Nós, portugueses de leste

03-09-2016
marcar artigo

Tamila tinha 3 anos, Petru 8, Tsanko já tinha 12 e Iryna chegou com 19 anos a Portugal. Começaram do zero: a língua nova, a escolaridade diferente. E estão a chegar ao mercado de trabalho, ao desporto de alta competição. Pelo caminho, decidiram ser portugueses encartados. Com o coração lá longe e o cérebro aqui. Ou vice-versa

Petru Sacalteanu, moldavo, chegou a Portugal com 8 anos e vai ter uma filha, Diana, com a namorada, de origem angolana © Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

É uma menina, chama-se Diana e nasce dentro de um mês. Foi preciso encurtar uma distância de quase 7 mil quilómetros e mais décadas de história das migrações do que as que cabem nestas páginas para que os pais se encontrassem, na Margem Sul. A mãe, Sara, é de origem angolana. O pai, Petru, nasceu na Moldávia. Faz parte de uma segunda geração de imigrantes de Leste, que chegaram a Portugal nos anos 1990 e 2000 . Estão a chegar agora à idade adulta, ao mercado de trabalho, depois de um percurso académico em escolas portuguesas e nada, a não ser talvez um apelido estrambólico, que os diferencie de outros jovens da sua idade. Nem mesmo o cartão de cidadão.

Petru Saculteanu, 23 anos, é português desde 2008. Um dos 268 831 cidadãos a quem concedida a nacionalidade portuguesa entre 2007 e 2013, segundo dados reunidos num estudo do Observatório das Migrações, após uma alteração legislativa.

Não é preciso dizer que fala um português perfeito. É já longínquo esse ano de 2001 quando chegou a um país desconhecido, começou tudo do zero. Lembra-se dessa viagem, desses tempos. Os pais tinham chegado antes, depois da queda da União Soviética. Vivia com uma tia e com a avó, a mãe foi buscá-lo. Veio um irmão, ficou uma irmã que hoje, adulta, continua na Moldávia. Era Natal. "Apanhei o comboio até à Roménia, depois o avião até à Suíça e depois para cá". Inscreveram-no na escola básica de Corroios.

Não chegou por acaso em 2001. Alterações que permitiram que mais imigrantes conseguissem vistos de residência abriram caminho a que muitos imigrantes de Leste trouxessem os filhos para Portugal. Abriu caminho à "reunificação das famílias", como lhe chama a professora e investigadora Lucinda Fonseca, presidente do conselho científico do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.

Petru tinha 8 anos pisou Portugal. "Não me quero gabar, mas cheguei no 2.º ano e no terceiro já falava português", sorri. Como fez? "Tinha uma professora que me acompanhava só no português - gostava de a encontrar e perguntar o nome dela". Então, prossegue, "fazia um desenho e tinha de escrever e desenhar as palavras. Escrevia melhor, em termos ortográficos, do que portugueses", ri-se, concordando que o moldavo, da família do romeno, é uma língua latina, logo, mais fácil.

Fez um curso profissional de contabilidade, tem feito trabalhos temporários, tentou a sorte em Londres, durante três meses, está cá de novo. "Queria trabalhar e entrar na universidade. O ensino é gratuito, ajudava imenso", conta. "As coisas complicaram-se com a gravidez". Voltou para estar ao lado de Sara.No início do verão era monitor de crianças num colégio lisboeta, agora trabalha num bar. Enquanto não surge a oportunidade no que quer mesmo: "Banca ou seguros".

Português ou moldavo? "Sou as duas coisas". "Sinto-me muito mais português do que moldavo", concede. Sensação acentuada por nunca ter convivido muito com outros descendentes moldavos ou de outros países de Leste. Lembra-se de um ou outro, dessa infância portuguesa. "Nos primeiros anos, os meus pais faziam churrascos só com moldavos, agora já não se fazem tanto". Pouco mais.

É ortodoxo, sim, mas "não muito praticante". "Vou pela minha mãe". Frequentam igrejas em Setúbal ou em Chelas. Foi com ela se tomou gostou ao associativismo. "Com 12 anos já fazia relatórios de atividade da associação que ela fundou - a Liga das Mulheres Moldavas". Há dois anos a câmara municipal de Almada cedeu-lhes um espaço para abrirem um restaurante, era o Sabores da Moldávia. Fechou entretanto. "Estava mal localizado e não teve muita adesão de pessoas de fora".

Voltar ao país onde os pais nasceram não é hipótese. "Politicamente é corrupto", afirma, conhecedor da atualidade moldava. "Os presidente o filho sã donos de mais de metade das coisas da Moldávia", ironiza. "Politicamente, não é um país para eu viver". Compatriotas desejosos de voltar tão-pouco encontra. Os que conhece compram casa, estão integrados. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), oriundos da Moldávia e com visto de residência erma 6945, em 2015. Entre os amigos e conhecidos de Petru, há um casal de médicos, situação nada rara atualmente.

