicos. Ontem, Camacho deve ter ficado satisfeito com a capacidade finalizadora da equipa, pois até os defesas demonstraram estar com a afinação no máximo no capítulo do remate. Bom prenúncio...

Num momento em que o Benfica depende de si para alcançar o objectivo mínimo na SuperLiga — segundo lugar e consequente acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões — nada melhor que ter um conjunto de jogadores com a técnica mais refinada que nunca. Ontem, num treino marcado por intensa chuva, Camacho dedicou grande parte da sessão a exercícios de finalização e a resposta não podia ter sido melhor: sangue-frio no remate, rapidez de execução e enorme pontaria. É certo que nas referidas situações de ataque quem carregava surgia sempre em vantagem numérica relativamente aos defesas, mas noutras ocasiões e no mesmo contexto a taxa de golos costuma ser inferior, pelo que se pode falar de uma franca recuperação no capítulo ofensivo.

Os poucos adeptos que se deslocaram ao Estádio Arnaldo Dias, em Odivelas— as condições climatéricas não ajudaram à habitual romaria —, puderam assim ver pormenores de requinte, quer por parte de Simão, Nuno Gomes, Tiago ou Zahovic quer mesmo dos defesas: Cristiano, Hélder e Ricardo Rocha também mostraram estar de pé quente. Muito quente. No final os sorrisos de Camacho foram sinal claro de que o plantel passou como que um teste com nota elevada.

Refira-se ainda que, mais uma vez, o treinador contou com todos os elementos, à excepção de Pedro Mantorras — realiza tratamento em Barcelona —, ainda que Hélio Pinto tenha realizado apenas corrida. Neste caso destaque para Tiago, que voltou a dar claras indicações de que está apto para defrontar, no sábado, o Estrela da Amadora.

Encarnados não costumam tropeçar neste calendário

QUIS o destino que o Benfica chegasse às três últimas jornadas do Campeonato da SuperLiga a três pontos do Sporting e no terceiro lugar da classificação. Um olhar muito atento sobre os encontros com os adversários directos sugere que os encarnados não costumam tropeçar neste calendário, já que a supremacia nas recepções ao Estrela da Amadora e ao União de Leiria é ainda mais evidente que a forte presença da águia nas visitas ao reino do leão.

Comecemos pelo... princípio. Depois de amanhã o Benfica recebe na sua nova casa o Estrela da Amadora, último classificado da SuperLiga e emblema já despromovido à Liga de Honra, por força da matemática. Mas é precisamente a força dos números que fomos analisar, com o intuito de verificar, do ponto de vista puramente teórico, que probabilidades tem o conjunto de José Antonio Camacho nas derradeiras rondas da SuperLiga.

Pois os amadorenses, quando visitam a Luz, poucas razões têm para sorrir. Num total de 11 partidas disputadas, apenas lograram empatar em duas ocasiões e nem sequer tiveram oportunidade de experimentar o doce sabor do triunfo. O mais recente ponto roubado ao Benfica data de 11 de Janeiro de 1998 quando as duas equipas acabaram o desafio com dois golos cada. Para o lado dos da Reboleira, facturaram José Carlos e Paulo Ferreira, que havia de mudar-se pouco depois para o FC Porto, no que concerne aos da Luz, registe-se o bis de Martin Pringle, aquele sueco exótico que tantas vezes fez desesperar os encarnados antes de rumar a Inglaterra para representar o Charlton. Curiosidade rainha é, todavia, aquela que rodeia o primeiro empate dos amadorenses na catedral. Aconteceu na época de 1993/94, a última em que o Benfica festejaria o título de campeão, e precisamente na jornada que antecedeu a visita Alvalade. Onde é que já vi isto?, estará o leitor a pensar... Isaías, que dispensa apresentações, e Mário Jorge apontariam os golos.

Viagem curta pela Segunda Circular

A predominância verde e branca sobre o Benfica teve o seu auge durante a década de 50, altura em que os fantásticos cinco violinos pouca margem de manobra davam aos rivais. No entanto, as décadas de 60 e 70 rapidamente reporiam os valores de equilíbrio que celebrizariam os dois conjuntos. Nos anos 80, as forças equivaleram-se e só em meados dos anos 90 voltou a assistir-se a uma superioridade clara de uma equipa sobre a outra. O Sporting venceria, a jogar em casa, o Benfica em três temporadas consecutivas, antes de permitir, mais uma vez, que o eterno rival reequilibrasse as contas. O derradeiro trio de anos do século XX ficou marcado pelas festas que os homens da Luz fizeram em Alvalade. Mais recentemente, e desde que mudámos de milénio, a tendência mantém-se. Um empate, um triunfo e uma derrota para cada um dos lados. Mais expressivo do que isto é impossível... Os emblemas que dominam a Segunda Circular nem nos números deixam de teimar.

