China à “caça” de pilotos ocidentais. E portugueses sem mãos a medir para dar formação

04-09-2017
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Até acima das nuvens, durante um voo entre Cascais e o aeródromo de Ponte de Sor, no Alentejo, se nota o efeito do crescimento chinês. E não é anedota contada por pilotos. É mesmo verdade. O voo simbólico realizado a 26 de maio, a caminho da feira Portugal Air Summit, que então decorria em Ponte de Sor, marcou a importância internacional que está a ter a formação de jovens pilotos assegurada pela escola portuguesa G Air.

O avião em causa foi um bimotor Beechcraft, pertencente à escola. O comandante da aeronave foi o veterano Ricardo Freitas. E o protagonista da história foi o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que durante meia hora assumiu os comandos do bimotor. Questiona-se: onde entram aqui os chineses?

A resposta é simples: as contratações massivas de pilotos ocidentais que as companhias aéreas chinesas estão a fazer criaram uma necessidade urgente de formação de novos pilotos, sobretudo para as transportadoras aéreas europeias. Nesta parte entra a G Air, que além da formação em Cascais (Tires) e Ponte de Sor, vai apostar forte na internacionalização dos cursos portugueses de pilotagem, abrindo novas escolas em vários países e estabelecendo parcerias para fornecer pilotos formados a diversas companhias aéreas estrangeiras.

Ou seja, para o ministro Caldeira Cabral, o grupo de empresas nacionais de aeronáutica - que integra um dos principais clusters da economia portuguesa, com um peso de 1% no Produto Interno Bruto, uma faturação de 1,7 mil milhões de euros, e 18 mil postos de trabalho - tem um potencial de crescimento enorme, designadamente pela produção de empresas como a OGMA, a Embraer (brasileira, terceiro maior fabricante mundial de aviões), ou a Tekever, produtora de drones. Mas um dos segmentos deste cluster que está a ter maior projeção internacional é precisamente o da formação de pilotos de linha aérea, onde a G Air se tem destacado.

Boeing diz que são precisos 617 mil novos pilotos

É verdade que o motivo pelo qual isso acontece resulta da confluência de vários fatores: além da boa reputação internacional da formação portuguesa de pilotos assegurada pela G Air, existe uma grande procura destes profissionais em vários continentes — estimada pela Boeing, a nível mundial, em 617 mil pilotos até 2035 —, e estão a ser oferecidos aos pilotos ordenados elevados pelas companhias aéreas chinesas. Tudo isso fez disparar a criação de cursos de pilotagem.

António Pedro Ferreira

Para responder ao aumento de solicitações de novos alunos que querem obter diplomas para concorrerem a ofertas de emprego como pilotos, a escola G Air seguiu uma estratégia de internacionalização, iniciando em setembro a formação de pilotos em Inglaterra, na localidade de Luton, 51 quilómetros a norte de Londres. Cada curso tem uma duração mínima de 14 meses e custa cerca de 70 mil euros.

“Depois da escola que criámos em Itália, e da escola no Dubai, chegou a oportunidade de abrirmos em Luton, mas já estamos a avaliar uma nova localização, perto de Amesterdão, porque há uma grande pressão para formar pilotos na Holanda”, referiu ao Expresso o vice-presidente da G Air, Nelson Ferreira.

No entanto, o passo seguinte desta escola de pilotagem sediada em Tires e com grandes instalações em Ponte de Sor será estabelecer acordos com empresas que recrutam pilotos para várias companhias aéreas que operam em diversas partes do mundo.

Tudo começou com a Emirates...

Com o crescimento de grandes companhias de aviação no Médio Oriente, como a Emirates e a Etihad Airways, a maior pressão sobre a contratação de pilotos de companhias tradicionais europeias e norte-americanas começou a sentir-se em 2014. No ano seguinte foi a vez do raide feito pelas companhias chinesas à contratação de pilotos ocidentais, oferecendo salários muito elevados.

Salário anual de base nos 231,6 mil dólares...

