Sónia Paixão. A candidata do PS a Loures que se desmente a si mesma

05-09-2017
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Em apenas 18 horas, a candidata do PS a Loures recuou em quase tudo o que disse na conversa que teve com o Observador na tarde de quinta-feira. Sónia Paixão deu uma conferência de imprensa às 15h desta sexta-feira onde confirmou ter dito que André Ventura, do PSD, “podia dar um bom vereador”, mas alegou agora que se tratava apenas de uma “ironia”. Detalhe: a socialista fê-lo menos de um dia depois de ter escrito um “esclarecimento” no Facebook que foi divulgado por dirigentes do PS como sendo um “desmentido” daquelas palavras.

Mas há mais contradições: depois de ter admitido ao Observador que, se ganhasse a autarquia, poderia fazer um acordo com a CDU (além do PSD), agora a socialista recusa a possibilidade de fazer “qualquer coligação” — mesmo com os comunistas — e afirma que pretende “governar sozinha”. Tudo contraria o que tinha dito um dia antes. O Observador revela mais detalhes da conversa com Sónia Paixão e algumas partes que não foram publicadas — para que se perceba melhor o contexto da conversa — e, assim, evidencia as contradições da candidata socialista.

Quinta-feira, 16h02

Uma conversa para denunciar um conluio da CDU com o PSD

Sónia Paixão foi contactada pelo Observador para uma conversa telefónica, por haver uma indicação de que a candidata tinha elementos para acusar os adversários da CDU e do PSD de estarem a preparar a continuação da sua coligação na câmara de Loures. “Tenho tido telefonemas de várias pessoas de ambas as candidaturas, ligadas aos dois quadrantes políticos, que dão conta de um pré-acordo eleitoral entre a CDU e o PSD”, revelou a socialista. E ainda acusou o presidente da câmara comunista, Bernardino Soares, de “não responder a nenhumas afirmações do candidato André Ventura”.

Nesta primeira conversa com o Observador, acrescentaria ainda que o autarca da CDU nem sequer tinha respondido à polémica dos ciganos: “Relativamente às declarações do Ventura nunca disse nada”, afirmou a candidata — mas essa afirmação não correspondia à verdade, como se pode ver aqui.

A socialista seria mais específica, dizendo que Bernardino Soares devia “tirar a confiança política” ao PSD na vereação por causa das críticas de André Ventura à câmara em matéria de segurança. E insinuava uma explicação para isso não acontecer: “É cobardia de Bernardino Soares, porque Nuno Botelho [vereador com vários pelouros atribuídos pela CDU] é o número dois de André Ventura na lista do PSD”.

Quinta-feira, 20h05

Candidata admite coligações com CDU e com o PSD de André Ventura

Depois de obter as reações da CDU e do PSD às acusações de Sónia Paixão, o Observador voltou a contactar a candidata para perceber se ela própria aceitaria apoiar a CDU — uma vez que o PS governa o país com o apoio do PCP, não seria uma opção estranha.

A primeira reação de Sónia Paixão foi não responder: “A minha orientação é ganhar as eleições”. Isso levou à pergunta seguinte: como em Loures não se perspetiva que nenhum partido tenha maioria, se ganhasse aceitaria o apoio da CDU para governar? A candidata, que já tinha sido vereadora do PS no mandato de 2009 a 2013 — quando os socialistas tinham maioria na câmara — admitiu que poderia governar com quem desse “melhores condições de cumprimento do programa”. A citação completa é esta:

Estarei coligada com quem der melhores condições para prosseguir o programa do PS. No passado já estivemos coligados com a CDU e o PSD. O histórico do PS em Loures demonstra que houve disponibilidade, consoante o programa de quem sai vencedor.”