Um processo de equivalências permitiu que médicos formados na Rússia, Ucrânia, Moldávia e outros países de Leste pudessem também exercer medicina em Portugal. Olgas, Ekaterinas e outros nomes que os portugueses talvez só conhecessem dos campeonatos de ginástica artística começaram a figurar nos quadros dos hospitais e começam, hoje, a conviver com jovens descendentes de Leste que são formados nas faculdades de Medicina portuguesas, sem que a Ordem dos Médicos consiga destrinçar entre uns e outros.

Estão também a chegar às universidades. Os que têm nacionalidade portuguesa tornam-se opacos para o sistema, mas nos demais nota-se o crescimento, mesmo que os últimos números sejam de 2010/2011. Havia 36 moldavos inscritos na universidade no ano letivo de 2006/2007, quatro anos depois chegavam aos 247. E assim para todos os países de Leste. Ucrânia: 36 contra 247. Roménia: 86 contra 200. República Checa: 28 contra 77. Bulgária: 47 contra 87.

A própria professora Lucinda Fonseca, autora do capítulo sobre Portugal do livro Ukrainian Migration to the European Union. Lessons from Migration Studies, que será editado em livro vê no Instituto que dirige os ecos desta nova configuração social no Instituto que dirige. No final do último ano letivo, sem esperar, foi abordada por uma aluna IGOT, finalista da licenciatura de Planeamento e Ordenamento do Território interessada em aprofundar o conhecimento da comunidade ucraniana. A razão: ser ela própria oriunda deste país. "Está em Portugal há 16 anos. Agora tem interesse em estudar a comunidade, quer fazer inquéritos", explica a professora. "Isto também é uma maneira de se reaproximar das suas origens, embora não pense ir embora.

Tsanko Arnaudov é um gigante de 1,98 centímetros e 150 quilos, lançador de peso e medalha de bronze no campeonato europeu. Nasceu na BulgáriaPaulo Spranger / Global Imagens

O rapaz do peso

Se depender de Tsanko Arnaudov, os números de búlgaros a entrar na universidade continuará a subir. Este ano, pensa matricular-se no curso de Gestão de empresas de Segurança. "Faz bem à cabeça e isso faz bem ao treino", diz ao DN o atleta olímpico, detentor do recorde de lançamento do peso com 21,06 metros.

Na rua, não há quem não repare nele. Ficou a dois centímetros dos 2 metros de altura, pesa 150 quilos, quase tudo músculo e o seu nome entrou na história do desporto nacional em julho. Nos campeonatos europeus trouxe uma medalha de bronze para uma modalidade sem tradição no atletismo nacional, o peso. Que é cidadão português não restam dúvidas. Foi esse o detalhe que lhe permitiu competir em nome de Portugal nos Europeus e aos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Alourado, de olhos verdes e muito mais alto do que a maioria dos portugueses, Tsanko, 24 anos, dá nas vistas na vila de Sintra, ponto de encontro da conversa e das fotografias com o DN, numa pausa das férias. Cresceu ali perto, na Abrunheira, o que o faz entrar nas estatísticas.

O concelho de Sintra, a par do de Lisboa são os municípios portugueses que concentram maior número de estrangeiros (mais de 34 mil). Mas não é apenas neste aspeto que Tsanko corresponde ao cliché do imigrante de leste.

Também em casa dos Arnaudov, os filhos só deixaram o país de origem depois dos pais estarem instalados. O pai, segurança, chegou em 1999, a mãe, empregada doméstica, em 2003, Tsanko em 2004 e o irmão, agora com 23 anos, em 2005. Não sabia uma palavra de português. "Sinceramente, aprendi a brincar com os meus amigos", diz. "E graças aos meus treinadores". Não fala em longas noites ao serão com a mãe, horas extra ou esforços inumanos. Mas, garante, hoje quando tem de contar uns trocos ou outra atividade minuciosa em que a língua materna prevaleça fá-lo em português, a sua língua dos últimos 12 anos.

Tsanko pratica uma modalidade, sem grandes tradições em Portugal, mas não é porque associemos as modalidades pesadas - peso e halterofilismo aos países de Leste - que começou. "Na Bulgária há muita tradição de fazer desporto". Atletismo, em concreto. E foi por aí que a sua carreira de atleta começou. Corria. "Mas o meu corpo começou a desenvolver-se muito rapidamente", justifica. Deixou as corridas e, por sugestão dos pais, virou-se para o peso. "A primeira vez tinha 16 ou 17 anos". Saiu e voltou. Ouvindo-o poderia dar a ideia de que foi uma ausência prolongada, mas não. Foram meses. E, por insistência dos pais, regressou. Entre trocas de treinador, há três anos foi viver no Centro de Alto Rendimento do Jamor, a maneira de conciliar o desporto com o curso de animação 2D/3D na escola Gustavo Eiffel, na Amadora. Compete pelo Benfica.

Mantém laços fortes com a raiz, apesar de não ir à Bulgária desde 2008. "Temos lá uma casa." O irmão quis experimentar mas "voltou ao fim de três semanas".

