Costa diz que "geringonça" impede PS de ficar refém da direita

06-06-2016
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"Foi sempre muito claro para mim que a única forma de libertar o PS de ser refém da direita era dizer que governávamos nas condições que os portugueses nos dessem. Não excluir ninguém, nem nenhum dos partidos à esquerda do PS (...) Um PS capturado, refém da direita, é um PS que não cumpre a sua missão histórica em Portugal, a de assegurar aos portugueses que há uma alternativa à governação da direita", afirmou o primeiro-ministro, António Costa, no discurso de encerramento do primeiro dia do XXI Congresso Nacional do PS, que decorre durante este fim-de-semana na FIL, em Lisboa.

No primeiro discurso frente aos militantes socialistas desde a sua nomeação como primeiro-ministro, António Costa fez questão de recordar que já no último Congresso socialista tinha rejeitado a ideia de que o PS estava limitado a fazer acordos à direita.

Pelo contrário, Costa lembrou que logo nessa altura, em 30 de Novembro de 2014, defendeu que os partidos da esquerda parlamentar tinham também de fazer parte da "solução para os problemas nacionais", não se limitando a uma lógica de partidos de protesto.

Como tal, o primeiro-ministro apontou mira aos críticos internos, que se opõem à solução governativa com base no apoio parlamentar do BE, PCP e Verdes ao Governo socialista, e afirmou que ninguém pode encarar com surpresa uma solução que começou a ser preparada nas primárias socialistas, que foi "negociado e aprovado pela Comissão Política".

Costa sustentou que desde que assumiu a liderança socialista rejeitou o "artifício do arco da governação", porque "o que não aceitamos é que quando a direita não tem maioria, nós sirvamos para dar aquele bocadinho de votos para a direita poder governar".

António Costa aproveitou para "saudar o BE, o PCP e Os Verdes pela coragem que também tiveram em celebrar estas posições conjuntas". "Foi difícil para nós e certamente para eles. Temos identidades, histórias e percursos muito diferentes", assumiu o secretário-geral socialista que se regozijou com a "forma leal e construtiva como temos sabido resolver as dificuldades que surgem e o esforço de encontrar soluções comuns".

Já num tom irónico, Costa disse ser "engraçado que num país que tanto apela aos consensos se critique tanto estes consensos (à esquerda), como se só pudesse haver consensos à direita". Mantendo a tónica na ideia de que o actual PS permanece fiel à sua identidade e "missão histórica", o primeiro-ministro insistiu que a chamada "geringonça" se baseia no "respeito pela diferença e identidade de cada um".

Este respeito pela diferença aplicar-se-á já nas eleições autárquicas do próximo ano, com António Costa a citar Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista, dizendo que não "há pacto nem agressão" em relação às eleições locais, que serão disputadas "democraticamente". "Porque é essa a forma de cada um ser o que é", atirou.

"Prometemos, cumprimos"

Logo no início do discurso, António Costa falou na "prestação de contas" sobre os seis meses de Governo. O primeiro-ministro voltou a mostrar "o livrinho" - como lhe chamou - que várias vezes exibiu durante a campanha, com o programa eleitoral que levou às legislativas de Outubro, para elencar um conjunto de medidas que estavam no documento e que já foram adoptadas pelo Executivo.

Costa foi exaustivo, começando pela orgânica do Governo - a criação do ministério do Mar -, passando pela reposição salarial, pelas 35 horas, pela reversão da TAP, a redução da sobretaxa de IRS e o facto de não haver o corte de 600 milhões de euros nas pensões, "doa a Bruxelas o que doer". O primeiro-ministro acrescentou depois medidas que não faziam parte dos planos originais, mas que foram tomadas depois dos acordos à esquerda, como os manuais escolares gratuitos (uma medida do PCP) e a tarifa social da energia (uma medida do Bloco de Esquerda).

De fora da análise de Costa às promessas do PS ficaram, porém, medidas que eram bandeiras do Programa Eleitoral socialista e que tiveram de cair para haver acordos à esquerda, tais como a redução da Taxa Social Única (TSU) para empresas e trabalhadores e a reforma do sistema eleitoral.

"Prometemos, cumprimos" foi slogan escolhido pelo PS para servir de pano de fundo ao palco onde Costa discursou. E foi essa a frase que Costa repetiu várias vezes. No fim, concluiu que "afinal não era preciso nada de dramático" para conseguir aprovar algumas das medidas que foram viabilizadas nestes seis meses, como o acordo na concertação social para aumentar o Salário Mínimo Nacional e a reversão da privatização da TAP.

"No PS não há medo"

Antes de Costa, o arranque do Congresso foi marcado por dois temas essenciais: a identidade do partido, depois dos acordos com o Bloco de Esquerda e o PCP, e a resposta aos críticos da estratégia de Costa.

Marcos Perestrello, presidente da FAUL, começou o encontro dos socialistas a falar da identidade e do ADN do partido. E não deixou sem resposta o socialista António Galamba, crítico do "costismo" que esta semana falou na existência de medo no seio do PS. "No PS não há medo. Ninguém é mais socialista por concordar e menos socialista por discordar", disse Marcos Perestrello, afirmando que o PS não aponta a saída a ninguém.

Também Duarte Cordeiro, presidente da concelhia de Lisboa, centrou parte da sua intervenção na resposta à pergunta sobre que PS é este, depois dos acordos à esquerda. Duarte Cordeiro defendeu que o PS está "mais forte" depois de seis meses no Governo, "porque foi ao encontro da sua base tradicional de apoio" e lembrou algumas das medidas tomadas pelo Governo, como por exemplo o aumento do Salário Mínimo Nacional para 530 euros, que "aproximam" o partido das pessoas.

