PJ varre partidos e autarquias. Sérgio Azevedo é um dos principais suspeitos

20-07-2018
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As autoridades não deram ontem tréguas ao PS e ao PSD. O deputado social-democrata Sérgio Azevedo será um dos principais suspeitos no caso ...

As autoridades não deram ontem tréguas ao PS e ao PSD. O deputado social-democrata Sérgio Azevedo será um dos principais suspeitos no caso “Tutti Frutti”, que investiga várias nomeações de pessoal em várias autarquias e contratos e adjudicações diretas com empresas ligadas a dirigentes políticos do PS e do PSD.
O social-democrata – que foi ontem alvo de buscas domiciliárias – tem várias ligações a empresas e a outros suspeitos envolvidos na investigação do Ministério Público.
Desde logo, Sérgio Azevedo é sócio de Carlos Eduardo Reis, conselheiro nacional do PSD, ex-presidente da JSD de Braga, que tem a empresa Ambigold, que foi ontem alvo de buscas. De acordo com o site do parlamento, Sérgio Azevedo tem 15% do capital social de uma sucursal, precisamente da Ambigold, com sede em Maputo, a AmbiGold InvestMoz, Lda. – ligação que, segundo o Boletim da República de Moçambique, existe desde 2012.
Além disso, Sérgio Azevedo, que foi vice-presidente da bancada do PSD até fevereiro, é amigo de Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, em Lisboa, com quem viajou à China a convite da Huawei, revelou o “Observador” em 2017. O caso da viagem gerou polémica precisamente por causa dos contratos da junta da Estrela – Luís Newton é também um dos suspeitos na operação Tutti Frutti.
Esta será uma das ligações que está na mira dos investigadores da PJ. De acordo com o “Observador”, a freguesia da Estrela firmou um contrato por ajuste direto com a Ambigold no valor de 162 362 mil euros (132 mil euros aos quais acresce IVA). O contrato foi celebrado a 28 de junho de 2014, mas só publicitado no portal Base a 24 de julho de 2017 – três anos depois de ter sido assinado.
Mas há outras ligações de Sérgio Azevedo ao caso. A freguesia da Estrela contratou também por ajuste direto a empresa Informatem, de Henrique Muacho, outro social-democrata. De acordo com uma notícia publicada por aquele jornal online, foi Sérgio Azevedo que apresentou Henrique Muacho a Luís Newton.
O i sabe que Henrique Muacho é outro dos suspeitos do caso “Tutti Frutti”. Recorde-se que Henrique Muacho chegou a apresentar-se como candidato, nas últimas autárquicas, à união de freguesias de Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto. Acabou por retirar a candidatura depois de o i ter avançado que o candidato, que fazia parte da lista de Fernando Seara para a Câmara de Odivelas, estava acusado de sete crimes e a ser julgado num processo que envolvia corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, branqueamento e abuso de poder.
Mas as buscas e as suspeitas não ficam por aqui. A alegada rede de contratações de empresas por ligações partidárias alastra-se a todo o país e envolve ainda Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Nuno Firmo, tesoureiro da mesma junta, e Nuno Vitoriano, que trabalha na Câmara de Lisboa.
No total, a PJ realizou durante todo o dia de ontem 70 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a escritórios de advogados, autarquias, sociedades e instalações partidárias, em diversas zonas geográficas de Portugal continental e Açores.
Entre as autarquias alvo de buscas está a de Lisboa, Vila Nova de Gaia, Santa Maria da Feira, Esposende, Famalicão, Barcelos, Oeiras, Cascais, Golegã, Ponta Delgada, Marinha Grande, Póvoa de Lanhoso ou Loures, avançou a “Sábado”. Foram ainda alvo de buscas as freguesias de Benfica, Arruda, Santo António, Estrela, Alvalade, Parque das Nações, Penha de França, Areeiro e Carnaxide, de acordo com a revista.
As diligências alargaram-se às sedes do PS e do PSD em Lisboa assim como à Comissão Distrital de Lisboa do PSD e à Federação da Área Urbana de Lisboa do PS – os inspetores terão recolhido faturas e as listas de partidários.
Em causa estão crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido.
Direção do PSD distancia-se Contactado pelo i, o deputado do PSD Sérgio Azevedo garantiu que não é arguido no âmbito da operação “Tutti Frutti” e que a PJ não terá pedido que lhe fosse levantada a imunidade parlamentar. Por isso, o parlamentar não terá intenções de abandonar o cargo de deputado.
Sérgio Azevedo diz ainda desconhecer em que âmbito se enquadraram as buscas, acreditando que o seu envolvimento no caso está ligado à viagem a convite da Huawei – ontem as autoridades apreenderam o seu computador.
A direção do PSD procurou afastar-se da investigação do Ministério Público. “Paga o justo pelo pecador, é como as batatas: uma batata podre contamina todas as outras”, declarou José Silvano, secretário-geral do PSD.
Nos corredores do parlamento e na bancada parlamentar do PSD evita-se falar do processo, mas houve quem estranhasse a declaração pública da direção nacional. Bastaria um comunicado.
Nomeações na Assembleia de Lisboa Na Câmara de Lisboa, os inspetores da PJ fizeram buscas aos gabinetes do presidente da autarquia Fernando Medina, do vice-presidente e presidente da Federação de Lisboa do PS, Vasco Cordeiro. Também o gabinete do vereador do Urbanismo da autarquia, Manuel Salgado, foi alvo de buscas.
De acordo com Fernando Medina, as buscas “não tiveram como objeto diretamente a Câmara Municipal de Lisboa, mas um processo mais vasto”.
O i sabe que os investigadores procuram ligações partidárias nas nomeações de assessores para a Assembleia Municipal e para a Câmara Municipal.
Em dezembro de 2017, o “Sol” avançou que entre novembro e dezembro, após as últimas eleições autárquicas, a Câmara de Lisboa contratou mais de cem assessores e administrativos para este mandato.
Os contratos são justificados como apoio técnico para os deputados autárquicos, para partidos representados na Assembleia Municipal e para o executivo camarário. De acordo com os contratos disponibilizados no portal Base.Gov, nos próximos quatro anos assessores e administrativos vão custar mais de dez milhões de euros aos cofres camarários. É a única autarquia do país onde existe a contratação de assessores para apoio técnico.
Entre os contratados pela autarquia encontra-se, por exemplo, Catarina Gamboa, ex-dirigente da JS e mulher de Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que presta serviço no gabinete de Vasco Cordeiro.

