W. B. Yeats e Maud Gonne.

18-09-2019
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(Créditos. Recomendo a leitura.)

M aud Gonne MacBridge (1866-1953) foi atriz e feminista. Lutou contra o domínio britânico, batalhando pelo nacionalismo irlandês. Fundou, em 1900 mais ou menos, a Daughter’s of Ireland, sociedade feminina revolucionária. Yeats foi apaixonado por ela durante um tempo (talvez tenha sido pela vida toda; mas, durante duas décadas ao menos, o foi intensamente). A pediu em casamento várias e várias vezes. E ela certa feita escreveu, respondendo às queixas do poeta de que ele jamais seria feliz sem ela: Oh sim, você é pois você fez poesia das mais lindas do que você chama de infelicidade e você é feliz nisso. O casamento deveria ser um assunto maçante. O mundo deveria me agradecer por não casar com você. aud Gonne MacBridge (1866-1953) foi atriz e feminista. Lutou contra o domínio britânico, batalhando pelo nacionalismo irlandês. Fundou, em 1900 mais ou menos, a, sociedade feminina revolucionária. Yeats foi apaixonado por ela durante um tempo (talvez tenha sido pela vida toda; mas, durante duas décadas ao menos, o foi intensamente). A pediu em casamento várias e várias vezes. E ela certa feita escreveu, respondendo às queixas do poeta de que ele jamais seria feliz sem ela: Lembra-me, de imediato, Lilia Brik negando os pedidos de casamento de Maiakóvski pois não queria entrar para a história como “a mulher de Beethoven”. A sombra de um grande homem. Não entro na questão de se entraram ou não. A resposta para tal pergunta simplesmente não importa (e tenho a convicção de que quem a discute com “seriedade” só pode ser um idiota). Basta assinalarmos aqui o fato de que No second Troy é seguramente um dos mais belos poemas de amor de toda a tradição Ocidental especialmente graças ao fato de não cair no patético do male tears. Quando disse, por exemplo, que Yeats pediu Maud várias e várias vezes em casamento, entenda-se: quatro vezes até a escrita do poema que vocês leem. Assim, é muito bonito ver Yeats celebrando Maud pelo que ela foi e não pelo fato dela ter sido uma espécie de ingrata por não ter se submetido à beleza de seus belos poemas. Yeats celebrou Maud por quem ela foi: intensa. “(…) não só porque ela era bela, mas porque esta beleza sugeria alegria e liberdade.”

Yeats and Maud Gonne: (auto)biographical and artistic intersection ( Quem quiser ler um pouco mais sobre a história de Yeats e Maud, poderá conferir aqui ). Compilo, logo abaixo, todas as traduções que consegui achar deste tão belo poema de Yeats. O leitor poderá notar muitos projetos tradutórios distintos. Para agradar a gregos e troianos.

NO SECOND TROY.

WHY should I blame her that she filled my days

With misery, or that she would of late

Have taught to ignorant men most violent ways,

Or hurled the little streets upon the great,

Had they but courage equal to desire?

What could have made her peaceful with a mind

That nobleness made simple as a fire,

With beauty like a tightened bow, a kind

That is not natural in an age like this,

Being high and solitary and most stern?

Why, what could she have done being what she is?

Was there another Troy for her to burn? § NENHUMA TRÓIA A MAIS.

trad. Augusto de Campos. in: Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, : Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, aqui Poesia da Recusa, editora Perspectiva, 2006. Por que culpá-la se ela encheu meus dias

De mágoa, ou se incitou às tropelias

Os ignorantes e jogou com vidas,

Pondo as vielas contra as avenidas,

Quando eles tinham ousadia e flama?

Como fugir a essa pulsão funesta

Que a nobreza fez simples como a chama?

Beleza como um arco tenso, raça

Estranha a uma era como esta,

E cruel, de tão alta e singular?

Que poderia ela contra a graça?

