Marques Mendes. Protagonismo reforçado de Centeno é estratégia política para arrefecimento da economia

13-01-2019
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Nos últimos dias, Mário Centeno tem sido especialmente falado e ouvido: foi escolhido por uma publicação do grupo Financial Times como melhor ministro das Finanças de 2018, deu uma entrevista à RTP e ainda foi ao programa de comentário político “Governo Sombra”, da TVI24. Marques Mendes acha que esse protagonismo é “intencional” e estratégico e que tem “significado político”.

Acho que é uma estratégia política ou eleitoral do governo de ter uma espécie de governo bicéfalo: um primeiro-ministro mais para as questões políticas, para os anúncios e as visitas, e depois outra liderança — por isso é que a chamo bicéfala — mais virada para as questões económicas e financeiras. Acho que vamos ver mais disto nos próximos meses”, referiu Marques Mendes este domingo, no seu espaço de comentário semanal na SIC.

O ministro das Finanças de António Costa “é muito popular e entra muito bem nos setores mais moderados do centro e centro-direita”, constatou Marques Mendes, acrescentando uma convicção: “Dá muito jeito do ponto de vista eleitoral. É uma boa imagem de marca para o PS porque é o homem das contas certas”.

O antigo líder do PSD, atual conselheiro de Estado, acredita que “o Governo e o PS estão preocupados com o arrefecimento da economia que aí vem” e o maior protagonismo mediático de Centeno nos últimos dias está relacionado com isso: “Evidentemente que no momento em que o clima económico piora as pessoas precisam de alguém que vejam como uma espécie de homem do leme, uma pessoa em quem possam confiar. Nesse plano, vale muito mais do que António Costa ou qualquer um dos outros ministros”.

Outro ministro que nos últimos dias tem-se mostrado ativo e interventivo no espaço público é Pedro Marques, que tutela as áreas do Planeamento e Infraestruturas. Marques Mendes insinuou no seu espaço de comentário na SIC que esse protagonismo poderá dever-se a duas coisas: à vontade do Governo contrariar a ideia de paralisação do investimento público no país e a um posicionamento de Pedro Marques para “ambições políticas” futuras.

Falta saber se este protagonismo não traz água no bico, não segundas ou terceiras intenções”, apontou o comentador social-democrata. Questionado sobre se essas intenções estariam relacionadas com “ambição política”, Marques Mendes respondeu: “Com certeza. Alguma coisa que seja boa para ele”.

Miguel Macedo “podia ser hoje líder do PSD se quisesse”

Nas notas semanais, Marques Mendes destacou a absolvição de Miguel Macedo, face às acusações feitas pelo Ministério Público num processo relativo aos vistos gold. Confessando ser “amigo de Miguel Macedo há 40 anos”, Marques Mendes prometeu “tentar ser justo”. Começou por dizer que “depois de terminado o julgamento e ouvindo várias pessoas que nele participaram” já estava “mais ou menos à espera de decisões desta natureza”, porque nessa fase final do processo “já se consegue perceber um pouco se houve ou não houve provas”. Neste caso, entendeu o juiz e entende Marques Mendes, não houve.

O comentador político quis também lembrar que “uma acusação não é sinónimo de condenação” e que a justiça “funciona bem quando condena e quando absolve”, apesar de em processos mais mediáticos haver a perceção de que só funciona quando não há absolvições. “Dentro do tribunal não funciona o mediatismo: não há provas, não se condena”.

Não falaria de derrota ou de vitória porque isto não é um jogo, mas é um revés para o Ministério Público. E é um segundo revés, já tinha tido outro no processo e-toupeira há duas semanas. O Ministério Público devia refletir. Uma coisa é o Ministério Público atuante na investigação, que é importante ao investigar de forma livre, determinada. Mas é preciso que as investigações tenham solidez, consistência. Não chega acusar, é preciso haver solidez [na acusação]. Este caso é uma marca que afeta a credibilidade do Ministério Público“, entende.

O conselheiro de Estado quis ainda descrever os efeitos do processo na vida política e pessoal de Miguel Macedo: “A vida pessoal ficou arruinada e a vida política dele levou um pontapé monumental. Podia ser hoje líder do PSD, se quisesse“. E o antigo ministro da Administração Interna de Passos Coelho “foi exemplar” durante o processo, por dois motivos. O primeiro foi “não se agarrar ao lugar quando começaram as investigações”, já que Macedo “tomou a iniciativa de sair pelo seu pé. Ninguém o obrigava a sair. Quase toda a gente se agarra ao lugar, ele saiu livremente. Sentia-se inocente mas não quis perturbar a imagem governativa desta forma”. O segundo mérito que teve foi que “ao longo deste processo todo, nunca abriu a boca”, apontou o comentador.

Marques Mendes quis ainda elogiar a mensagem de ano novo do Presidente da República e aproveitou para dar a sua opinião sobre a evolução da democracia em Portugal. Disse que “o que se passou nestes últimos meses com alguns deputados é deprimente: viagens, deslocações, tudo…” e que “de eleição para eleição, de legislatura para legislatura, vai baixando a qualidade dos decisores políticos, designadamente dos representantes da Assembleia da República [AR]“. A AR, apontou Marques Mendes, “nem sequer tem uma comissão verdadeiramente de ética”.