Os valores propostos pelas companhias chinesas não pararam de subir e, atualmente, é fácil encontrar anúncios de emprego nos sites da internet, como o da Flightcrew Resources International, onde, por exemplo, a Shenzhen Airlines, de Hong Kong, se propõe pagar a um comandante de Airbus A320 um valor anual de 231,6 mil dólares (cerca de €197,35 mil), mais um conjunto de bónus e benefícios pecuniários.

Ásia precisa de 248 mil pilotos

A procura de pilotos e comandantes é liderada pela região Ásia-Pacífico, onde a Boeing diz que há necessidade de 248 mil pilotos. Na América do Norte são precisos 112 mil. E na Europa serão necessários 104 mil pilotos.

Entretanto, as companhias aéreas ocidentais “ficam sem comandantes e precisam de recrutar, e as necessidades de formação aumentam, pelo que a G Air vai seguir a estratégia de abrir novas escolas nos mercados em que haja maiores solicitações de formação, porque a formação local implica menores custos para os alunos, que não terão de procurar alojamentos longe de casa, fora do seu país”, refere Nelson Ferreira.

A experiência da escola da G Air em Ponte de Sor ultrapassou todas as expectativas. “Surgiram alunos de muitos países, o que até modificou a rotina diária local”, comenta. Criada em 2013 por Carlos Saraiva, em poucos anos a G Air representa uma das áreas mais dinâmicas das empresas do sector da aeronáutica.

Pilotos da G Air na EasyJet, Ryanair e Air Arabia

“Em 2015, a G Air celebrou os primeiros acordos de cooperação com companhias aéreas para a colocação dos seus alunos”, recorda Nelson Ferreira, adiantando que “desde janeiro de 2016 são mais de 150 os alunos da G Air que iniciaram as suas carreiras na EasyJet, Ryanair, Air Arabia e TAP, entre outras”.

Atualmente, a G Air “é indiscutivelmente a escola portuguesa que mais pilotos coloca em companhias aéreas e, no segundo semestre deste ano, pretendemos consolidar essa posição, alargando significativamente o leque das companhias com quem vamos colaborar na seleção e recrutamento de pilotos”, diz. No sector da aviação admite-se que a G Air poderá assegurar a formação de pilotos para mais de 20 companhias aéreas, mas Nelson Ferreira não comenta.

Até acima das nuvens, durante um voo entre Cascais e o aeródromo de Ponte de Sor, no Alentejo, se nota o efeito do crescimento chinês. E não é anedota contada por pilotos. É mesmo verdade. O voo simbólico realizado a 26 de maio, a caminho da feira Portugal Air Summit, que então decorria em Ponte de Sor, marcou a importância internacional que está a ter a formação de jovens pilotos assegurada pela escola portuguesa G Air.

O avião em causa foi um bimotor Beechcraft, pertencente à escola. O comandante da aeronave foi o veterano Ricardo Freitas. E o protagonista da história foi o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que durante meia hora assumiu os comandos do bimotor. Questiona-se: onde entram aqui os chineses?

A resposta é simples: as contratações massivas de pilotos ocidentais que as companhias aéreas chinesas estão a fazer criaram uma necessidade urgente de formação de novos pilotos, sobretudo para as transportadoras aéreas europeias. Nesta parte entra a G Air, que além da formação em Cascais (Tires) e Ponte de Sor, vai apostar forte na internacionalização dos cursos portugueses de pilotagem, abrindo novas escolas em vários países e estabelecendo parcerias para fornecer pilotos formados a diversas companhias aéreas estrangeiras.

Ou seja, para o ministro Caldeira Cabral, o grupo de empresas nacionais de aeronáutica - que integra um dos principais clusters da economia portuguesa, com um peso de 1% no Produto Interno Bruto, uma faturação de 1,7 mil milhões de euros, e 18 mil postos de trabalho - tem um potencial de crescimento enorme, designadamente pela produção de empresas como a OGMA, a Embraer (brasileira, terceiro maior fabricante mundial de aviões), ou a Tekever, produtora de drones. Mas um dos segmentos deste cluster que está a ter maior projeção internacional é precisamente o da formação de pilotos de linha aérea, onde a G Air se tem destacado.