Que Tróia a mais teria que incendiar? § NENHUMA NOVA TRÓIA.

trad. Nelson Ascher. in: Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, : Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, aqui Devo culpá-la por encher meus dias

de miséria, ou por ter levado à crua

violência a ralé toda e vadia,

ou lançado as ruelas contra as ruas,

se achassem mais coragem que desejo?

Como acalmar-lhe o afã, cuja nobreza

tornava-o simples como a chama acesa,

sendo formosa como um arco teso,

altiva e solitária e tão severa –

algo incomum num tempo destes? Logo,

que podia fazer, sendo quem era?

Havia nova Tróia em que pôr fogo? § SEGUNDA TRÓIA.

trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. in: aqui;

Poemas de W. B. Yeats, editora Art, 1987. Poemas de W. B. Yeats, editora Art, 1987. Por que hei de a censurar por ter-me enchido os dias

De miséria, ou por ter em horas não distantes

Ensinado a violência a homens ignorantes

Ou lançado as pequenas ruas contra as grandes, Tivessem a bravura igual à aspiração?

Como traria ela paz com sua mente

Que a nobreza fez simples, simples como o fogo,

Com uma beleza de arco tenso, uma versão Que não é natural em tempo como o nosso,

Por isolada e alta e austera e singular?

Que poderia ela ter feito, sendo o que é?

Havia nova Tróia para ela queimar? § SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Paulo Vizioli. in: aqui;

Poemas, editora Companhia das Letras, 1992. Poemas, editora Companhia das Letras, 1992. Por que culpá-la por encher minha existência

De miséria e, mais tarde, enquanto a ação expande,

Aos ignorantes ensinar a violência,

Ou atirar rua pequena contra grande,

Mesmo sem a coragem que o anelar reclama?

Como seria tranquila, com aquela mente

Que a nobreza moldou singela como a flama?

Ou com o encanto do arco retesado, um ente

Não natural em nosso mundo, por seu jeito

Muito severo e sempre altivo e singular?

Ora, sendo como é, que mais teria feito?

Havia nova Tróia para ela queimar? § SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Renato Suttana. in: site pessoal do tradutor, : site pessoal do tradutor, aqui Por que inculpá-la dos inúmeros tormentos

com que me carregou, ou por ter ensinado

aos ignorantes meios rudes e violentos,

ou por ter contra o grande o pequeno incitado,

houvesse neste audácia igual ao seu desejo?

O que a colocaria em paz, com uma mente

que a nobreza tornou simples como um lampejo,

bela como a tensão de um arco – o que atualmente

não é tão natural, nem fácil de encontrar,

sendo alta, e solitária, e muito altiva enfim?

Que mais teria ela empreendido, sendo assim?

Mais uma Troia, então, para ela incendiar? § A SEGUNDA TRÓIA.

trad. Éric Ponty. in: site pessoal do tradutor, : site pessoal do tradutor, aqui Por que razão, me culpar se ela preenche meus dias

com sofrimento, ou que ela seria tardia

por ter educado aos inábeis dos homens os mais impetuosos,

ou esparzidos há pouco pelas ruas sobre a grande,

eles traziam, mas coragem idêntica à vontade?

O que poderia ter feito da sua tranquila reflexão

se nobreza tornou-se simples conflagração,

com o encanto, dum desígnio, num fulano constringente

isso não é adequado, numa época como esta

sendo superiora e solitária e mais austera?

Por isso, o que ela poderia ter feito ao ser o que ela é?

Existiu outra Troia para ela conflagrar?

§

SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Joaquim Manuel Magalhães e Maria Leonor Telles.

in: aqui.

Não a censuro pelos sofrimentos

De que me encheu a vida, ou por tentar

Levar a turba a gestos tão violentos,

Ou a ruelas contra as ruas atirar

Se o desejo lhes desse o atrevimento.

