Mai’land Guitars. Primeira guitarra elétrica em cortiça é portuguesa, com certeza

23-05-2019
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“Sou músico desde 2005, estudei bateria e percussão e tive aulas de guitarra. Quando me licenciei em Design comecei a ter outra visão sobre os instrumentos e as suas formas e métodos de construção.” Quem o diz é João Rodrigues, músico e fundador da Mai’land Guitars, a startup que quer aliar inovação à tradição e à música, em conversa com o Observador. A paixão pelos instrumentos começou cedo, mas só em 2016 é que João percebeu que faltava uma coisa muito específica no mercado. “Quando fui a uma loja para comprar a minha primeira guitarra elétrica, não senti que houvesse individualidade nos instrumentos. Hoje, é quase tudo feito em série e sem qualquer personalização. Pensei que se conseguisse fazer o meu próprio instrumento seria perfeito.”

Já havia vontade, faltava-lhe a ocasião. A oportunidade surgiu quando começou a trabalhar na tese do mestrado que estava a tirar em Design Integrado, no Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Ponto de partida? Um material 100% português, a cortiça. “É um material muito especial porque carrega um pedaço do nosso país, é muito fácil ver Portugalidade num produto em cortiça e isso atrai-me bastante. Por outro lado, é uma matéria-prima sustentável, que não chateia ninguém. A que utilizamos na guitarra é cortiça expandida, feita a partir da reciclagem da cortiça normal.”

Consciente de que poderia criar “algo novo, único e muito português” tendo como principal parceira para a entrega de cortiça a Corticeira Amorim, João pôs mãos à obra e decidiu criar ele próprio o seu instrumento, explicou ao Observador. “Como andava a aprender guitarra e o meu interesse pelo instrumento estava em alta, decidi fazer uma guitarra elétrica. Achei que era ousado, inovador e que havia muito para descobrir e aprender sobre o material e o próprio instrumento.”

O projeto foi dividido entre uma primeira fase de investigação e uma segunda etapa de prototipagem e testes, demorando cerca de um ano e meio a estar concluído. Além da cortiça expandida, que representa 75% da produção, foram utilizadas madeiras para o braço e para o centro do corpo, os restantes 25%. “As madeiras utilizadas no pickguard e nos botões são recicladas, que aproveitamos das carpintarias locais de forma a dar uma nova vida à madeira que iria ser queimada ou destruída com o tempo. Os restantes componentes são de metal, mas estamos a desenvolver uma forma de construir esses componentes a partir de metal reaproveitado das serralharias locais.”

Uma guitarra mais leve, ecológica e única

Na empreitada estiveram envolvidas nove empresas, situadas no norte do país e na Galiza, cada uma entrou no processo para resolver um determinado problema que foi surgindo na investigação. “Tivemos carpintarias, fornecedores de madeiras, um luthier [profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância], uma empresa de materiais compósitos, lojas de música e escolas de música.”

À medida que a investigação decorria, João foi-se apercebendo que, ao utilizar a cortiça iria conseguir tirar partido do material para obter inovação “não apenas a nível conceptual, mas também do ponto de vista mais prático”. A guitarra que desenvolveu pesa apenas 2,9 quilos e foi reduzido em 75% o uso de madeira maciça no corpo, tornando o instrumento mais ecológico. “Pode também ser pousada no chão sem danificar o corpo devido à durabilidade e elasticidade da cortiça, um material que também resiste bem à humidade e às diferenças de temperatura, protegendo melhor as madeiras e os componentes eletrónicos de serem danificados.” O cheiro característico e o facto de os materiais não serem pintados e apresentaram os seus traços naturais, faz com que não existam duas guitarras iguais.

Esta guitarra nunca foi construída para ser melhor do que outras guitarras. O mercado é enorme e, portanto, o foco foi sempre desenvolver um produto com qualidade, atrativo e que despertasse curiosidade no mundo do design e da música.”

O primeiro exemplar foi testado por músicos como Miguel Araújo, João Só ou Tatanka e o feedback no geral foi “bastante positivo”. “O Miguel gostou bastante e conseguiu encontrar aspetos únicos que até para mim foram surpreendentes. O Tatanka foi mais especifico e analisou a guitarra no sentido de apontar onde é possível melhorar e como. Aprendi imenso com ambos.”

A ideia de comercializar guitarras em cortiça já está a ser concretizada. No início de 2019 João criou a marca Mai’land Guitars, onde o objetivo é agora vender e desenvolver novos modelos, como “um baixo elétrico, uma guitarra de sete cordas ou malas para todo o tipo de instrumentos”, satisfazendo assim os pedidos e as sugestões que tem recebido. “Por agora estamos a produzir aquilo que já temos encomendado, mas vamos desenvolver protótipos para atrair novos clientes e possíveis vendas”. Cada guitarra é feita manualmente durante um mês e pode custar entre 850 a 1000 euros, estando incluída uma mala também ela feita em cortiça. O primeiro exemplar não tem preço e ficará sempre com o criador. “Pelo que sei da história das grandes marcas, o primeiro exemplar nunca sai da fábrica. Como ainda não tenho fábrica, tenho a guitarra em casa sempre prontinha a usar.”

Tanto a marca como os produtos estão neste momento a ser registados e patenteados e, apesar de não gostar de pensar no futuro, João quer fazer crescer a ideia e vender mais produtos relacionados com a música. “Quero manter a Amorim como nosso principal fornecedor e estabelecer novas parcerias com o intuito de criar produtos inovadores. Estamos abertos a sugestões.”

