Ladrões de Bicicletas: Extrema sensibilidade

30-04-2019
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Tennis Estoril Open 2009

De cada vez que o assunto da Lei de Bases da Saúde vem à baila na discussão pública, Marcelo Rebelo de Sousa perde o decoro de um Presidente da República, fica nervoso e parte em cruzada.

Da primeira vez, achou por bem dizer que, se a nova lei de bases não fosse negociada com o PSD, que nem a leria e que a vetaria de imediato. Ou seja, pouco importava a cor do Governo ou qual a força efectiva da direita, porque a lei teria de ser influenciada pela direita.

Depois, vendo a asneira que cometera, recuou. E até veio dizer que era a favor do Serviço Nacional de Saúde, que o tinha votado na Assembleia Constituinte, o que nem sequer foi verdade, porque faltou a essa sessão... Foi uma pequena fakenew de Marcelo Rebelo de Sousa.  Na verdade, Marcelo nunca foi um entusiasta do SNS. Quando o SNS foi criado, Marcelo era subdirector do jornal Expresso, e "esqueceu-se" de abordar essa questão na sua coluna de opinião, ao longo de todo esse ano.

Finalmente, quando se começava a desenhar um acordo à esquerda para "separar as águas" e clarificar o sector da Saúde - impedindo a expansão das suas PPP no futuro - Marcelo voltou a rebelar-se contra os ataques ao sector privado. Agora, já admite que a nova lei de bases da Saúde possa “traduzir o espírito da maioria” política atual — de esquerda —, mas ao mesmo tempo vem impor o seu contrário: que a lei deve  “no futuro acautelar a possibilidade de se recorrer [também] à gestão — mais ampla ou menos ampla — por parte do setor social e privado”. Ou seja, mais uma vez pouco importa a cor do Governo ou qual a força efectiva da direita, porque a lei terá de ser influenciada pela direita.

Parece, pois, que quando se fala em Saúde, qualquer coisa de irracional se passa na cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa. O sector da Saúde é daqueles que, a seguir à droga e à venda de armas, mais dá dinheiro ao sector privado, desde que seja por intermédio do Estado ou de seguros e fundos de pensões. Como não se consegue - ainda... - privatizar os fundos das contribuições para a Segurança Social, então terá de ser por via Lei de Bases. E Marcelo Rebelo de Sousa sempre se deu bem com os principais agentes privados, nunca se importou de interagir com eles e com os seus interesses.  

Claro que a intervenção de Marcelo foi rapidamente usada por um PS com pensamentos contraditórios no seu seio sobre a Lei de Bases da Saúde, permeável ao sector privado, como é o caso de Maria de Belém Roseira, ligada a um dos principais grupos.

Apesar de desunido, o PS une-se num único objectivo: ganhar as duas eleições deste ano. E para isso - no seu entendimento - um discurso de direita e a aparência de não estar colado a uma esquerda radical parecem-lhe ser sempre mais eficazes para roubar votos ao PSD, quando se espera que subam as intenções de voto nesse partido. Veja-se o caso de António Barreto, um homem de direita próximo do PS, que disse hoje na RTP que era "muito perigoso" que o PS perdesse o seu papel social-democrata, de "charneira".

Tudo isso levou o Bloco de Esquerda a protestar, depois de ter feito um anúncio unilateral de um acordo - pelos vistos, extemporâneo, para criar um facto consumado -  que, afinal, não se concretizou: "Aquilo a que assistimos é um recuo brutal no que estava a ser construído". Para ver os documentos em causa, consultar este artigo do DN e do Expresso.

O PSD, esse, aproveitou logo para lançar a escada a um bloco central que Rui Rio sempre disse que não queria e que nunca iria acontecer.

O PS é assim. Resta é saber o que aconteceu realmente dentro do PS, por que não faz sentido que tenha sido apenas a pressão de Marcelo que já fora feita antes.

Veremos, no futuro pós-eleitoral, qual a sinceridade do seu discurso na salvaguarda de um SNS sólido, articulado e sustentável.

