Luís Castro. “Estou pronto! E à beira de viver coisas que, até agora, nunca vivi...”

20-06-2019
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Apanhei-o no momento de fazer as malas. Voou pelos céus da Europa até Kiev, essa cidade magnífica, onde começa agora a sua nova aventura, já que Donetsk se mantém em território violentamente proibido. Luís Castro é um bom amigo. E eu, com as suspeitas que recaem sempre sobre os amigos, só tenho de elogiar a forma como tem sabido estar num mundo de conflito permanente como é o do futebol, sempre tranquilo, sempre cavalheiro, sempre disponível. Talvez muitos não o vissem nunca como emigrante. Habituámo-nos a olhar para ele como um homem da casa, dos seus afetos, dos seus confortos. De repente a oportunidade. O Shaktar confiou no futebol de que Luís gosta. Trabalhado, interpretado. E ele foi atrás do destino que o manda ser um dos bons treinadores que tenho visto ao longo da minha carreira que já está cada vez mais perto do fim e cada vez mais longe do início.

É, de alguma forma, estranho ver-te partir. Mas, a poucas horas de ires para o aeroporto e assumires uma nova vida, o que é que sentes? Quem é este Luís Castro, pela primeira vez emigrante?

Estou a ver-me como alguém que evoluiu na sua vida, na sua carreira. Ao ponto de esta partida ser natural. Sou hoje um treinador preparado para trabalhar em qualquer parte. Acumulei conhecimentos, preparei-me para situações que nunca tinha vivido, apostei fortemente no meu crescimento profissional. Quando esta oportunidade surgiu, não tive dúvidas. Tinha chegado a hora. Estava pronto. Havia outros convites, outros projetos, mas fiz uma análise ponderada e vi que este era o melhor para mim. Repito: estou pronto!

Vais para um clube que tem sido campeão cativo, com presenças consecutivas na Liga dos Campeões, com resultados interessantes, com uma imagem forte no exterior e, ainda por cima, vais substituir um compatriota que teve sucesso - isso não é uma carga de responsabilidades?

Sinceramente, amigo, não estou minimamente preocupado com isso. Nunca na minha vida tive medo das oportunidades que me foram surgindo. Há algo muito claro para mim: o futebol não se compadece com derrotas. Todos nós ficamos marcados por elas. Mas, OK, aceito a tua ideia: a visibilidade que vou passar a ter é maior do que a que tive até aqui. Há muitos olhos postos no Shaktar porque é um clube que entrou numa espiral de sucessos e atraiu a atenção de todos os que seguem o futebol com especial interesse. Reconheço que, a partir de agora, vou ficar mais exposto, que terei virados para o meu trabalho alguns olhos que não me viam quando trabalhei em Portugal. Mas isso nem preocupa e muito menos me assusta. Estou completamente confiante no que possa fazer.

À frente do Shaktar vais disputar a Liga dos Campeões. Algo de inédito para ti, que só tiveste a oportunidade de dirigir o FC Porto na Liga Europa. É, certamente, um desafio que te agrada...

Sim! É verdade! Como desmentir uma coisa dessas? Algo de absolutamente novo na minha vida mas, tal como te disse, faz parte da minha evolução como profissional. A Liga dos Campeões é, se calhar, depois do Campeonato do Mundo e do Campeonato da Europa, a mais popular das provas de futebol. Toda a gente segue os jogos com o máximo do interesse. O nível dos desafios é muitíssimo elevado, algo que também me deixa ansioso para começar. Mas, atenção, gostava que não ficasse a ideia de que isso é algo de fundamental para a minha vida. Os objetivos que tracei há muitos anos mantêm-se intactos. A ideia que percorre a minha carreira é uma ideia de sucesso e o sucesso obtém-se a vários níveis. Sucesso na Liga dos Campeões está no nível mais alto de todos, de dificuldade extrema. Ainda bem que vou ter essa oportunidade.

Pergunta essencialmente prática: que nível de conhecimento tens sobre o Shaktar e sobretudo aquilo que vais encontrar por lá?

