PS. O ex-líder saudoso, o ministro tímido e uma Europa já vista como uma “fraude”

18-06-2016
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Já ninguém se lembra que foi António Guterres que fez o batismo do euro. É normal, foi no século passado. “Euro, tu és euro e sobre ti edificaremos a Europa” – a frase, dita num conselho europeu de 1995, fez imenso sucesso na época. O católico Guterres a parafrasear a frase de Cristo a São Pedro – “Pedro, tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha igreja” – foi um mimo mediático reproduzido em toda a imprensa internacional.

O destino quis que o congresso que marcou o regresso de Guterres às celebrações socialistas – um momento épico, emocionante, produzido à maneira – fosse também aquele em que, pela primeira vez na história do PS, a Europa fosse verdadeiramente fustigada como nunca tal se tinha visto.

A frase mais violenta veio de Manuel Alegre que, cá fora, aos jornalistas, disse que esta Europa é “uma fraude”. Mas o tom dos discursos, a começar pelo do secretário-geral António Costa, não foi tão duro mas esteve perto. Quando Costa lembra, no discurso de encerramento, que “numa semana em que morreram mil seres humanos afogados no Mediterrâneo, a Europa entretém-se a discutir se o anterior governo português excedeu em duas décimas o défice orçamental”, é de uma espécie de fraude que também está a falar. “É uma discussão absurda no contexto europeu” e “imoral” da parte de Bruxelas que “tanto elogiou as políticas do anterior governo”. “É incompreensível punir Portugal por aquilo que aconteceu em 2015”, avisa Costa que diz “ser o primeiro a concordar” com o presidente da Comissão Europeia Juncker quando disse que “a França é a França”. “Não temos a menor dúvida que a França é a França. E Portugal é Portugal”.

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Embora nunca tenha chegado perto do tom dos discursos “soberanistas” dos parceiros PCP e Bloco de Esquerda, nunca um secretário-geral do Partido Socialista tinha sido tão duro a falar da atual situação europeia.

Embora Costa tenha afirmado claramente que o caminho do PS não é fora da Europa – “por vezes é difícil ser socialista no quadro da União Europeia, mas fora do quadro da União Europeia é impossível ser socialista” – este congresso marca uma viragem no discurso oficial do Partido Socialista sobre “esta” Europa.

O secretário-geral afirmou que os socialistas “não embarcam em bravatas”, mas também que “não aceitam uma posição de submissão”. Costa fez sempre questão de clarificar que não estava apanhado pelo “vírus ideológico” anti-europeísta que Assis já estava a ver neste “novo PS”. “Não é por haver divergências com a Comissão Europeia que deixamos de ser pró-europeus. Como ninguém deixa de ser patriota por divergir da linha de orientação maioritária do seu país. Só nas ditaduras é que a divergência constitui uma dissidência”, afirmou o secretário-geral.

Para Costa, “a solução não é alguns saírem do euro ou existir um euro de primeira e um euro de segunda”. O que o primeiro-ministro português defende é “um orçamento justamente partilhado com capacidade de corrigir assimetrias”.

“Se continuarmos a deixar que a direita dominada pela ideologia neoliberal não tenha alternativa, se nós socialistas nos deixássemos arrastar pelas tentações de nos juntar à corrente neoliberal”, o que os socialistas fariam, diz Costa, seria “fomentar o populismo e a extrema-direita”. O PS não vai por aí. “Não é capitulando perante o neoliberalismo que defendemos a Europa”, afirmou.

Nunca Guterres, que viveu os momentos gloriosos da sedução europeia, teria conseguido falar assim. O seu aparecimento no congresso foi curto, mas emocionante. O PS foi buscar ao baú a música de Vangelis “À conquista do Paraíso” que marcava todas as entradas em cena do anterior secretário-geral. Houve muita nostalgia terna no ar e Guterres confessou ter saudades daquilo.

Dois ministros estiveram no centro no congresso: o da Educação, Tiago Brandão Rodrigues aplaudido de pé numa enorme ovação e que, segundo Costa, “não está a ouvir nem metade do que ouviu António Arnaut quando fundou o Serviço Nacional de Saúde”. E Manuel Caldeira Cabral, o da Economia, a quem misteriosamente o primeiro-ministro decidiu chamar “tímido e talvez discreto demais”. Enquanto Tiago foi, segundo Costa, “o ministro que teve a coragem de afrontar os lobbies”, Caldeira Cabral era apontado como inexistência. Se o congresso fosse um exame à prof. Marcelo, a nota do PM ao seu ministro da Economia não devia ir além de 12.