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De cada vez que o assunto da Lei de Bases da Saúde vem à baila na discussão pública, Marcelo Rebelo de Sousa perde o decoro de um Presidente da República, fica nervoso e parte em cruzada.

Da primeira vez, achou por bem dizer que, se a nova lei de bases não fosse negociada com o PSD, que nem a leria e que a vetaria de imediato. Ou seja, pouco importava a cor do Governo ou qual a força efectiva da direita, porque a lei teria de ser influenciada pela direita.

Depois, vendo a asneira que cometera, recuou. E até veio dizer que era a favor do Serviço Nacional de Saúde, que o tinha votado na Assembleia Constituinte, o que nem sequer foi verdade, porque faltou a essa sessão... Foi uma pequena fakenew de Marcelo Rebelo de Sousa.  Na verdade, Marcelo nunca foi um entusiasta do SNS. Quando o SNS foi criado, Marcelo era subdirector do jornal Expresso, e "esqueceu-se" de abordar essa questão na sua coluna de opinião, ao longo de todo esse ano.

Finalmente, quando se começava a desenhar um acordo à esquerda para "separar as águas" e clarificar o sector da Saúde - impedindo a expansão das suas PPP no futuro - Marcelo voltou a rebelar-se contra os ataques ao sector privado. Agora, já admite que a nova lei de bases da Saúde possa “traduzir o espírito da maioria” política atual — de esquerda —, mas ao mesmo tempo vem impor o seu contrário: que a lei deve  “no futuro acautelar a possibilidade de se recorrer [também] à gestão — mais ampla ou menos ampla — por parte do setor social e privado”. Ou seja, mais uma vez pouco importa a cor do Governo ou qual a força efectiva da direita, porque a lei terá de ser influenciada pela direita.

Parece, pois, que quando se fala em Saúde, qualquer coisa de irracional se passa na cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa. O sector da Saúde é daqueles que, a seguir à droga e à venda de armas, mais dá dinheiro ao sector privado, desde que seja por intermédio do Estado ou de seguros e fundos de pensões. Como não se consegue - ainda... - privatizar os fundos das contribuições para a Segurança Social, então terá de ser por via Lei de Bases. E Marcelo Rebelo de Sousa sempre se deu bem com os principais agentes privados, nunca se importou de interagir com eles e com os seus interesses.  

Claro que a intervenção de Marcelo foi rapidamente usada por um PS com pensamentos contraditórios no seu seio sobre a Lei de Bases da Saúde, permeável ao sector privado, como é o caso de Maria de Belém Roseira, ligada a um dos principais grupos.

Apesar de desunido, o PS une-se num único objectivo: ganhar as duas eleições deste ano. E para isso - no seu entendimento - um discurso de direita e a aparência de não estar colado a uma esquerda radical parecem-lhe ser sempre mais eficazes para roubar votos ao PSD, quando se espera que subam as intenções de voto nesse partido. Veja-se o caso de António Barreto, um homem de direita próximo do PS, que disse hoje na RTP que era "muito perigoso" que o PS perdesse o seu papel social-democrata, de "charneira".

Tudo isso levou o Bloco de Esquerda a protestar, depois de ter feito um anúncio unilateral de um acordo - pelos vistos, extemporâneo, para criar um facto consumado -  que, afinal, não se concretizou: "Aquilo a que assistimos é um recuo brutal no que estava a ser construído". Para ver os documentos em causa, consultar este artigo do DN e do Expresso.

O PSD, esse, aproveitou logo para lançar a escada a um bloco central que Rui Rio sempre disse que não queria e que nunca iria acontecer.

O PS é assim. Resta é saber o que aconteceu realmente dentro do PS, por que não faz sentido que tenha sido apenas a pressão de Marcelo que já fora feita antes.

Veremos, no futuro pós-eleitoral, qual a sinceridade do seu discurso na salvaguarda de um SNS sólido, articulado e sustentável.

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