Ladrões de Bicicletas: Dez anos a pedalar

22-05-2019
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'Os economistas no sentido em que eu os trato são uma espécie de núncios e arautos dos mercados. Escrevi uma crónica contra esses economistas, os que em geral têm acesso às televisões. Não são todos. Eu frequento um blogue de economistas que se chama Ladrões de Bicicletas, em que se fala de outra forma. Curiosamente, o título não remete para a economia, mas para a arte e o cinema. Não sou tão insano que não saiba que as realidades económicas existem, o que me parece é que lá por serem realidade não são necessariamente verdadeiras.

Manuel António Pina

A 17 de Abril de 2007, um texto colectivo procurava começar “a falar de outra forma” de economia, isto para seguir os generosos termos do cronista e poeta Manuel António Pina numa das suas últimas entrevistas:

Os dilemas trágicos que os indivíduos têm de enfrentar em resultado da falta de recursos e de poder tornam-se visíveis num belo filme italiano a que este blogue roubou o nome. Não somos cineastas, mas economistas. Acreditamos que a economia, como o cinema, pode ser um ‘desporto de combate’. Temos partidos e ideologias diferentes e divergentes, mas convergimos no que hoje importa. Pleno emprego, serviços públicos, redistribuição da riqueza e do rendimento, controlo democrático da economia fazem parte do caminho que queremos percorrer. Recusamos e combatemos as ‘evidências’ e mitos que alimentam o actual consenso neoliberal. Acreditamos que o mercado sem fim é a ideologia transponível do nosso tempo. Mas uma coisa reconhecemos aos nossos adversários e a F. Hayek, o seu grande ideólogo: ‘nada é inevitável na existência social e só o pensamento faz que as coisas sejam o que são’. Este blogue é, portanto, um espaço de opinião de esquerda, socialista e que pretende desafiar o actual domínio da direita na luta das ideias. Pedalemos então!

Era a primeira entrada no blogue Ladrões de Bicicletas, assinada por “João, Pedro, Nuno e Zé”. A ideia do projecto e do seu nome foram sugeridos pelo Pedro Nuno Santos, que com o João Rodrigues, o Nuno Teles e o José Guilherme Gusmão fundaram o blogue, uma colaboração que tem as suas origens mais distantes no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), onde os quatro (e outros de nós) se formaram em economia nos anos noventa e juntos se envolveram no movimento estudantil. Queriam agora criar um blogue que fosse de economia e ancorado à esquerda, fazendo jus às tradições plurais de pensamento crítico numa área demasiado colonizada pelas direitas.

Desde então, o blogue acolheu Ricardo Paes Mamede, José Castro Caldas, Jorge Bateira, Nuno Serra, Alexandre Abreu, João Galamba, João Ramos de Almeida, Eugénia Pires, Hugo Mendes, Diogo Martins e Paulo Coimbra, também autores actuais do Ladrões de Bicicletas. Outros entraram e saíram, por indisponibilidade de tempo e não pelas zangas que são frequentes neste meio. Liberdade, igualdade e fraternidade, sem esquecer confiança e regras claras, vertidas num texto escrito evocado sempre que necessário, são responsáveis pela duração desta experiência.'

No dia em que celebramos dez anos, deixo excertos da introdução colectiva ao livro Economia com Todos, que será em breve lançado pela Relógio D'Água:

'Alguns dos Ladrões de Bicicletas, os que encontraram disponibilidade para tal nesta fase – entre as exigências da investigação, do ensino ou da política – juntaram-se (...) e o resultado está nas páginas que se seguem. Tal como o blogue, este é um livro de economia, de política, de economia política e de política económica, sem separações artificiais que só espartilham a análise e impedem o reconhecimento da realidade das coisas. Ao contrário do blogue, os capítulos individuais têm uma dimensão bem superior a um post. E tal como cada um dos milhares de posts publicados nos últimos dez anos, o objectivo é persuadir, apresentando as melhores razões de que somos capazes.'