Quando o Lis vem a Lis... boa

Para o fim ficaram guardados, mas nem por isso são menos importantes. Os homens do Lis até são mais perigosos que os homólogos da Amadora nas visitas efectuadas ao Estádio da Luz. Senão vejamos: em apenas 10 jogos, sempre conseguiram saborear um triunfo. E nem foi há muito tempo. Em Março de 2002—quem havia de ser? — Maciel e Derlei fariam um golo cada e começariam a recolher simpatia junto dos portistas. Para trás, encontram-se também dois empates, mas insuficientes para fazer perigar, ainda assim, a superioridade encarnada nos confrontos entre os dois emblemas. Sete triunfos são, afinal, sinais claros da tendência verificada. Há algo mais, assinale-se, que não deve ser esquecido e que os três adversários do Benfica têm em comum: o último jogo do Benfica contra cada um dos seus opositores deste final de SuperLiga terminou com o resultado pintado de vermelho. Van Hooijdonk derrubaria o E. Amadora (2-1), Tiago e Zahovic gelariam Alvalade (2- 0), Nuno Gomes e Simão, por duas vezes, acertariam nos leirienses.

Argel: «Sinto-me bem»

Argel está à três épocas na Luz

Argel reafirmou, ontem, a intenção de continuar a representar o Benfica, embora tenha recusado a admitir a existência de negociações relativas à renovação do contrato. "A minha vontade é continuar e renovar o contrato. Sinto-me bem no clube, estou adaptado e penso que o Benfica está contente com o trabalho desenvolvido nestes três anos. Tudo depende da Direcção", referiu.

Em relação ao jogo com o Estrela da Amadora, o central não espera facilidades e realça a importância do desafio ante o Sporting . "Temos de respeitar a equipa do Estrela da Amadora, que ficou com o orgulho ferido por ter descido à Liga de Honra e quer uma despedida com mérito. Vamos tentar os três pontos. O Sporting-Benfica, em Alvalade, decide praticamente tudo. Mas vamos pensar, primeiro, no jogo de sábado.

quarta-feira, abril 21, 2004

Que seja um grande espectáculo

FALTAM ainda dez dias para o derby de Alvalade, mas o jogo já mexe com a cabeça dos adeptos. Temendo atitudes e palavras que possam incendiar o ambiente, mais agora que surgiu novo escândalo na arbitragem, Luís Filipe Vieira apela à calma e ao fair play a dirigentes, treinadores, jogadores e público em geral...

Apesar de Benfica e Sporting terem de disputar um jogo de permeio, antes de se defrontarem em Alvalade, o derby já mexe. Luís Filipe Vieira não quer ver o nome do clube envolvido em polémicas e apela à contenção de palavras antes do grande dia, deixando aos jogadores a responsabilidade de decidir o jogo. Numa verdadeira mensagem aos adeptos dos dois clubes, o líder dos encarnados pediu a dirigentes, treinadores, jogadores e público em geral que «saibam estar» à altura do grande espectáculo, que deverá dar, uma vez mais, o «exemplo». «Deixemos os jogadores, os 22 ou 25 que estiverem lá em baixo, decidir, e espero que no final toda a gente saia feliz do estádio», expressou.

Preocupado com incitamentos que possam incendiar o ambiente, Luís Filipe Vieira apelou ao fair play, para que todos os que desejarem ir ao estádio o possam fazer sem receios: «Espero que não comecem a criar ambientes nos quais o Benfica não quer participar e, acredito, o Sporting também não. Não comecem a ligar-nos a situações com as quais nada temos a ver. O que queremos, neste grande derby de Lisboa é que seja um grande espectáculo e que muitas famílias e muita juventude estejam presentes.»

Parceria inédita

Derby à parte, Luís Filipe Vieira expressou também a importância da parceria estabelecida com a Adidas e que, segundo o próprio, irá render muitos dividendos ao clube. «Esta é uma das grandes parcerias, talvez a mais importante que vai haver com o Sport Lisboa e Benfica e, além de ser um projecto inédito, vai permitir ao nosso clube cobrar royalties em que possa haver venda directa da Adidas.