Ter nacionalidade portuguesa foi natural, no caminho, dada a dedicação ao desporto de alta competição. Era a única maneira de entrar nos campeonatos mais importantes. "Fui jantar a um restaurante com a Sara Moreira e a Jéssica Augusto, cheguei e percorri a sala com o olhar. Quando voltei ao início, estava toda a gente a bater palmas. Foi uma coisa..." Sente-se a emoção com que o diz. Passou-se depois do Campeonato Europeu.

Os números reunidos no estudo Estatísticas de Bolso e publicados pelo Observatório das Migrações dizem ainda que a média de idades dos indivíduos residentes em Portugal que adquiriram a nacionalidade desde 2008 é mais baixa (cerca de 54,1% tinha menos de 35 anos), refletindo o impacto deste novo enquadramento no acesso à nacionalidade portuguesa por imigrantes mais jovens e descendentes de imigrantes residentes no país.

Em casa. Tsanko é o único português. "O meu pai já pôs os papéis" Mas, frisa, "não quero perder a nacionalidade búlgara". "Ninguém quer perder a origem da sua nacionalidade", diz, de rajada. Nos Jogos Olímpicos, aliás, uma atleta búlgara reconheceu-o. Por cá, diz, tem muitos amigos búlgaros. Esta não é, no entanto, a comunidade mais representada.

Em 2015, e sem contar com aqueles que adquiriram nacionalidade portuguesa (e que já não entram nestes números), dos 383 759 imigrantes com estatuto legal de residente, 9 968 eram da Moldávia, 34 204 eram Roménia e 41 074 eram da Ucrânia.

A Ucrânia é a terceira nacionalidade mais representada em Portugal, depois da brasileira e cabo-verdiana, de acordo com dados de um estudo publicado pelo Observatório das Migrações, relativos a 2011. Mas, segundo Lucinda Fonseca, os próximos Censos podem trazer uma nova realidade. A comunidade romena cresce, sobretudo desde a sua entrada na União Europeia, enquanto a ucraniana mingua. Nos últimos cinco anos, 100 mil abandonaram Portugal, seja para remigrar, seja para regressar ao ponto de partida.

Iryna Lazar deixou o curso de Medicina suspenso para vir para Portugal. Está a terminar o estágio de DireitoIgor Martins / Global Imagens

Falhou medicina, entrou em Direito

Iryna Lazar, nascida na Ucrânia mas também com nacionalidade portuguesa, faz parte dessa grande comunidade. Não era uma criança quando veio para Portugal. Tinha 19 anos, mas uma parte importante do percurso académico foi feita aqui.

Tem 36 anos, terminou a licenciatura em Direito, está a fazer um mestrado e a terminar o estágio profissional. Está inscrita na Ordem dos Advogados e este é um caminho que nem a própria sonhou. O que Iryna tinha em mente era ser médica. E tentou entrar na faculdade três vezes. "Falhei uma vez por três décimas." Então, apareceu o Direito.

Podia ser uma cena de filme. Em 1999, Iryna deixou-se atrair por um país "sossegado e acolhedor". Lucinda Fonseca estabelece pouco antes, em 1996 /1997, a data em que a migração de Leste começou a descobrir Portugal. "Havia a Expo, a Vasco da Gama, oferta na construção civil", situa.

Iryna veio viver com uma amiga ucraniana, casada com um português, à procura de oportunidades, deixando o curso de Medicina suspenso na Ucrânia. Depois de ter sido barmaid no Casino Estoril, fez uma formação na área dos seguros e trabalhou nessa área. Não gostou. Começou a fazer traduções para a embaixada da Ucrânia em Portugal. A esse trabalho juntava-se o de intérprete onde fosse preciso, ocasionalmente em tribunais. Mas não foi essa proximidade com a prática jurídica que a entusiasmou e a levou para a Universidade Autónoma. Foram as questões dos compatriotas que deixava sem resposta: "Perguntavam-me coisas e eu não sabia como responder", conta.

Foi acumulando traduções e a universidade. "Podia gerir o meu tempo". "Tinha de pagar as despesas, o meu filho, eu própria, o dinheiro tinha de vir de algum lado. Trabalhou muito de perto com o ex-cônsul da Ucrânia em Portugal. Traduzia textos legais, mas fazia mais do que isso. "Não basta traduzir, era preciso interpretar a lei." As portas abriam-se também pela expectativa da Ucrânia de entrar na União Europeia. Conciliava esse trabalho com os estudos universitários desde 2011.

Sentiu discriminação nestes 17 anos? Diz que não, mas não é tudo cor de rosa. Exercer Direito pode ser uma ameaça, pode ser vista como alguém que vai tirar oportunidades a outros num mercado de grande concorrência. "Deixei sempre bem claro que não quero trabalhar com portugueses." São os seus compatriotas os clientes que lhe interessam. "Os ucranianos são desconfiados", diz com o tom de quem constata, não o de quem critica. "Cria-se mais confiança do que com os advogados portugueses. É mais fácil recorrer a uma pessoa que está aqui e no mesmo patamar de entendimento", afirma, num português bem falado e um ligeiro sotaque. "A minha área não é igual à os portugueses, não prejudico ninguém", defende.