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“Sou músico desde 2005, estudei bateria e percussão e tive aulas de guitarra. Quando me licenciei em Design comecei a ter outra visão sobre os instrumentos e as suas formas e métodos de construção.” Quem o diz é João Rodrigues, músico e fundador da Mai’land Guitars, a startup que quer aliar inovação à tradição e à música, em conversa com o Observador. A paixão pelos instrumentos começou cedo, mas só em 2016 é que João percebeu que faltava uma coisa muito específica no mercado. “Quando fui a uma loja para comprar a minha primeira guitarra elétrica, não senti que houvesse individualidade nos instrumentos. Hoje, é quase tudo feito em série e sem qualquer personalização. Pensei que se conseguisse fazer o meu próprio instrumento seria perfeito.”

Já havia vontade, faltava-lhe a ocasião. A oportunidade surgiu quando começou a trabalhar na tese do mestrado que estava a tirar em Design Integrado, no Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Ponto de partida? Um material 100% português, a cortiça. “É um material muito especial porque carrega um pedaço do nosso país, é muito fácil ver Portugalidade num produto em cortiça e isso atrai-me bastante. Por outro lado, é uma matéria-prima sustentável, que não chateia ninguém. A que utilizamos na guitarra é cortiça expandida, feita a partir da reciclagem da cortiça normal.”

Consciente de que poderia criar “algo novo, único e muito português” tendo como principal parceira para a entrega de cortiça a Corticeira Amorim, João pôs mãos à obra e decidiu criar ele próprio o seu instrumento, explicou ao Observador. “Como andava a aprender guitarra e o meu interesse pelo instrumento estava em alta, decidi fazer uma guitarra elétrica. Achei que era ousado, inovador e que havia muito para descobrir e aprender sobre o material e o próprio instrumento.”

O projeto foi dividido entre uma primeira fase de investigação e uma segunda etapa de prototipagem e testes, demorando cerca de um ano e meio a estar concluído. Além da cortiça expandida, que representa 75% da produção, foram utilizadas madeiras para o braço e para o centro do corpo, os restantes 25%. “As madeiras utilizadas no pickguard e nos botões são recicladas, que aproveitamos das carpintarias locais de forma a dar uma nova vida à madeira que iria ser queimada ou destruída com o tempo. Os restantes componentes são de metal, mas estamos a desenvolver uma forma de construir esses componentes a partir de metal reaproveitado das serralharias locais.”

Uma guitarra mais leve, ecológica e única

Na empreitada estiveram envolvidas nove empresas, situadas no norte do país e na Galiza, cada uma entrou no processo para resolver um determinado problema que foi surgindo na investigação. “Tivemos carpintarias, fornecedores de madeiras, um luthier [profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância], uma empresa de materiais compósitos, lojas de música e escolas de música.”

À medida que a investigação decorria, João foi-se apercebendo que, ao utilizar a cortiça iria conseguir tirar partido do material para obter inovação “não apenas a nível conceptual, mas também do ponto de vista mais prático”. A guitarra que desenvolveu pesa apenas 2,9 quilos e foi reduzido em 75% o uso de madeira maciça no corpo, tornando o instrumento mais ecológico. “Pode também ser pousada no chão sem danificar o corpo devido à durabilidade e elasticidade da cortiça, um material que também resiste bem à humidade e às diferenças de temperatura, protegendo melhor as madeiras e os componentes eletrónicos de serem danificados.” O cheiro característico e o facto de os materiais não serem pintados e apresentaram os seus traços naturais, faz com que não existam duas guitarras iguais.

Esta guitarra nunca foi construída para ser melhor do que outras guitarras. O mercado é enorme e, portanto, o foco foi sempre desenvolver um produto com qualidade, atrativo e que despertasse curiosidade no mundo do design e da música.”

O primeiro exemplar foi testado por músicos como Miguel Araújo, João Só ou Tatanka e o feedback no geral foi “bastante positivo”. “O Miguel gostou bastante e conseguiu encontrar aspetos únicos que até para mim foram surpreendentes. O Tatanka foi mais especifico e analisou a guitarra no sentido de apontar onde é possível melhorar e como. Aprendi imenso com ambos.”

A ideia de comercializar guitarras em cortiça já está a ser concretizada. No início de 2019 João criou a marca Mai’land Guitars, onde o objetivo é agora vender e desenvolver novos modelos, como “um baixo elétrico, uma guitarra de sete cordas ou malas para todo o tipo de instrumentos”, satisfazendo assim os pedidos e as sugestões que tem recebido. “Por agora estamos a produzir aquilo que já temos encomendado, mas vamos desenvolver protótipos para atrair novos clientes e possíveis vendas”. Cada guitarra é feita manualmente durante um mês e pode custar entre 850 a 1000 euros, estando incluída uma mala também ela feita em cortiça. O primeiro exemplar não tem preço e ficará sempre com o criador. “Pelo que sei da história das grandes marcas, o primeiro exemplar nunca sai da fábrica. Como ainda não tenho fábrica, tenho a guitarra em casa sempre prontinha a usar.”

Tanto a marca como os produtos estão neste momento a ser registados e patenteados e, apesar de não gostar de pensar no futuro, João quer fazer crescer a ideia e vender mais produtos relacionados com a música. “Quero manter a Amorim como nosso principal fornecedor e estabelecer novas parcerias com o intuito de criar produtos inovadores. Estamos abertos a sugestões.”

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