Obviamente, DEMITO-ME

Após onze horas de intensa discussão, Fonseca Santos demitiu-se do cargo de vice-presidente da Direcção. Às quatro da madrugada nada fazia prever que tal viesse a acontecer, como A BOLA ontem lhe deu conta, apesar da enorme pressão dos órgãos sociais, mas na recta final Fonseca Santos acabou por ceder. Não por se considerar esclarecido, mas pelo facto de a sua posição não ser partilhada por nenhum dos restantes membros. Fonseca Santos e Luís Filipe Vieira trocaram argumentos de forma educada e selaram a noite com uma breve conversa e um aperto de mão.

Nada o fazia prever, quer antes do início do plenário, quer à hora do fecho da nossa segunda edição de ontem, mas Fonseca Santos demitiu-se mesmo da Direcção para a qual havia sido eleito como n.º 2 de Luís Filipe Vieira. Isto depois de já ter apresentado a renúncia às funções de administrador em algumas das sociedades participadas do Grupo Benfica, nomeadamente a SAD. Exceptuando duas intervenções de elementos dos órgãos sociais que terão ultrapassado os limites do razoável, a discussão decorreu quase sempre de forma civilizada, com Luís Filipe Vieira e Fonseca Santos a trocarem os respectivos argumentos com educação. Aqui e ali de forma mais acalorada, mas sempre com educação. E, contrariamente ao que A BOLA, divulgou ontem não se abordaram temas como o fim das claques ou terminar com os apoios às casas do clube.

Demissão surgiu no final

Terá sido a última hora e meia de reunião a originar a decisão de Fonseca Santos. Este tinha consciência de que seria pressionado a demitir-se, mas acreditava que a sua posição colheria o apoio de alguns dos elementos dos órgãos sociais. Tal não aconteceu e algumas intervenções, sobretudo na parte final, terão mesmo surpreendido Fonseca Santos. Face ao isolamento, e já com onze horas de reunião, comunicou ao plenário a atitude que viria a tomar. Chegou a ponderar-se a leitura de um comunicado conjunto, mas, face ao cenário criado, tomou primeiro a palavra o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Tinoco de Faria , com o líder do Conselho Fiscal, Walter Marques, a seu lado. Num comunicado qu A BOLA publ na íntegra é re uma «inadm quebra de solidariedade institucional » e a inexistência de «quaisquer actos ou omissões de tipo ilícito ou fraudulento », reconhecendo-se, contudo, «a necessidade de melhorar alguns aspectos organizativos ». É então submetida à «consciência benfiquista » de Fonseca Santos a apresentação do pedido de demissão. Este chegaria cinco minutos depois, com o relógio a assinalar já 5.30 horas da madrugada. «Entendendo que a minha posição não é partilhada por qualquer dos membros dos órgãos sociais do clube, e não vendo razão para a mudar, entendi apresentar a renúncia às funções de vice-presidente da Direcção. Nunca acreditei que todos os órgãos sociais do Benfica, nomeadamente o Conselho Fiscal, tivessem uma opinião distinta da minha », disse Fonseca Santos, justificando a sua mudança de atitude. Ainda assim, fez questão de sublinhar que não saiu esclarecido da reunião.

Renúncia entregue a Tinoco de Faria

Horas depois, ao meio-dia, Fonseca Santos entregou a carta de demissão a Tinoco de Faria, no Estádio da Luz, deslocando-se então à sala de imprensa para divulgar o comunicado no qual enuncia, mais detalhadamente, as razões da sua decisão (igualmente publicado nestas páginas). Por último, o ex-dirigente referiu três aspectos por si considerados de enorme relevância: a relação de controlo do Benfica com as suas sociedades participadas, a responsabilidade solidária (por eventuais prejuízos) de todos os que tomaram posição oposta à sua nas matérias abordadas e, por último, o reconhecimento de que nunca pretendeu pôr em causa a honorabilidade de Luís Filipe Vieira.

Aperto de mãos após o plenário

No final do plenário, enquanto o comunicado dos órgãos sociais era redigido, Luís Filipe Vieira e Fonseca Santos estiveram alguns minutos à conversa e o líder do clube terá deixado aberta uma porta ao nível da relação pessoal entre ambos. É certo que esta nunca mais será a mesma, sobretudo depois da troca de palavras que marcou os últimos dias, mas ambos terão reconhecido alguns excessos nas declarações, selando a noite com um simbólico aperto de mão. Existe agora um acordo de tréguas entre as partes: Fonseca Santos só falará se, porventura, se vir obrigado a tal. Filipe Veira também não se pronunciou.

