“Os comunistas quando me veem dizem: ‘olhe, eu não posso votar em si mas espero que ganhe!’”

01-10-2017
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“Bem-vindos à operação militar”. As armas são panfletos e jornais de campanha, as fardas são roupas em tom de verde com os motes da candidatura deste antigo autarca de Oeiras. Isaltino está bem-disposto – nesta manhã, já correu boa parte da União de Freguesias de Queijas e Carnaxide e está animado com o que vê. Anda a percorrer uma parte residencial do concelho, mas no domingo, dia de Marginal Sem Carros, levou um “banho de multidão”, comenta. “Tínhamos lá mais gente que os outros partidos todos juntos”.

São 11h de terça-feira e o exército de Isaltino vai-se juntando: são cerca de 40 pessoas, divididas por “seis ou sete equipas”, que se distribuem por aquela zona, de mapas na mão, para espalhar a palavra de Isaltino. O próprio vai ter com as equipas, uma a uma, para ajudar a levantar o espírito e o moral. Tem otimismo que chegue para todos até porque, comenta, “as pessoas ainda me chamam: ó presidente!”. A 1 de outubro, dia de autárquicas, está confiante em que voltará a tornar-se, efetivamente, presidente da Câmara de Oeiras, depois de um mandato de quatro anos daquele que foi outrora seu delfim e com quem agora está de costas voltadas, Paulo Vistas.

É a ele que as críticas e comentários vão dirigidos, à medida que vai fazendo as ruas de Carnaxide a pé e sendo parado por quem passa e a ele se dirige. Se for eleito, diz, não vai ter “nada para inaugurar” porque Vistas não lhe deixa obras e projetos em curso, garante. Problemas do dia-a-dia, como a recolha do lixo, “estão a ser resolvidos há oito dias. Mas as pessoas não se esquecem”. Uma senhora, que se apresenta como trabalhadora na roulotte de farturas ali perto, diz ter pena de não poder votar em Isaltino, uma vez que não reside em Oeiras. “Mas Deus queira que ganhe”. Isaltino graceja: “É o que me dizem os comunistas quando me veem: olhe, eu não posso votar em si, mas espero que ganhe!”.

Mário Cruz / Lusa

Ao longo do percurso, Isaltino é parado – não vai ter com as pessoas, elas é que o procuram, asseguram elementos da campanha -, cumprimenta, abraça, dizem-lhe que está mais magro, como se fosse família. A notoriedade é uma arma-chave aqui em Oeiras, autarquia que liderou durante 24 anos e a que voltou mal saiu da prisão - cumpriu uma pena de prisão de um ano e três meses pelos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Os afetos, estilo Marcelo, também, assegura. “Noto uma esperança extraordinária nas pessoas, uma grande expectativa, o que também aumenta a minha responsabilidade”, assegura. “Estou convencido de que comparativamente com 2013 irá haver um decréscimo na abstenção. Há muita gente que me diz que se eu não fosse candidato, não votava”.

Na cabeça de Isaltino, as prioridades estão bem definidas: recuperar uma relação próxima com as pessoas, porque “quem faz política local não pode fingir” e “tem de ter sinceridade no abraço, no afeto”, mas também apostar nos transportes – continua a defender o inacabado SATU, dizendo que “os velhos do restelo” vão elogiá-lo quando estiver pronto -, nos apoios aos jovens e aos idosos, na cultura, trazer “a movida” para Oeiras com uma série de novas praças e espaços de encontro.

A manhã já vai longa e é preciso ir almoçar “um franguinho” ao bairro da Portela, onde passará a tarde. Antes de partir, mais um gracejo com o mesmo destinatário: “Gerir o quotidiano, tapar o buraco, limpar as ruas, é o que as pessoas reclamam. Quando uma Câmara não é capaz de fazer isto, como é que vai fazer as coisas grandes?”.

“Podia dizer: parabéns pela rotunda, presidente!”