'Os economistas no sentido em que eu os trato são uma espécie de núncios e arautos dos mercados. Escrevi uma crónica contra esses economistas, os que em geral têm acesso às televisões. Não são todos. Eu frequento um blogue de economistas que se chama Ladrões de Bicicletas, em que se fala de outra forma. Curiosamente, o título não remete para a economia, mas para a arte e o cinema. Não sou tão insano que não saiba que as realidades económicas existem, o que me parece é que lá por serem realidade não são necessariamente verdadeiras.

Manuel António Pina

A 17 de Abril de 2007, um texto colectivo procurava começar “a falar de outra forma” de economia, isto para seguir os generosos termos do cronista e poeta Manuel António Pina numa das suas últimas entrevistas:

Os dilemas trágicos que os indivíduos têm de enfrentar em resultado da falta de recursos e de poder tornam-se visíveis num belo filme italiano a que este blogue roubou o nome. Não somos cineastas, mas economistas. Acreditamos que a economia, como o cinema, pode ser um ‘desporto de combate’. Temos partidos e ideologias diferentes e divergentes, mas convergimos no que hoje importa. Pleno emprego, serviços públicos, redistribuição da riqueza e do rendimento, controlo democrático da economia fazem parte do caminho que queremos percorrer. Recusamos e combatemos as ‘evidências’ e mitos que alimentam o actual consenso neoliberal. Acreditamos que o mercado sem fim é a ideologia transponível do nosso tempo. Mas uma coisa reconhecemos aos nossos adversários e a F. Hayek, o seu grande ideólogo: ‘nada é inevitável na existência social e só o pensamento faz que as coisas sejam o que são’. Este blogue é, portanto, um espaço de opinião de esquerda, socialista e que pretende desafiar o actual domínio da direita na luta das ideias. Pedalemos então!

Era a primeira entrada no blogue Ladrões de Bicicletas, assinada por “João, Pedro, Nuno e Zé”. A ideia do projecto e do seu nome foram sugeridos pelo Pedro Nuno Santos, que com o João Rodrigues, o Nuno Teles e o José Guilherme Gusmão fundaram o blogue, uma colaboração que tem as suas origens mais distantes no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), onde os quatro (e outros de nós) se formaram em economia nos anos noventa e juntos se envolveram no movimento estudantil. Queriam agora criar um blogue que fosse de economia e ancorado à esquerda, fazendo jus às tradições plurais de pensamento crítico numa área demasiado colonizada pelas direitas.

Desde então, o blogue acolheu Ricardo Paes Mamede, José Castro Caldas, Jorge Bateira, Nuno Serra, Alexandre Abreu, João Galamba, João Ramos de Almeida, Eugénia Pires, Hugo Mendes, Diogo Martins e Paulo Coimbra, também autores actuais do Ladrões de Bicicletas. Outros entraram e saíram, por indisponibilidade de tempo e não pelas zangas que são frequentes neste meio. Liberdade, igualdade e fraternidade, sem esquecer confiança e regras claras, vertidas num texto escrito evocado sempre que necessário, são responsáveis pela duração desta experiência.'

No dia em que celebramos dez anos, deixo excertos da introdução colectiva ao livro Economia com Todos, que será em breve lançado pela Relógio D'Água:

'Alguns dos Ladrões de Bicicletas, os que encontraram disponibilidade para tal nesta fase – entre as exigências da investigação, do ensino ou da política – juntaram-se (...) e o resultado está nas páginas que se seguem. Tal como o blogue, este é um livro de economia, de política, de economia política e de política económica, sem separações artificiais que só espartilham a análise e impedem o reconhecimento da realidade das coisas. Ao contrário do blogue, os capítulos individuais têm uma dimensão bem superior a um post. E tal como cada um dos milhares de posts publicados nos últimos dez anos, o objectivo é persuadir, apresentando as melhores razões de que somos capazes.'

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