O sentido destas declarações são o contrário do que Sónia Paixão diria esta sexta-feira, quando afirmou numa conferência de imprensa, citada pela Lusa: “Ponho completamente de fora qualquer coligação. Não farei nenhuma coligação com nenhuma força política. Aquilo que pretendo é governar sozinha, sendo eleita, no dia 1 de outubro, presidente da Câmara Municipal de Loures. (…) Não farei nenhuma coligação com nenhuma força política, governarei com a maioria que o povo de Loures me dará”.

Na conversa com o Observador, na quinta-feira, a candidata contextualizara a naturalidade dos entendimentos com outras forças políticas, recordando a história dos partidos em Loures. O PS tinha viabilizado executivos da CDU ao longo de muito tempo — Sónia Paixão falou em 22 anos — e os comunistas também tinham apoiado o PS em 2001. “Depois, a meio do mandato, a CDU rompeu e o PS fez um acordo com o PSD. A seguir, teve maioria de 2005 a 2009”, recordou.

É neste momento que surge a pergunta sobre a coligação com André Ventura: se o PS já tinha estado coligado com o PSD, admitia coligar-se com André Ventura? Sónia Paixão afirmou que sim e disse a frase da polémica que nunca desmentiria:

Acho que o André Ventura pode dar um bom vereador, nunca um bom presidente da câmara”.

O artigo do Observador foi publicado às 20h56 de quinta-feira.

Quinta-feira, 23h40

O “esclarecimento”, o título “abusivo”, as fake news e o “desmentido”

A notícia começou imediatamente a ter repercusssões nas redes sociais. O candidato bloquista a Loures, Fabian Figueiredo, publicou um post no Facebook a reagir. Em poucos minutos, Ricardo Lima, dirigente do PS de Loures e candidato à junta de Moscavide e Portela, fez um comentário a dizer que ia “sair um desmentido”. Replicou a mesma mensagem noutros murais, como o do socialista Paulo Pedroso: “Vai sair um desmentido. O PS em Loures não faz acordo com este ‘tipo’ de candidato”.

Nesta fase, o Observador tinha a informação de que o PS estava mesmo a tentar fazer um desmentido, como os dirigentes diziam nas redes sociais, mas acabaria por ser publicado antes um “esclarecimento” em que a candidata corrigia o que dissera e acusava o Observador de ter feito um título “abusivo”.

Perto da meia-noite, Sónia Paixão escreveu: “Em caso algum admito fazer coligação com o PSD e muito menos com André Ventura”. E acrescentou:

O título da notícia do Observador é abusivo na medida em que nunca expressei essa intenção.”

O post de Sónia Paixão seria partilhado pelos socialistas de Loures em numerosas caixas de comentários como se fosse um “desmentido”, que levaria a muitas acusações de o Observador estar a fazer “fake news”. Um exemplo:

O Observador tentou obter uma reação de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, mas não teve qualquer resposta. Uma fonte oficial do Partido Socialista remeteu para a conferência de imprensa da número dois do partido em reação às declarações de André Ventura sobre os ciganos, com data de 17 de julho e com Sónia Paixão a seu lado. À revista Sábado, uma fonte oficial do PS diria que o secretário-geral mantinha a confiança política na candidata.

Sexta-feira, 15h00

Sónia Paixão admite que disse a frase, mas era “ironia”

Esta sexta-feira, a candidata deu uma conferência de imprensa na sede de campanha em Loures, da qual não foi dado conhecimento ao Observador. Sónia Paixão desmentiu o que ela própria tinha dito ao jornal sobre as coligações, mas, ao mesmo tempo, confirmou que disse a frase sobre ter André Ventura como vereador.

Ao jornal digital Observador, a candidata socialista afirmou que ‘André Ventura pode dar um bom vereador, nunca um bom presidente da câmara’, mas esclareceu agora que ‘estava a ser irónica’”, escreveu a Lusa.

Não explicou, porém, dois aspetos: se também estava a ironizar quando explicou ao Observador o historial de coligações do PS em Loures com o PSD e a CDU. E se também era ironia ter Ventura como vereador para viabilizar um executivo que precisasse de apoio.