No café escuro, duas senhoras sentadas a uma mesa dão pela entrada do presidente, agora candidato, rodeado por uma equipa animada que agita bandeiras e repete o hino sem cessar. Aproveitam para começar o chamar. “Senhor presidente…”. Apressa-se a responder: “[Continuarei a sê-lo] se for eleito. Conto consigo para o ser”. Têm queixas sobre a altura das árvores, que precisam de ser podadas. “Mas as árvores são importantes. Sem elas não vivemos”, responde. É o equilíbrio necessário para um autarca que acumula as funções de recandidato, em plena campanha eleitoral. “Mas já viu a rotunda ali de baixo?”.

A rotunda nova é assunto frequente das conversas de Paulo Vistas, atual autarca de Oeiras, com a população. Já passa da hora de almoço e o recandidato percorre as ruas do bairro da Lage, recolhendo reclamações de pessoas que vêm ter consigo para dizer que falta arranjar um vidro ou podar uma árvore. Tem sempre resposta, lembrando as obras que foram feitas naquela zona. “A rotunda está feita. Em vez de darem os parabéns ao presidente, só criticam… Podia dizer: parabéns pela rotunda, há vinte anos que estavam para a fazer!”.

A subida é custosa, até porque a hora é de calor e o sol não dá tréguas. Mas o grupo vestido de cor de rosa segue animado bairro fora, muitas vezes liderado pelo candidato à junta de Porto Salvo, André Rica, que acompanha Vistas nesta empreitada. O presidente vai parando nos cafés, tomando nota do caderno de encargos. Mais uma queixa e lembra: “Depressa e bem, não há quem. Em quatro anos fez-se muita coisa. Devagarinho se vai ao longe…”. Desejam-lhe sorte, “se Deus quiser”. “Se Deus quiser e as senhoras votarem”, retorque. Sempre foi de Oeiras – “estudei, nasci, cresci, vivi, estudei hóquei em Oeiras”, recorda – e diz que o contacto com as pessoas, que vê bem dispostas, o põe bem disposto também. “É a minha gente, conhecem-me desde criança. Dona Aurora, conhece-me há quantos anos?”. “Trinta!”.

Nem sempre é bem recebido – aos abraços e comentários de quem até tem o seu telefone pessoal também se juntam as críticas à Câmara. Uma senhora que fuma na varanda de casa parece esperá-lo. “Veio ver o espetáculo da Lage? É pena não terem vindo mais cedo…”. Promete que voltarão “muito brevemente” para resolver um problema de vidros partidos. E reconhece que há problemas, como a recolha do lixo, que é preciso regularizar e que “vêm de trás”. Mas também recorda que apanhou “anos difíceis, de Troika, de constrangimentos”, à frente da Câmara. “As pessoas percebem que hoje o dinheiro já não é fácil nem barato, que os fundos comunitários já foram, especialmente para a região de Lisboa”.

M\303\201RIO CRUZ

Para o futuro, as grandes apostas passam pelos transportes – mas não no SATU, em que se “desperdiçariam muitos milhões” apenas para “alguém provar” que tinha razão -, pela educação, onde se prevê um investimento de 18 milhões de euros, ou no ambiente, com passeios pedonais na zona ribeirinha a fazer a ligação entre o interior e o litoral do concelho. Quanto ao tema da abstenção, como o seu antecessor, diz ter esperança que diminua – mas neste caso, a ideia é que uma enchente nas urnas impeça que Isaltino se volte a instalar na Câmara. “A abstenção demonstra um afastamento enorme da governação”. Percebe as razões, fruto “dos problemas, dos episódios do passado”, mas é “fundamental devolver a dignidade, o respeito pela atividade política”. Isaltino contra Vistas, o duelo continua.

De mascote atrás, em busca da notoriedade

Nem tudo separa Vistas e Isaltino: além do passado comum, ambos são independentes, recandidatos e reconhecidos na rua. O desafio é grande para quem tenta agora a sua sorte na presidência da Câmara, mesmo com muitos anos de trabalho na autarquia para trás. Por isso, atrás de Ângelo Pereira anda a mascote, Sebastião, que antes dele começou por aparecer nos cartazes da candidatura. Nesta tarde de terça-feira, o candidato PSD/CDS, o candidato à junta Nuno Gusmão, a equipa jovem que os acompanham e a mascote bem disposta percorrem o centro da vila de Oeiras.

