aforismos e afins: Re: Holismos V

11-07-2018
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O João Miranda disse aqui o seguinte: .1. «Eu não defendo nenhuma teoria não determinista. Todas as teorias que eu defendo são deterministas.».2. «Eu não defendo que tudo pode ser explicado através de equações. Por dois motivos: nem sempre as equações são explicativas e nem sempre uma teoria pode ser expressa por equações. O que eu defendo é que todos os fenómenos são regidos apenas por leis da física e estão sujeitos apenas a restrições matemáticas.».Será que vale mesmo a pena responder a isto, ou basta a citação? Recordo que JM não se refere apenas a fenómenos físicos mas a todo e qualquer fenómeno, incluindo os que envolvem humanos. Para ele, todos os fenómenos são explicáveis por leis da física. Decididamente, os humanos podem ser conhecidos como algoritmos (isto é diferente de autómatos, atenção). É por isso que eu fiquei surpreendido com o António, quando ele escreveu,.«Pesa sobre o liberalismo a absurda acusação de cientismo (aplicação dos métodos das ciências físicas às ciências sociais), algo que é fundamentalmente rejeitado pelo pensamento liberal. (...) Esta metodologia foi levada às últimas consequências pelo Movimento Tecnocrata, que defendia uma economia optimamente planeada com base numa irrepreensível abordagem científica. (...)».e não tirou a conclusão, como eu sugeri aqui - e acho que o JM não o nega, como é patente nestas citações suas - que isto assenta que nem uma luva na sua forma de pensar, como de resto nos austríacos que veneram o Human Action de Mises..3. «O ónus da prova de que há outro tipo de complexidade que não resulta das leis da física ou das regras da matemática cabe a quem defende tal teoria.».Eu não acho que haja ónus da prova de qualquer lado, porque não sou um apriorista absolutista como é o JM. Há uma coisa que o JM nunca percebeu nestas discussões, quer-me parecer, e isso é o sentido do «holismo». Será que o JM já pensou sobre o problema da consciência e da linguagem? Será que o JM se apercebe de si próprio, e daquilo que escreve, por leis físicas? Ou será que há algo mais aqui que não pode ser redutível a essa dimensão? Será que o JM já se apareceu a si próprio e tomou consciência do que era? Como foi essa aparição? Terá sido uma alegre verificação de um agente algorítmico ao serviço de Mises?.4. «Se existe uma teoria não física e não matemática das ciências sociais, o Tiago Mendes não a usa nos seus textos sobre economia. Porque será?».Repare que para refutar esta sua ideia bastava ter em conta que há coisas que precedem qualquer análise científica, tais como a consciência e a linguagem. O JM esquece-se do problema ontológico e toma as coisas como um dado. Sobre este absolutismo apriorista e platonista já o João Galamba escreveu diversas vezes. O meu ponto, ao contrário do de JM, é que a Economia pode ajudar a explicar muita coisa mas não tudo. Eu concordo que a economia é sobretudo positiva, embora isto não possa ser absoluto, porque há um método e há certas hipóteses base que têm um carácter normativo, como a racionalidade..O facto de a economia não explicar "tudo" não é uma questão quantitativa mas qualitativa. Simplesmente, há dimensões do ser humano que não são entendíveis meramente por leis da física ou da matemática. A linguagem é o melhor exemplo para ilustrar isto. Ela não é compreensível como mero conjunto de regras. Há uma hermenêutica, uma prática, que é indispensável o entendimento. Voltando à economia, eu já critiquei várias vezes o individualismo metodológico publicamente. Eis um exemplo duma hipótese metodológica que quanto a mim é redutora e afasta a economia daquilo que ela poderia ser enquanto ciência social. Muitas vezes, as pessoas decidem num framework de «we-decision». Poderia dar muitos mais exemplos, mas não me quero alongar..A importância do contexto é outra coisa que deve fazer horror a um reducionista-atomista. Já o frisei algumas vezes. Honestamente, não sei como é que o JM pode dizer que não vê nos meus escritos alguns laivos de «holismo» - e já não falo sequer das questões que estão para além da economia, como a linguagem. Eu defendo uma análise multi-disciplinar do comportamento humano, com base na economia, psicologia, neurociência, sociologia, antropologia, história, e por aí fora. .Tenho pena que o João Galamba valorize tão pouco o papel da economia, que acho que é fulcral e tremendamente poderoso, ainda que possa ser perigoso quando em mãos erradas. Embora compreenda o porquê desse "pavor". Muito mais distante está o João Miranda com as suas ideias, muito, muito peregrinas, de homens-algoritmos perfeitamente entendíveis apenas com leis da física e da matemática. A Hermenêutica para o João Miranda deverá ser uma espécie de parente menor de um qualquer código de programação. E isto assumindo que ele considera a existência e significância de tal coisa, o que é hipótese de monta..Não quero ser ofensivo, mas isto não faz mesmo sentido nenhum. Só mesmo em certos círculos fechados, e em certos clubes, reais e blogosféricos, é que este tipo de ideias têm algum impacto. O que me surpreende é que certa blogosfera que certamente discorda da visão reducionista de JM, nunca tenha escrito uma palavra sobre isso. So much for political incorrectness.