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Nos últimos dias, Mário Centeno tem sido especialmente falado e ouvido: foi escolhido por uma publicação do grupo Financial Times como melhor ministro das Finanças de 2018, deu uma entrevista à RTP e ainda foi ao programa de comentário político “Governo Sombra”, da TVI24. Marques Mendes acha que esse protagonismo é “intencional” e estratégico e que tem “significado político”.

Acho que é uma estratégia política ou eleitoral do governo de ter uma espécie de governo bicéfalo: um primeiro-ministro mais para as questões políticas, para os anúncios e as visitas, e depois outra liderança — por isso é que a chamo bicéfala — mais virada para as questões económicas e financeiras. Acho que vamos ver mais disto nos próximos meses”, referiu Marques Mendes este domingo, no seu espaço de comentário semanal na SIC.

O ministro das Finanças de António Costa “é muito popular e entra muito bem nos setores mais moderados do centro e centro-direita”, constatou Marques Mendes, acrescentando uma convicção: “Dá muito jeito do ponto de vista eleitoral. É uma boa imagem de marca para o PS porque é o homem das contas certas”.

O antigo líder do PSD, atual conselheiro de Estado, acredita que “o Governo e o PS estão preocupados com o arrefecimento da economia que aí vem” e o maior protagonismo mediático de Centeno nos últimos dias está relacionado com isso: “Evidentemente que no momento em que o clima económico piora as pessoas precisam de alguém que vejam como uma espécie de homem do leme, uma pessoa em quem possam confiar. Nesse plano, vale muito mais do que António Costa ou qualquer um dos outros ministros”.

Outro ministro que nos últimos dias tem-se mostrado ativo e interventivo no espaço público é Pedro Marques, que tutela as áreas do Planeamento e Infraestruturas. Marques Mendes insinuou no seu espaço de comentário na SIC que esse protagonismo poderá dever-se a duas coisas: à vontade do Governo contrariar a ideia de paralisação do investimento público no país e a um posicionamento de Pedro Marques para “ambições políticas” futuras.

Falta saber se este protagonismo não traz água no bico, não segundas ou terceiras intenções”, apontou o comentador social-democrata. Questionado sobre se essas intenções estariam relacionadas com “ambição política”, Marques Mendes respondeu: “Com certeza. Alguma coisa que seja boa para ele”.

Miguel Macedo “podia ser hoje líder do PSD se quisesse”

Nas notas semanais, Marques Mendes destacou a absolvição de Miguel Macedo, face às acusações feitas pelo Ministério Público num processo relativo aos vistos gold. Confessando ser “amigo de Miguel Macedo há 40 anos”, Marques Mendes prometeu “tentar ser justo”. Começou por dizer que “depois de terminado o julgamento e ouvindo várias pessoas que nele participaram” já estava “mais ou menos à espera de decisões desta natureza”, porque nessa fase final do processo “já se consegue perceber um pouco se houve ou não houve provas”. Neste caso, entendeu o juiz e entende Marques Mendes, não houve.

O comentador político quis também lembrar que “uma acusação não é sinónimo de condenação” e que a justiça “funciona bem quando condena e quando absolve”, apesar de em processos mais mediáticos haver a perceção de que só funciona quando não há absolvições. “Dentro do tribunal não funciona o mediatismo: não há provas, não se condena”.

Não falaria de derrota ou de vitória porque isto não é um jogo, mas é um revés para o Ministério Público. E é um segundo revés, já tinha tido outro no processo e-toupeira há duas semanas. O Ministério Público devia refletir. Uma coisa é o Ministério Público atuante na investigação, que é importante ao investigar de forma livre, determinada. Mas é preciso que as investigações tenham solidez, consistência. Não chega acusar, é preciso haver solidez [na acusação]. Este caso é uma marca que afeta a credibilidade do Ministério Público“, entende.

O conselheiro de Estado quis ainda descrever os efeitos do processo na vida política e pessoal de Miguel Macedo: “A vida pessoal ficou arruinada e a vida política dele levou um pontapé monumental. Podia ser hoje líder do PSD, se quisesse“. E o antigo ministro da Administração Interna de Passos Coelho “foi exemplar” durante o processo, por dois motivos. O primeiro foi “não se agarrar ao lugar quando começaram as investigações”, já que Macedo “tomou a iniciativa de sair pelo seu pé. Ninguém o obrigava a sair. Quase toda a gente se agarra ao lugar, ele saiu livremente. Sentia-se inocente mas não quis perturbar a imagem governativa desta forma”. O segundo mérito que teve foi que “ao longo deste processo todo, nunca abriu a boca”, apontou o comentador.

Marques Mendes quis ainda elogiar a mensagem de ano novo do Presidente da República e aproveitou para dar a sua opinião sobre a evolução da democracia em Portugal. Disse que “o que se passou nestes últimos meses com alguns deputados é deprimente: viagens, deslocações, tudo…” e que “de eleição para eleição, de legislatura para legislatura, vai baixando a qualidade dos decisores políticos, designadamente dos representantes da Assembleia da República [AR]“. A AR, apontou Marques Mendes, “nem sequer tem uma comissão verdadeiramente de ética”.

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