O canudo abre-lhe, também, mais oportunidades na Ucrânia, mas não tenciona voltar "também por causa do meu filho".

"Praticamente não conhece a Ucrânia, apesar de passar férias e saber a língua." Uma língua que aprendeu facilmente nessas viagens, mas que não pratica em casa. "Estamos em Portugal, falamos português, mas com os avós fala ucraniano. Eu respeito". Para ela? "Já estou acostumada, é igual. A felicidade não consiste apenas no bem-estar material."

Adotou, como o filho, a nacionalidade portuguesa. "Fazemos um exame de língua portuguesa ao fim de cinco anos, entregamos os documentos e esperamos." Conserva a ucraniana, que é, na prática, o que fazem todos os cidadãos deste país. Só uma advogada para o esclarecer: "Existe uma lacuna na lei. Não diz se é possível ou não ter dupla nacionalidade."

Iryna é, ao mesmo tempo, parte das estatísticas que nos falam do aumento de alunos de Leste, parte dos números que nos falam do aumento de ucranianos que se tornam portugueses e mãe de uma ucraniano de segunda geração.

Alexandre, agora com 15 anos, apoiou muito a mãe. "Ele gosta muito de cozinhar, não é por acaso que escolhei um curso de culinária, cozinhava o jantar quando eu vinha da universidade", diz, como quem dá um exemplo desse apoio.

A professora Lucinda Fonseca reconhece à comunidade de Leste, e por maioria, aos ucranianos, uma exigência ímpar, que viu nos seus estudos de campo no Alentejo, no boom da imigração de Leste. "Um pai contou-me que achava que na escola portuguesa só se brincava e que não queria os filhos a estudarem em Portugal". Outro casal mudou-se de um monte isolado para Évora para que a descendência pudesse estudar.

Iryna diz que não é uma mãe rígida. "É disciplina", contrapõe. "Ele tem de fazer as coisas dele", frisa. "Desde que foi para a escola que trata da mala dele, eu só tratava da roupinha". Ela é herdeira desse respeito pela escola estudado pela professora Lucinda Canelas e alguém que o inculca ao filho. "Sempre estudei e é muito bom. Nunca se sabe o que se vai passar na vida".

Tamila Holub nasceu na Ucrânia, veio para Portugal com três anos, faz natação e representou Portugal nos Jogos OlímpicosOrlando Almeida / Global Imagens

Tamila, a esperança da natação

Tamila Holub, 17 anos, podia dar uma versão distinta da educação ucraniana. "A minha mãe é muito rigorosa." Por exemplo, foi da mãe que partiu a ideia de ir a correr para a piscina todas as manhãs, às 06.00, com a mochila dos livros à escola, antes de entrar na água às 07.00 e fazer o treino diário.A filha atribui o método da mãe à sua educação soviética e não a critica.

Passou agora para o 12,º ano e, para lá da natação, ler o tempo todo é o que a distingue. Para os campeonatos nacionais de natação, que se realizaram nas Piscinas do Jamor, no final de julho. tinha trazido um livro de José Rodrigues dos Santos.

Ela é um caso de bom desempenho escolar, aliado ao desporto de alta competição. Também fez parte da comitiva olímpica que foi ao Rio de Janeiro. Ter nacionalidade foi decisivo no seu percurso desportivo. "Se os meus pais tinham dúvidas, a natação decidiu tudo", diz Tamila, após a apresentação da equipa de natação que foi aos Jogos, no Jamor, antes de entrar na piscina para uma prova do campeonato nacional.

Diz que a natação a ajudou a integrar-se na altura do 5.º ano. Ao contrário de Tsanko, diz que os seus amigos são, na maioria, portugueses. Isto apesar de manter forte relação com a comunidade. A mãe, professora, tem uma escola de línguas para quem quer aprender russo e ucraniano.

Se mantivesse a nacionalidade ucraniana, o país onde nasceu, as maiores competições da modalidade desportiva estar-lhe-iam vedadas, como lhe aconteceu um ano, em que participou como "extra". Competir pela Ucrânia nunca esteve em cima mesa, de qualquer forma. "Foi aqui comecei, foi aqui que sofri", assegura Tamila, que vive em Portugal desde os três anos e denuncia pelo sotaque o local onde mora: Braga. Ela e a família fazem parte dos 13, 1% da população estrangeira que vive na região Norte, segundo os Censos de 2011. Uma percentagem inferior à do Centro (13,9%) e à da Grande Lisboa (51,6%) , mas superior à da Madeira (1,4%), aos Açores (0,8%) e ao Alentejo (6%).

Tamila vive em Portugal desde os três anos. Mas em casa dos Holub quem leva a palma do portuguesismo é a irmã pequenina, Sofia. "É portuguesa, portuguesa. Os pratos favoritos são arroz e bacalhau."