Já ninguém se lembra que foi António Guterres que fez o batismo do euro. É normal, foi no século passado. “Euro, tu és euro e sobre ti edificaremos a Europa” – a frase, dita num conselho europeu de 1995, fez imenso sucesso na época. O católico Guterres a parafrasear a frase de Cristo a São Pedro – “Pedro, tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha igreja” – foi um mimo mediático reproduzido em toda a imprensa internacional.

O destino quis que o congresso que marcou o regresso de Guterres às celebrações socialistas – um momento épico, emocionante, produzido à maneira – fosse também aquele em que, pela primeira vez na história do PS, a Europa fosse verdadeiramente fustigada como nunca tal se tinha visto.

A frase mais violenta veio de Manuel Alegre que, cá fora, aos jornalistas, disse que esta Europa é “uma fraude”. Mas o tom dos discursos, a começar pelo do secretário-geral António Costa, não foi tão duro mas esteve perto. Quando Costa lembra, no discurso de encerramento, que “numa semana em que morreram mil seres humanos afogados no Mediterrâneo, a Europa entretém-se a discutir se o anterior governo português excedeu em duas décimas o défice orçamental”, é de uma espécie de fraude que também está a falar. “É uma discussão absurda no contexto europeu” e “imoral” da parte de Bruxelas que “tanto elogiou as políticas do anterior governo”. “É incompreensível punir Portugal por aquilo que aconteceu em 2015”, avisa Costa que diz “ser o primeiro a concordar” com o presidente da Comissão Europeia Juncker quando disse que “a França é a França”. “Não temos a menor dúvida que a França é a França. E Portugal é Portugal”.

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Embora nunca tenha chegado perto do tom dos discursos “soberanistas” dos parceiros PCP e Bloco de Esquerda, nunca um secretário-geral do Partido Socialista tinha sido tão duro a falar da atual situação europeia.

Embora Costa tenha afirmado claramente que o caminho do PS não é fora da Europa – “por vezes é difícil ser socialista no quadro da União Europeia, mas fora do quadro da União Europeia é impossível ser socialista” – este congresso marca uma viragem no discurso oficial do Partido Socialista sobre “esta” Europa.

O secretário-geral afirmou que os socialistas “não embarcam em bravatas”, mas também que “não aceitam uma posição de submissão”. Costa fez sempre questão de clarificar que não estava apanhado pelo “vírus ideológico” anti-europeísta que Assis já estava a ver neste “novo PS”. “Não é por haver divergências com a Comissão Europeia que deixamos de ser pró-europeus. Como ninguém deixa de ser patriota por divergir da linha de orientação maioritária do seu país. Só nas ditaduras é que a divergência constitui uma dissidência”, afirmou o secretário-geral.

Para Costa, “a solução não é alguns saírem do euro ou existir um euro de primeira e um euro de segunda”. O que o primeiro-ministro português defende é “um orçamento justamente partilhado com capacidade de corrigir assimetrias”.

“Se continuarmos a deixar que a direita dominada pela ideologia neoliberal não tenha alternativa, se nós socialistas nos deixássemos arrastar pelas tentações de nos juntar à corrente neoliberal”, o que os socialistas fariam, diz Costa, seria “fomentar o populismo e a extrema-direita”. O PS não vai por aí. “Não é capitulando perante o neoliberalismo que defendemos a Europa”, afirmou.

Nunca Guterres, que viveu os momentos gloriosos da sedução europeia, teria conseguido falar assim. O seu aparecimento no congresso foi curto, mas emocionante. O PS foi buscar ao baú a música de Vangelis “À conquista do Paraíso” que marcava todas as entradas em cena do anterior secretário-geral. Houve muita nostalgia terna no ar e Guterres confessou ter saudades daquilo.

Dois ministros estiveram no centro no congresso: o da Educação, Tiago Brandão Rodrigues aplaudido de pé numa enorme ovação e que, segundo Costa, “não está a ouvir nem metade do que ouviu António Arnaut quando fundou o Serviço Nacional de Saúde”. E Manuel Caldeira Cabral, o da Economia, a quem misteriosamente o primeiro-ministro decidiu chamar “tímido e talvez discreto demais”. Enquanto Tiago foi, segundo Costa, “o ministro que teve a coragem de afrontar os lobbies”, Caldeira Cabral era apontado como inexistência. Se o congresso fosse um exame à prof. Marcelo, a nota do PM ao seu ministro da Economia não devia ir além de 12.

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