Não baixam os braços: a cada pessoa a quem se dirigem, repetem os nomes, os cargos a que se candidatam, apresentam-se, metem conversa. A aposta nos cartazes com o boneco e o currículo do candidato, antes de ser revelada a fotografia de Ângelo Pereira numa nova vaga de outdoors, foi o reconhecimento de que falta notoriedade a uma campanha que compete contra pesos pesados como Vistas e Isaltino, e por isso teve de inovar e arriscar para chamar a atenção de quem passa na rua.

As abordagens são adaptadas: aos séniores apresenta o seu programa as suas medidas para o envelhecimento “ativo e feliz” – retomando o serviço de transportes COMBUS e aumentando a comparticipação dos medicamentos, por exemplo -, aos jovens a quem pergunta se já votam fala do transporte escolar gratuito e do arrendamento jovem a preços mais baixos. E não esquece o trabalho que já fez, distribuindo também o relatório da sua atividade na vereação do PSD nos últimos quatro anos – afinal, acumulou dez pelouros neste mandato.

O ex-autarca que tenta a sorte em Oeiras e no Euromilhões

Podem chamar-lhe para-quedista ou dizer que não pertence a Oeiras, mas Joaquim Raposo mexe-se como se quisesse contrariar esse estigma e como se tivesse sido autarca deste concelho, e não da Amadora, que liderou durante 16 anos. Com à vontade, e acompanhado pelo atual presidente de junta de Porto Salvo e recandidato, Dinis Antunes, entra em tudo o que é estabelecimento – talhos, minimercados, farmácias – e aproveita para visitar tudo quanto está aberto neste fim de tarde.

Às senhoras, distribui rosas. Para os senhores ficam palavras simpáticas. Vai fazer o Euromilhões – afinal, a corrida a Oeiras é renhida e toda a gente precisa de um bocadinho de sorte. E mesmo quando uma senhora decide descer do seu prédio, onde observa as movimentações da varanda, para tirar uma fotografia com o candidato socialista, e tem um saco do movimento de Paulo Vistas (Oeiras Mais à Frente), ele rebate, bem disposto: “Isso é só para ir às compras!”.

Na rua, cumprimenta pessoas que conhecia na Amadora e ouve a pergunta: “Agora vai-se mudar para aqui?”. Fora de brincadeiras, fala de propostas e recusa meter-se em confusões – as polémicas da campanha, deixa-as para Isaltino e Vistas. Mas tem palavras firmes, mesmo que em tom de gracejo, para o SATU, o “brinquedo” de Isaltino que sai caro: “Devíamos deixá-lo ali, com uma placa para memória futura que dissesse: ‘O que não fazer quanto a transportes locais’”.

A tarde já vai longa e o candidato verifica que já não há muito comércio aberto na zona: hoje irá para casa mais cedo, mas pela frente terá ainda duas semanas sem paragens permitidas. No carro, o trânsito lá o obriga a parar – não é por acaso que uma das suas grandes prioridades para o mandato que espera vir a conquistar é a questão dos transportes, com propostas de construção de 19 parques de estacionamento, de novos acessos e saídas para a CRIL, ligações do comboio da linha de Cascais à rede do metro de Lisboa ou o estabelecimento do novo sistema Metrobus, a substituir o inacabado SATU. Mas do programa constam ainda as prioridades para a escola, com mais lugares em berçários e creches, ou a população sénior, com a proposta de transporte social porta-a-porta, sete dias por semana.

Em passo rápido e com “ginástica”, a candidata que “olha pelas pessoas”

Esta terça-feira, a dirigente e deputada d’Os Verdes Heloísa Apolónia não poderia ter estado a fazer campanha, pelo menos não ao mesmo tempo que decorria mais uma sessão plenária no Parlamento. Mas, já na tarde de quarta, encontramos a candidata da CDU à Câmara de Oeiras a encabeçar uma ação de rua no Dafundo, seguida por Daniel Branco, atual vereador e candidato à Assembleia Municipal, e um grupo consideravelmente mais velho do que nas restantes campanhas. Para cumprir todas as funções, é preciso alguma “ginástica”, admite, mas não tem “parado”.