by Ana Petronilho e Cristina Rita via Jornal i

As autoridades não deram ontem tréguas ao PS e ao PSD. O deputado social-democrata Sérgio Azevedo será um dos principais suspeitos no caso ...

As autoridades não deram ontem tréguas ao PS e ao PSD. O deputado social-democrata Sérgio Azevedo será um dos principais suspeitos no caso “Tutti Frutti”, que investiga várias nomeações de pessoal em várias autarquias e contratos e adjudicações diretas com empresas ligadas a dirigentes políticos do PS e do PSD.
O social-democrata – que foi ontem alvo de buscas domiciliárias – tem várias ligações a empresas e a outros suspeitos envolvidos na investigação do Ministério Público.
Desde logo, Sérgio Azevedo é sócio de Carlos Eduardo Reis, conselheiro nacional do PSD, ex-presidente da JSD de Braga, que tem a empresa Ambigold, que foi ontem alvo de buscas. De acordo com o site do parlamento, Sérgio Azevedo tem 15% do capital social de uma sucursal, precisamente da Ambigold, com sede em Maputo, a AmbiGold InvestMoz, Lda. – ligação que, segundo o Boletim da República de Moçambique, existe desde 2012.
Além disso, Sérgio Azevedo, que foi vice-presidente da bancada do PSD até fevereiro, é amigo de Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, em Lisboa, com quem viajou à China a convite da Huawei, revelou o “Observador” em 2017. O caso da viagem gerou polémica precisamente por causa dos contratos da junta da Estrela – Luís Newton é também um dos suspeitos na operação Tutti Frutti.
Esta será uma das ligações que está na mira dos investigadores da PJ. De acordo com o “Observador”, a freguesia da Estrela firmou um contrato por ajuste direto com a Ambigold no valor de 162 362 mil euros (132 mil euros aos quais acresce IVA). O contrato foi celebrado a 28 de junho de 2014, mas só publicitado no portal Base a 24 de julho de 2017 – três anos depois de ter sido assinado.
Mas há outras ligações de Sérgio Azevedo ao caso. A freguesia da Estrela contratou também por ajuste direto a empresa Informatem, de Henrique Muacho, outro social-democrata. De acordo com uma notícia publicada por aquele jornal online, foi Sérgio Azevedo que apresentou Henrique Muacho a Luís Newton.
O i sabe que Henrique Muacho é outro dos suspeitos do caso “Tutti Frutti”. Recorde-se que Henrique Muacho chegou a apresentar-se como candidato, nas últimas autárquicas, à união de freguesias de Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto. Acabou por retirar a candidatura depois de o i ter avançado que o candidato, que fazia parte da lista de Fernando Seara para a Câmara de Odivelas, estava acusado de sete crimes e a ser julgado num processo que envolvia corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, branqueamento e abuso de poder.
Mas as buscas e as suspeitas não ficam por aqui. A alegada rede de contratações de empresas por ligações partidárias alastra-se a todo o país e envolve ainda Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Nuno Firmo, tesoureiro da mesma junta, e Nuno Vitoriano, que trabalha na Câmara de Lisboa.
No total, a PJ realizou durante todo o dia de ontem 70 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a escritórios de advogados, autarquias, sociedades e instalações partidárias, em diversas zonas geográficas de Portugal continental e Açores.
