Guitarra de Coimbra (Parte I)

11-07-2018
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Bloco de Notas (8)1979 ... Voltando ao dia a dia ...Fui ontem tocar a duas Casas de Fado em Cascais; Kopus Bar e Casa do Rodrigo. Durval Moreirinhas acompanhou-me à viola e Rui Gomes Pereira cantou. Machado Soares era para ir connosco, mas um problema familiar impediu-o de participar. Toquei o meu Lá menor, Chula do Minho, Lá menor do Bagão e a Balada de Coimbra. Senti que me fazia falta um segundo guitarra.No Kopus Bar presenciei uma cena de pancadaria entre um matulão e um sujeito de baixa estatura, em que o primeiro dá uma cabeçada no outro, deitando-o logo por terra. No final ficou uma grande poça de sangue no chão. Só no cinema é que se dão dezenas seguidas destas cenas e os personagens ficam incólumes! Mas, infelizmente, foi uma cena real. Foi a primeira vez que entrei numa Casa de Fados e fiquei decepcionado, não só pelo incidente referido, mas também pela falta de classe dos elencos a actuar. De tudo, só me ficou o Rodrigo, com uma voz bem característica e bem agradável de ouvir e o guitarrista Armindo Fernandes, bom executante; (faço aqui um parêntesis para recordar que, há bem pouco tempo – começos de 2005 – acompanhou Humberto Matias num disco, já referido neste Blog).Volto agora atrás no calendário, para a narração que estava fazendo, já que, para os episódios àcerca do Domingos, ficarem juntos, dei um salto no tempo.O grupo de Rolando de Oliveira acabou por se desfazer, pois este começou a interessar-se pela pintura, descurando a guitarra, o que deu azo a que, em pouco tempo, o suplantasse na execução do instrumento e, entretanto, João Fonseca foi embora de Viseu. Formei um novo grupo com Jorge Furtado à guitarra, Manuel Rodrigues à viola (este conhecido por Manuel das Águas, irmão de António Rodrigues “António das Águas”, autor do Lá maior cuja partitura já foi colocada neste Blog) e ainda na viola, Alexandre Vale. Mais tarde apareceu o João Sá à viola e também a cantar, com uma voz bem modulada e de belo timbre, dando notas agudas com facilidade. Fizemos a primeira serenata para público nas escadas do parque da cidade, em frente ao Liceu. A assistência era de umas boas centenas de pessoas. Esta serenata fez parte da festa de finalistas. Já se tinha realizado um sarau no qual, juntamente com José Maria Barros Ferreira e João Sá, os três de viola em punho, cantámos, entre outras, músicas do então muito em voga Trio Odemira. No ensaio geral deste sarau o reitor, que estava presente, censurou a letra duma canção que dizia “apalpava as moças todas, esta é dura aquela é mole”. Fomos obrigados a modificar o texto! Naquele tempo a censura era bem apertada em todos os actos do cidadão comum, mesmo em pormenores tão insignificantes. Eram os “bons costumes” que estavam a ser pisados!Volto à actualidade; 1979 ... Dei-me ao trabalho de medir a espessura das cordas duma guitarra do Gilberto Grácio que comprei há pouco tempo. O Si agudo tem 0,25 mm; O Lá, 0,32 mm e o Mi, 0,35 mm. Não entendo por que razão haja 0,07 mm de diferença entre o Si e o Lá e apenas 0,03 mm entre o Lá e o Mi. Afinal é neste último caso que há um maior intervalo: dois tons e meio (intervalo de quarta). No outro caso, estamos em presença de um intervalo de segunda (um tom apenas). Numa próxima oportunidade quero discutir isto com Gilberto Grácio, Kim Grácio e Artur Paredes.Voltando às memórias do passado ...Enquanto toquei com Jorge Furtado e João Sá, fizemos várias gravações para a Rádio Altitude da Guarda, que foram transmitidas por esta estação e ainda pela instalação sonora do Rossio de Viseu. Era habitual, naquela época, ainda sem televisão, as pessoas irem passear para aquela praça, à noite, aquilo a que, por graça, chamávamos ir tirar água da nora. Andávamos em grupos, dando voltas para um e outro lado, conversava-se, ouvia-se música, olhavam-se as moças e assim se passava o tempo!Desagregado o último grupo por saída de Jorge Furtado, passo a tocar com Fernando Rebelo à guitarra e José Maria Barros Ferreira à viola e também a cantar. João Sá passou apenas a cantor. Foi um período áureo das serenatas em Viseu. Os fins de semana eram quase sempre preenchidos com deambulações artísticas pela cidade, pelas suas ruas estreitas e mal iluminadas, debaixo da janela de qualquer moça com que um de nós ou algum amigo estava embeiçado.Entretanto, convenci a minha mãe a comprar-me uma guitarra de novecentos escudos, no Olímpio Medina, em Coimbra. Lá me deu o dinheiro e aí vou eu, rumo à Lusa Atenas, depois de combinar com José Mesquita um encontro com Jorge Tuna, para ajudar a escolher a guitarra. Assim que lá cheguei não resisti e, estupidamente, fui comprar a guitarra sozinho. É claro que a escolha não teria sido a mais acertada! Seja como for, esta guitarra era incomparavelmente melhor que a do Zacarias. Agora sentia-me um senhor! Só mais tarde, em Coimbra já, é que me dei conta de quão fraquinha ela era!

