A família desavinda que disputa os mesmos votos

11-09-2017
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Há mais de uma década que a família socialista anda em pé de guerra em Matosinhos. Depois das cisões que marcaram a escolha do candidato Guilherme Pinto, em 2005, da corrida do histórico Narciso Miranda como independente em 2009 e da contestada opção de Seguro pelo derrotado António Parada, há quatro anos, a família rosa parte para as autárquicas de 1 de outubro mais desavinda do que nunca. Na meta de partida à Câmara local apresenta-se não um candidato independente nascido no berço do PS, como em 2013 quando o movimento de cidadãos de Guilherme Pinto acabou com o feudo rosa desde o 25 de Abril, mas dois dissidentes que já encrespam a maré autárquica na costa de Matosinhos. A baralhar a eleição de Luísa Salgueiro, candidata oficial do partido, está de novo o dinossauro Narciso, além do rebelde Parada, que entregou o cartão de 35 anos de militância quando António Costa subiu a Matosinhos para apadrinhar a candidatura da vice-presidente do grupo parlamentar, escolhida pela Distrital do PS do Porto. Ainda em fase de pré-campanha, a troca de mimos ácidos entre correligionários e ex-apoiantes mútuos é o prenúncio de uma dura batalha na hora da caça ao voto. Afinal, o que separa o antigo senhor de Matosinhos, concelho onde foi soberano entre 1979 e 2005, da sua ‘pupila’ e vereadora Luísa? E de António Parada, que apoiou contra o independente de ocasião e então presidente da Câmara, Guilherme Pinto, em 2013? Segundo um dirigente do PS, os socialistas de Matosinhos são todos um pouco filhos de Narciso, “formatados no pensamento que, se podem ser nº 1 e mandar, porque hão de ser nº 2 ou 3 da lista”.

Narciso, o patriarca

Aos 68 anos, o visado rejeita a análise do penacho do poder, embora confirme que a candidata do PS é sua “filha política”. “Quando a conheci era uma laranjinha que convidei para o Conselho da Juventude. Dizia que eu era o melhor autarca do país, agora é a única adversária que não se descai em chamar-me presidente”, comenta Narciso Miranda, sem regatear elogios a Luísa enquanto vereadora. “Era excelente, mas nunca será uma boa presidente de Câmara. Falta-lhe visão estratégica de águas profundas, como a minha, vive da política à sombra do aparelho”, diz, lembrando que foi ele quem a indicou para deputada em 2005, “cargo que acumulou até ter sido derrotada nas listas de Parada”.

Sem resistir às bicadas, o independente que roubou a maioria absoluta ao recandidato Guilherme Pinto em 2009 não perdoa a Luísa a forma como aceitou protagonizar a corrida à Câmara à revelia da concelhia de Matosinhos. “É a candidata da dupla Pizarro/Costa, não dos matosinhenses, e a grande culpada da divisão socialista”, remata, colocando-se de fora do cisma autárquico por já ter “direito ao estatuto de independente” após 12 anos sem cartão: “Não é o caso de Parada, que foi dirigente do PS e teve um tacho no Governo até aparecer a Luísa.” Tricas à parte, justifica a teimosia em não sair de cena pelo apelo dos cidadãos que lhe pediram para devolver “o progresso ao concelho que era líder a norte e batia o pé a Lisboa”. Conta que, consigo, os ministros que o visitavam traziam na mala um contrato para habitação, transportes, cultura, enquanto agora “vêm para jantaradas”, remoque à presença de António Costa, amanhã, no almoço de apoiantes de Luísa Salgueiro, no Centro de Congressos de Matosinhos. A abstenção de mais de 50% nas últimas autárquicas é outra das razões que o fazem não calçar as pantufas, prometendo mais emprego e habitação a preços controlados para os jovens, travão no caos da mobilidade, apoio aos idosos, retoma do Museu da Arquitetura de Siza Vieira e incentivo às pescas, âncora da terra.