Boeing diz que são precisos 617 mil novos pilotos

É verdade que o motivo pelo qual isso acontece resulta da confluência de vários fatores: além da boa reputação internacional da formação portuguesa de pilotos assegurada pela G Air, existe uma grande procura destes profissionais em vários continentes — estimada pela Boeing, a nível mundial, em 617 mil pilotos até 2035 —, e estão a ser oferecidos aos pilotos ordenados elevados pelas companhias aéreas chinesas. Tudo isso fez disparar a criação de cursos de pilotagem.

António Pedro Ferreira

Para responder ao aumento de solicitações de novos alunos que querem obter diplomas para concorrerem a ofertas de emprego como pilotos, a escola G Air seguiu uma estratégia de internacionalização, iniciando em setembro a formação de pilotos em Inglaterra, na localidade de Luton, 51 quilómetros a norte de Londres. Cada curso tem uma duração mínima de 14 meses e custa cerca de 70 mil euros.

“Depois da escola que criámos em Itália, e da escola no Dubai, chegou a oportunidade de abrirmos em Luton, mas já estamos a avaliar uma nova localização, perto de Amesterdão, porque há uma grande pressão para formar pilotos na Holanda”, referiu ao Expresso o vice-presidente da G Air, Nelson Ferreira.

No entanto, o passo seguinte desta escola de pilotagem sediada em Tires e com grandes instalações em Ponte de Sor será estabelecer acordos com empresas que recrutam pilotos para várias companhias aéreas que operam em diversas partes do mundo.

Tudo começou com a Emirates...

Com o crescimento de grandes companhias de aviação no Médio Oriente, como a Emirates e a Etihad Airways, a maior pressão sobre a contratação de pilotos de companhias tradicionais europeias e norte-americanas começou a sentir-se em 2014. No ano seguinte foi a vez do raide feito pelas companhias chinesas à contratação de pilotos ocidentais, oferecendo salários muito elevados.

Salário anual de base nos 231,6 mil dólares...

Os valores propostos pelas companhias chinesas não pararam de subir e, atualmente, é fácil encontrar anúncios de emprego nos sites da internet, como o da Flightcrew Resources International, onde, por exemplo, a Shenzhen Airlines, de Hong Kong, se propõe pagar a um comandante de Airbus A320 um valor anual de 231,6 mil dólares (cerca de €197,35 mil), mais um conjunto de bónus e benefícios pecuniários.

Ásia precisa de 248 mil pilotos

A procura de pilotos e comandantes é liderada pela região Ásia-Pacífico, onde a Boeing diz que há necessidade de 248 mil pilotos. Na América do Norte são precisos 112 mil. E na Europa serão necessários 104 mil pilotos.

Entretanto, as companhias aéreas ocidentais “ficam sem comandantes e precisam de recrutar, e as necessidades de formação aumentam, pelo que a G Air vai seguir a estratégia de abrir novas escolas nos mercados em que haja maiores solicitações de formação, porque a formação local implica menores custos para os alunos, que não terão de procurar alojamentos longe de casa, fora do seu país”, refere Nelson Ferreira.

A experiência da escola da G Air em Ponte de Sor ultrapassou todas as expectativas. “Surgiram alunos de muitos países, o que até modificou a rotina diária local”, comenta. Criada em 2013 por Carlos Saraiva, em poucos anos a G Air representa uma das áreas mais dinâmicas das empresas do sector da aeronáutica.

Pilotos da G Air na EasyJet, Ryanair e Air Arabia

“Em 2015, a G Air celebrou os primeiros acordos de cooperação com companhias aéreas para a colocação dos seus alunos”, recorda Nelson Ferreira, adiantando que “desde janeiro de 2016 são mais de 150 os alunos da G Air que iniciaram as suas carreiras na EasyJet, Ryanair, Air Arabia e TAP, entre outras”.

Atualmente, a G Air “é indiscutivelmente a escola portuguesa que mais pilotos coloca em companhias aéreas e, no segundo semestre deste ano, pretendemos consolidar essa posição, alargando significativamente o leque das companhias com quem vamos colaborar na seleção e recrutamento de pilotos”, diz. No sector da aviação admite-se que a G Air poderá assegurar a formação de pilotos para mais de 20 companhias aéreas, mas Nelson Ferreira não comenta.

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