Tamila tinha 3 anos, Petru 8, Tsanko já tinha 12 e Iryna chegou com 19 anos a Portugal. Começaram do zero: a língua nova, a escolaridade diferente. E estão a chegar ao mercado de trabalho, ao desporto de alta competição. Pelo caminho, decidiram ser portugueses encartados. Com o coração lá longe e o cérebro aqui. Ou vice-versa

Petru Sacalteanu, moldavo, chegou a Portugal com 8 anos e vai ter uma filha, Diana, com a namorada, de origem angolana © Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

É uma menina, chama-se Diana e nasce dentro de um mês. Foi preciso encurtar uma distância de quase 7 mil quilómetros e mais décadas de história das migrações do que as que cabem nestas páginas para que os pais se encontrassem, na Margem Sul. A mãe, Sara, é de origem angolana. O pai, Petru, nasceu na Moldávia. Faz parte de uma segunda geração de imigrantes de Leste, que chegaram a Portugal nos anos 1990 e 2000 . Estão a chegar agora à idade adulta, ao mercado de trabalho, depois de um percurso académico em escolas portuguesas e nada, a não ser talvez um apelido estrambólico, que os diferencie de outros jovens da sua idade. Nem mesmo o cartão de cidadão.

Petru Saculteanu, 23 anos, é português desde 2008. Um dos 268 831 cidadãos a quem concedida a nacionalidade portuguesa entre 2007 e 2013, segundo dados reunidos num estudo do Observatório das Migrações, após uma alteração legislativa.

Não é preciso dizer que fala um português perfeito. É já longínquo esse ano de 2001 quando chegou a um país desconhecido, começou tudo do zero. Lembra-se dessa viagem, desses tempos. Os pais tinham chegado antes, depois da queda da União Soviética. Vivia com uma tia e com a avó, a mãe foi buscá-lo. Veio um irmão, ficou uma irmã que hoje, adulta, continua na Moldávia. Era Natal. "Apanhei o comboio até à Roménia, depois o avião até à Suíça e depois para cá". Inscreveram-no na escola básica de Corroios.

Não chegou por acaso em 2001. Alterações que permitiram que mais imigrantes conseguissem vistos de residência abriram caminho a que muitos imigrantes de Leste trouxessem os filhos para Portugal. Abriu caminho à "reunificação das famílias", como lhe chama a professora e investigadora Lucinda Fonseca, presidente do conselho científico do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.

Petru tinha 8 anos pisou Portugal. "Não me quero gabar, mas cheguei no 2.º ano e no terceiro já falava português", sorri. Como fez? "Tinha uma professora que me acompanhava só no português - gostava de a encontrar e perguntar o nome dela". Então, prossegue, "fazia um desenho e tinha de escrever e desenhar as palavras. Escrevia melhor, em termos ortográficos, do que portugueses", ri-se, concordando que o moldavo, da família do romeno, é uma língua latina, logo, mais fácil.

Fez um curso profissional de contabilidade, tem feito trabalhos temporários, tentou a sorte em Londres, durante três meses, está cá de novo. "Queria trabalhar e entrar na universidade. O ensino é gratuito, ajudava imenso", conta. "As coisas complicaram-se com a gravidez". Voltou para estar ao lado de Sara.No início do verão era monitor de crianças num colégio lisboeta, agora trabalha num bar. Enquanto não surge a oportunidade no que quer mesmo: "Banca ou seguros".

Português ou moldavo? "Sou as duas coisas". "Sinto-me muito mais português do que moldavo", concede. Sensação acentuada por nunca ter convivido muito com outros descendentes moldavos ou de outros países de Leste. Lembra-se de um ou outro, dessa infância portuguesa. "Nos primeiros anos, os meus pais faziam churrascos só com moldavos, agora já não se fazem tanto". Pouco mais.

É ortodoxo, sim, mas "não muito praticante". "Vou pela minha mãe". Frequentam igrejas em Setúbal ou em Chelas. Foi com ela se tomou gostou ao associativismo. "Com 12 anos já fazia relatórios de atividade da associação que ela fundou - a Liga das Mulheres Moldavas". Há dois anos a câmara municipal de Almada cedeu-lhes um espaço para abrirem um restaurante, era o Sabores da Moldávia. Fechou entretanto. "Estava mal localizado e não teve muita adesão de pessoas de fora".

Voltar ao país onde os pais nasceram não é hipótese. "Politicamente é corrupto", afirma, conhecedor da atualidade moldava. "Os presidente o filho sã donos de mais de metade das coisas da Moldávia", ironiza. "Politicamente, não é um país para eu viver". Compatriotas desejosos de voltar tão-pouco encontra. Os que conhece compram casa, estão integrados. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), oriundos da Moldávia e com visto de residência erma 6945, em 2015. Entre os amigos e conhecidos de Petru, há um casal de médicos, situação nada rara atualmente.