Fotos Fernando Veludo/NFactos

Luísa, a discípula

As críticas não abalam a candidata do PS, que nega ter pertencido à JSD e confia nos socialistas da terra natal na hora de votar. “As pessoas conhecem-me e sabem que o importante é o futuro, não o passado de quem não tem atividade profissional e vive com a obsessão de que nenhum dos pupilos chegue ao nível dele”, afirma a deputada, que confessa só ter aceitado ser candidata com a missão de unir o partido numa lista conjunta com os militantes que se desfiliaram em 2013. “Não traio o meu partido ao sabor da ocasião”, diz, lamentando que os seus antigos correligionários sejam da situação ou da oposição por ambição. Com Narciso, aprendeu o que se deve e não se deve fazer em política, que “é não pensar em nós e prejudicar os outros” por interesses próprios. “Narciso é um eucalipto que seca tudo à volta para vingar”, atira, enquanto acusa Parada de cambalhota ideológica ao aceitar o apoio do CDS-PP e da “família de direita de Emília Fradinho”, nº 2 da lista Matosinhos-SIM, e do mandatário, António Archer, “admirador de Marine Le Pen”. Se ganhar sem maioria, cenário em que acredita apesar da dispersão de votos do PS, Salgueiro não enjeita alianças, “desde que não desvirtuem a minha linha de prioridades para o concelho”. Prioridades que passam por Matosinhos mais ativo através da criação de uma rede de cuidados informais aos idosos, benefícios fiscais para os pequenos empresários, apoio ao sucesso escolar com ajuda de manuais digitais, rede de incubadoras coworking e habitação a rendas convencionadas para os jovens, saúde oral e visual para as crianças e cobertura integral dos transportes públicos no concelho.

Fotos Fernando Veludo/NFactos

Parada, o repetente

Quatro anos depois de ter perdido as eleições com 25,3% dos votos contra os 43,4% do Movimento Guilherme Pinto Por Matosinhos, António Parada está de volta à rua agora sem chapéu partidário e apoiado pelo CDS. Apesar de culpar Manuel Pizarro, líder do PS/Porto e candidato ao Porto, pelo atual cisma em Matosinhos “ao desrespeitar a vontade dos militantes locais que votaram no líder concelhio Ernesto Páscoa a candidato”, não é isso que o faz correr. “Não resisti aos pedidos dos matosinhenses que não se revêm nas outras candidaturas”, refere. Confidencia que o corte umbilical com o partido doeu, jurando que, ao contrário dos militantes que se desfiliaram em 2013, não voltará atrás. “Eu tenho carácter, não troco cartões por lugares, nem me ouvirão enxovalhar o PS, como alguns dos eleitos de 2013”, acrescenta. Como Narciso, também volta às urnas inquieto com a abstenção no município, tendência que o ex-adjunto do secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, pretende contrariar com uma lista “sem político-dependentes” e simpatizantes de todos os quadrantes políticos, além “de mais de uma centena de recém-desfiliados do PS” — 15 nas contas de Salgueiro, contra quase “duas centenas de regressados”. Adesão que o líder da concelhia diz desconhecer: “Pedidos de refiliação recebi um de Henrique Calisto, da lista da Luísa, para depois das eleições, mas ainda não se aceitam inscrições a prazo”, sentencia. Se não ganhar, Parada, diretor da Doca Pesca, não traça cenários pós-eleitorais:: “Certo é que não vendo, como não vendi em 2013, a dignidade por pelouros.” As suas apostas vão para a reabilitação urbana e comércio tradicional, criação de zonas industriais, turismo, a começar no Terminal de Cruzeiros, “até agora um apeadeiro de turistas para o Porto e Douro”. Alheios à contenda rosa, tentam a sorte os candidatos do PSD, Jorge Magalhães, escolhido pela Distrital depois da acalorada guerrilha com a concelhia em torno do mais mediático Joaquim Jorge, José Pedro Rodrigues, vereador da mobilidade (CDU), Ferreira dos Santos (BE) e Filipe Cayolla (PAN).