A resposta é fácil. Tenho um bom conhecimento sobre o clube, sobre as condições de trabalho, sobre os jogadores, sobre a forma de treinar e encarar as situações. E explico porquê. Primeiro houve alguém que trabalhou comigo e que também trabalhou no Shaktar, o Luís Gonçalves, agora no FC Porto, que me transmitiu muita informação sobre o que lá se passa. Depois é uma equipa acabada de treinar pelo Paulo Fonseca, pessoa com quem mantenho uma relação de enorme respeito e consideração. Falámos muito. Falamos muito. Só por isso, estive sempre atento ao que se passava por lá. Segui o trabalho dele com atenção profunda, vi muitos e muitos jogos. Fui sabendo através dele tudo sobre a realidade do Shaktar.

Não é que tenha feitio para desmancha-prazeres, ainda por cima para com aqueles que merecem a minha máxima estima, e este é um caso particular disso. Mas também estou com a minha dose de promessas ouvidas e não cumpridas. Ainda por cima em países nos quais a realidade vive tão distorcida como as imagens de cada um de nós na barraca dos espelhos.

Percebo o teu otimismo. Mas as coisas mudam. Às vezes até depressa demais...

Vamos a outro facto muito importante para a minha tomada de decisão. Nas reuniões que tive com o presidente, ele garantiu-me que o plantel se irá manter. Não sente necessidade de grandes mudanças e eu também não as considero importantes. Pelo contrário. A equipa é equilibrada, tem muita qualidade, dá segurança a qualquer treinador. Depois não te esqueças de que, para os países de Leste, o mercado de Verão é o menos importante. É no mercado de Inverno que se fazem as grandes apostas. E, como esta fase de compras e vendas é muito curta, há motivos mais do que suficientes para eu ficar descansado e saber, com antecedência, com quem vou trabalhar e conhecer em profundidade todos os jogadores que vou ter à disposição. Como vês, nada nesta mudança foi encarado com menor cuidado. Está tudo, dentro do que tenho visto, sob controlo. O que fará, com certeza, que a adaptação seja mais simples.

É verdade que já foste treinador principal do FC Porto e, ainda que numa situação quase de desenrasque e na qual não trabalhaste com um plantel sobre o qual tenhas dado opinião, esse terá sido um momento bonito da tua carreira. E agora, achas que atingiste o topo?

O topo!? Confesso-te: nunca olhei para as coisas dessa forma. Sinceramente. Olho para as oportunidades que me vão surgindo e agarro-as ou não. Olho para o futuro, para aquilo que virá a seguir. Nunca me vou sentar no lugar em que estiver a pensar que cheguei ao topo. Não pode ser. Haverá, sempre, outro topo, em qualquer tempo e em qualquer lugar. Um topo acima do topo em que estou. Nem seria justo para mim que não tivesse essa ambição. Claro que, neste momento, estou mais perto de ganhar mais coisas e ter mais sucesso. Mas apenas isso. O topo é algo que estará sempre acima do lugar onde nos encontramos.

Neste momento em que fazes as malas, e esse é sempre um tempo em que pensamos no que estamos de facto a fazer, o que sentes?

Sinto-me feliz. Sinto-me muito feliz. Como dizes, estou a fazer as malas para partir para uma vida nova, para um desafio novo, para novas experiências. E penso que talvez estejam a chegar momentos que ainda não vivi no futebol e que desejava muito vivê-los. Como disputar a Liga dos Campeões. Ou ser campeão. Estou, mais do que nunca, à beira de momentos inéditos e não poderia deixar de me sentir feliz com isso. Mas não perco o meu sentido de responsabilidade. Nem deixo de pensar, ao mesmo tempo, nas pessoas que acreditaram no meu trabalho e nas minhas capacidades para liderar um projeto vencedor que quer continuar a ser vencedor e ambicioso. Isso traz-me obrigações, como é lógico, mas obrigações agradáveis. Sinceramente: estou muito feliz neste momento. E muito confiante em que tudo poderá dar certo e vir a sentir que cumpri mais uma fase de crescimento como treinador e como homem. De resto, lá te espero, quando quiseres aparecer...

