Rangel by day no Tejo & by night na discoteca da Europa

22-05-2019
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À primeira vista, parece impossível que toda aquela gente vestida em tons de branco, salmão e cor de laranja possa caber num só barco. E é isso mesmo que a organização das Mulheres Sociais Democratas constata, olhando à sua volta: certamente houve quem se entusiasmasse e se juntasse ao passeio pelo Tejo sem garantia de lugar. “Só se for homem ao mar!”, comenta-se na comitiva.

O forte sol de maio continua a exigir cuidados redobrados com a pele, apesar de a partida se ter atrasado e de já ser fim de tarde. Mas o dia poderia perfeitamente confundir-se com um de verão. Estamos na Doca do Espanhol, em Lisboa, junto ao veleiro “Príncipe Perfeito”, de onde partirá o grupo para navegar de Alcântara a Santa Apolónia e voltar.

Em princípio, nada no cenário sugere que estejamos perante uma iniciativa política. E, na verdade, pode ser que o passeio se aproxime mais de um evento social. À medida que os participantes vão subindo pelas escadas do veleiro, o encontro começa a parecer uma espécie de white & orange party que pouco tem a ver com política. E não terá mesmo. É o próprio Paulo Rangel que nota, mais tarde, equilibrado no topo do barco e de microfone na mão, enquanto comenta esta espécie de “mergulho seco” no Tejo, que este não é “o momento para um discurso mais partidário”. Não passa, aliás, de um “ato simbólico”.

Se a ideia é marcar simbolicamente o dia, o efeito é o pretendido: o evento serve para dar boas imagens às câmaras televisivas e fotográficas, mas também aos iPhones das senhoras que rodeiam Rui Rio para tirar fotografias. Ou para registar a imagem de Rio e Rangel, lado a lado mas um para cada lado na proa do barco, o primeiro a comentar que dali vê os barcos da Soflusa e da Transtejo, o segundo a acompanhar os hinos que se sucedem no sistema de som do barco.

De político pouco ou nada haveria para registar não fosse Rui Rio, “timoneiro” do PSD como foi apresentado pela organização, levar umas quantas frases preparadas para comentar a atualidade e puxar pela política interna. Sem que os jornalistas o perguntem, aproveita a paisagem da Soflusa e da Transtejo para falar de transportes e passes sociais e dali passa ao caso Berardo, rematando mesmo com uma recomendação, por iniciativa própria, para que o resto da lista das pessoas com condecorações também seja reavaliado, até porque estas não devem ser atribuídas “ao metro”.

Enquanto Rio dá a injeção política da tarde, e já depois de um almoço em que Paulo Rangel se atira ao PS enquanto fala de incêndios e da impreparação para lidar com os mesmos, no barco ouvem-se os hinos costumeiros (“nós somos um rio que não vai parar”, duplamente adequado para este passeio no Tejo) e continuam a tirar-se as selfies. A tarde só é política para alguns.

… E a noite

Passam poucas horas desde que o grande grupo (“cabe aqui tanta gente?”, duvidava Rio) desembarcou em Alcântara. O cenário é agora um parque de estacionamento na zona de Santos, a dez minutos da doca onde atracou o Príncipe Perfeito, mas Paulo Rangel e Rio estão preparados para mostrar que são candidatos (um a eurodeputado, outro a primeiro-ministro) todo-o-terreno. E é assim que surge no horizonte (do parque) uma carrinha 'pão de forma' às riscas cor de laranja, rodeada de jornalistas e fotógrafos. Porquê? Porque é Rui Rio quem a conduz, apesar de incredulidade de alguns dos ‘jotas’ que assistem à cena:

- É o Rio que vem a conduzir!

- Oh, não é nada!

- É, é!

- Pois é! Que categoria!

É mesmo o líder que vai ao volante, com Rangel no lugar do pendura e Lídia Pereira, número dois às europeias, e Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, nos bancos de trás. O estacionamento faz-se num segundo lugar improvável para um evento político: a discoteca Lust in Rio, cujos porteiros distribuem cartões de consumo a quem passa.

“Temos de ir onde os jovens vão, não podemos estar a falar num púlpito”, explica Lídia, a arrancar a sessão de perguntas e respostas marcada para esta noite, já no interior da discoteca. E a ideia agrada. “Eu gostei muito do ambiente descontraído, da forma de vestir”, comenta com o Expresso, satisfeito, o jovem Luís Malhadinhas, de 22 anos. Só com um reparo: gostava de ver ali menos ‘jotinhas’ e mais jovens não filiados.