Um processo de equivalências permitiu que médicos formados na Rússia, Ucrânia, Moldávia e outros países de Leste pudessem também exercer medicina em Portugal. Olgas, Ekaterinas e outros nomes que os portugueses talvez só conhecessem dos campeonatos de ginástica artística começaram a figurar nos quadros dos hospitais e começam, hoje, a conviver com jovens descendentes de Leste que são formados nas faculdades de Medicina portuguesas, sem que a Ordem dos Médicos consiga destrinçar entre uns e outros.

Estão também a chegar às universidades. Os que têm nacionalidade portuguesa tornam-se opacos para o sistema, mas nos demais nota-se o crescimento, mesmo que os últimos números sejam de 2010/2011. Havia 36 moldavos inscritos na universidade no ano letivo de 2006/2007, quatro anos depois chegavam aos 247. E assim para todos os países de Leste. Ucrânia: 36 contra 247. Roménia: 86 contra 200. República Checa: 28 contra 77. Bulgária: 47 contra 87.

A própria professora Lucinda Fonseca, autora do capítulo sobre Portugal do livro Ukrainian Migration to the European Union. Lessons from Migration Studies, que será editado em livro vê no Instituto que dirige os ecos desta nova configuração social no Instituto que dirige. No final do último ano letivo, sem esperar, foi abordada por uma aluna IGOT, finalista da licenciatura de Planeamento e Ordenamento do Território interessada em aprofundar o conhecimento da comunidade ucraniana. A razão: ser ela própria oriunda deste país. "Está em Portugal há 16 anos. Agora tem interesse em estudar a comunidade, quer fazer inquéritos", explica a professora. "Isto também é uma maneira de se reaproximar das suas origens, embora não pense ir embora.

Tsanko Arnaudov é um gigante de 1,98 centímetros e 150 quilos, lançador de peso e medalha de bronze no campeonato europeu. Nasceu na BulgáriaPaulo Spranger / Global Imagens

O rapaz do peso

Se depender de Tsanko Arnaudov, os números de búlgaros a entrar na universidade continuará a subir. Este ano, pensa matricular-se no curso de Gestão de empresas de Segurança. "Faz bem à cabeça e isso faz bem ao treino", diz ao DN o atleta olímpico, detentor do recorde de lançamento do peso com 21,06 metros.

Na rua, não há quem não repare nele. Ficou a dois centímetros dos 2 metros de altura, pesa 150 quilos, quase tudo músculo e o seu nome entrou na história do desporto nacional em julho. Nos campeonatos europeus trouxe uma medalha de bronze para uma modalidade sem tradição no atletismo nacional, o peso. Que é cidadão português não restam dúvidas. Foi esse o detalhe que lhe permitiu competir em nome de Portugal nos Europeus e aos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Alourado, de olhos verdes e muito mais alto do que a maioria dos portugueses, Tsanko, 24 anos, dá nas vistas na vila de Sintra, ponto de encontro da conversa e das fotografias com o DN, numa pausa das férias. Cresceu ali perto, na Abrunheira, o que o faz entrar nas estatísticas.

O concelho de Sintra, a par do de Lisboa são os municípios portugueses que concentram maior número de estrangeiros (mais de 34 mil). Mas não é apenas neste aspeto que Tsanko corresponde ao cliché do imigrante de leste.

Também em casa dos Arnaudov, os filhos só deixaram o país de origem depois dos pais estarem instalados. O pai, segurança, chegou em 1999, a mãe, empregada doméstica, em 2003, Tsanko em 2004 e o irmão, agora com 23 anos, em 2005. Não sabia uma palavra de português. "Sinceramente, aprendi a brincar com os meus amigos", diz. "E graças aos meus treinadores". Não fala em longas noites ao serão com a mãe, horas extra ou esforços inumanos. Mas, garante, hoje quando tem de contar uns trocos ou outra atividade minuciosa em que a língua materna prevaleça fá-lo em português, a sua língua dos últimos 12 anos.

Tsanko pratica uma modalidade, sem grandes tradições em Portugal, mas não é porque associemos as modalidades pesadas - peso e halterofilismo aos países de Leste - que começou. "Na Bulgária há muita tradição de fazer desporto". Atletismo, em concreto. E foi por aí que a sua carreira de atleta começou. Corria. "Mas o meu corpo começou a desenvolver-se muito rapidamente", justifica. Deixou as corridas e, por sugestão dos pais, virou-se para o peso. "A primeira vez tinha 16 ou 17 anos". Saiu e voltou. Ouvindo-o poderia dar a ideia de que foi uma ausência prolongada, mas não. Foram meses. E, por insistência dos pais, regressou. Entre trocas de treinador, há três anos foi viver no Centro de Alto Rendimento do Jamor, a maneira de conciliar o desporto com o curso de animação 2D/3D na escola Gustavo Eiffel, na Amadora. Compete pelo Benfica.

Mantém laços fortes com a raiz, apesar de não ir à Bulgária desde 2008. "Temos lá uma casa." O irmão quis experimentar mas "voltou ao fim de três semanas".