Não a deixa ser plácida a nobreza

Que lhe apurou, qual fogo, o pensamento,

E o arco tenso que é a tua beleza,

Fora do natural da nossa era,

Por sublime e solitária e austera.

Sendo o que é, que podia ela fazer,

Sem outra Tróia para pôr a arder?

§

UMA ÚNICA TRÓIA.

trad. Rafael Rocha Daud.

in: aqui.

Com que encheu meus dias, ou que ela ao fim

Tenha ensinado a dureza aos incultos,

Ou lançado contra o grande o pequeno,

Em quem só a coragem iguala a vontade?

Que causa podia acalmar esse espírito

Que a nobreza fez simples como fogo,

Bela como um arco esticado — coisa

pouco natural numa idade assim –

e solitária como num altar?

Que lhe restava, se ainda era ela,

Sem segunda Tróia para queimar? § Como irei culpá-la pela tristezaCom que encheu meus dias, ou que ela ao fimTenha ensinado a dureza aos incultos,Ou lançado contra o grande o pequeno,Em quem só a coragem iguala a vontade?Que causa podia acalmar esse espíritoQue a nobreza fez simples como fogo,Bela como um arco esticado — coisapouco natural numa idade assim –e solitária como num altar?Que lhe restava, se ainda era ela,Sem segunda Tróia para queimar? SEM NOVA TROIA.

trad. Guilherme Gontijo Flores. in: caixa de comentários, logo abaixo. Por que culpá-la por sua presença

me encher de mágoa, ou por votar a vida

para ensinar aos brutos violência,

ou sorver servidão em avenida,

quando tinham desejos e ousadia?

O que traria paz à mente tersa

que a honra feito um simples fogo ardia,

e bela feito um arco teso, inversa

ao que num tempo tal podemos ver,

excelsa e solitária e tão severa?

Por quê e o que faria, se assim era?

Havia uma outra Troia por arder? § NENHUMA OUTRA TROIA.

trad. Júlia Rodrigues. in: Zúnai, : Zúnai, aqui Por que culpá-la por ter enchido de miséria

Meus dias, ou por ter há horas corridas

Ensinado a ignorantes violenta matéria,

Ou atirado ruas estreitas contra avenidas,

Tiveram eles coragem tal como o desejo?

O que a teria feito pacífica com um espírito

De nobreza simples como um lampejo,

Com beleza como a de um arco rígido,

Espécie anormal em uma época assim,

Sendo austera, solitária e elevada?

Por que, sendo o que é, o que teria feito por fim?

Haveria para ela outra Troia a ser queimada? ■ (Créditos. Recomendo a leitura.) T ambém dedicado a Maud Gonne e próximo a No Second Troy é The folly of being comforted, com a diferença, claro, de que The folly of being comforted ressalta aquilo que muitos intérpretes de Yeats notam: a fenda existente entre a teoria e a prática do amor em sua poesia, raras vezes superada (e No second Troy é um exemplo). Foi publicado no livro In the seven woods, de 1904 (No second Troy é do Responsibilities, dez anos depois), e possui duas versões: uma de 1902 e outra de 1921 (o leitor pode compará-las “The fire that stirs about her, when she stirs” foi classificado por Ezra Pound como exemplo perfeito de verso perfeito (tanto no ABC da Literatura quanto no A retrospect/A few dont’s e no The later Yeats). Uma análise simples e precisa é a de Cinthia de Oliveira Andrade, “regular iambic throb” (Mark Alexander, “all the wild Summer” convertido simplesmente em “Verão”, e a referência “Heart! O heart!” que, tornando-se apenas “Eu”, perde muito do tom de falsa impessoalidade do original. E como alteração, cito o “make (…) over again” do verso 8. ambém dedicado a Maud Gonne e próximo a, com a diferença, claro, de queressalta aquilo que muitos intérpretes de Yeats notam: a fenda existente entre a teoria e a prática do amor em sua poesia, raras vezes superada (eé um exemplo). Foi publicado no livro, de 1904 (é do, dez anos depois), e possui duas versões: uma de 1902 e outra de 1921 (o leitor pode compará-las aqui ). Todas as traduções abaixo são baseadas na de 1921. O versofoi classificado por Ezra Pound como exemplo perfeito de verso perfeito (tanto noquanto noe no). Uma análise simples e precisa é a de Cinthia de Oliveira Andrade, aqui . Uma análise mais formal pode ser vista aqui . Logo abaixo, forneço minha tradução para o poema. Mantive o decassílabo para o(Mark Alexander, aqui ) mas tive que adotar um esquema de rimas diferente do original, espécie de soneto todo em rimas parelhas. Dos cortes efetuados, destacoconvertido simplesmente em “Verão”, e a referênciaque, tornando-se apenas “Eu”, perde muito do tom de falsa impessoalidade do original. E como alteração, cito odo verso 8.

