Luís Montenegro: "Serei candidato nas próximas eleições diretas por uma questão de coerência e convicção"

14-10-2019
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“Cada um de nós tem de assumir as suas responsabilidades, eu vou assumir as minhas. Eu serei candidato nas próximas eleições diretas por uma questão de coerência e convicção e gostava muito que o doutor Rui Rio também também pudesse ser candidato”, afirmou Montenegro, em entrevista à SIC.

"Rui Rio quebrou um ciclo de duas vitórias", referiu Luís Montenegro. "Não tenho qualquer guerra pessoal com o doutor Rui Rio, o que quero é um PSD ganhador".

O antigo deputado social-democrata classificou como “muito mau” o resultado do PSD nas legislativas de domingo, em que obteve 27,9% dos votos, e defendeu a candidatura de Rui Rio “em nome de uma clarificação no posicionamento e projeto de intervenção na sociedade” do partido, apontando a sua visão do PSD como de centro e centro-direita e alternativa ao PS.

“Eu não tenho nenhuma guerra pessoal contra o dr. Rui Rio, o que eu quero é um PSD ganhador e um PSD que seja alternativa ao PS. O PSD transformou-se nos últimos dois anos num partido subalterno ao PS e é preciso dizer chega, é preciso dizer basta”, afirmou.

Para Montenegro, “o PSD não pode estar todos os dias a reclamar entendimentos com o PS”, defendendo que os socialistas “não querem fazer reformas estruturais” e que o seu líder, António Costa, “não é um reformista”.

O antigo deputado recusou que Rio e a sua estratégia para o PSD possam ter evitado a maioria absoluta do PS, apontando que, com um resultado superior ao de domingo, Santana Lopes não evitou esse resultado de José Sócrates em 2005.

“O resultado do PSD é agravado, não conseguimos conquistar eleitores que não quiseram votar António Costa”, contrapôs, defendendo que ficou claro que “o PS era batível, António Costa era batível”.

Ainda assim, Montenegro deixou um elogio à prestação do atual presidente na campanha eleitoral, considerando que tudo seria diferente se Rui Rio tivesse feito “nos últimos dois anos o que fez nas últimas três semanas”, seguindo “uma estratégia de confrontação politica democrática”.

O candidato às liderança do PSD afirmou ainda que "António Costa era batível nestas eleições" legislativas. "O PSD colou-se ao Partido Socialista mostrando uma disponibilidade para ter um apoio que nunca teve e que nunca o Partido Socialista lhe deu".

Montenegro diz que o partido precisa de "coesão, união", que permita agregação "em torno de um líder", bem como "definição estratégica e ideologia". "É preciso pelo menos que não tenhamos complexos ideológicos e que não tenhamos nenhuma crise existencial a respeito disso", reforçou.

Sobre a liderança parlamentar que exerceu durante os anos da ‘troika’, assegurou não renegar nada da sua atividade política nos últimos 25 anos e “muito menos ter estado ao lado de Pedro Passos Coelho a recuperar o país”.

“Mas quem está aqui hoje não é Passos Coelho, nem Durão Barroso, nem Pedro Santana Lopes, nem Cavaco Silva. É uma pessoa que se chama Luís Filipe Montenegro e só respondo por mim”, afirmou.

Questionado sobre o processo judicial em que foi constituído arguido no ano passado pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, o antigo deputado disse estar com a “consciência absolutamente tranquila” de que não cometeu nenhum crime.

“Não cometi nenhum crime, não vou deixar de exercer nenhum dos meus direitos cívicos e políticos e tenho a certeza de que não serei condenado”, afirmou, dizendo aguardar “com serenidade” pela conclusão do inquérito aberto há três anos.

Sobre o que fará se, na campanha interna ou na liderança do PSD, for acusado, Montenegro disse que não tirará nenhuma conclusão a não ser usar “todos os meios de defesa” ao seu alcance.

“Não me sinto minimamente limitado por isso, creio que não há nenhuma forma de se preencher o tipo legal do crime de recebimento de vantagem, mesmo que me tivessem sido oferecidas as viagens, que não foram”, assegurou.

"Eu quero um PSD grande. O PSD não pode ser o maior dos pequeninos, tem de ser o maior dos grandes".

Ser candidato à liderança do PSD, um cenário que Montenegro ponderou já em 2017

Há dois anos, quando o anterior líder Pedro Passos Coelho anunciou que se não se recandidataria na sequência do mau resultado nas autárquicas, Luís Montenegro fez uma “reflexão profunda” e acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas" e a presidência do PSD acabou por ser disputada entre Santana Lopes e Rui Rio.