Ter nacionalidade portuguesa foi natural, no caminho, dada a dedicação ao desporto de alta competição. Era a única maneira de entrar nos campeonatos mais importantes. "Fui jantar a um restaurante com a Sara Moreira e a Jéssica Augusto, cheguei e percorri a sala com o olhar. Quando voltei ao início, estava toda a gente a bater palmas. Foi uma coisa..." Sente-se a emoção com que o diz. Passou-se depois do Campeonato Europeu.

Os números reunidos no estudo Estatísticas de Bolso e publicados pelo Observatório das Migrações dizem ainda que a média de idades dos indivíduos residentes em Portugal que adquiriram a nacionalidade desde 2008 é mais baixa (cerca de 54,1% tinha menos de 35 anos), refletindo o impacto deste novo enquadramento no acesso à nacionalidade portuguesa por imigrantes mais jovens e descendentes de imigrantes residentes no país.

Em casa. Tsanko é o único português. "O meu pai já pôs os papéis" Mas, frisa, "não quero perder a nacionalidade búlgara". "Ninguém quer perder a origem da sua nacionalidade", diz, de rajada. Nos Jogos Olímpicos, aliás, uma atleta búlgara reconheceu-o. Por cá, diz, tem muitos amigos búlgaros. Esta não é, no entanto, a comunidade mais representada.

Em 2015, e sem contar com aqueles que adquiriram nacionalidade portuguesa (e que já não entram nestes números), dos 383 759 imigrantes com estatuto legal de residente, 9 968 eram da Moldávia, 34 204 eram Roménia e 41 074 eram da Ucrânia.

A Ucrânia é a terceira nacionalidade mais representada em Portugal, depois da brasileira e cabo-verdiana, de acordo com dados de um estudo publicado pelo Observatório das Migrações, relativos a 2011. Mas, segundo Lucinda Fonseca, os próximos Censos podem trazer uma nova realidade. A comunidade romena cresce, sobretudo desde a sua entrada na União Europeia, enquanto a ucraniana mingua. Nos últimos cinco anos, 100 mil abandonaram Portugal, seja para remigrar, seja para regressar ao ponto de partida.

Iryna Lazar deixou o curso de Medicina suspenso para vir para Portugal. Está a terminar o estágio de DireitoIgor Martins / Global Imagens

Falhou medicina, entrou em Direito

Iryna Lazar, nascida na Ucrânia mas também com nacionalidade portuguesa, faz parte dessa grande comunidade. Não era uma criança quando veio para Portugal. Tinha 19 anos, mas uma parte importante do percurso académico foi feita aqui.

Tem 36 anos, terminou a licenciatura em Direito, está a fazer um mestrado e a terminar o estágio profissional. Está inscrita na Ordem dos Advogados e este é um caminho que nem a própria sonhou. O que Iryna tinha em mente era ser médica. E tentou entrar na faculdade três vezes. "Falhei uma vez por três décimas." Então, apareceu o Direito.

Podia ser uma cena de filme. Em 1999, Iryna deixou-se atrair por um país "sossegado e acolhedor". Lucinda Fonseca estabelece pouco antes, em 1996 /1997, a data em que a migração de Leste começou a descobrir Portugal. "Havia a Expo, a Vasco da Gama, oferta na construção civil", situa.

Iryna veio viver com uma amiga ucraniana, casada com um português, à procura de oportunidades, deixando o curso de Medicina suspenso na Ucrânia. Depois de ter sido barmaid no Casino Estoril, fez uma formação na área dos seguros e trabalhou nessa área. Não gostou. Começou a fazer traduções para a embaixada da Ucrânia em Portugal. A esse trabalho juntava-se o de intérprete onde fosse preciso, ocasionalmente em tribunais. Mas não foi essa proximidade com a prática jurídica que a entusiasmou e a levou para a Universidade Autónoma. Foram as questões dos compatriotas que deixava sem resposta: "Perguntavam-me coisas e eu não sabia como responder", conta.

Foi acumulando traduções e a universidade. "Podia gerir o meu tempo". "Tinha de pagar as despesas, o meu filho, eu própria, o dinheiro tinha de vir de algum lado. Trabalhou muito de perto com o ex-cônsul da Ucrânia em Portugal. Traduzia textos legais, mas fazia mais do que isso. "Não basta traduzir, era preciso interpretar a lei." As portas abriam-se também pela expectativa da Ucrânia de entrar na União Europeia. Conciliava esse trabalho com os estudos universitários desde 2011.

Sentiu discriminação nestes 17 anos? Diz que não, mas não é tudo cor de rosa. Exercer Direito pode ser uma ameaça, pode ser vista como alguém que vai tirar oportunidades a outros num mercado de grande concorrência. "Deixei sempre bem claro que não quero trabalhar com portugueses." São os seus compatriotas os clientes que lhe interessam. "Os ucranianos são desconfiados", diz com o tom de quem constata, não o de quem critica. "Cria-se mais confiança do que com os advogados portugueses. É mais fácil recorrer a uma pessoa que está aqui e no mesmo patamar de entendimento", afirma, num português bem falado e um ligeiro sotaque. "A minha área não é igual à os portugueses, não prejudico ninguém", defende.