§

THE FOLLY OF BEING COMFORTED.

One that is ever kind said yesterday:

‘Your well-beloved’s hair has threads of grey,

And little shadows come about her eyes;

Time can but make it easier to be wise

Though now it seems impossible, and so

All that you need is patience.’

Heart cries, ‘No,

I have not a crumb of comfort, not a grain.

Time can but make her beauty over again:

Because of that great nobleness of hers

The fire that stirs about her, when she stirs,

Burns but more clearly. O she had not these ways

When all the wild Summer was in her gaze.’

Heart! O heart! if she’d but turn her head,

You’d know the folly of being comforted.

§ A TOLICE DE SER CONSOLADO.

in: Musa Rara, outubro de 2013, : Musa Rara, outubro de 2013, aqui trad. Clarice Goulart e Leo Gonçalves. Alguém ontem disse-me com seu doce ar:

“A fronte de tua amada começa a pratear

E ao redor dos olhos surge uma sombra leve;

O tempo te trará sabedoria em breve.

Por enquanto parece impossível, portanto

Sejas paciente.”

O peito grita, no entanto:

“Não vejo gota de consolo, nem farelo.

O tempo só reforça o belo e o faz mais belo

E essa grande nobreza que nela habita?

O fogo que a agita, quando ela se agita,

Arde mais forte. Oh, ela não tinha esses modos

Quando se via o Verão em seus jovens olhos.” Oh, Coração! se ela tivesse se voltado

Verias a tolice que é ser consolado.

§

A TOLICE QUE É SER CONSOLADO.

trad. presumivelmente de Paulo Vizioli.

in: aqui;

Com o seu tom gentil ontem me disse alguém:

” Há fios brancos na cabeça de seu bem,

E uma pequena sombra os olhos lhe assedia;

Porém, o tempo apenas traz sabedoria,

Ainda que agora não me creia, é uma questão

Só de paciência”

“Não”, protesta o coração;

“Não sinto um pingo de consolo, o menos tanto.

O que o tempo lhe faz é renovar o encanto:

Com a sua nobreza sempre tão bonita,

O fogo que ela incita quando ela se agita

Apenas arde mais. Oh não, não tinha esse ar

Quando verão selvagem era o seu olhar.”

Oh coração! Se ela tivesse se virado,

Saberia a tolice que é ser consolado.

§ TOLO É SER CONSOLADO. trad. eu. Ontem alguém me disse com ternura: “Tua amada já tem seus fios brancos E sua vista aos poucos fica escura. Por impossível que pareça, os anos Deixarão mais fácil ser sábio. Então Paciência.” Mas grita o coração: “Nada de nada me consola. Nada. Os anos só a irão deixar bonita: Graças à sua índole elevada, O ardor que a agita, quando ela se agita, Arde mais. E ela não tinha esse ar Quando havia um Verão em seu olhar.” Ai!, mas se ela tivesse se voltado!… Eu veria: tolo é ser consolado.

