Macroscopio: Português descobre organismo que não envelhece. É possível estar vivo sem envelhecer, defende Miguel Coelho

26-07-2018
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O biólogo Miguel Coelho identificou um microrganismo que se mantém eternamente jovem, rejuvenescendo cada vez que se divide, desde que as condições de crescimento sejam favoráveis. in Expresso

Virgílio Azevedo
19:45 Quinta feira, 19 de setembro de 2013

A levedura S. pombe pode ser o segredo para a eterna juventude, mas há ainda um longo caminho a percorrer para passar dos organismos unicelulares aos seres humanos.

O dogma de que todos os organismos vivos 

envelhecem acaba de ser quebrado, com a 

descoberta feita pelo jovem biólogo Miguel Coelho

de um micróbio unicelular que rejuvenesce cada vez

que se divide, desde que esteja num ambiente como

condições favoráveis.

É uma espécie de levedura conhecida por levedura 

de fissão ou "S. pombe" ("Schizosaccharomyces pombe") e a investigação foi

feita por uma equipa internacional que integra cientistas do Instituto Max

Planck em Dresden (Alemanha) e da Universidade da Pensilvânia (Filadélfia,

EUA).

A S. pombe é usada como organismo modelo em biologia molecular e celular

porque mantém a sua forma de bastão crescendo exclusivamente a partir das

extremidades e dividindo-se por fissão para produzir duas células-filhas do

mesmo tamanho, ao contrário do que é comum, onde há uma célula-mãe e

uma célula-filha. Por isso esta levedura é muito importante no estudo do 
ciclo celular.

A descoberta foi publicada na revista científica "Current Biology", num artigo

que tem como primeiro autor o biólogo português e que revela os princípios

fundamentais dos mecanismos do envelhecimento. Miguel Coelho, de 30 anos,

encontrou o que parece ser o segredo da juventude durante o seu 

doutoramento no Max Planck, financiado pela Fundação para a Ciência e a

Tecnologia (FCT).

Segredos da reprodução

"Geralmente, quando os micróbios unicelulares se dividem não resultam deste

processo novas células exactamente iguais", explica o biólogo, que está

agora a fazer um pós-doutoramento na Universidade de Harvard (Cambridge,

EUA).

Assim, o mais comum é "uma célula receber material envelhecido, enquanto

a outra adquire material novo completamente funcional". Ou seja, da mesma

forma que os humanos produzem filhos mais novos do que os pais, os

micróbios produzem células-filhas mais novas do que as células-mãe.

Mas o artigo agora publicado "mostra que a 'S. pombe' é imune ao 

envelhecimento através da divisão do material envelhecido pelas duas 
células". O que permite que "estas rejuvenesçam um pouco cada vez 
que se reproduzem", acrescenta Iva Tolic-Norrelykke, cientista do Instituto
Max Planck que lidera o projeto de investigação. No fundo, os danos são
repartidos pelas duas novas células.

É possível estar vivo sem envelhecer

"O meu trabalho de investigação demonstra pela primeira vez que é possível 

estar vivo sem envelhecer", sublinha Miguel Coelho esclarecendo, no entanto,

que quando aqueles microrganismos são submetidos a ambientes nocivos, 

como químicos ou calor, separam-se numa célula rejuvenescida e noutra que 

envelhece e morre. "As células têm um sistema para diluir os danos

acumulados em condições favoráveis, mas isso acontece de uma forma

aleatória, ou seja, não têm um programa de envelhecimento".

A levedura S. pombe "não é uma espécie imortal, mas a grande diferença em

relação aos outros organismos é que a probabilidade de morrer é

constante: 0,03% das células morrem". Como sublinha o artigo publicado na

"Current Biology", "os organismos unicelulares costumam envelhecer, o que

significa que à medida que o tempo passa, dividem-se cada vez mais

lentamente e acabam por morrer".

Longo caminho até à eterna juventude

Claro que há ainda um longo caminho a percorrer entre a "S. pombe" e o ser

humano. Para chegarmos aos segredos da eterna juventude nos seres 

humanos através da manipulação das células para tratar a doença de 

Alzheimer ou o cancro, "há ainda muito trabalho a desenvolver, porque só

agora estamos a compreender os mecanismos moleculares deste processo".

De qualquer maneira, atingir a imortalidade "é um objetivo filosófico, utópico,

mas aumentar a qualidade de vida e a saúde dos humanos é fundamental para

retardar o envelhecimento, e a investigação que estamos a fazer só faz 

sentido neste contexto".

O próximo passo será procurar nas células estaminais e cancerígenas - que 

não mostram envelhecimento - se também há divisão simétrica dos danos

acumulados, como acontece na levedura "S. pombe". Miguel Coelho admite

que isso aconteça em organismos superiores como os humanos.