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Em apenas 18 horas, a candidata do PS a Loures recuou em quase tudo o que disse na conversa que teve com o Observador na tarde de quinta-feira. Sónia Paixão deu uma conferência de imprensa às 15h desta sexta-feira onde confirmou ter dito que André Ventura, do PSD, “podia dar um bom vereador”, mas alegou agora que se tratava apenas de uma “ironia”. Detalhe: a socialista fê-lo menos de um dia depois de ter escrito um “esclarecimento” no Facebook que foi divulgado por dirigentes do PS como sendo um “desmentido” daquelas palavras.

Mas há mais contradições: depois de ter admitido ao Observador que, se ganhasse a autarquia, poderia fazer um acordo com a CDU (além do PSD), agora a socialista recusa a possibilidade de fazer “qualquer coligação” — mesmo com os comunistas — e afirma que pretende “governar sozinha”. Tudo contraria o que tinha dito um dia antes. O Observador revela mais detalhes da conversa com Sónia Paixão e algumas partes que não foram publicadas — para que se perceba melhor o contexto da conversa — e, assim, evidencia as contradições da candidata socialista.

Quinta-feira, 16h02

Uma conversa para denunciar um conluio da CDU com o PSD

Sónia Paixão foi contactada pelo Observador para uma conversa telefónica, por haver uma indicação de que a candidata tinha elementos para acusar os adversários da CDU e do PSD de estarem a preparar a continuação da sua coligação na câmara de Loures. “Tenho tido telefonemas de várias pessoas de ambas as candidaturas, ligadas aos dois quadrantes políticos, que dão conta de um pré-acordo eleitoral entre a CDU e o PSD”, revelou a socialista. E ainda acusou o presidente da câmara comunista, Bernardino Soares, de “não responder a nenhumas afirmações do candidato André Ventura”.

Nesta primeira conversa com o Observador, acrescentaria ainda que o autarca da CDU nem sequer tinha respondido à polémica dos ciganos: “Relativamente às declarações do Ventura nunca disse nada”, afirmou a candidata — mas essa afirmação não correspondia à verdade, como se pode ver aqui.

A socialista seria mais específica, dizendo que Bernardino Soares devia “tirar a confiança política” ao PSD na vereação por causa das críticas de André Ventura à câmara em matéria de segurança. E insinuava uma explicação para isso não acontecer: “É cobardia de Bernardino Soares, porque Nuno Botelho [vereador com vários pelouros atribuídos pela CDU] é o número dois de André Ventura na lista do PSD”.

Quinta-feira, 20h05

Candidata admite coligações com CDU e com o PSD de André Ventura

Depois de obter as reações da CDU e do PSD às acusações de Sónia Paixão, o Observador voltou a contactar a candidata para perceber se ela própria aceitaria apoiar a CDU — uma vez que o PS governa o país com o apoio do PCP, não seria uma opção estranha.

A primeira reação de Sónia Paixão foi não responder: “A minha orientação é ganhar as eleições”. Isso levou à pergunta seguinte: como em Loures não se perspetiva que nenhum partido tenha maioria, se ganhasse aceitaria o apoio da CDU para governar? A candidata, que já tinha sido vereadora do PS no mandato de 2009 a 2013 — quando os socialistas tinham maioria na câmara — admitiu que poderia governar com quem desse “melhores condições de cumprimento do programa”. A citação completa é esta:

Estarei coligada com quem der melhores condições para prosseguir o programa do PS. No passado já estivemos coligados com a CDU e o PSD. O histórico do PS em Loures demonstra que houve disponibilidade, consoante o programa de quem sai vencedor.”