Três parceiros em três jogos

O miúdo está mesmo na moda. Não há benfiquista que disfarce expectativas em relação ao valor da mais recente exportação das escolas da Luz e Manuel Fernandes assina por baixo, preparando-se para fazer história, já que pode experimentar três parceiros em outros tantos jogos consecutivos. Actuou com Fernando Aguiar, entendeu-se às mil maravilhas com Petit e, agora, se Camacho assim o entender, deve formar dupla com Tiago.

No início da temporada ninguém o conhecia. O único Manuel Fernandes de que os benfiquistas se lembravam era mesmo do tal que lhes azedara a boca ao apontar quatro golos no dia em que o Benfica deixaria Alvalade vergado ao peso de sete golos contra um.

Agora, porém, o nome do actual treinador do Penafiel, que tanto perturbou os ouvidos das gentes da Luz, pode ser impunemente pronunciado entre as hostes encarnadas, em virtude do esforço de um miúdo de 18 anos, que apresenta o selo de qualidade das escolas do Benfica, que tantos anos pareceu perdido. Manuel Fernandes jogava nos juniores e no Benfica B, mas a saída precipitada de Ednilson rumo ao Vitória de Guimarães e a onda de lesões que se abateu sobre o plantel levaram José Antonio Camacho a considerar a hipótese de chamá-lo ao convívio com os mais velhos. Há, claro, aquele pormenor que diz respeito à qualidade que o futebolista já demonstrava.

Depois de conquistado um minuto aqui e ali, o jovem começou a distinguir-se e um golo ao Gil Vicente abriu os olhos a quem vê os jogos do Benfica. Num ápice, deu por si a defrontar, na Luz, estrelas como Toldo, Javier Zanetti ou Recoba. Era o Inter de Milão! Mais recentemente, os problemas de Tiago e Petiti empurraram-no para a titularidade. Experimentou-a, pela primeira vez, frente ao Paços de Ferreira (2-1), na Luz, e ao lado de Fernando Aguiar. No sábado, em Braga (3-0), entendeu-se com Petit como se desde sempre o conhecesse e evidenciou-se no sector mais recuado do miolo.

Agora, Petit está castigado e é seguro que não defronta o Estrela. Ao invés, Tiago está recuperado...

terça-feira, abril 20, 2004

Reunião terminou perto das 6:00

Fonseca Santos renunciou

Fonseca Santos renunciou hoje ao cargo de vice-presidente da direcção do Benfica, na sequência de uma longa reunião dos órgãos sociais, iniciada às 18:00 e concluída perto das 6:00.

Remetendo para mais tarde explicações mais detalhadas, Fonseca Santos indicou ainda assim que decidiu abandonar a direcção do Benfica por a sua posição não ser "partilhada por nenhum dos membros dos órgãos sociais" e por entender que não há razões para a mudar.

O dirigente precisou que entregará às 12:00 a carta de renúncia ao presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, Tinoco Faria. Na mesma altura será entregue um comunicado à imprensa.

Por seu turno, Tinoco Faria comentou no final da reunião dos órgãos sociais, que na mesma foi demonstrado que não havia irregularidades e acrescentou que a renúncia de Fonseca Santos foi aceite pelos órgãos sociais, entendendo que a carta aberta e sucessivas entrevistas nas quais o dirigente criticou a gestão do clube constituíram "objectivamente uma inadmissível quebra de solidariedade institucional".

Santos disparou críticas

Fonseca Santos usou da palavra depois de Luís Filipe Vieira ter rebatido as principais acusações lançadas pelo dirigente demissionário na já célebre carta aberta publicada em A BOLA. Tal como já era esperado, Santos, perante todos os elementos dos órgãos sociais, voltou tecer duras críticas à forma como a Benfica, Estádio está a ser gerida por Luís Filipe Vieira. Fonseca Santos também não poupou nos adjectivos relativamente ao modelo comercial adoptado pelo Benfica, considerando-o, entre outras coisas, como «um falhanço estrondoso». O sistema informático de controle de bilhetes, o facto de os encarnados não terem apostado em bilhetes de época para os sócios bem como o aparente fracasso da venda de lugares cativos foram igualmente farpas lançadas por Fonseca Santos. Luís Filipe Vieira ripostou e acusou o ainda vice-presidente de querer, entre outras coisas, acabar com as claques e votar as casas do Benfica ao esquecimento.

