O ministro que sabia de menos

09-10-2018
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Azeredo Lopes nunca soube de nada. Ouvindo as suas sucessivas declarações ao longo do último ano, conclui-se que o ministro da Defesa foi sabendo dos desenvolvimentos do assalto a Tancos ou pelos jornais ou com a mesma informação que seria noticiada nos jornais. Tancos não é um mistério, são muitos

Texto Pedro Santos Guerreiro Ilustração Tiago Pereira Santos

Quando esta quarta-feira à noite o Expresso falou com José Azeredo Lopes, surpreendeu-o com a informação: o major Vasco Brazão assegurara na terça-feira ao juiz de instrução do caso Tancos ter dado conhecimento ao ministro da Defesa, mais de um mês após a recuperação do armamento furtado em Tancos, da encenação montada na Chamusca. O ministro não quis comentar a informação relacionada com o interrogatório de Vasco Brazão, invocando o segredo de justiça. Mas respondeu com uma só palavra à pergunta sobre se foi ou não informado da operação de encobrimento: “não”.

O que soube até hoje o ministro da Defesa sobre o caso do assalto a Tancos? O primeiro-ministro tem saído sucessivamente em sua defesa, afirmando por exemplo que não é responsabilidade de nenhum membro do governo estar de guarda à porta de paióis. Esta quinta de manhã, após a publicação da notícia do Expresso, pôs um cinto de segurança político na cadeira da Azeredo Lopes, mantendo a confiança política.

“Desconheço em absoluto o que tenha sido dito por qualquer pessoa em qualquer depoimento, que aliás presumo que esteja em segredo de justiça”, afirmou António Costa ao Expresso. “Conheço o que de modo inequívoco o ministro da Defesa Nacional já declarou em público e que não suscita qualquer quebra de confiança.”

Era o segundo momento de um dia acelerado no governo, que por acaso se reunia de manhã em conselho de ministros sem a presença de Azeredo Lopes, que estava em Bruxelas. Foi de lá que pôde ler a sucessão notícias da manhã:

11h03 Expresso publica a notícia que pôs o país político em polvorosa: “Tancos: investigador da PJM garante que Azeredo Lopes soube do encobrimento. Ministro desmente”

12h26 Começam as reações políticas. O primeiro é o social-democrata que preside à comissão parlamentar de Defesa: “Marco António sobre ministro da Defesa: ‘Uma acusação destas é de uma gravidade sem precedentes’”.

12h52 Expresso publica a reação do primeiro-ministro: “Tancos: Costa segura Azeredo. ‘Não suscita qualquer quebra de confiança’”.

13h08 As reações políticas prosseguem à direita: “CDS. Comissão de inquérito deve investigar ‘quem está a mentir’ sobre Tancos”.

13h51 O ministro da Defesa fala aos jornalistas, reiterando o que dissera na véspera ao Expresso: “Azeredo Lopes: ‘É totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento’”.

17h59 Só a meio da tarde o Bloco de Esquerda presta declarações públicas: “Catarina Martins: ‘Ministro ganhava em prestar esclarecimentos no parlamento’”.

A toada noticiosa não ficará por aqui. Aliás, o Expresso traz esta sexta-feira, na sua edição semanal, mais informações sobre a investigação em curso. Ah: e Marcelo Rebelo de Sousa, que tão preocupado se tem mostrado desde o assalto com o caso Tancos, não tinha ainda falado ao fim da tarde - mesmo que não tenha alinhado sempre com o mesmo chavão do discurso oficial do primeiro-ministro e do ministro da Defesa, que se resume ao “à justiça o que é da justiça”.

O ministro da Defesa garante que não sabia de mais e talvez soubesse de menos em todo o processo. Afinal, o mesmo governante que desmente ter sido informado da operação de encobrimento também chegou a não saber sequer se houve assalto ou se havia armas ainda à solta. E, no entanto, elas apareceram. E só agora começa a perceber-se como. Nada nesta história é simples nem linear.