(Notícia actualizada às 23:55)

"Foi sempre muito claro para mim que a única forma de libertar o PS de ser refém da direita era dizer que governávamos nas condições que os portugueses nos dessem. Não excluir ninguém, nem nenhum dos partidos à esquerda do PS (...) Um PS capturado, refém da direita, é um PS que não cumpre a sua missão histórica em Portugal, a de assegurar aos portugueses que há uma alternativa à governação da direita", afirmou o primeiro-ministro, António Costa, no discurso de encerramento do primeiro dia do XXI Congresso Nacional do PS, que decorre durante este fim-de-semana na FIL, em Lisboa.

No primeiro discurso frente aos militantes socialistas desde a sua nomeação como primeiro-ministro, António Costa fez questão de recordar que já no último Congresso socialista tinha rejeitado a ideia de que o PS estava limitado a fazer acordos à direita.

Pelo contrário, Costa lembrou que logo nessa altura, em 30 de Novembro de 2014, defendeu que os partidos da esquerda parlamentar tinham também de fazer parte da "solução para os problemas nacionais", não se limitando a uma lógica de partidos de protesto.

Como tal, o primeiro-ministro apontou mira aos críticos internos, que se opõem à solução governativa com base no apoio parlamentar do BE, PCP e Verdes ao Governo socialista, e afirmou que ninguém pode encarar com surpresa uma solução que começou a ser preparada nas primárias socialistas, que foi "negociado e aprovado pela Comissão Política".

Costa sustentou que desde que assumiu a liderança socialista rejeitou o "artifício do arco da governação", porque "o que não aceitamos é que quando a direita não tem maioria, nós sirvamos para dar aquele bocadinho de votos para a direita poder governar".

António Costa aproveitou para "saudar o BE, o PCP e Os Verdes pela coragem que também tiveram em celebrar estas posições conjuntas". "Foi difícil para nós e certamente para eles. Temos identidades, histórias e percursos muito diferentes", assumiu o secretário-geral socialista que se regozijou com a "forma leal e construtiva como temos sabido resolver as dificuldades que surgem e o esforço de encontrar soluções comuns".

Já num tom irónico, Costa disse ser "engraçado que num país que tanto apela aos consensos se critique tanto estes consensos (à esquerda), como se só pudesse haver consensos à direita". Mantendo a tónica na ideia de que o actual PS permanece fiel à sua identidade e "missão histórica", o primeiro-ministro insistiu que a chamada "geringonça" se baseia no "respeito pela diferença e identidade de cada um".

Este respeito pela diferença aplicar-se-á já nas eleições autárquicas do próximo ano, com António Costa a citar Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista, dizendo que não "há pacto nem agressão" em relação às eleições locais, que serão disputadas "democraticamente". "Porque é essa a forma de cada um ser o que é", atirou.

"Prometemos, cumprimos"

Logo no início do discurso, António Costa falou na "prestação de contas" sobre os seis meses de Governo. O primeiro-ministro voltou a mostrar "o livrinho" - como lhe chamou - que várias vezes exibiu durante a campanha, com o programa eleitoral que levou às legislativas de Outubro, para elencar um conjunto de medidas que estavam no documento e que já foram adoptadas pelo Executivo.

Costa foi exaustivo, começando pela orgânica do Governo - a criação do ministério do Mar -, passando pela reposição salarial, pelas 35 horas, pela reversão da TAP, a redução da sobretaxa de IRS e o facto de não haver o corte de 600 milhões de euros nas pensões, "doa a Bruxelas o que doer". O primeiro-ministro acrescentou depois medidas que não faziam parte dos planos originais, mas que foram tomadas depois dos acordos à esquerda, como os manuais escolares gratuitos (uma medida do PCP) e a tarifa social da energia (uma medida do Bloco de Esquerda).

De fora da análise de Costa às promessas do PS ficaram, porém, medidas que eram bandeiras do Programa Eleitoral socialista e que tiveram de cair para haver acordos à esquerda, tais como a redução da Taxa Social Única (TSU) para empresas e trabalhadores e a reforma do sistema eleitoral.

"Prometemos, cumprimos" foi slogan escolhido pelo PS para servir de pano de fundo ao palco onde Costa discursou. E foi essa a frase que Costa repetiu várias vezes. No fim, concluiu que "afinal não era preciso nada de dramático" para conseguir aprovar algumas das medidas que foram viabilizadas nestes seis meses, como o acordo na concertação social para aumentar o Salário Mínimo Nacional e a reversão da privatização da TAP.

"No PS não há medo"

Antes de Costa, o arranque do Congresso foi marcado por dois temas essenciais: a identidade do partido, depois dos acordos com o Bloco de Esquerda e o PCP, e a resposta aos críticos da estratégia de Costa.

Marcos Perestrello, presidente da FAUL, começou o encontro dos socialistas a falar da identidade e do ADN do partido. E não deixou sem resposta o socialista António Galamba, crítico do "costismo" que esta semana falou na existência de medo no seio do PS. "No PS não há medo. Ninguém é mais socialista por concordar e menos socialista por discordar", disse Marcos Perestrello, afirmando que o PS não aponta a saída a ninguém.

Também Duarte Cordeiro, presidente da concelhia de Lisboa, centrou parte da sua intervenção na resposta à pergunta sobre que PS é este, depois dos acordos à esquerda. Duarte Cordeiro defendeu que o PS está "mais forte" depois de seis meses no Governo, "porque foi ao encontro da sua base tradicional de apoio" e lembrou algumas das medidas tomadas pelo Governo, como por exemplo o aumento do Salário Mínimo Nacional para 530 euros, que "aproximam" o partido das pessoas.

(Notícia actualizada às 23:55)

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