O Speedy González do descaramento

03-08-2017
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Identificaria, de muitos exemplos de gravidade e relevância variáveis, os três casos mais significativos: Ferreira do Amaral, Jorge Coelho e Pina Moura. Todos eles cumprem quatro critérios: tinham uma carreira quase exclusivamente pública, sem cargos de gestão em empresas privadas do sector que justificassem os convites que receberam; ocuparam cargos executivos e políticos muito relevantes nos governos por onde passaram; a sua intervenção teve efeitos diretos nos negócios das empresas que os vieram a contratar; e o seu rendimento foi exponencialmente inflacionado depois de passarem por um governo. Maria Luís Albuquerque cumpre os três primeiros critérios e deverá vir a cumprir o quarto. Tem, sobre os seus antecessores em descaramento, uma agravante: a do período de nojo que não cumpriu. A viagem do ministério para o privado não demorou treze anos, como a de Ferreira do Amaral, sete, como a de Jorge Coelho, ou três, como a de Pina Moura. Foram apenas cem dias. As informações que detém ainda são todas válidas, os contactos que conseguiu ainda são todos úteis.

Há três reações ao caso da contratação de Maria Luís Albuquerque que recuso. A primeira é a da desconversa. Em vez de debatermos a escolha da ex-ministra começamos a discutir a lei em vigor ou os salários que se pagam aos políticos. A lei não esgota a ética republicana e nunca a poderá substituir no exercício da política. É por isso mesmo que votamos e não entregamos aos tribunais a sanção política dos detentores de cargos políticos. Os juízes julgam do cumprimento da lei, nós julgamos do cumprimento dos deveres políticos e éticos. Os salários dos políticos nunca poderão superar as ofertas que lhes sejam feitas para violarem os seus deveres éticos.

A segunda reação é a da generalização. Em vez de falarmos desta escolha e desta pessoa em concreto falamos dos “políticos”. Quem o faz, julgando-se mais severo do que os outros, é, na realidade, o mais permissivo possível. Se a culpa é de todos não é de ninguém. Se são todos iguais não há nada a criticar. Se fazem todos estranho é não fazer. Quem faz este tipo de generalização é, inconscientemente (mas às vezes conscientemente) um aliado objetivo da imoralidade política e promotor da injustiça.

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Identificaria, de muitos exemplos de gravidade e relevância variáveis, os três casos mais significativos: Ferreira do Amaral, Jorge Coelho e Pina Moura. Todos eles cumprem quatro critérios: tinham uma carreira quase exclusivamente pública, sem cargos de gestão em empresas privadas do sector que justificassem os convites que receberam; ocuparam cargos executivos e políticos muito relevantes nos governos por onde passaram; a sua intervenção teve efeitos diretos nos negócios das empresas que os vieram a contratar; e o seu rendimento foi exponencialmente inflacionado depois de passarem por um governo. Maria Luís Albuquerque cumpre os três primeiros critérios e deverá vir a cumprir o quarto. Tem, sobre os seus antecessores em descaramento, uma agravante: a do período de nojo que não cumpriu. A viagem do ministério para o privado não demorou treze anos, como a de Ferreira do Amaral, sete, como a de Jorge Coelho, ou três, como a de Pina Moura. Foram apenas cem dias. As informações que detém ainda são todas válidas, os contactos que conseguiu ainda são todos úteis.

Há três reações ao caso da contratação de Maria Luís Albuquerque que recuso. A primeira é a da desconversa. Em vez de debatermos a escolha da ex-ministra começamos a discutir a lei em vigor ou os salários que se pagam aos políticos. A lei não esgota a ética republicana e nunca a poderá substituir no exercício da política. É por isso mesmo que votamos e não entregamos aos tribunais a sanção política dos detentores de cargos políticos. Os juízes julgam do cumprimento da lei, nós julgamos do cumprimento dos deveres políticos e éticos. Os salários dos políticos nunca poderão superar as ofertas que lhes sejam feitas para violarem os seus deveres éticos.

A segunda reação é a da generalização. Em vez de falarmos desta escolha e desta pessoa em concreto falamos dos “políticos”. Quem o faz, julgando-se mais severo do que os outros, é, na realidade, o mais permissivo possível. Se a culpa é de todos não é de ninguém. Se são todos iguais não há nada a criticar. Se fazem todos estranho é não fazer. Quem faz este tipo de generalização é, inconscientemente (mas às vezes conscientemente) um aliado objetivo da imoralidade política e promotor da injustiça.

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