Um mês depois, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou um aviso de que poderia vir a disputar-lhe a liderança: “Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier (…) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém”.

Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril do ano passado, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.

Em outubro de 2018, ajudou a ‘travar’ a realização de um congresso extraordinário, promovido por André Ventura - que, entretanto, abandonou o PSD e fundou o Chega - mas a tensão interna abaria por ‘explodir’ em janeiro.

Em 11 de janeiro, Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no PSD, dizendo que não se resignava “a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”.

O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à sua direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.

Na sequência dessa derrota, Montenegro defendeu que o seu desafio de clarificação “acordou um gigante adormecido” que é o PSD, e prometeu reserva pública nos meses seguintes quanto às divergências em relação a Rui Rio.

Desde então, o antigo líder parlamentar esteve praticamente em silêncio, aparecendo ao lado do cabeça de lista Paulo Rangel na campanha para as europeias, em que centrou as críticas no Governo, e na pré-campanha para as legislativas, em Lamego (Viseu), para “ajudar” a contrariar o que eram as sondagens negativas para o PSD.

Depois do Conselho Nacional de janeiro, terminou as suas colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.

Com eleições diretas previstas para janeiro, se o calendário não for alterado, Luís Montenegro é o primeiro candidato assumido à liderança do PSD, já que Rui Rio afirmou na noite eleitoral das legislativas – em que o PSD obteve 27,9% e para já 77 deputados – que iria “ponderar” com serenidade a sua continuidade.

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 46 anos, e advogado de profissão, destacou-se como deputado – sempre eleito por Aveiro - e líder parlamentar do PSD, cargo que exerceu entre junho de 2011 e julho de 2017.

Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.

Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.

Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; nas últimas, em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna.

Montenegro foi apoiante da candidatura do atual Presidente da República, e Marcelo Rebelo de Sousa já retribuiu quando lhe entregou, no início do seu mandato, a medalha de ouro de Espinho: na ocasião, elogiou as suas “qualidades invulgares” e vaticinou-lhe “muitos sucessos políticos” ainda ao longo do seu mandato em Belém, que só termina em 2021.

A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho – que, na altura, não confirmou nem desmentiu –, e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.

Em junho do ano passado, foi noticiado que Luís Montenegro iria ser constituído arguido – a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, por parte do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que essas viagens foram pagas a expensas próprias.

(Notícia atualizada às 22h09)

“Cada um de nós tem de assumir as suas responsabilidades, eu vou assumir as minhas. Eu serei candidato nas próximas eleições diretas por uma questão de coerência e convicção e gostava muito que o doutor Rui Rio também também pudesse ser candidato”, afirmou Montenegro, em entrevista à SIC.

"Rui Rio quebrou um ciclo de duas vitórias", referiu Luís Montenegro. "Não tenho qualquer guerra pessoal com o doutor Rui Rio, o que quero é um PSD ganhador".

O antigo deputado social-democrata classificou como “muito mau” o resultado do PSD nas legislativas de domingo, em que obteve 27,9% dos votos, e defendeu a candidatura de Rui Rio “em nome de uma clarificação no posicionamento e projeto de intervenção na sociedade” do partido, apontando a sua visão do PSD como de centro e centro-direita e alternativa ao PS.

“Eu não tenho nenhuma guerra pessoal contra o dr. Rui Rio, o que eu quero é um PSD ganhador e um PSD que seja alternativa ao PS. O PSD transformou-se nos últimos dois anos num partido subalterno ao PS e é preciso dizer chega, é preciso dizer basta”, afirmou.

Para Montenegro, “o PSD não pode estar todos os dias a reclamar entendimentos com o PS”, defendendo que os socialistas “não querem fazer reformas estruturais” e que o seu líder, António Costa, “não é um reformista”.

O antigo deputado recusou que Rio e a sua estratégia para o PSD possam ter evitado a maioria absoluta do PS, apontando que, com um resultado superior ao de domingo, Santana Lopes não evitou esse resultado de José Sócrates em 2005.

“O resultado do PSD é agravado, não conseguimos conquistar eleitores que não quiseram votar António Costa”, contrapôs, defendendo que ficou claro que “o PS era batível, António Costa era batível”.

Ainda assim, Montenegro deixou um elogio à prestação do atual presidente na campanha eleitoral, considerando que tudo seria diferente se Rui Rio tivesse feito “nos últimos dois anos o que fez nas últimas três semanas”, seguindo “uma estratégia de confrontação politica democrática”.

O candidato às liderança do PSD afirmou ainda que "António Costa era batível nestas eleições" legislativas. "O PSD colou-se ao Partido Socialista mostrando uma disponibilidade para ter um apoio que nunca teve e que nunca o Partido Socialista lhe deu".