O sentido destas declarações são o contrário do que Sónia Paixão diria esta sexta-feira, quando afirmou numa conferência de imprensa, citada pela Lusa: “Ponho completamente de fora qualquer coligação. Não farei nenhuma coligação com nenhuma força política. Aquilo que pretendo é governar sozinha, sendo eleita, no dia 1 de outubro, presidente da Câmara Municipal de Loures. (…) Não farei nenhuma coligação com nenhuma força política, governarei com a maioria que o povo de Loures me dará”.

Na conversa com o Observador, na quinta-feira, a candidata contextualizara a naturalidade dos entendimentos com outras forças políticas, recordando a história dos partidos em Loures. O PS tinha viabilizado executivos da CDU ao longo de muito tempo — Sónia Paixão falou em 22 anos — e os comunistas também tinham apoiado o PS em 2001. “Depois, a meio do mandato, a CDU rompeu e o PS fez um acordo com o PSD. A seguir, teve maioria de 2005 a 2009”, recordou.

É neste momento que surge a pergunta sobre a coligação com André Ventura: se o PS já tinha estado coligado com o PSD, admitia coligar-se com André Ventura? Sónia Paixão afirmou que sim e disse a frase da polémica que nunca desmentiria:

Acho que o André Ventura pode dar um bom vereador, nunca um bom presidente da câmara”.

O artigo do Observador foi publicado às 20h56 de quinta-feira.

Quinta-feira, 23h40

O “esclarecimento”, o título “abusivo”, as fake news e o “desmentido”

A notícia começou imediatamente a ter repercusssões nas redes sociais. O candidato bloquista a Loures, Fabian Figueiredo, publicou um post no Facebook a reagir. Em poucos minutos, Ricardo Lima, dirigente do PS de Loures e candidato à junta de Moscavide e Portela, fez um comentário a dizer que ia “sair um desmentido”. Replicou a mesma mensagem noutros murais, como o do socialista Paulo Pedroso: “Vai sair um desmentido. O PS em Loures não faz acordo com este ‘tipo’ de candidato”.

Nesta fase, o Observador tinha a informação de que o PS estava mesmo a tentar fazer um desmentido, como os dirigentes diziam nas redes sociais, mas acabaria por ser publicado antes um “esclarecimento” em que a candidata corrigia o que dissera e acusava o Observador de ter feito um título “abusivo”.

Perto da meia-noite, Sónia Paixão escreveu: “Em caso algum admito fazer coligação com o PSD e muito menos com André Ventura”. E acrescentou:

O título da notícia do Observador é abusivo na medida em que nunca expressei essa intenção.”

O post de Sónia Paixão seria partilhado pelos socialistas de Loures em numerosas caixas de comentários como se fosse um “desmentido”, que levaria a muitas acusações de o Observador estar a fazer “fake news”. Um exemplo:

O Observador tentou obter uma reação de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, mas não teve qualquer resposta. Uma fonte oficial do Partido Socialista remeteu para a conferência de imprensa da número dois do partido em reação às declarações de André Ventura sobre os ciganos, com data de 17 de julho e com Sónia Paixão a seu lado. À revista Sábado, uma fonte oficial do PS diria que o secretário-geral mantinha a confiança política na candidata.

Sexta-feira, 15h00

Sónia Paixão admite que disse a frase, mas era “ironia”

Esta sexta-feira, a candidata deu uma conferência de imprensa na sede de campanha em Loures, da qual não foi dado conhecimento ao Observador. Sónia Paixão desmentiu o que ela própria tinha dito ao jornal sobre as coligações, mas, ao mesmo tempo, confirmou que disse a frase sobre ter André Ventura como vereador.

Ao jornal digital Observador, a candidata socialista afirmou que ‘André Ventura pode dar um bom vereador, nunca um bom presidente da câmara’, mas esclareceu agora que ‘estava a ser irónica’”, escreveu a Lusa.

Não explicou, porém, dois aspetos: se também estava a ironizar quando explicou ao Observador o historial de coligações do PS em Loures com o PSD e a CDU. E se também era ironia ter Ventura como vereador para viabilizar um executivo que precisasse de apoio.

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