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(Créditos. Recomendo a leitura.)

M aud Gonne MacBridge (1866-1953) foi atriz e feminista. Lutou contra o domínio britânico, batalhando pelo nacionalismo irlandês. Fundou, em 1900 mais ou menos, a Daughter’s of Ireland, sociedade feminina revolucionária. Yeats foi apaixonado por ela durante um tempo (talvez tenha sido pela vida toda; mas, durante duas décadas ao menos, o foi intensamente). A pediu em casamento várias e várias vezes. E ela certa feita escreveu, respondendo às queixas do poeta de que ele jamais seria feliz sem ela: Oh sim, você é pois você fez poesia das mais lindas do que você chama de infelicidade e você é feliz nisso. O casamento deveria ser um assunto maçante. O mundo deveria me agradecer por não casar com você. aud Gonne MacBridge (1866-1953) foi atriz e feminista. Lutou contra o domínio britânico, batalhando pelo nacionalismo irlandês. Fundou, em 1900 mais ou menos, a, sociedade feminina revolucionária. Yeats foi apaixonado por ela durante um tempo (talvez tenha sido pela vida toda; mas, durante duas décadas ao menos, o foi intensamente). A pediu em casamento várias e várias vezes. E ela certa feita escreveu, respondendo às queixas do poeta de que ele jamais seria feliz sem ela: Lembra-me, de imediato, Lilia Brik negando os pedidos de casamento de Maiakóvski pois não queria entrar para a história como “a mulher de Beethoven”. A sombra de um grande homem. Não entro na questão de se entraram ou não. A resposta para tal pergunta simplesmente não importa (e tenho a convicção de que quem a discute com “seriedade” só pode ser um idiota). Basta assinalarmos aqui o fato de que No second Troy é seguramente um dos mais belos poemas de amor de toda a tradição Ocidental especialmente graças ao fato de não cair no patético do male tears. Quando disse, por exemplo, que Yeats pediu Maud várias e várias vezes em casamento, entenda-se: quatro vezes até a escrita do poema que vocês leem. Assim, é muito bonito ver Yeats celebrando Maud pelo que ela foi e não pelo fato dela ter sido uma espécie de ingrata por não ter se submetido à beleza de seus belos poemas. Yeats celebrou Maud por quem ela foi: intensa. “(…) não só porque ela era bela, mas porque esta beleza sugeria alegria e liberdade.”

Yeats and Maud Gonne: (auto)biographical and artistic intersection ( Quem quiser ler um pouco mais sobre a história de Yeats e Maud, poderá conferir aqui ). Compilo, logo abaixo, todas as traduções que consegui achar deste tão belo poema de Yeats. O leitor poderá notar muitos projetos tradutórios distintos. Para agradar a gregos e troianos.

NO SECOND TROY.

WHY should I blame her that she filled my days

With misery, or that she would of late

Have taught to ignorant men most violent ways,

Or hurled the little streets upon the great,

Had they but courage equal to desire?

What could have made her peaceful with a mind

That nobleness made simple as a fire,

With beauty like a tightened bow, a kind

That is not natural in an age like this,

Being high and solitary and most stern?

Why, what could she have done being what she is?

Was there another Troy for her to burn? § NENHUMA TRÓIA A MAIS.

trad. Augusto de Campos. in: Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, : Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, aqui Poesia da Recusa, editora Perspectiva, 2006. Por que culpá-la se ela encheu meus dias

De mágoa, ou se incitou às tropelias

Os ignorantes e jogou com vidas,

Pondo as vielas contra as avenidas,

Quando eles tinham ousadia e flama?

Como fugir a essa pulsão funesta

Que a nobreza fez simples como a chama?

Beleza como um arco tenso, raça

Estranha a uma era como esta,

E cruel, de tão alta e singular?

Que poderia ela contra a graça?