A candidata segue em passo rápido, sem deixar estabelecimento nenhum por visitar, sorriso na cara e programa de mão em mão. Há quem a reconheça e fique contente por a ver ao vivo, desejando-lhe “que corra bem”. “Correrá bem se votarem em nós. Por isso é que estamos a apelar ao voto nesta confusão que é Oeiras”, graceja. “Conheço-a muito bem”, diz uma senhora sentada numa paragem de autocarro, e logo a conversa foge para a política nacional: “Com o Passos é que a gente ficava a pão e água”.

Para a CDU, repete a candidata, a prioridade é “escutar as pessoas”, algo que diz ter falhado nos quatro anos de governação de Paulo Vistas e que diz estar a perceber no contacto com os munícipes na rua, que apontam ausências ao atual presidente. Até porque, garantem os restantes candidatos e corrobora Heloísa Apolónia, o munícipe de Oeiras é “exigente”. Por isso, quer trazer soluções para áreas como a mobilidade dentro do concelho – que não passa pelo SATU, que Joaquim Raposo gostaria de manter para “memória futura” – e apostar na habitação jovem.

Segue pela rua fora, com o grande grupo a rodeá-la e a Carvalhesa a ouvir-se ao fundo. Afinal, é preciso garantir que ninguém se sente “esquecido”, até porque, dizem-lhe as pessoas, “é a CDU que olha por elas”.

Evitar um “atentado” em Linda-a-Velha

No mesmo dia, é a vez de Miguel Pinto, do Bloco de Esquerda, se dirigir ao antigo quartel militar de Linda-a-Velha, defendendo a transformação do espaço para uso da população. Numa ação em que se colocou propositadamente naquele lugar, disse à Lusa, enquanto distribuía material de campanha, o candidato alertou para o “atentado” que diz estar prestes a acontecer naquele lugar, ou seja, a intenção de se construir ali mais um supermercado – “já existem quatro na zona”, explica - e um prédio de seis andares para habitação.

Para o Bloco de Esquerda, a missão pode ser espinhosa, uma vez que o partido não conta atualmente com representação na Câmara de Oeiras. Neste concelho, defende prioridades como a manutenção do mercado de Linda-a-Velha ou a “luta pela defesa do Vale do Jamor”.

“Bem-vindos à operação militar”. As armas são panfletos e jornais de campanha, as fardas são roupas em tom de verde com os motes da candidatura deste antigo autarca de Oeiras. Isaltino está bem-disposto – nesta manhã, já correu boa parte da União de Freguesias de Queijas e Carnaxide e está animado com o que vê. Anda a percorrer uma parte residencial do concelho, mas no domingo, dia de Marginal Sem Carros, levou um “banho de multidão”, comenta. “Tínhamos lá mais gente que os outros partidos todos juntos”.

São 11h de terça-feira e o exército de Isaltino vai-se juntando: são cerca de 40 pessoas, divididas por “seis ou sete equipas”, que se distribuem por aquela zona, de mapas na mão, para espalhar a palavra de Isaltino. O próprio vai ter com as equipas, uma a uma, para ajudar a levantar o espírito e o moral. Tem otimismo que chegue para todos até porque, comenta, “as pessoas ainda me chamam: ó presidente!”. A 1 de outubro, dia de autárquicas, está confiante em que voltará a tornar-se, efetivamente, presidente da Câmara de Oeiras, depois de um mandato de quatro anos daquele que foi outrora seu delfim e com quem agora está de costas voltadas, Paulo Vistas.

É a ele que as críticas e comentários vão dirigidos, à medida que vai fazendo as ruas de Carnaxide a pé e sendo parado por quem passa e a ele se dirige. Se for eleito, diz, não vai ter “nada para inaugurar” porque Vistas não lhe deixa obras e projetos em curso, garante. Problemas do dia-a-dia, como a recolha do lixo, “estão a ser resolvidos há oito dias. Mas as pessoas não se esquecem”. Uma senhora, que se apresenta como trabalhadora na roulotte de farturas ali perto, diz ter pena de não poder votar em Isaltino, uma vez que não reside em Oeiras. “Mas Deus queira que ganhe”. Isaltino graceja: “É o que me dizem os comunistas quando me veem: olhe, eu não posso votar em si, mas espero que ganhe!”.

