No final do verão, acaba a festa. No outono, refazem-se as contas

24-06-2019
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“Há um significativo grau de probabilidade de a economia mundial estar a caminhar para uma recessão em 2019. A elite mundial dos negócios concorda que a economia está a arrefecer mas a elite política espera que seja só uma aterragem suave e não uma recessão. O mais provável é os políticos estarem errados”.

Estas frases são do Nobel de Economia Paul Krugman e foram ditas no domingo, dia 10 de fevereiro, no Dubai. Seguem-se a outras afirmações no mesmo sentido, feitas pelo economista Nouriel Roubini que, há cinco meses, a 11 de setembro de 2018, previu uma nova recessão em 2020.

Roubini lembrou que se estão a repetir os mesmos fatores que estiveram na origem da crise financeira que provocou a grande recessão deste século a partir de 2008, como o excesso de crédito às famílias, enorme alavancagem das empresas e dos bancos, ativos sobreavaliados, crescimento económico fraco, despesa pública com recurso a mais dívida e guerras comerciais entre blocos económicos.

Perante este cenário, a pergunta que se impõe é se a economia portuguesa estará preparada para uma nova recessão.

Na entrevista à SIC, António Costa evitou a palavra crise e recusou alongar-se em considerações sobre o abrandamento da economia, destacando o facto de o cenário macroeconómico do PS, e depois do próprio Governo socialista, prever desde o início um menor ritmo de crescimento em 2019–2020.

Por seu lado, o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, admitiu esta semana que há riscos eminentemente externos, mas contra os quais Portugal pouco pode fazer. Mourinho Félix minimizou a importância da revisão em baixa do crescimento da economia portuguesa por parte da Comissão Europeia. Considerou tratar-se de uma revisão muito ligeira e que não há nenhuma razão para o Governo rever as suas próprias projeções.

Recorde-se que, no Orçamento do Estado para 2019, o Ministério das Finanças prevê um crescimento de 2,2 por cento do PIB para este ano e no Programa de Estabilidade (apresentado em abril de 2018), o mesmo Ministério das Finanças prevê um crescimento de 2,3 por cento para 2020. Este documento só será revisto no próximo mês de abril, até lá as suas projeções continuam em vigor.

Recém-chegado à luta política diária, onde mostra grande à-vontade, o ministro da Economia Pedro Siza Vieira almoça com empresários e diz que na hipótese (na hipótese!) de haver abrandamento, Portugal e Espanha estão bem preparados. São dois países unidos numa frente ibérica de resistência heroica contra quaisquer moinhos de vento disfarçados de crise.

No entanto, todas as instituições como o FMI, a Comissão Europeia, a OCDE e o Banco de Portugal, apesar das diferenças entre as suas previsões, apontam para números mais baixos de crescimento de Portugal este ano e no ano que vem. O mais pessimista é o FMI com uma previsão de 1,8 por cento de crescimento do PIB este ano e apenas 1,5 por cento em 2020.

É certo que nenhuma destas instituições prevê uma recessão para Portugal…mas a Itália já entrou em recessão técnica no segundo semestre de 2018, a Alemanha e a França estão a patinar na neve e o Reino Unido arrefece rapidamente no inverno do Brexit.

No último Fórum Económico Mundial, em Davos, o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, foi prudente e admitiu que o abrandamento da economia internacional pode “prolongar-se um pouco mais que o esperado”. Paladino da resistência de Lisboa, o ministro português das Finanças, Mário Centeno, encheu o peito de ar para criticar os que admitem a hipótese de uma crise no horizonte. Diz que não se deve olhar para o abrandamento como uma crise. “Os riscos políticos estão a conduzir a essa moderação do crescimento, mas está nas nossas mãos mudar a maré e agir para reduzir esses riscos”. Isto é, quem fala abertamente do risco de uma nova crise é que a está a provocar!

Claro, a economia é sobretudo expectativa, é tudo uma questão de marketing.

Continuemos a vender a ideia de que a festa vai rija. Pelo menos até ao final do verão. Lá para meados de outubro, o novo Governo refaz as contas, deste e do próximo Orçamento do Estado.