No corpo humano, as células de pele e do fígado, por exemplo, estão sempre

a dividir-se e a regenerar, mas células altamente especializadas 
(diferenciadas) e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais,
dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.

e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais, dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.Etiquetas: defende Miguel Coelho, Português descobre organismo que não envelhece. É possível estar vivo sem envelhecer

O biólogo Miguel Coelho identificou um microrganismo que se mantém eternamente jovem, rejuvenescendo cada vez que se divide, desde que as condições de crescimento sejam favoráveis. in Expresso

Virgílio Azevedo
19:45 Quinta feira, 19 de setembro de 2013

A levedura S. pombe pode ser o segredo para a eterna juventude, mas há ainda um longo caminho a percorrer para passar dos organismos unicelulares aos seres humanos.

O dogma de que todos os organismos vivos 

envelhecem acaba de ser quebrado, com a 

descoberta feita pelo jovem biólogo Miguel Coelho

de um micróbio unicelular que rejuvenesce cada vez

que se divide, desde que esteja num ambiente como

condições favoráveis.

É uma espécie de levedura conhecida por levedura 

de fissão ou "S. pombe" ("Schizosaccharomyces pombe") e a investigação foi

feita por uma equipa internacional que integra cientistas do Instituto Max

Planck em Dresden (Alemanha) e da Universidade da Pensilvânia (Filadélfia,

EUA).

A S. pombe é usada como organismo modelo em biologia molecular e celular

porque mantém a sua forma de bastão crescendo exclusivamente a partir das

extremidades e dividindo-se por fissão para produzir duas células-filhas do

mesmo tamanho, ao contrário do que é comum, onde há uma célula-mãe e

uma célula-filha. Por isso esta levedura é muito importante no estudo do 
ciclo celular.

A descoberta foi publicada na revista científica "Current Biology", num artigo

que tem como primeiro autor o biólogo português e que revela os princípios

fundamentais dos mecanismos do envelhecimento. Miguel Coelho, de 30 anos,

encontrou o que parece ser o segredo da juventude durante o seu 

doutoramento no Max Planck, financiado pela Fundação para a Ciência e a

Tecnologia (FCT).

Segredos da reprodução

"Geralmente, quando os micróbios unicelulares se dividem não resultam deste

processo novas células exactamente iguais", explica o biólogo, que está

agora a fazer um pós-doutoramento na Universidade de Harvard (Cambridge,

EUA).

Assim, o mais comum é "uma célula receber material envelhecido, enquanto

a outra adquire material novo completamente funcional". Ou seja, da mesma

forma que os humanos produzem filhos mais novos do que os pais, os

micróbios produzem células-filhas mais novas do que as células-mãe.

Mas o artigo agora publicado "mostra que a 'S. pombe' é imune ao 

envelhecimento através da divisão do material envelhecido pelas duas 
células". O que permite que "estas rejuvenesçam um pouco cada vez 
que se reproduzem", acrescenta Iva Tolic-Norrelykke, cientista do Instituto
Max Planck que lidera o projeto de investigação. No fundo, os danos são
repartidos pelas duas novas células.

É possível estar vivo sem envelhecer

"O meu trabalho de investigação demonstra pela primeira vez que é possível 

estar vivo sem envelhecer", sublinha Miguel Coelho esclarecendo, no entanto,

que quando aqueles microrganismos são submetidos a ambientes nocivos, 

como químicos ou calor, separam-se numa célula rejuvenescida e noutra que 

envelhece e morre. "As células têm um sistema para diluir os danos

acumulados em condições favoráveis, mas isso acontece de uma forma

aleatória, ou seja, não têm um programa de envelhecimento".

A levedura S. pombe "não é uma espécie imortal, mas a grande diferença em

relação aos outros organismos é que a probabilidade de morrer é

constante: 0,03% das células morrem". Como sublinha o artigo publicado na

"Current Biology", "os organismos unicelulares costumam envelhecer, o que

significa que à medida que o tempo passa, dividem-se cada vez mais

lentamente e acabam por morrer".

Longo caminho até à eterna juventude

Claro que há ainda um longo caminho a percorrer entre a "S. pombe" e o ser

humano. Para chegarmos aos segredos da eterna juventude nos seres 

humanos através da manipulação das células para tratar a doença de 

Alzheimer ou o cancro, "há ainda muito trabalho a desenvolver, porque só

agora estamos a compreender os mecanismos moleculares deste processo".

De qualquer maneira, atingir a imortalidade "é um objetivo filosófico, utópico,

mas aumentar a qualidade de vida e a saúde dos humanos é fundamental para

retardar o envelhecimento, e a investigação que estamos a fazer só faz 

sentido neste contexto".

O próximo passo será procurar nas células estaminais e cancerígenas - que 

não mostram envelhecimento - se também há divisão simétrica dos danos

acumulados, como acontece na levedura "S. pombe". Miguel Coelho admite

que isso aconteça em organismos superiores como os humanos.

No corpo humano, as células de pele e do fígado, por exemplo, estão sempre

a dividir-se e a regenerar, mas células altamente especializadas 
(diferenciadas) e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais,
dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.

e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais, dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.Etiquetas: defende Miguel Coelho, Português descobre organismo que não envelhece. É possível estar vivo sem envelhecer

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