Montenegro diz que o partido precisa de "coesão, união", que permita agregação "em torno de um líder", bem como "definição estratégica e ideologia". "É preciso pelo menos que não tenhamos complexos ideológicos e que não tenhamos nenhuma crise existencial a respeito disso", reforçou.

Sobre a liderança parlamentar que exerceu durante os anos da ‘troika’, assegurou não renegar nada da sua atividade política nos últimos 25 anos e “muito menos ter estado ao lado de Pedro Passos Coelho a recuperar o país”.

“Mas quem está aqui hoje não é Passos Coelho, nem Durão Barroso, nem Pedro Santana Lopes, nem Cavaco Silva. É uma pessoa que se chama Luís Filipe Montenegro e só respondo por mim”, afirmou.

Questionado sobre o processo judicial em que foi constituído arguido no ano passado pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, o antigo deputado disse estar com a “consciência absolutamente tranquila” de que não cometeu nenhum crime.

“Não cometi nenhum crime, não vou deixar de exercer nenhum dos meus direitos cívicos e políticos e tenho a certeza de que não serei condenado”, afirmou, dizendo aguardar “com serenidade” pela conclusão do inquérito aberto há três anos.

Sobre o que fará se, na campanha interna ou na liderança do PSD, for acusado, Montenegro disse que não tirará nenhuma conclusão a não ser usar “todos os meios de defesa” ao seu alcance.

“Não me sinto minimamente limitado por isso, creio que não há nenhuma forma de se preencher o tipo legal do crime de recebimento de vantagem, mesmo que me tivessem sido oferecidas as viagens, que não foram”, assegurou.

"Eu quero um PSD grande. O PSD não pode ser o maior dos pequeninos, tem de ser o maior dos grandes".

Ser candidato à liderança do PSD, um cenário que Montenegro ponderou já em 2017

Há dois anos, quando o anterior líder Pedro Passos Coelho anunciou que se não se recandidataria na sequência do mau resultado nas autárquicas, Luís Montenegro fez uma “reflexão profunda” e acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas" e a presidência do PSD acabou por ser disputada entre Santana Lopes e Rui Rio.

Um mês depois, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou um aviso de que poderia vir a disputar-lhe a liderança: “Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier (…) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém”.

Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril do ano passado, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.

Em outubro de 2018, ajudou a ‘travar’ a realização de um congresso extraordinário, promovido por André Ventura - que, entretanto, abandonou o PSD e fundou o Chega - mas a tensão interna abaria por ‘explodir’ em janeiro.

Em 11 de janeiro, Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no PSD, dizendo que não se resignava “a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”.

O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à sua direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.

Na sequência dessa derrota, Montenegro defendeu que o seu desafio de clarificação “acordou um gigante adormecido” que é o PSD, e prometeu reserva pública nos meses seguintes quanto às divergências em relação a Rui Rio.

Desde então, o antigo líder parlamentar esteve praticamente em silêncio, aparecendo ao lado do cabeça de lista Paulo Rangel na campanha para as europeias, em que centrou as críticas no Governo, e na pré-campanha para as legislativas, em Lamego (Viseu), para “ajudar” a contrariar o que eram as sondagens negativas para o PSD.

Depois do Conselho Nacional de janeiro, terminou as suas colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.

Com eleições diretas previstas para janeiro, se o calendário não for alterado, Luís Montenegro é o primeiro candidato assumido à liderança do PSD, já que Rui Rio afirmou na noite eleitoral das legislativas – em que o PSD obteve 27,9% e para já 77 deputados – que iria “ponderar” com serenidade a sua continuidade.

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 46 anos, e advogado de profissão, destacou-se como deputado – sempre eleito por Aveiro - e líder parlamentar do PSD, cargo que exerceu entre junho de 2011 e julho de 2017.

Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.

Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.

Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; nas últimas, em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna.

Montenegro foi apoiante da candidatura do atual Presidente da República, e Marcelo Rebelo de Sousa já retribuiu quando lhe entregou, no início do seu mandato, a medalha de ouro de Espinho: na ocasião, elogiou as suas “qualidades invulgares” e vaticinou-lhe “muitos sucessos políticos” ainda ao longo do seu mandato em Belém, que só termina em 2021.

A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho – que, na altura, não confirmou nem desmentiu –, e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.

Em junho do ano passado, foi noticiado que Luís Montenegro iria ser constituído arguido – a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, por parte do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que essas viagens foram pagas a expensas próprias.

(Notícia atualizada às 22h09)

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