Mário Cruz / Lusa

Ao longo do percurso, Isaltino é parado – não vai ter com as pessoas, elas é que o procuram, asseguram elementos da campanha -, cumprimenta, abraça, dizem-lhe que está mais magro, como se fosse família. A notoriedade é uma arma-chave aqui em Oeiras, autarquia que liderou durante 24 anos e a que voltou mal saiu da prisão - cumpriu uma pena de prisão de um ano e três meses pelos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Os afetos, estilo Marcelo, também, assegura. “Noto uma esperança extraordinária nas pessoas, uma grande expectativa, o que também aumenta a minha responsabilidade”, assegura. “Estou convencido de que comparativamente com 2013 irá haver um decréscimo na abstenção. Há muita gente que me diz que se eu não fosse candidato, não votava”.

Na cabeça de Isaltino, as prioridades estão bem definidas: recuperar uma relação próxima com as pessoas, porque “quem faz política local não pode fingir” e “tem de ter sinceridade no abraço, no afeto”, mas também apostar nos transportes – continua a defender o inacabado SATU, dizendo que “os velhos do restelo” vão elogiá-lo quando estiver pronto -, nos apoios aos jovens e aos idosos, na cultura, trazer “a movida” para Oeiras com uma série de novas praças e espaços de encontro.

A manhã já vai longa e é preciso ir almoçar “um franguinho” ao bairro da Portela, onde passará a tarde. Antes de partir, mais um gracejo com o mesmo destinatário: “Gerir o quotidiano, tapar o buraco, limpar as ruas, é o que as pessoas reclamam. Quando uma Câmara não é capaz de fazer isto, como é que vai fazer as coisas grandes?”.

“Podia dizer: parabéns pela rotunda, presidente!”

No café escuro, duas senhoras sentadas a uma mesa dão pela entrada do presidente, agora candidato, rodeado por uma equipa animada que agita bandeiras e repete o hino sem cessar. Aproveitam para começar o chamar. “Senhor presidente…”. Apressa-se a responder: “[Continuarei a sê-lo] se for eleito. Conto consigo para o ser”. Têm queixas sobre a altura das árvores, que precisam de ser podadas. “Mas as árvores são importantes. Sem elas não vivemos”, responde. É o equilíbrio necessário para um autarca que acumula as funções de recandidato, em plena campanha eleitoral. “Mas já viu a rotunda ali de baixo?”.

A rotunda nova é assunto frequente das conversas de Paulo Vistas, atual autarca de Oeiras, com a população. Já passa da hora de almoço e o recandidato percorre as ruas do bairro da Lage, recolhendo reclamações de pessoas que vêm ter consigo para dizer que falta arranjar um vidro ou podar uma árvore. Tem sempre resposta, lembrando as obras que foram feitas naquela zona. “A rotunda está feita. Em vez de darem os parabéns ao presidente, só criticam… Podia dizer: parabéns pela rotunda, há vinte anos que estavam para a fazer!”.

A subida é custosa, até porque a hora é de calor e o sol não dá tréguas. Mas o grupo vestido de cor de rosa segue animado bairro fora, muitas vezes liderado pelo candidato à junta de Porto Salvo, André Rica, que acompanha Vistas nesta empreitada. O presidente vai parando nos cafés, tomando nota do caderno de encargos. Mais uma queixa e lembra: “Depressa e bem, não há quem. Em quatro anos fez-se muita coisa. Devagarinho se vai ao longe…”. Desejam-lhe sorte, “se Deus quiser”. “Se Deus quiser e as senhoras votarem”, retorque. Sempre foi de Oeiras – “estudei, nasci, cresci, vivi, estudei hóquei em Oeiras”, recorda – e diz que o contacto com as pessoas, que vê bem dispostas, o põe bem disposto também. “É a minha gente, conhecem-me desde criança. Dona Aurora, conhece-me há quantos anos?”. “Trinta!”.