O João Miranda disse aqui o seguinte: .1. «Eu não defendo nenhuma teoria não determinista. Todas as teorias que eu defendo são deterministas.».2. «Eu não defendo que tudo pode ser explicado através de equações. Por dois motivos: nem sempre as equações são explicativas e nem sempre uma teoria pode ser expressa por equações. O que eu defendo é que todos os fenómenos são regidos apenas por leis da física e estão sujeitos apenas a restrições matemáticas.».Será que vale mesmo a pena responder a isto, ou basta a citação? Recordo que JM não se refere apenas a fenómenos físicos mas a todo e qualquer fenómeno, incluindo os que envolvem humanos. Para ele, todos os fenómenos são explicáveis por leis da física. Decididamente, os humanos podem ser conhecidos como algoritmos (isto é diferente de autómatos, atenção). É por isso que eu fiquei surpreendido com o António, quando ele escreveu,.«Pesa sobre o liberalismo a absurda acusação de cientismo (aplicação dos métodos das ciências físicas às ciências sociais), algo que é fundamentalmente rejeitado pelo pensamento liberal. (...) Esta metodologia foi levada às últimas consequências pelo Movimento Tecnocrata, que defendia uma economia optimamente planeada com base numa irrepreensível abordagem científica. (...)».e não tirou a conclusão, como eu sugeri aqui - e acho que o JM não o nega, como é patente nestas citações suas - que isto assenta que nem uma luva na sua forma de pensar, como de resto nos austríacos que veneram o Human Action de Mises..3. «O ónus da prova de que há outro tipo de complexidade que não resulta das leis da física ou das regras da matemática cabe a quem defende tal teoria.».Eu não acho que haja ónus da prova de qualquer lado, porque não sou um apriorista absolutista como é o JM. Há uma coisa que o JM nunca percebeu nestas discussões, quer-me parecer, e isso é o sentido do «holismo». Será que o JM já pensou sobre o problema da consciência e da linguagem? Será que o JM se apercebe de si próprio, e daquilo que escreve, por leis físicas? Ou será que há algo mais aqui que não pode ser redutível a essa dimensão? Será que o JM já se apareceu a si próprio e tomou consciência do que era? Como foi essa aparição? Terá sido uma alegre verificação de um agente algorítmico ao serviço de Mises?.4. «Se existe uma teoria não física e não matemática das ciências sociais, o Tiago Mendes não a usa nos seus textos sobre economia. Porque será?».Repare que para refutar esta sua ideia bastava ter em conta que há coisas que precedem qualquer análise científica, tais como a consciência e a linguagem. O JM esquece-se do problema ontológico e toma as coisas como um dado. Sobre este absolutismo apriorista e platonista já o João Galamba escreveu diversas vezes. O meu ponto, ao contrário do de JM, é que a Economia pode ajudar a explicar muita coisa mas não tudo. Eu concordo que a economia é sobretudo positiva, embora isto não possa ser absoluto, porque há um método e há certas hipóteses base que têm um carácter normativo, como a racionalidade..O facto de a economia não explicar "tudo" não é uma questão quantitativa mas qualitativa. Simplesmente, há dimensões do ser humano que não são entendíveis meramente por leis da física ou da matemática. A linguagem é o melhor exemplo para ilustrar isto. Ela não é compreensível como mero conjunto de regras. Há uma hermenêutica, uma prática, que é indispensável o entendimento. Voltando à economia, eu já critiquei várias vezes o individualismo metodológico publicamente. Eis um exemplo duma hipótese metodológica que quanto a mim é redutora e afasta a economia daquilo que ela poderia ser enquanto ciência social. Muitas vezes, as pessoas decidem num framework de «we-decision». Poderia dar muitos mais exemplos, mas não me quero alongar..A importância do contexto é outra coisa que deve fazer horror a um reducionista-atomista. Já o frisei algumas vezes. Honestamente, não sei como é que o JM pode dizer que não vê nos meus escritos alguns laivos de «holismo» - e já não falo sequer das questões que estão para além da economia, como a linguagem. Eu defendo uma análise multi-disciplinar do comportamento humano, com base na economia, psicologia, neurociência, sociologia, antropologia, história, e por aí fora. .Tenho pena que o João Galamba valorize tão pouco o papel da economia, que acho que é fulcral e tremendamente poderoso, ainda que possa ser perigoso quando em mãos erradas. Embora compreenda o porquê desse "pavor". Muito mais distante está o João Miranda com as suas ideias, muito, muito peregrinas, de homens-algoritmos perfeitamente entendíveis apenas com leis da física e da matemática. A Hermenêutica para o João Miranda deverá ser uma espécie de parente menor de um qualquer código de programação. E isto assumindo que ele considera a existência e significância de tal coisa, o que é hipótese de monta..Não quero ser ofensivo, mas isto não faz mesmo sentido nenhum. Só mesmo em certos círculos fechados, e em certos clubes, reais e blogosféricos, é que este tipo de ideias têm algum impacto. O que me surpreende é que certa blogosfera que certamente discorda da visão reducionista de JM, nunca tenha escrito uma palavra sobre isso. So much for political incorrectness.

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