Sim, senhor Presidente

NO âmbito das comemorações do Centenário, o Benfica foi ontem recebido no Palácio de Belém pelo Presidente da República. Aproveitou para o convidar para alguns dos eventos programados, elogiou o seu papel na «dignificação» do futebol e ofereceu-lhe, entre outros presentes, uma camisola com o nome Jorge Sampaio estampado.

A comitiva encarnada foi liderada pelo presidente Luís Filipe Vieira. A seu lado os presidentes da Assembleia Geral e Conselho Fiscal, respectivamente Tinoco de Faria e Walter Marques. Todo o grupo de trabalho do departamento de futebol, da equipa técnica aos jogadores ou médicos, também marcou presença. Tal como Eusébio e Guilherme Espírito Santo, este o presidente honorário do Centenário. Jorge Sampaio recebeu a comitiva encarnada com toda a simpatia. Eram 11.30 horas quando começou a sessão e pouco depois todos foram conduzidos até ao lindíssimo jardim do Palácio para uma foto de família. Tempo ainda para uma agradável troca de impressões num encontro em que todos puderam degustar os famosos pastéis de Belém, acompanhados por sumo ou cola. O Benfica deu a conhecer ao Presidente Jorge Sampaio o que tem programado para assinalar o Centenário. E aproveitou, conforme revelado no final por Tinoco de Faria, para convidar o chefe de Estado para algumas iniciativas, sendo que o sim estará sempre dependente da agenda presidencial. A Jorge Sampaio foi entregue uma camisola do Benfica com o seu nome estampado nas costas, uma águia de prata, uma bola autografada e um livro do Centenário. À saída, Tinoco de Faria falou aos jornalistas dando conta do que aconteceu no encontro e revelou ainda que o Benfica «agradeceu ao Presidente da República o alto patrocínio que tem dado ao futebol, visando a sua dignificação, bem como o magistério de influência que tem exercido nesta área».

Pré-época por marcar

A pré-época dos encarnados continua por definir. Tudo por culpa das dificuldades de calendarização e da indefinição quanto à participação na Taça UEFA ou na Liga dos Campeões...

Não está a ser fácil programar a pré-época do Benfica. Apesar de faltarem apenas três jornadas para o final da SuperLiga, as indefinições quanto ao lugar que a equipa irá ocupar na tabela classificativa e o desempenho da Selecção Nacional— integrada por vários jogadores encarnados — no Euro-2004, tornam extremamente difícil determinar, por agora, a data de apresentação do plantel para a época de 2004/05. Concretamente, a primeira dor de cabeça começa pelo facto de ninguém poder determinar nesta altura se o Benfica vai ficar no 2.º ou 3.º lugar. Caso se confirme a primeira hipótese, o clube terá de ter em conta que primeira mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões se disputará nos dias 10 e 11 de Agosto, ao marcar a data de início dos trabalhos. Mas chegado a este ponto, outro obstáculo se levanta: se Portugal for apurado para a final do Euro-2004, os jogadores só entrarão de férias a 5 de Julho, tendo, portanto, pouco tempo para descansar. Até porque a equipa teria de realizar alguns jogos de preparação antes de participar no jogo da pré-eliminatória. Situação que, obviamente, ninguém deseja na Luz, mas que aliviaria o departamento de futebol em relação à calendarização da pré-época e dos jogos de preparação, é a equipa garantir apenas o 3.º lugar. Neste caso, os encarnados entrariam em acção apenas em finais de Agosto, mas contabilizando o período de férias mínimo que um futebolista deve ter e a necessidade de disputar pelo menos três jogos de preparação antes de atacar os jogos oficiais, o panorama não será muito diferente.

Argel e Sokota na SAD

Acresce ainda a calendarização da SuperLiga e da Supertaça que, internamente, deverá ser o primeiro jogo da época. Esta é, pelo menos, a opinião do director- geral da SAD encarnada, e António Simões, o homem que está a tentar desbloquear esta complexa situação. «É verdade que as dúvidas quanto à classificação da equipa estão a gerar alguma indefinição sobre a pré-época, mas temos várias hipóteses em carteira. Estamos preocupados, mas penso que até 2 de Maio, a seguir ao jogo com o Sporting, tudo ficará definido», admitiu. Noutro âmbito, António Simões recebeu ontem as visitas de Argel e Sokota, dois jogadores que se encontram em fase de renovação de contratos. Nada transpirou sobre os motivos da presença de ambos jogadores na SAD, mas sabe-se que após o acordo alcançado com Moreira, garantir

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