Mesmo que o evento possa ser demasiado fechado, a verdade é que o que sucede a seguir é um dos momentos em que mais se fala de Europa em toda a campanha. Rapazes de camisa e jeans e raparigas de vestidos e all stars, todos de copo balão na mão (o gin é claramente a bebida vencedora entre os jovens, ou a ‘geração do gin’, como comenta alguém que passa), sentam-se nos sofás brancos e fazem perguntas a Rangel e a Rio, por vezes de olhos postos no telemóvel, outras ouvindo com interesse.

É a “geração made in Europe”, apresenta Margarida, “profundamente europeísta”. Na hora que se segue, fala-se de um leque variado de temas europeus, incluindo alguns de que pouco se ouviu falar até agora na campanha - há perguntas sobre alterações climáticas e o plano do PSD para reduzir as emissões de carbono para metade, a pressão ao regime da Venezuela, o masterplan proposto pelo PPE e o PSD para combater o cancro, a PAC, o Brexit ou os direitos dos cidadãos da Hungria no contexto do regime de Viktor Orbán.

No final, volta a ser o líder a trazer o discurso mais político e a política interna à sala. Pede aos jovens que tragam “um ou dois” amigos a votar, apresenta o PSD como “o partido mais moderado do espectro, ponto” - enquanto lamenta que o PS não se coloque “num espectro mais próximo” do seu -, defende o escrutínio da banca e avisa: “Eu não me calava hoje!”. A proximidade dos jovens parece dar-lhe uma injeção de energia. Quando acaba, o momento Marcelo: os jovens, que com uma mão fazem o símbolo de vitória e noutro agarram no copo balão, querem selfies. Nas colunas passa outra mistura de gerações, Rihanna e Paul McCartney cantam um refrão juntos. Luís congratula-se: “Quase não se tocou na política interna”. Os adultos saem da sala. É quase meia-noite e é altura de deixar os jotas a consumir o seu gin e a fazer o seu próprio networking.

À primeira vista, parece impossível que toda aquela gente vestida em tons de branco, salmão e cor de laranja possa caber num só barco. E é isso mesmo que a organização das Mulheres Sociais Democratas constata, olhando à sua volta: certamente houve quem se entusiasmasse e se juntasse ao passeio pelo Tejo sem garantia de lugar. “Só se for homem ao mar!”, comenta-se na comitiva.

O forte sol de maio continua a exigir cuidados redobrados com a pele, apesar de a partida se ter atrasado e de já ser fim de tarde. Mas o dia poderia perfeitamente confundir-se com um de verão. Estamos na Doca do Espanhol, em Lisboa, junto ao veleiro “Príncipe Perfeito”, de onde partirá o grupo para navegar de Alcântara a Santa Apolónia e voltar.

Em princípio, nada no cenário sugere que estejamos perante uma iniciativa política. E, na verdade, pode ser que o passeio se aproxime mais de um evento social. À medida que os participantes vão subindo pelas escadas do veleiro, o encontro começa a parecer uma espécie de white & orange party que pouco tem a ver com política. E não terá mesmo. É o próprio Paulo Rangel que nota, mais tarde, equilibrado no topo do barco e de microfone na mão, enquanto comenta esta espécie de “mergulho seco” no Tejo, que este não é “o momento para um discurso mais partidário”. Não passa, aliás, de um “ato simbólico”.

Se a ideia é marcar simbolicamente o dia, o efeito é o pretendido: o evento serve para dar boas imagens às câmaras televisivas e fotográficas, mas também aos iPhones das senhoras que rodeiam Rui Rio para tirar fotografias. Ou para registar a imagem de Rio e Rangel, lado a lado mas um para cada lado na proa do barco, o primeiro a comentar que dali vê os barcos da Soflusa e da Transtejo, o segundo a acompanhar os hinos que se sucedem no sistema de som do barco.