Que Tróia a mais teria que incendiar? § NENHUMA NOVA TRÓIA.

trad. Nelson Ascher. in: Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, : Folha de São Paulo, fevereiro de 1984, aqui Devo culpá-la por encher meus dias

de miséria, ou por ter levado à crua

violência a ralé toda e vadia,

ou lançado as ruelas contra as ruas,

se achassem mais coragem que desejo?

Como acalmar-lhe o afã, cuja nobreza

tornava-o simples como a chama acesa,

sendo formosa como um arco teso,

altiva e solitária e tão severa –

algo incomum num tempo destes? Logo,

que podia fazer, sendo quem era?

Havia nova Tróia em que pôr fogo? § SEGUNDA TRÓIA.

trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. in: aqui;

Poemas de W. B. Yeats, editora Art, 1987. Poemas de W. B. Yeats, editora Art, 1987. Por que hei de a censurar por ter-me enchido os dias

De miséria, ou por ter em horas não distantes

Ensinado a violência a homens ignorantes

Ou lançado as pequenas ruas contra as grandes, Tivessem a bravura igual à aspiração?

Como traria ela paz com sua mente

Que a nobreza fez simples, simples como o fogo,

Com uma beleza de arco tenso, uma versão Que não é natural em tempo como o nosso,

Por isolada e alta e austera e singular?

Que poderia ela ter feito, sendo o que é?

Havia nova Tróia para ela queimar? § SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Paulo Vizioli. in: aqui;

Poemas, editora Companhia das Letras, 1992. Poemas, editora Companhia das Letras, 1992. Por que culpá-la por encher minha existência

De miséria e, mais tarde, enquanto a ação expande,

Aos ignorantes ensinar a violência,

Ou atirar rua pequena contra grande,

Mesmo sem a coragem que o anelar reclama?

Como seria tranquila, com aquela mente

Que a nobreza moldou singela como a flama?

Ou com o encanto do arco retesado, um ente

Não natural em nosso mundo, por seu jeito

Muito severo e sempre altivo e singular?

Ora, sendo como é, que mais teria feito?

Havia nova Tróia para ela queimar? § SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Renato Suttana. in: site pessoal do tradutor, : site pessoal do tradutor, aqui Por que inculpá-la dos inúmeros tormentos

com que me carregou, ou por ter ensinado

aos ignorantes meios rudes e violentos,

ou por ter contra o grande o pequeno incitado,

houvesse neste audácia igual ao seu desejo?

O que a colocaria em paz, com uma mente

que a nobreza tornou simples como um lampejo,

bela como a tensão de um arco – o que atualmente

não é tão natural, nem fácil de encontrar,

sendo alta, e solitária, e muito altiva enfim?

Que mais teria ela empreendido, sendo assim?

Mais uma Troia, então, para ela incendiar? § A SEGUNDA TRÓIA.

trad. Éric Ponty. in: site pessoal do tradutor, : site pessoal do tradutor, aqui Por que razão, me culpar se ela preenche meus dias

com sofrimento, ou que ela seria tardia

por ter educado aos inábeis dos homens os mais impetuosos,

ou esparzidos há pouco pelas ruas sobre a grande,

eles traziam, mas coragem idêntica à vontade?

O que poderia ter feito da sua tranquila reflexão

se nobreza tornou-se simples conflagração,

com o encanto, dum desígnio, num fulano constringente

isso não é adequado, numa época como esta

sendo superiora e solitária e mais austera?

Por isso, o que ela poderia ter feito ao ser o que ela é?

Existiu outra Troia para ela conflagrar?

§

SEM SEGUNDA TRÓIA.

trad. Joaquim Manuel Magalhães e Maria Leonor Telles.

in: aqui.

Não a censuro pelos sofrimentos

De que me encheu a vida, ou por tentar

Levar a turba a gestos tão violentos,

Ou a ruelas contra as ruas atirar

Se o desejo lhes desse o atrevimento.