Há mais de uma década que a família socialista anda em pé de guerra em Matosinhos. Depois das cisões que marcaram a escolha do candidato Guilherme Pinto, em 2005, da corrida do histórico Narciso Miranda como independente em 2009 e da contestada opção de Seguro pelo derrotado António Parada, há quatro anos, a família rosa parte para as autárquicas de 1 de outubro mais desavinda do que nunca. Na meta de partida à Câmara local apresenta-se não um candidato independente nascido no berço do PS, como em 2013 quando o movimento de cidadãos de Guilherme Pinto acabou com o feudo rosa desde o 25 de Abril, mas dois dissidentes que já encrespam a maré autárquica na costa de Matosinhos. A baralhar a eleição de Luísa Salgueiro, candidata oficial do partido, está de novo o dinossauro Narciso, além do rebelde Parada, que entregou o cartão de 35 anos de militância quando António Costa subiu a Matosinhos para apadrinhar a candidatura da vice-presidente do grupo parlamentar, escolhida pela Distrital do PS do Porto. Ainda em fase de pré-campanha, a troca de mimos ácidos entre correligionários e ex-apoiantes mútuos é o prenúncio de uma dura batalha na hora da caça ao voto. Afinal, o que separa o antigo senhor de Matosinhos, concelho onde foi soberano entre 1979 e 2005, da sua ‘pupila’ e vereadora Luísa? E de António Parada, que apoiou contra o independente de ocasião e então presidente da Câmara, Guilherme Pinto, em 2013? Segundo um dirigente do PS, os socialistas de Matosinhos são todos um pouco filhos de Narciso, “formatados no pensamento que, se podem ser nº 1 e mandar, porque hão de ser nº 2 ou 3 da lista”.

Narciso, o patriarca

Aos 68 anos, o visado rejeita a análise do penacho do poder, embora confirme que a candidata do PS é sua “filha política”. “Quando a conheci era uma laranjinha que convidei para o Conselho da Juventude. Dizia que eu era o melhor autarca do país, agora é a única adversária que não se descai em chamar-me presidente”, comenta Narciso Miranda, sem regatear elogios a Luísa enquanto vereadora. “Era excelente, mas nunca será uma boa presidente de Câmara. Falta-lhe visão estratégica de águas profundas, como a minha, vive da política à sombra do aparelho”, diz, lembrando que foi ele quem a indicou para deputada em 2005, “cargo que acumulou até ter sido derrotada nas listas de Parada”.

Sem resistir às bicadas, o independente que roubou a maioria absoluta ao recandidato Guilherme Pinto em 2009 não perdoa a Luísa a forma como aceitou protagonizar a corrida à Câmara à revelia da concelhia de Matosinhos. “É a candidata da dupla Pizarro/Costa, não dos matosinhenses, e a grande culpada da divisão socialista”, remata, colocando-se de fora do cisma autárquico por já ter “direito ao estatuto de independente” após 12 anos sem cartão: “Não é o caso de Parada, que foi dirigente do PS e teve um tacho no Governo até aparecer a Luísa.” Tricas à parte, justifica a teimosia em não sair de cena pelo apelo dos cidadãos que lhe pediram para devolver “o progresso ao concelho que era líder a norte e batia o pé a Lisboa”. Conta que, consigo, os ministros que o visitavam traziam na mala um contrato para habitação, transportes, cultura, enquanto agora “vêm para jantaradas”, remoque à presença de António Costa, amanhã, no almoço de apoiantes de Luísa Salgueiro, no Centro de Congressos de Matosinhos. A abstenção de mais de 50% nas últimas autárquicas é outra das razões que o fazem não calçar as pantufas, prometendo mais emprego e habitação a preços controlados para os jovens, travão no caos da mobilidade, apoio aos idosos, retoma do Museu da Arquitetura de Siza Vieira e incentivo às pescas, âncora da terra.