Nem sempre é bem recebido – aos abraços e comentários de quem até tem o seu telefone pessoal também se juntam as críticas à Câmara. Uma senhora que fuma na varanda de casa parece esperá-lo. “Veio ver o espetáculo da Lage? É pena não terem vindo mais cedo…”. Promete que voltarão “muito brevemente” para resolver um problema de vidros partidos. E reconhece que há problemas, como a recolha do lixo, que é preciso regularizar e que “vêm de trás”. Mas também recorda que apanhou “anos difíceis, de Troika, de constrangimentos”, à frente da Câmara. “As pessoas percebem que hoje o dinheiro já não é fácil nem barato, que os fundos comunitários já foram, especialmente para a região de Lisboa”.

M\303\201RIO CRUZ

Para o futuro, as grandes apostas passam pelos transportes – mas não no SATU, em que se “desperdiçariam muitos milhões” apenas para “alguém provar” que tinha razão -, pela educação, onde se prevê um investimento de 18 milhões de euros, ou no ambiente, com passeios pedonais na zona ribeirinha a fazer a ligação entre o interior e o litoral do concelho. Quanto ao tema da abstenção, como o seu antecessor, diz ter esperança que diminua – mas neste caso, a ideia é que uma enchente nas urnas impeça que Isaltino se volte a instalar na Câmara. “A abstenção demonstra um afastamento enorme da governação”. Percebe as razões, fruto “dos problemas, dos episódios do passado”, mas é “fundamental devolver a dignidade, o respeito pela atividade política”. Isaltino contra Vistas, o duelo continua.

De mascote atrás, em busca da notoriedade

Nem tudo separa Vistas e Isaltino: além do passado comum, ambos são independentes, recandidatos e reconhecidos na rua. O desafio é grande para quem tenta agora a sua sorte na presidência da Câmara, mesmo com muitos anos de trabalho na autarquia para trás. Por isso, atrás de Ângelo Pereira anda a mascote, Sebastião, que antes dele começou por aparecer nos cartazes da candidatura. Nesta tarde de terça-feira, o candidato PSD/CDS, o candidato à junta Nuno Gusmão, a equipa jovem que os acompanham e a mascote bem disposta percorrem o centro da vila de Oeiras.

Não baixam os braços: a cada pessoa a quem se dirigem, repetem os nomes, os cargos a que se candidatam, apresentam-se, metem conversa. A aposta nos cartazes com o boneco e o currículo do candidato, antes de ser revelada a fotografia de Ângelo Pereira numa nova vaga de outdoors, foi o reconhecimento de que falta notoriedade a uma campanha que compete contra pesos pesados como Vistas e Isaltino, e por isso teve de inovar e arriscar para chamar a atenção de quem passa na rua.

As abordagens são adaptadas: aos séniores apresenta o seu programa as suas medidas para o envelhecimento “ativo e feliz” – retomando o serviço de transportes COMBUS e aumentando a comparticipação dos medicamentos, por exemplo -, aos jovens a quem pergunta se já votam fala do transporte escolar gratuito e do arrendamento jovem a preços mais baixos. E não esquece o trabalho que já fez, distribuindo também o relatório da sua atividade na vereação do PSD nos últimos quatro anos – afinal, acumulou dez pelouros neste mandato.

O ex-autarca que tenta a sorte em Oeiras e no Euromilhões

Podem chamar-lhe para-quedista ou dizer que não pertence a Oeiras, mas Joaquim Raposo mexe-se como se quisesse contrariar esse estigma e como se tivesse sido autarca deste concelho, e não da Amadora, que liderou durante 16 anos. Com à vontade, e acompanhado pelo atual presidente de junta de Porto Salvo e recandidato, Dinis Antunes, entra em tudo o que é estabelecimento – talhos, minimercados, farmácias – e aproveita para visitar tudo quanto está aberto neste fim de tarde.

Às senhoras, distribui rosas. Para os senhores ficam palavras simpáticas. Vai fazer o Euromilhões – afinal, a corrida a Oeiras é renhida e toda a gente precisa de um bocadinho de sorte. E mesmo quando uma senhora decide descer do seu prédio, onde observa as movimentações da varanda, para tirar uma fotografia com o candidato socialista, e tem um saco do movimento de Paulo Vistas (Oeiras Mais à Frente), ele rebate, bem disposto: “Isso é só para ir às compras!”.

