Jogar no erro do adversário

22-07-2017
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Marcos Borga

Luís Barra

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Faltam uns meses largos para as eleições, mas é óbvio que já estamos em campanha. Parece-me, aliás, que os políticos gostam muito mais de campanha do que propriamente de governar ou ir para a oposição. É muito mais animado andar em campanha, onde realmente se exercita o jogo de anca e a experiência. O problema, quando já se tem uma certa idade e já se viu e viveu muitas campanhas, é que já nem sequer tem graça, tornando-se apenas previsível. O jogo da campanha é muito fácil de jogar: evitam-se grandes promessas, principalmente se as sondagens são favoráveis (trata-se de deixar andar, deixar andar, até ao dia do voto), mas sobretudo, à falta de grande ideias que não sejam as repetidas “é preciso devolver a esperança aos portugueses”, fica-se à espreita do lapso do adversário. É tão engraçado como se tocam, afinal, as táticas da política e do futebol. Jogar bem, tentar ser melhor que o outro? Para quê, se se pode ficar quieto, à espera que o adversário cometa um erro e deixe a bola nos nossos pés? Incontáveis exemplos, que não caberiam aqui, mas repare-se num dos mais recentes. Toda a gente percebeu o que a ministra das Finanças queria dizer com os “cofres cheios”. Um óbvio contraponto aos cofres vazios, que puseram o País à vista da bancarrota, e obrigaram a pedir ajuda externa, sob risco de nem dinheiro para salários haver, de um mês para o outro. A expressão é adequada, é feliz? Claro que não. Num momento dramático para tantas famílias que contam os tostões, falar de cofres cheios é insultuoso. Bastaria, talvez, falar de um pé-de-meia, dizer que estamos preparados para eventualidades, qualquer coisa mais vaga. Mas a ministra das Finanças não é conhecida pela sua habilidade formal. Mais técnica que política, a própria parece estar ainda num processo de aprendizagem, quanto à forma de responder, ou que palavras utilizar, num meio onde todas as palavrinhas, nuances, silêncios e expressões faciais são escrutinados. Ou seja, na política deve-se pensar primeiro e falar depois. Dito isto, repito que me parece óbvio o que queria dizer Maria Luís Albuquerque: basicamente, que o pior já passou, e que ainda que os cofres estejam cheios (de dívida), não se pode abrandar a consolidação das contas públicas. Mas, e como era de esperar, o líder do PS viu aqui uma grande oportunidade para cavalgar o lapso infeliz, em nome dos portugueses que sentem a crise e se sentiram ofendidos. O clássico: aproveitar o erro do adversário. Mas já que aqui estamos, convém lembrar que os últimos tempos têm sido pródigos em deslizes, sobretudo ao nível de PSD e PS. De tal forma que ainda um líder está a suar por causa de um erro do seu partido, e já o adversário está a cometer outro, para seu grande alívio. A ministra não devia ter dito o que disse, e como disse? Sim, provavelmente. E o presidente do PS? Deveria ter garantido – repito – garantido que quando o PS chegar ao poder vai reembolsar tudo a todos os lesados do BES? Acho que é frase para guardar. E relembrar daqui a uns tempos. Porque é assunto sério. Muito sério. Há muita, muita gente, que perdeu muita, muita coisa.

Marcos Borga

Luís Barra

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Faltam uns meses largos para as eleições, mas é óbvio que já estamos em campanha. Parece-me, aliás, que os políticos gostam muito mais de campanha do que propriamente de governar ou ir para a oposição. É muito mais animado andar em campanha, onde realmente se exercita o jogo de anca e a experiência. O problema, quando já se tem uma certa idade e já se viu e viveu muitas campanhas, é que já nem sequer tem graça, tornando-se apenas previsível. O jogo da campanha é muito fácil de jogar: evitam-se grandes promessas, principalmente se as sondagens são favoráveis (trata-se de deixar andar, deixar andar, até ao dia do voto), mas sobretudo, à falta de grande ideias que não sejam as repetidas “é preciso devolver a esperança aos portugueses”, fica-se à espreita do lapso do adversário. É tão engraçado como se tocam, afinal, as táticas da política e do futebol. Jogar bem, tentar ser melhor que o outro? Para quê, se se pode ficar quieto, à espera que o adversário cometa um erro e deixe a bola nos nossos pés? Incontáveis exemplos, que não caberiam aqui, mas repare-se num dos mais recentes. Toda a gente percebeu o que a ministra das Finanças queria dizer com os “cofres cheios”. Um óbvio contraponto aos cofres vazios, que puseram o País à vista da bancarrota, e obrigaram a pedir ajuda externa, sob risco de nem dinheiro para salários haver, de um mês para o outro. A expressão é adequada, é feliz? Claro que não. Num momento dramático para tantas famílias que contam os tostões, falar de cofres cheios é insultuoso. Bastaria, talvez, falar de um pé-de-meia, dizer que estamos preparados para eventualidades, qualquer coisa mais vaga. Mas a ministra das Finanças não é conhecida pela sua habilidade formal. Mais técnica que política, a própria parece estar ainda num processo de aprendizagem, quanto à forma de responder, ou que palavras utilizar, num meio onde todas as palavrinhas, nuances, silêncios e expressões faciais são escrutinados. Ou seja, na política deve-se pensar primeiro e falar depois. Dito isto, repito que me parece óbvio o que queria dizer Maria Luís Albuquerque: basicamente, que o pior já passou, e que ainda que os cofres estejam cheios (de dívida), não se pode abrandar a consolidação das contas públicas. Mas, e como era de esperar, o líder do PS viu aqui uma grande oportunidade para cavalgar o lapso infeliz, em nome dos portugueses que sentem a crise e se sentiram ofendidos. O clássico: aproveitar o erro do adversário. Mas já que aqui estamos, convém lembrar que os últimos tempos têm sido pródigos em deslizes, sobretudo ao nível de PSD e PS. De tal forma que ainda um líder está a suar por causa de um erro do seu partido, e já o adversário está a cometer outro, para seu grande alívio. A ministra não devia ter dito o que disse, e como disse? Sim, provavelmente. E o presidente do PS? Deveria ter garantido – repito – garantido que quando o PS chegar ao poder vai reembolsar tudo a todos os lesados do BES? Acho que é frase para guardar. E relembrar daqui a uns tempos. Porque é assunto sério. Muito sério. Há muita, muita gente, que perdeu muita, muita coisa.

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