Não a deixa ser plácida a nobreza

Que lhe apurou, qual fogo, o pensamento,

E o arco tenso que é a tua beleza,

Fora do natural da nossa era,

Por sublime e solitária e austera.

Sendo o que é, que podia ela fazer,

Sem outra Tróia para pôr a arder?

§

UMA ÚNICA TRÓIA.

trad. Rafael Rocha Daud.

in: aqui.

Com que encheu meus dias, ou que ela ao fim

Tenha ensinado a dureza aos incultos,

Ou lançado contra o grande o pequeno,

Em quem só a coragem iguala a vontade?

Que causa podia acalmar esse espírito

Que a nobreza fez simples como fogo,

Bela como um arco esticado — coisa

pouco natural numa idade assim –

e solitária como num altar?

Que lhe restava, se ainda era ela,

Sem segunda Tróia para queimar? § Como irei culpá-la pela tristezaCom que encheu meus dias, ou que ela ao fimTenha ensinado a dureza aos incultos,Ou lançado contra o grande o pequeno,Em quem só a coragem iguala a vontade?Que causa podia acalmar esse espíritoQue a nobreza fez simples como fogo,Bela como um arco esticado — coisapouco natural numa idade assim –e solitária como num altar?Que lhe restava, se ainda era ela,Sem segunda Tróia para queimar? SEM NOVA TROIA.

trad. Guilherme Gontijo Flores. in: caixa de comentários, logo abaixo. Por que culpá-la por sua presença

me encher de mágoa, ou por votar a vida

para ensinar aos brutos violência,

ou sorver servidão em avenida,

quando tinham desejos e ousadia?

O que traria paz à mente tersa

que a honra feito um simples fogo ardia,

e bela feito um arco teso, inversa

ao que num tempo tal podemos ver,

excelsa e solitária e tão severa?

Por quê e o que faria, se assim era?

Havia uma outra Troia por arder? § NENHUMA OUTRA TROIA.

trad. Júlia Rodrigues. in: Zúnai, : Zúnai, aqui Por que culpá-la por ter enchido de miséria

Meus dias, ou por ter há horas corridas

Ensinado a ignorantes violenta matéria,

Ou atirado ruas estreitas contra avenidas,

Tiveram eles coragem tal como o desejo?

O que a teria feito pacífica com um espírito

De nobreza simples como um lampejo,

Com beleza como a de um arco rígido,

Espécie anormal em uma época assim,

Sendo austera, solitária e elevada?

Por que, sendo o que é, o que teria feito por fim?

Haveria para ela outra Troia a ser queimada? ■ (Créditos. Recomendo a leitura.) T ambém dedicado a Maud Gonne e próximo a No Second Troy é The folly of being comforted, com a diferença, claro, de que The folly of being comforted ressalta aquilo que muitos intérpretes de Yeats notam: a fenda existente entre a teoria e a prática do amor em sua poesia, raras vezes superada (e No second Troy é um exemplo). Foi publicado no livro In the seven woods, de 1904 (No second Troy é do Responsibilities, dez anos depois), e possui duas versões: uma de 1902 e outra de 1921 (o leitor pode compará-las “The fire that stirs about her, when she stirs” foi classificado por Ezra Pound como exemplo perfeito de verso perfeito (tanto no ABC da Literatura quanto no A retrospect/A few dont’s e no The later Yeats). Uma análise simples e precisa é a de Cinthia de Oliveira Andrade, “regular iambic throb” (Mark Alexander, “all the wild Summer” convertido simplesmente em “Verão”, e a referência “Heart! O heart!” que, tornando-se apenas “Eu”, perde muito do tom de falsa impessoalidade do original. E como alteração, cito o “make (…) over again” do verso 8. ambém dedicado a Maud Gonne e próximo a, com a diferença, claro, de queressalta aquilo que muitos intérpretes de Yeats notam: a fenda existente entre a teoria e a prática do amor em sua poesia, raras vezes superada (eé um exemplo). Foi publicado no livro, de 1904 (é do, dez anos depois), e possui duas versões: uma de 1902 e outra de 1921 (o leitor pode compará-las aqui ). Todas as traduções abaixo são baseadas na de 1921. O versofoi classificado por Ezra Pound como exemplo perfeito de verso perfeito (tanto noquanto noe no). Uma análise simples e precisa é a de Cinthia de Oliveira Andrade, aqui . Uma análise mais formal pode ser vista aqui . Logo abaixo, forneço minha tradução para o poema. Mantive o decassílabo para o(Mark Alexander, aqui ) mas tive que adotar um esquema de rimas diferente do original, espécie de soneto todo em rimas parelhas. Dos cortes efetuados, destacoconvertido simplesmente em “Verão”, e a referênciaque, tornando-se apenas “Eu”, perde muito do tom de falsa impessoalidade do original. E como alteração, cito odo verso 8.