Na rua, cumprimenta pessoas que conhecia na Amadora e ouve a pergunta: “Agora vai-se mudar para aqui?”. Fora de brincadeiras, fala de propostas e recusa meter-se em confusões – as polémicas da campanha, deixa-as para Isaltino e Vistas. Mas tem palavras firmes, mesmo que em tom de gracejo, para o SATU, o “brinquedo” de Isaltino que sai caro: “Devíamos deixá-lo ali, com uma placa para memória futura que dissesse: ‘O que não fazer quanto a transportes locais’”.

A tarde já vai longa e o candidato verifica que já não há muito comércio aberto na zona: hoje irá para casa mais cedo, mas pela frente terá ainda duas semanas sem paragens permitidas. No carro, o trânsito lá o obriga a parar – não é por acaso que uma das suas grandes prioridades para o mandato que espera vir a conquistar é a questão dos transportes, com propostas de construção de 19 parques de estacionamento, de novos acessos e saídas para a CRIL, ligações do comboio da linha de Cascais à rede do metro de Lisboa ou o estabelecimento do novo sistema Metrobus, a substituir o inacabado SATU. Mas do programa constam ainda as prioridades para a escola, com mais lugares em berçários e creches, ou a população sénior, com a proposta de transporte social porta-a-porta, sete dias por semana.

Em passo rápido e com “ginástica”, a candidata que “olha pelas pessoas”

Esta terça-feira, a dirigente e deputada d’Os Verdes Heloísa Apolónia não poderia ter estado a fazer campanha, pelo menos não ao mesmo tempo que decorria mais uma sessão plenária no Parlamento. Mas, já na tarde de quarta, encontramos a candidata da CDU à Câmara de Oeiras a encabeçar uma ação de rua no Dafundo, seguida por Daniel Branco, atual vereador e candidato à Assembleia Municipal, e um grupo consideravelmente mais velho do que nas restantes campanhas. Para cumprir todas as funções, é preciso alguma “ginástica”, admite, mas não tem “parado”.

A candidata segue em passo rápido, sem deixar estabelecimento nenhum por visitar, sorriso na cara e programa de mão em mão. Há quem a reconheça e fique contente por a ver ao vivo, desejando-lhe “que corra bem”. “Correrá bem se votarem em nós. Por isso é que estamos a apelar ao voto nesta confusão que é Oeiras”, graceja. “Conheço-a muito bem”, diz uma senhora sentada numa paragem de autocarro, e logo a conversa foge para a política nacional: “Com o Passos é que a gente ficava a pão e água”.

Para a CDU, repete a candidata, a prioridade é “escutar as pessoas”, algo que diz ter falhado nos quatro anos de governação de Paulo Vistas e que diz estar a perceber no contacto com os munícipes na rua, que apontam ausências ao atual presidente. Até porque, garantem os restantes candidatos e corrobora Heloísa Apolónia, o munícipe de Oeiras é “exigente”. Por isso, quer trazer soluções para áreas como a mobilidade dentro do concelho – que não passa pelo SATU, que Joaquim Raposo gostaria de manter para “memória futura” – e apostar na habitação jovem.

Segue pela rua fora, com o grande grupo a rodeá-la e a Carvalhesa a ouvir-se ao fundo. Afinal, é preciso garantir que ninguém se sente “esquecido”, até porque, dizem-lhe as pessoas, “é a CDU que olha por elas”.

Evitar um “atentado” em Linda-a-Velha

No mesmo dia, é a vez de Miguel Pinto, do Bloco de Esquerda, se dirigir ao antigo quartel militar de Linda-a-Velha, defendendo a transformação do espaço para uso da população. Numa ação em que se colocou propositadamente naquele lugar, disse à Lusa, enquanto distribuía material de campanha, o candidato alertou para o “atentado” que diz estar prestes a acontecer naquele lugar, ou seja, a intenção de se construir ali mais um supermercado – “já existem quatro na zona”, explica - e um prédio de seis andares para habitação.

Para o Bloco de Esquerda, a missão pode ser espinhosa, uma vez que o partido não conta atualmente com representação na Câmara de Oeiras. Neste concelho, defende prioridades como a manutenção do mercado de Linda-a-Velha ou a “luta pela defesa do Vale do Jamor”.

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