Apanhei-o no momento de fazer as malas. Voou pelos céus da Europa até Kiev, essa cidade magnífica, onde começa agora a sua nova aventura, já que Donetsk se mantém em território violentamente proibido. Luís Castro é um bom amigo. E eu, com as suspeitas que recaem sempre sobre os amigos, só tenho de elogiar a forma como tem sabido estar num mundo de conflito permanente como é o do futebol, sempre tranquilo, sempre cavalheiro, sempre disponível. Talvez muitos não o vissem nunca como emigrante. Habituámo-nos a olhar para ele como um homem da casa, dos seus afetos, dos seus confortos. De repente a oportunidade. O Shaktar confiou no futebol de que Luís gosta. Trabalhado, interpretado. E ele foi atrás do destino que o manda ser um dos bons treinadores que tenho visto ao longo da minha carreira que já está cada vez mais perto do fim e cada vez mais longe do início.

É, de alguma forma, estranho ver-te partir. Mas, a poucas horas de ires para o aeroporto e assumires uma nova vida, o que é que sentes? Quem é este Luís Castro, pela primeira vez emigrante?

Estou a ver-me como alguém que evoluiu na sua vida, na sua carreira. Ao ponto de esta partida ser natural. Sou hoje um treinador preparado para trabalhar em qualquer parte. Acumulei conhecimentos, preparei-me para situações que nunca tinha vivido, apostei fortemente no meu crescimento profissional. Quando esta oportunidade surgiu, não tive dúvidas. Tinha chegado a hora. Estava pronto. Havia outros convites, outros projetos, mas fiz uma análise ponderada e vi que este era o melhor para mim. Repito: estou pronto!

Vais para um clube que tem sido campeão cativo, com presenças consecutivas na Liga dos Campeões, com resultados interessantes, com uma imagem forte no exterior e, ainda por cima, vais substituir um compatriota que teve sucesso - isso não é uma carga de responsabilidades?

Sinceramente, amigo, não estou minimamente preocupado com isso. Nunca na minha vida tive medo das oportunidades que me foram surgindo. Há algo muito claro para mim: o futebol não se compadece com derrotas. Todos nós ficamos marcados por elas. Mas, OK, aceito a tua ideia: a visibilidade que vou passar a ter é maior do que a que tive até aqui. Há muitos olhos postos no Shaktar porque é um clube que entrou numa espiral de sucessos e atraiu a atenção de todos os que seguem o futebol com especial interesse. Reconheço que, a partir de agora, vou ficar mais exposto, que terei virados para o meu trabalho alguns olhos que não me viam quando trabalhei em Portugal. Mas isso nem preocupa e muito menos me assusta. Estou completamente confiante no que possa fazer.

À frente do Shaktar vais disputar a Liga dos Campeões. Algo de inédito para ti, que só tiveste a oportunidade de dirigir o FC Porto na Liga Europa. É, certamente, um desafio que te agrada...

Sim! É verdade! Como desmentir uma coisa dessas? Algo de absolutamente novo na minha vida mas, tal como te disse, faz parte da minha evolução como profissional. A Liga dos Campeões é, se calhar, depois do Campeonato do Mundo e do Campeonato da Europa, a mais popular das provas de futebol. Toda a gente segue os jogos com o máximo do interesse. O nível dos desafios é muitíssimo elevado, algo que também me deixa ansioso para começar. Mas, atenção, gostava que não ficasse a ideia de que isso é algo de fundamental para a minha vida. Os objetivos que tracei há muitos anos mantêm-se intactos. A ideia que percorre a minha carreira é uma ideia de sucesso e o sucesso obtém-se a vários níveis. Sucesso na Liga dos Campeões está no nível mais alto de todos, de dificuldade extrema. Ainda bem que vou ter essa oportunidade.

Pergunta essencialmente prática: que nível de conhecimento tens sobre o Shaktar e sobretudo aquilo que vais encontrar por lá?