De político pouco ou nada haveria para registar não fosse Rui Rio, “timoneiro” do PSD como foi apresentado pela organização, levar umas quantas frases preparadas para comentar a atualidade e puxar pela política interna. Sem que os jornalistas o perguntem, aproveita a paisagem da Soflusa e da Transtejo para falar de transportes e passes sociais e dali passa ao caso Berardo, rematando mesmo com uma recomendação, por iniciativa própria, para que o resto da lista das pessoas com condecorações também seja reavaliado, até porque estas não devem ser atribuídas “ao metro”.

Enquanto Rio dá a injeção política da tarde, e já depois de um almoço em que Paulo Rangel se atira ao PS enquanto fala de incêndios e da impreparação para lidar com os mesmos, no barco ouvem-se os hinos costumeiros (“nós somos um rio que não vai parar”, duplamente adequado para este passeio no Tejo) e continuam a tirar-se as selfies. A tarde só é política para alguns.

… E a noite

Passam poucas horas desde que o grande grupo (“cabe aqui tanta gente?”, duvidava Rio) desembarcou em Alcântara. O cenário é agora um parque de estacionamento na zona de Santos, a dez minutos da doca onde atracou o Príncipe Perfeito, mas Paulo Rangel e Rio estão preparados para mostrar que são candidatos (um a eurodeputado, outro a primeiro-ministro) todo-o-terreno. E é assim que surge no horizonte (do parque) uma carrinha 'pão de forma' às riscas cor de laranja, rodeada de jornalistas e fotógrafos. Porquê? Porque é Rui Rio quem a conduz, apesar de incredulidade de alguns dos ‘jotas’ que assistem à cena:

- É o Rio que vem a conduzir!

- Oh, não é nada!

- É, é!

- Pois é! Que categoria!

É mesmo o líder que vai ao volante, com Rangel no lugar do pendura e Lídia Pereira, número dois às europeias, e Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, nos bancos de trás. O estacionamento faz-se num segundo lugar improvável para um evento político: a discoteca Lust in Rio, cujos porteiros distribuem cartões de consumo a quem passa.

“Temos de ir onde os jovens vão, não podemos estar a falar num púlpito”, explica Lídia, a arrancar a sessão de perguntas e respostas marcada para esta noite, já no interior da discoteca. E a ideia agrada. “Eu gostei muito do ambiente descontraído, da forma de vestir”, comenta com o Expresso, satisfeito, o jovem Luís Malhadinhas, de 22 anos. Só com um reparo: gostava de ver ali menos ‘jotinhas’ e mais jovens não filiados.

Mesmo que o evento possa ser demasiado fechado, a verdade é que o que sucede a seguir é um dos momentos em que mais se fala de Europa em toda a campanha. Rapazes de camisa e jeans e raparigas de vestidos e all stars, todos de copo balão na mão (o gin é claramente a bebida vencedora entre os jovens, ou a ‘geração do gin’, como comenta alguém que passa), sentam-se nos sofás brancos e fazem perguntas a Rangel e a Rio, por vezes de olhos postos no telemóvel, outras ouvindo com interesse.

É a “geração made in Europe”, apresenta Margarida, “profundamente europeísta”. Na hora que se segue, fala-se de um leque variado de temas europeus, incluindo alguns de que pouco se ouviu falar até agora na campanha - há perguntas sobre alterações climáticas e o plano do PSD para reduzir as emissões de carbono para metade, a pressão ao regime da Venezuela, o masterplan proposto pelo PPE e o PSD para combater o cancro, a PAC, o Brexit ou os direitos dos cidadãos da Hungria no contexto do regime de Viktor Orbán.

No final, volta a ser o líder a trazer o discurso mais político e a política interna à sala. Pede aos jovens que tragam “um ou dois” amigos a votar, apresenta o PSD como “o partido mais moderado do espectro, ponto” - enquanto lamenta que o PS não se coloque “num espectro mais próximo” do seu -, defende o escrutínio da banca e avisa: “Eu não me calava hoje!”. A proximidade dos jovens parece dar-lhe uma injeção de energia. Quando acaba, o momento Marcelo: os jovens, que com uma mão fazem o símbolo de vitória e noutro agarram no copo balão, querem selfies. Nas colunas passa outra mistura de gerações, Rihanna e Paul McCartney cantam um refrão juntos. Luís congratula-se: “Quase não se tocou na política interna”. Os adultos saem da sala. É quase meia-noite e é altura de deixar os jotas a consumir o seu gin e a fazer o seu próprio networking.

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