Azeredo Lopes nunca soube de nada. Ouvindo as suas sucessivas declarações ao longo do último ano, conclui-se que o ministro da Defesa foi sabendo dos desenvolvimentos do assalto a Tancos ou pelos jornais ou com a mesma informação que seria noticiada nos jornais. Tancos não é um mistério, são muitos

Texto Pedro Santos Guerreiro Ilustração Tiago Pereira Santos

Quando esta quarta-feira à noite o Expresso falou com José Azeredo Lopes, surpreendeu-o com a informação: o major Vasco Brazão assegurara na terça-feira ao juiz de instrução do caso Tancos ter dado conhecimento ao ministro da Defesa, mais de um mês após a recuperação do armamento furtado em Tancos, da encenação montada na Chamusca. O ministro não quis comentar a informação relacionada com o interrogatório de Vasco Brazão, invocando o segredo de justiça. Mas respondeu com uma só palavra à pergunta sobre se foi ou não informado da operação de encobrimento: “não”.

O que soube até hoje o ministro da Defesa sobre o caso do assalto a Tancos? O primeiro-ministro tem saído sucessivamente em sua defesa, afirmando por exemplo que não é responsabilidade de nenhum membro do governo estar de guarda à porta de paióis. Esta quinta de manhã, após a publicação da notícia do Expresso, pôs um cinto de segurança político na cadeira da Azeredo Lopes, mantendo a confiança política.

“Desconheço em absoluto o que tenha sido dito por qualquer pessoa em qualquer depoimento, que aliás presumo que esteja em segredo de justiça”, afirmou António Costa ao Expresso. “Conheço o que de modo inequívoco o ministro da Defesa Nacional já declarou em público e que não suscita qualquer quebra de confiança.”

Era o segundo momento de um dia acelerado no governo, que por acaso se reunia de manhã em conselho de ministros sem a presença de Azeredo Lopes, que estava em Bruxelas. Foi de lá que pôde ler a sucessão notícias da manhã:

11h03 Expresso publica a notícia que pôs o país político em polvorosa: “Tancos: investigador da PJM garante que Azeredo Lopes soube do encobrimento. Ministro desmente”

12h26 Começam as reações políticas. O primeiro é o social-democrata que preside à comissão parlamentar de Defesa: “Marco António sobre ministro da Defesa: ‘Uma acusação destas é de uma gravidade sem precedentes’”.

12h52 Expresso publica a reação do primeiro-ministro: “Tancos: Costa segura Azeredo. ‘Não suscita qualquer quebra de confiança’”.

13h08 As reações políticas prosseguem à direita: “CDS. Comissão de inquérito deve investigar ‘quem está a mentir’ sobre Tancos”.

13h51 O ministro da Defesa fala aos jornalistas, reiterando o que dissera na véspera ao Expresso: “Azeredo Lopes: ‘É totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento’”.

17h59 Só a meio da tarde o Bloco de Esquerda presta declarações públicas: “Catarina Martins: ‘Ministro ganhava em prestar esclarecimentos no parlamento’”.

A toada noticiosa não ficará por aqui. Aliás, o Expresso traz esta sexta-feira, na sua edição semanal, mais informações sobre a investigação em curso. Ah: e Marcelo Rebelo de Sousa, que tão preocupado se tem mostrado desde o assalto com o caso Tancos, não tinha ainda falado ao fim da tarde - mesmo que não tenha alinhado sempre com o mesmo chavão do discurso oficial do primeiro-ministro e do ministro da Defesa, que se resume ao “à justiça o que é da justiça”.

O ministro da Defesa garante que não sabia de mais e talvez soubesse de menos em todo o processo. Afinal, o mesmo governante que desmente ter sido informado da operação de encobrimento também chegou a não saber sequer se houve assalto ou se havia armas ainda à solta. E, no entanto, elas apareceram. E só agora começa a perceber-se como. Nada nesta história é simples nem linear.

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