A resposta é fácil. Tenho um bom conhecimento sobre o clube, sobre as condições de trabalho, sobre os jogadores, sobre a forma de treinar e encarar as situações. E explico porquê. Primeiro houve alguém que trabalhou comigo e que também trabalhou no Shaktar, o Luís Gonçalves, agora no FC Porto, que me transmitiu muita informação sobre o que lá se passa. Depois é uma equipa acabada de treinar pelo Paulo Fonseca, pessoa com quem mantenho uma relação de enorme respeito e consideração. Falámos muito. Falamos muito. Só por isso, estive sempre atento ao que se passava por lá. Segui o trabalho dele com atenção profunda, vi muitos e muitos jogos. Fui sabendo através dele tudo sobre a realidade do Shaktar.

Não é que tenha feitio para desmancha-prazeres, ainda por cima para com aqueles que merecem a minha máxima estima, e este é um caso particular disso. Mas também estou com a minha dose de promessas ouvidas e não cumpridas. Ainda por cima em países nos quais a realidade vive tão distorcida como as imagens de cada um de nós na barraca dos espelhos.

Percebo o teu otimismo. Mas as coisas mudam. Às vezes até depressa demais...

Vamos a outro facto muito importante para a minha tomada de decisão. Nas reuniões que tive com o presidente, ele garantiu-me que o plantel se irá manter. Não sente necessidade de grandes mudanças e eu também não as considero importantes. Pelo contrário. A equipa é equilibrada, tem muita qualidade, dá segurança a qualquer treinador. Depois não te esqueças de que, para os países de Leste, o mercado de Verão é o menos importante. É no mercado de Inverno que se fazem as grandes apostas. E, como esta fase de compras e vendas é muito curta, há motivos mais do que suficientes para eu ficar descansado e saber, com antecedência, com quem vou trabalhar e conhecer em profundidade todos os jogadores que vou ter à disposição. Como vês, nada nesta mudança foi encarado com menor cuidado. Está tudo, dentro do que tenho visto, sob controlo. O que fará, com certeza, que a adaptação seja mais simples.

É verdade que já foste treinador principal do FC Porto e, ainda que numa situação quase de desenrasque e na qual não trabalhaste com um plantel sobre o qual tenhas dado opinião, esse terá sido um momento bonito da tua carreira. E agora, achas que atingiste o topo?

O topo!? Confesso-te: nunca olhei para as coisas dessa forma. Sinceramente. Olho para as oportunidades que me vão surgindo e agarro-as ou não. Olho para o futuro, para aquilo que virá a seguir. Nunca me vou sentar no lugar em que estiver a pensar que cheguei ao topo. Não pode ser. Haverá, sempre, outro topo, em qualquer tempo e em qualquer lugar. Um topo acima do topo em que estou. Nem seria justo para mim que não tivesse essa ambição. Claro que, neste momento, estou mais perto de ganhar mais coisas e ter mais sucesso. Mas apenas isso. O topo é algo que estará sempre acima do lugar onde nos encontramos.

Neste momento em que fazes as malas, e esse é sempre um tempo em que pensamos no que estamos de facto a fazer, o que sentes?

Sinto-me feliz. Sinto-me muito feliz. Como dizes, estou a fazer as malas para partir para uma vida nova, para um desafio novo, para novas experiências. E penso que talvez estejam a chegar momentos que ainda não vivi no futebol e que desejava muito vivê-los. Como disputar a Liga dos Campeões. Ou ser campeão. Estou, mais do que nunca, à beira de momentos inéditos e não poderia deixar de me sentir feliz com isso. Mas não perco o meu sentido de responsabilidade. Nem deixo de pensar, ao mesmo tempo, nas pessoas que acreditaram no meu trabalho e nas minhas capacidades para liderar um projeto vencedor que quer continuar a ser vencedor e ambicioso. Isso traz-me obrigações, como é lógico, mas obrigações agradáveis. Sinceramente: estou muito feliz neste momento. E muito confiante em que tudo poderá dar certo e vir a sentir que cumpri mais uma fase de crescimento como treinador e como homem. De resto, lá te espero, quando quiseres aparecer...

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