§

THE FOLLY OF BEING COMFORTED.

One that is ever kind said yesterday:

‘Your well-beloved’s hair has threads of grey,

And little shadows come about her eyes;

Time can but make it easier to be wise

Though now it seems impossible, and so

All that you need is patience.’

Heart cries, ‘No,

I have not a crumb of comfort, not a grain.

Time can but make her beauty over again:

Because of that great nobleness of hers

The fire that stirs about her, when she stirs,

Burns but more clearly. O she had not these ways

When all the wild Summer was in her gaze.’

Heart! O heart! if she’d but turn her head,

You’d know the folly of being comforted.

§ A TOLICE DE SER CONSOLADO.

in: Musa Rara, outubro de 2013, : Musa Rara, outubro de 2013, aqui trad. Clarice Goulart e Leo Gonçalves. Alguém ontem disse-me com seu doce ar:

“A fronte de tua amada começa a pratear

E ao redor dos olhos surge uma sombra leve;

O tempo te trará sabedoria em breve.

Por enquanto parece impossível, portanto

Sejas paciente.”

O peito grita, no entanto:

“Não vejo gota de consolo, nem farelo.

O tempo só reforça o belo e o faz mais belo

E essa grande nobreza que nela habita?

O fogo que a agita, quando ela se agita,

Arde mais forte. Oh, ela não tinha esses modos

Quando se via o Verão em seus jovens olhos.” Oh, Coração! se ela tivesse se voltado

Verias a tolice que é ser consolado.

§

A TOLICE QUE É SER CONSOLADO.

trad. presumivelmente de Paulo Vizioli.

in: aqui;

Com o seu tom gentil ontem me disse alguém:

” Há fios brancos na cabeça de seu bem,

E uma pequena sombra os olhos lhe assedia;

Porém, o tempo apenas traz sabedoria,

Ainda que agora não me creia, é uma questão

Só de paciência”

“Não”, protesta o coração;

“Não sinto um pingo de consolo, o menos tanto.

O que o tempo lhe faz é renovar o encanto:

Com a sua nobreza sempre tão bonita,

O fogo que ela incita quando ela se agita

Apenas arde mais. Oh não, não tinha esse ar

Quando verão selvagem era o seu olhar.”

Oh coração! Se ela tivesse se virado,

Saberia a tolice que é ser consolado.

§ TOLO É SER CONSOLADO. trad. eu. Ontem alguém me disse com ternura: “Tua amada já tem seus fios brancos E sua vista aos poucos fica escura. Por impossível que pareça, os anos Deixarão mais fácil ser sábio. Então Paciência.” Mas grita o coração: “Nada de nada me consola. Nada. Os anos só a irão deixar bonita: Graças à sua índole elevada, O ardor que a agita, quando ela se agita, Arde mais. E ela não tinha esse ar Quando havia um Verão em seu olhar.” Ai!, mas se ela tivesse se voltado!… Eu veria: tolo é ser consolado.

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