Entre as autarquias alvo de buscas está a de Lisboa, Vila Nova de Gaia, Santa Maria da Feira, Esposende, Famalicão, Barcelos, Oeiras, Cascais, Golegã, Ponta Delgada, Marinha Grande, Póvoa de Lanhoso ou Loures, avançou a “Sábado”. Foram ainda alvo de buscas as freguesias de Benfica, Arruda, Santo António, Estrela, Alvalade, Parque das Nações, Penha de França, Areeiro e Carnaxide, de acordo com a revista.
As diligências alargaram-se às sedes do PS e do PSD em Lisboa assim como à Comissão Distrital de Lisboa do PSD e à Federação da Área Urbana de Lisboa do PS – os inspetores terão recolhido faturas e as listas de partidários.
Em causa estão crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido.
Direção do PSD distancia-se Contactado pelo i, o deputado do PSD Sérgio Azevedo garantiu que não é arguido no âmbito da operação “Tutti Frutti” e que a PJ não terá pedido que lhe fosse levantada a imunidade parlamentar. Por isso, o parlamentar não terá intenções de abandonar o cargo de deputado.
Sérgio Azevedo diz ainda desconhecer em que âmbito se enquadraram as buscas, acreditando que o seu envolvimento no caso está ligado à viagem a convite da Huawei – ontem as autoridades apreenderam o seu computador.
A direção do PSD procurou afastar-se da investigação do Ministério Público. “Paga o justo pelo pecador, é como as batatas: uma batata podre contamina todas as outras”, declarou José Silvano, secretário-geral do PSD.
Nos corredores do parlamento e na bancada parlamentar do PSD evita-se falar do processo, mas houve quem estranhasse a declaração pública da direção nacional. Bastaria um comunicado.
Nomeações na Assembleia de Lisboa Na Câmara de Lisboa, os inspetores da PJ fizeram buscas aos gabinetes do presidente da autarquia Fernando Medina, do vice-presidente e presidente da Federação de Lisboa do PS, Vasco Cordeiro. Também o gabinete do vereador do Urbanismo da autarquia, Manuel Salgado, foi alvo de buscas.
De acordo com Fernando Medina, as buscas “não tiveram como objeto diretamente a Câmara Municipal de Lisboa, mas um processo mais vasto”.
O i sabe que os investigadores procuram ligações partidárias nas nomeações de assessores para a Assembleia Municipal e para a Câmara Municipal.
Em dezembro de 2017, o “Sol” avançou que entre novembro e dezembro, após as últimas eleições autárquicas, a Câmara de Lisboa contratou mais de cem assessores e administrativos para este mandato.
Os contratos são justificados como apoio técnico para os deputados autárquicos, para partidos representados na Assembleia Municipal e para o executivo camarário. De acordo com os contratos disponibilizados no portal Base.Gov, nos próximos quatro anos assessores e administrativos vão custar mais de dez milhões de euros aos cofres camarários. É a única autarquia do país onde existe a contratação de assessores para apoio técnico.
Entre os contratados pela autarquia encontra-se, por exemplo, Catarina Gamboa, ex-dirigente da JS e mulher de Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que presta serviço no gabinete de Vasco Cordeiro.

by Ana Petronilho e Cristina Rita via Jornal i

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