Mário Centeno já estará em Bruxelas para as avaliar. E criticar.

“Há um significativo grau de probabilidade de a economia mundial estar a caminhar para uma recessão em 2019. A elite mundial dos negócios concorda que a economia está a arrefecer mas a elite política espera que seja só uma aterragem suave e não uma recessão. O mais provável é os políticos estarem errados”.

Estas frases são do Nobel de Economia Paul Krugman e foram ditas no domingo, dia 10 de fevereiro, no Dubai. Seguem-se a outras afirmações no mesmo sentido, feitas pelo economista Nouriel Roubini que, há cinco meses, a 11 de setembro de 2018, previu uma nova recessão em 2020.

Roubini lembrou que se estão a repetir os mesmos fatores que estiveram na origem da crise financeira que provocou a grande recessão deste século a partir de 2008, como o excesso de crédito às famílias, enorme alavancagem das empresas e dos bancos, ativos sobreavaliados, crescimento económico fraco, despesa pública com recurso a mais dívida e guerras comerciais entre blocos económicos.

Perante este cenário, a pergunta que se impõe é se a economia portuguesa estará preparada para uma nova recessão.

Na entrevista à SIC, António Costa evitou a palavra crise e recusou alongar-se em considerações sobre o abrandamento da economia, destacando o facto de o cenário macroeconómico do PS, e depois do próprio Governo socialista, prever desde o início um menor ritmo de crescimento em 2019–2020.

Por seu lado, o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, admitiu esta semana que há riscos eminentemente externos, mas contra os quais Portugal pouco pode fazer. Mourinho Félix minimizou a importância da revisão em baixa do crescimento da economia portuguesa por parte da Comissão Europeia. Considerou tratar-se de uma revisão muito ligeira e que não há nenhuma razão para o Governo rever as suas próprias projeções.

Recorde-se que, no Orçamento do Estado para 2019, o Ministério das Finanças prevê um crescimento de 2,2 por cento do PIB para este ano e no Programa de Estabilidade (apresentado em abril de 2018), o mesmo Ministério das Finanças prevê um crescimento de 2,3 por cento para 2020. Este documento só será revisto no próximo mês de abril, até lá as suas projeções continuam em vigor.

Recém-chegado à luta política diária, onde mostra grande à-vontade, o ministro da Economia Pedro Siza Vieira almoça com empresários e diz que na hipótese (na hipótese!) de haver abrandamento, Portugal e Espanha estão bem preparados. São dois países unidos numa frente ibérica de resistência heroica contra quaisquer moinhos de vento disfarçados de crise.

No entanto, todas as instituições como o FMI, a Comissão Europeia, a OCDE e o Banco de Portugal, apesar das diferenças entre as suas previsões, apontam para números mais baixos de crescimento de Portugal este ano e no ano que vem. O mais pessimista é o FMI com uma previsão de 1,8 por cento de crescimento do PIB este ano e apenas 1,5 por cento em 2020.

É certo que nenhuma destas instituições prevê uma recessão para Portugal…mas a Itália já entrou em recessão técnica no segundo semestre de 2018, a Alemanha e a França estão a patinar na neve e o Reino Unido arrefece rapidamente no inverno do Brexit.

No último Fórum Económico Mundial, em Davos, o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, foi prudente e admitiu que o abrandamento da economia internacional pode “prolongar-se um pouco mais que o esperado”. Paladino da resistência de Lisboa, o ministro português das Finanças, Mário Centeno, encheu o peito de ar para criticar os que admitem a hipótese de uma crise no horizonte. Diz que não se deve olhar para o abrandamento como uma crise. “Os riscos políticos estão a conduzir a essa moderação do crescimento, mas está nas nossas mãos mudar a maré e agir para reduzir esses riscos”. Isto é, quem fala abertamente do risco de uma nova crise é que a está a provocar!

Claro, a economia é sobretudo expectativa, é tudo uma questão de marketing.

Continuemos a vender a ideia de que a festa vai rija. Pelo menos até ao final do verão. Lá para meados de outubro, o novo Governo refaz as contas, deste e do próximo Orçamento do Estado.

Mário Centeno já estará em Bruxelas para as avaliar. E criticar.

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