O canudo abre-lhe, também, mais oportunidades na Ucrânia, mas não tenciona voltar "também por causa do meu filho".

"Praticamente não conhece a Ucrânia, apesar de passar férias e saber a língua." Uma língua que aprendeu facilmente nessas viagens, mas que não pratica em casa. "Estamos em Portugal, falamos português, mas com os avós fala ucraniano. Eu respeito". Para ela? "Já estou acostumada, é igual. A felicidade não consiste apenas no bem-estar material."

Adotou, como o filho, a nacionalidade portuguesa. "Fazemos um exame de língua portuguesa ao fim de cinco anos, entregamos os documentos e esperamos." Conserva a ucraniana, que é, na prática, o que fazem todos os cidadãos deste país. Só uma advogada para o esclarecer: "Existe uma lacuna na lei. Não diz se é possível ou não ter dupla nacionalidade."

Iryna é, ao mesmo tempo, parte das estatísticas que nos falam do aumento de alunos de Leste, parte dos números que nos falam do aumento de ucranianos que se tornam portugueses e mãe de uma ucraniano de segunda geração.

Alexandre, agora com 15 anos, apoiou muito a mãe. "Ele gosta muito de cozinhar, não é por acaso que escolhei um curso de culinária, cozinhava o jantar quando eu vinha da universidade", diz, como quem dá um exemplo desse apoio.

A professora Lucinda Fonseca reconhece à comunidade de Leste, e por maioria, aos ucranianos, uma exigência ímpar, que viu nos seus estudos de campo no Alentejo, no boom da imigração de Leste. "Um pai contou-me que achava que na escola portuguesa só se brincava e que não queria os filhos a estudarem em Portugal". Outro casal mudou-se de um monte isolado para Évora para que a descendência pudesse estudar.

Iryna diz que não é uma mãe rígida. "É disciplina", contrapõe. "Ele tem de fazer as coisas dele", frisa. "Desde que foi para a escola que trata da mala dele, eu só tratava da roupinha". Ela é herdeira desse respeito pela escola estudado pela professora Lucinda Canelas e alguém que o inculca ao filho. "Sempre estudei e é muito bom. Nunca se sabe o que se vai passar na vida".

Tamila Holub nasceu na Ucrânia, veio para Portugal com três anos, faz natação e representou Portugal nos Jogos OlímpicosOrlando Almeida / Global Imagens

Tamila, a esperança da natação

Tamila Holub, 17 anos, podia dar uma versão distinta da educação ucraniana. "A minha mãe é muito rigorosa." Por exemplo, foi da mãe que partiu a ideia de ir a correr para a piscina todas as manhãs, às 06.00, com a mochila dos livros à escola, antes de entrar na água às 07.00 e fazer o treino diário.A filha atribui o método da mãe à sua educação soviética e não a critica.

Passou agora para o 12,º ano e, para lá da natação, ler o tempo todo é o que a distingue. Para os campeonatos nacionais de natação, que se realizaram nas Piscinas do Jamor, no final de julho. tinha trazido um livro de José Rodrigues dos Santos.

Ela é um caso de bom desempenho escolar, aliado ao desporto de alta competição. Também fez parte da comitiva olímpica que foi ao Rio de Janeiro. Ter nacionalidade foi decisivo no seu percurso desportivo. "Se os meus pais tinham dúvidas, a natação decidiu tudo", diz Tamila, após a apresentação da equipa de natação que foi aos Jogos, no Jamor, antes de entrar na piscina para uma prova do campeonato nacional.

Diz que a natação a ajudou a integrar-se na altura do 5.º ano. Ao contrário de Tsanko, diz que os seus amigos são, na maioria, portugueses. Isto apesar de manter forte relação com a comunidade. A mãe, professora, tem uma escola de línguas para quem quer aprender russo e ucraniano.

Se mantivesse a nacionalidade ucraniana, o país onde nasceu, as maiores competições da modalidade desportiva estar-lhe-iam vedadas, como lhe aconteceu um ano, em que participou como "extra". Competir pela Ucrânia nunca esteve em cima mesa, de qualquer forma. "Foi aqui comecei, foi aqui que sofri", assegura Tamila, que vive em Portugal desde os três anos e denuncia pelo sotaque o local onde mora: Braga. Ela e a família fazem parte dos 13, 1% da população estrangeira que vive na região Norte, segundo os Censos de 2011. Uma percentagem inferior à do Centro (13,9%) e à da Grande Lisboa (51,6%) , mas superior à da Madeira (1,4%), aos Açores (0,8%) e ao Alentejo (6%).

Tamila vive em Portugal desde os três anos. Mas em casa dos Holub quem leva a palma do portuguesismo é a irmã pequenina, Sofia. "É portuguesa, portuguesa. Os pratos favoritos são arroz e bacalhau."

marcar artigo