Bloco de Notas (8)1979 ... Voltando ao dia a dia ...Fui ontem tocar a duas Casas de Fado em Cascais; Kopus Bar e Casa do Rodrigo. Durval Moreirinhas acompanhou-me à viola e Rui Gomes Pereira cantou. Machado Soares era para ir connosco, mas um problema familiar impediu-o de participar. Toquei o meu Lá menor, Chula do Minho, Lá menor do Bagão e a Balada de Coimbra. Senti que me fazia falta um segundo guitarra.No Kopus Bar presenciei uma cena de pancadaria entre um matulão e um sujeito de baixa estatura, em que o primeiro dá uma cabeçada no outro, deitando-o logo por terra. No final ficou uma grande poça de sangue no chão. Só no cinema é que se dão dezenas seguidas destas cenas e os personagens ficam incólumes! Mas, infelizmente, foi uma cena real. Foi a primeira vez que entrei numa Casa de Fados e fiquei decepcionado, não só pelo incidente referido, mas também pela falta de classe dos elencos a actuar. De tudo, só me ficou o Rodrigo, com uma voz bem característica e bem agradável de ouvir e o guitarrista Armindo Fernandes, bom executante; (faço aqui um parêntesis para recordar que, há bem pouco tempo – começos de 2005 – acompanhou Humberto Matias num disco, já referido neste Blog).Volto agora atrás no calendário, para a narração que estava fazendo, já que, para os episódios àcerca do Domingos, ficarem juntos, dei um salto no tempo.O grupo de Rolando de Oliveira acabou por se desfazer, pois este começou a interessar-se pela pintura, descurando a guitarra, o que deu azo a que, em pouco tempo, o suplantasse na execução do instrumento e, entretanto, João Fonseca foi embora de Viseu. Formei um novo grupo com Jorge Furtado à guitarra, Manuel Rodrigues à viola (este conhecido por Manuel das Águas, irmão de António Rodrigues “António das Águas”, autor do Lá maior cuja partitura já foi colocada neste Blog) e ainda na viola, Alexandre Vale. Mais tarde apareceu o João Sá à viola e também a cantar, com uma voz bem modulada e de belo timbre, dando notas agudas com facilidade. Fizemos a primeira serenata para público nas escadas do parque da cidade, em frente ao Liceu. A assistência era de umas boas centenas de pessoas. Esta serenata fez parte da festa de finalistas. Já se tinha realizado um sarau no qual, juntamente com José Maria Barros Ferreira e João Sá, os três de viola em punho, cantámos, entre outras, músicas do então muito em voga Trio Odemira. No ensaio geral deste sarau o reitor, que estava presente, censurou a letra duma canção que dizia “apalpava as moças todas, esta é dura aquela é mole”. Fomos obrigados a modificar o texto! Naquele tempo a censura era bem apertada em todos os actos do cidadão comum, mesmo em pormenores tão insignificantes. Eram os “bons costumes” que estavam a ser pisados!Volto à actualidade; 1979 ... Dei-me ao trabalho de medir a espessura das cordas duma guitarra do Gilberto Grácio que comprei há pouco tempo. O Si agudo tem 0,25 mm; O Lá, 0,32 mm e o Mi, 0,35 mm. Não entendo por que razão haja 0,07 mm de diferença entre o Si e o Lá e apenas 0,03 mm entre o Lá e o Mi. Afinal é neste último caso que há um maior intervalo: dois tons e meio (intervalo de quarta). No outro caso, estamos em presença de um intervalo de segunda (um tom apenas). Numa próxima oportunidade quero discutir isto com Gilberto Grácio, Kim Grácio e Artur Paredes.Voltando às memórias do passado ...Enquanto toquei com Jorge Furtado e João Sá, fizemos várias gravações para a Rádio Altitude da Guarda, que foram transmitidas por esta estação e ainda pela instalação sonora do Rossio de Viseu. Era habitual, naquela época, ainda sem televisão, as pessoas irem passear para aquela praça, à noite, aquilo a que, por graça, chamávamos ir tirar água da nora. Andávamos em grupos, dando voltas para um e outro lado, conversava-se, ouvia-se música, olhavam-se as moças e assim se passava o tempo!Desagregado o último grupo por saída de Jorge Furtado, passo a tocar com Fernando Rebelo à guitarra e José Maria Barros Ferreira à viola e também a cantar. João Sá passou apenas a cantor. Foi um período áureo das serenatas em Viseu. Os fins de semana eram quase sempre preenchidos com deambulações artísticas pela cidade, pelas suas ruas estreitas e mal iluminadas, debaixo da janela de qualquer moça com que um de nós ou algum amigo estava embeiçado.Entretanto, convenci a minha mãe a comprar-me uma guitarra de novecentos escudos, no Olímpio Medina, em Coimbra. Lá me deu o dinheiro e aí vou eu, rumo à Lusa Atenas, depois de combinar com José Mesquita um encontro com Jorge Tuna, para ajudar a escolher a guitarra. Assim que lá cheguei não resisti e, estupidamente, fui comprar a guitarra sozinho. É claro que a escolha não teria sido a mais acertada! Seja como for, esta guitarra era incomparavelmente melhor que a do Zacarias. Agora sentia-me um senhor! Só mais tarde, em Coimbra já, é que me dei conta de quão fraquinha ela era!

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