A história da máquina (quase) voadora de um inventor português

30-11-2015
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João Gouveia a preparar o aparelho para o voo A manufatura de modelos Oficina da Rua António Pedro, em Lisboa Verificando o estado do fusel Inspecionando o aparelho antes da largada “O inventor do aeroplano português” Monoplano modelo João Gouveia, tipo infantil Largada contra o vento As experiências no quartel de engenharia: Lançamento do aeroplano Esperando que o vento acalme, fortíssimo Sob a ação de um redemoinho: viragem pela esquerda João Gouveia ao guiador do seu aeroplano O “pássaro em terra”, num campo no Seixal O corpo central do “monoplano Gouveia”, num cliché de Joshua Benoliel

Em 1907, João Gouveia entretinha-se a construir pequenos aparelhos a que chamava de modelos e que hoje nós chamaríamos de papagaios voadores. Por essa altura, um repórter da revista Ilustração Portuguesa interessava-se pela sua teimosia ao ponto de gastar três artigos com o tema, começando nas fantasias de Ícaro e terminando quatro anos mais tarde, ao seu lado, no Seixal.

O repórter chamou-lhe, à cabeça, “O inventor do aeroplano português”, justificando as suas fantasias com frases como “O pensamento de imitar a ave tentou sempre o homem” ou “Só o homem não alcançaria libertar-se, por qualquer meio, da tirania da lei da gravidade?” Ficou fascinado com a personagem.

Madeirense, filho de um militar dado aos trabalhos manuais e poeta, João Gouveia tinha “vinte e tantos anos” quando escreveu “Deixo o meu coração abrir as asas/Mal de voar que inda lhe não passou” (poema Atlântida). Pouco depois, em dezembro de 1909, havia de apresentar à Academia de Ciências o projeto do “avião Gouveia”, com nove metros de envergadura e um motor de 26 cavalos.

Aos jornalistas, “o aviador português” explicou que a aviação era um feitiço desde que lera em miúdo o livro Robur, O Conquistador, de Júlio Verne, que defendia a tese dos aparelhos mais pesados do que o ar. Mas só começaria a projetar o seu “aparelho de transporte” quando a Ilustração Francesa publicou “um mal esboçado desenho” do aeroplano Wright “então tratado como um bluff americano”.

Na expetativa do triunfo

João Gouveia tinha uma fé inabalável e confessada de que um dia haveria de conseguir chegar à estabilidade das máquinas voadoras, mesmo que para isso precisasse de realizar um “trabalho morosíssimo”. Fez centenas de construções, observou reações curiosas. “Obtive várias vezes, nos meus pequenos voadores, desastres em miniatura em tudo semelhantes aos registados nas experiências lá fora efetuadas. Estes factos animaram-me a corrigir, a modificar”, diria.

Nos modelos infantis, alcançou resultados positivos. Mas faltava-lhe ainda o tal “aeroplano de transporte”… Os jornalistas da Ilustração Portuguesa viram os seus “aeroplanos pequeninos” mover-se, “ligeiros e airosos como soberbos insetos coloridos”, no salão da revista. E foram dando conta das ajudas do Governo que a certa altura recebeu, do hangar no Seixal, dos operários a quem podia dar ordens.

O projeto vivia de avanços e recuos. De repente, tudo se gastava, atrasava, parava. Quando se cumpria mais uma promessa, o projeto recomeçava e João Gouveia voltava ao contacto com os amigos, falando radiante do seu aparelho: “Hão de ir vê-lo… É levíssimo… Já tem asas… Venham daí…”

Estávamos em 1911. O “inventor português” montou o seu aeroplano, sentou-se aos comandos, fez inúmeras experiências e acabou por desistir. As avarias e, sobretudo, a falta de dinheiro, ditariam o fim da sua teimosia.

João Gouveia a preparar o aparelho para o voo A manufatura de modelos Oficina da Rua António Pedro, em Lisboa Verificando o estado do fusel Inspecionando o aparelho antes da largada “O inventor do aeroplano português” Monoplano modelo João Gouveia, tipo infantil Largada contra o vento As experiências no quartel de engenharia: Lançamento do aeroplano Esperando que o vento acalme, fortíssimo Sob a ação de um redemoinho: viragem pela esquerda João Gouveia ao guiador do seu aeroplano O “pássaro em terra”, num campo no Seixal O corpo central do “monoplano Gouveia”, num cliché de Joshua Benoliel

Em 1907, João Gouveia entretinha-se a construir pequenos aparelhos a que chamava de modelos e que hoje nós chamaríamos de papagaios voadores. Por essa altura, um repórter da revista Ilustração Portuguesa interessava-se pela sua teimosia ao ponto de gastar três artigos com o tema, começando nas fantasias de Ícaro e terminando quatro anos mais tarde, ao seu lado, no Seixal.

O repórter chamou-lhe, à cabeça, “O inventor do aeroplano português”, justificando as suas fantasias com frases como “O pensamento de imitar a ave tentou sempre o homem” ou “Só o homem não alcançaria libertar-se, por qualquer meio, da tirania da lei da gravidade?” Ficou fascinado com a personagem.

Madeirense, filho de um militar dado aos trabalhos manuais e poeta, João Gouveia tinha “vinte e tantos anos” quando escreveu “Deixo o meu coração abrir as asas/Mal de voar que inda lhe não passou” (poema Atlântida). Pouco depois, em dezembro de 1909, havia de apresentar à Academia de Ciências o projeto do “avião Gouveia”, com nove metros de envergadura e um motor de 26 cavalos.

Aos jornalistas, “o aviador português” explicou que a aviação era um feitiço desde que lera em miúdo o livro Robur, O Conquistador, de Júlio Verne, que defendia a tese dos aparelhos mais pesados do que o ar. Mas só começaria a projetar o seu “aparelho de transporte” quando a Ilustração Francesa publicou “um mal esboçado desenho” do aeroplano Wright “então tratado como um bluff americano”.

Na expetativa do triunfo

João Gouveia tinha uma fé inabalável e confessada de que um dia haveria de conseguir chegar à estabilidade das máquinas voadoras, mesmo que para isso precisasse de realizar um “trabalho morosíssimo”. Fez centenas de construções, observou reações curiosas. “Obtive várias vezes, nos meus pequenos voadores, desastres em miniatura em tudo semelhantes aos registados nas experiências lá fora efetuadas. Estes factos animaram-me a corrigir, a modificar”, diria.

Nos modelos infantis, alcançou resultados positivos. Mas faltava-lhe ainda o tal “aeroplano de transporte”… Os jornalistas da Ilustração Portuguesa viram os seus “aeroplanos pequeninos” mover-se, “ligeiros e airosos como soberbos insetos coloridos”, no salão da revista. E foram dando conta das ajudas do Governo que a certa altura recebeu, do hangar no Seixal, dos operários a quem podia dar ordens.

O projeto vivia de avanços e recuos. De repente, tudo se gastava, atrasava, parava. Quando se cumpria mais uma promessa, o projeto recomeçava e João Gouveia voltava ao contacto com os amigos, falando radiante do seu aparelho: “Hão de ir vê-lo… É levíssimo… Já tem asas… Venham daí…”

Estávamos em 1911. O “inventor português” montou o seu aeroplano, sentou-se aos comandos, fez inúmeras experiências e acabou por desistir. As avarias e, sobretudo, a falta de dinheiro, ditariam o fim da sua teimosia.

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