Fotos Fernando Veludo/NFactos

Luísa, a discípula

As críticas não abalam a candidata do PS, que nega ter pertencido à JSD e confia nos socialistas da terra natal na hora de votar. “As pessoas conhecem-me e sabem que o importante é o futuro, não o passado de quem não tem atividade profissional e vive com a obsessão de que nenhum dos pupilos chegue ao nível dele”, afirma a deputada, que confessa só ter aceitado ser candidata com a missão de unir o partido numa lista conjunta com os militantes que se desfiliaram em 2013. “Não traio o meu partido ao sabor da ocasião”, diz, lamentando que os seus antigos correligionários sejam da situação ou da oposição por ambição. Com Narciso, aprendeu o que se deve e não se deve fazer em política, que “é não pensar em nós e prejudicar os outros” por interesses próprios. “Narciso é um eucalipto que seca tudo à volta para vingar”, atira, enquanto acusa Parada de cambalhota ideológica ao aceitar o apoio do CDS-PP e da “família de direita de Emília Fradinho”, nº 2 da lista Matosinhos-SIM, e do mandatário, António Archer, “admirador de Marine Le Pen”. Se ganhar sem maioria, cenário em que acredita apesar da dispersão de votos do PS, Salgueiro não enjeita alianças, “desde que não desvirtuem a minha linha de prioridades para o concelho”. Prioridades que passam por Matosinhos mais ativo através da criação de uma rede de cuidados informais aos idosos, benefícios fiscais para os pequenos empresários, apoio ao sucesso escolar com ajuda de manuais digitais, rede de incubadoras coworking e habitação a rendas convencionadas para os jovens, saúde oral e visual para as crianças e cobertura integral dos transportes públicos no concelho.

Fotos Fernando Veludo/NFactos

Parada, o repetente

Quatro anos depois de ter perdido as eleições com 25,3% dos votos contra os 43,4% do Movimento Guilherme Pinto Por Matosinhos, António Parada está de volta à rua agora sem chapéu partidário e apoiado pelo CDS. Apesar de culpar Manuel Pizarro, líder do PS/Porto e candidato ao Porto, pelo atual cisma em Matosinhos “ao desrespeitar a vontade dos militantes locais que votaram no líder concelhio Ernesto Páscoa a candidato”, não é isso que o faz correr. “Não resisti aos pedidos dos matosinhenses que não se revêm nas outras candidaturas”, refere. Confidencia que o corte umbilical com o partido doeu, jurando que, ao contrário dos militantes que se desfiliaram em 2013, não voltará atrás. “Eu tenho carácter, não troco cartões por lugares, nem me ouvirão enxovalhar o PS, como alguns dos eleitos de 2013”, acrescenta. Como Narciso, também volta às urnas inquieto com a abstenção no município, tendência que o ex-adjunto do secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, pretende contrariar com uma lista “sem político-dependentes” e simpatizantes de todos os quadrantes políticos, além “de mais de uma centena de recém-desfiliados do PS” — 15 nas contas de Salgueiro, contra quase “duas centenas de regressados”. Adesão que o líder da concelhia diz desconhecer: “Pedidos de refiliação recebi um de Henrique Calisto, da lista da Luísa, para depois das eleições, mas ainda não se aceitam inscrições a prazo”, sentencia. Se não ganhar, Parada, diretor da Doca Pesca, não traça cenários pós-eleitorais:: “Certo é que não vendo, como não vendi em 2013, a dignidade por pelouros.” As suas apostas vão para a reabilitação urbana e comércio tradicional, criação de zonas industriais, turismo, a começar no Terminal de Cruzeiros, “até agora um apeadeiro de turistas para o Porto e Douro”. Alheios à contenda rosa, tentam a sorte os candidatos do PSD, Jorge Magalhães, escolhido pela Distrital depois da acalorada guerrilha com a concelhia em torno do mais mediático Joaquim Jorge, José Pedro Rodrigues, vereador da mobilidade (CDU), Ferreira dos Santos (BE) e Filipe Cayolla (PAN).

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