Mamadou Ba, Louçã… e já agora a CGD

23-01-2019
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Chamem-me o que quiserem Henrique Monteiro Mamadou Ba, Louçã… e já agora a CGD Facebook Twitter E-Mail Contactos do AutorFacebookTwitterEmail O título remete para três assuntos que nada têm a ver uns com os outros. É verdade. Outro aspeto indesmentível é que a sua importância é muito desigual. E, porém, qualquer coisa os une: a ignorância, a má-fé ou a falta de informação. Sigam o roteiro. Comecemos pelo português de origem senegalesa Mamadou Ba. Aproveitou um incidente para se tornar centro de um debate, sobretudo ao referir a Polícia como – cito – “bosta de bófia”. Mamadou é dirigente da SOS Racismo e assessor parlamentar de um partido. Deveria saber que não pode referir-se assim a uma corporação inteira porque tal configura uma intolerância da família do racismo que ele diz combater. Essa família é a das generalizações. Mamadou não pode proclamar ”bosta de bófia”, assim como sabe que nem todos os moradores do Bairro Jamaica são iguais (e haverá entre eles desordeiros), como já deve estar informado que os mais radicais e violentos na manifestação dos moradores daquele bairro, que se queria pacífica, nem sequer lá vivem. Ou seja, Mamadou é responsável moral (ele também) pelo aproveitamento de um caso para incentivar a radicalidade entre comunidades africanas e a polícia, sabendo, como sabe certamente, que podendo a PSP ter racistas e extremistas no seu seio, é composta essencialmente de pessoas razoáveis. O que se diz da PSP pode dizer-se de qualquer grupo, associação, comunidade. Mamadou, na sua ânsia de protagonismo, só sabe gritar que há racismo, sem tentar compreender o que se passou. Do mesmo mal – que poderíamos chamar desinformação precoce – sofre Joana Mortágua, que declarou logo, alto e bom som, que a culpa era da Polícia. Pode ser que seja, mas que tal exigir investigações sérias antes de proclamar os culpados? Ou Mortágua, Mamadou e outros são partidários da Rainha de Copas de “Alice no País das Maravilhas“, cuja doutrina era “primeiro corta-se a cabeça e depois faz-se o julgamento”. Dito isto, não tenho dúvida nenhuma de que há racismo – e muito - em Portugal e faço coro com o diretor do “DN” quando ele afirma: “A mim muita gente me dá lições de racismo, mas não toda a gente”. Mamadou contribui, ainda que involuntariamente, para acicatar o racismo existente que se tem traduzido de forma intolerável em algumas ações violentas e intimidatórias nos arredores de Lisboa. Há cada vez mais gente a falar sem saber o que diz. E pior, sem querer saber do que se passou. E, mais trágico, sem cuidar de ouvir as partes envolvidas nos processos. Sofrem todos do mesmo mal... Já o caso Louçã tem pouca importância, embora seja um pouco triste ver um ex-líder partidário, atual conselheiro de Estado e membro de um conselho do Banco de Portugal mostrar uma ignorância assaz notável. Com ironia, o ex-líder do BE pergunta por que não insurgem os do costume contra o facto de o Governo ter decretado que a expressão ‘Direitos do Homem’ devia passar a ser referida como ‘Direitos Humanos’. E escreve (neste mesmo jornal) sobre os que dizem que é questão de gramática ou os que acham que é tudo fruto do politicamente correto e agora ficam calados. “O Homem enxovalhado e ninguém diz nada sobre o escândalo?” – eis o título do professor Louçã. Convinha que o professor soubesse algumas coisas. Primeiro ‘Humain Rights’, que é o título da declaração da ONU de 10 de dezembro de 1948, significa ‘Direitos Humanos’ (caso fosse ‘Direitos do Homem’ seria ‘Men’s Rights’). Segundo: apesar de eu, tal como Rui Tavares referiu, pensar que já se dizia Direitos Humanos, é preciso saber que o vocábulo latim ‘homo’, de onde vem a palavra homem em português ou ‘homme’ em francês, etc. significa ser humano, homem ou mulher, como pode ler-se em qualquer dicionário de latim; homem especificamente dizia-se ‘vir’, de onde nos surgem termos como viril, que significa homem feito, por oposição a criança; verificar ainda que ‘equites virique’ traduz-se por soldados de cavalaria. Além do mais, a Liga Portuguesa para os Direitos Humanos é assim que se chama; como a Ordem Maçónica mista se chama Direito Humano. Ou seja, a expressão era comum antes de o Governo a determinar como obrigatória. O que os do costume criticam é a imposição do que não é comum. Louçã perceberá a abissal diferença. E, por último, a CGD. Toda a gente sabe o que se passou, agora que foi divulgado o relatório da EY. Não critico, pelo contrário, quem o deu à imprensa (salvo erro, Joana Amaral Dias), mas quem o divulga sem qualquer enquadramento. Embora nada me ligue à Caixa, sobretudo da altura em que Sócrates era primeiro-ministro e levou aos máximos a sua utilização como instrumento político, voltamos ao primeiro ponto: alguém quer saber a versão dos envolvidos antes de fazer o julgamento? Ou cortam as cabeças primeiro? Olhar para trás e dizer que foi tudo um erro é fácil, mas nessa altura em que eu, nas páginas do Expresso, critiquei as manobras que a CGD fez com Joe Berardo não senti que houvesse muita gente disposta ao mesmo. Enfim, prefiro aguardar para ver. E prefiro não julgar critérios passados com base nos critérios presentes. E aqui têm como Mamadou, Louçã e… já agora a CGD têm pontos de contacto. E como vai a informação. Ainda hoje me mandaram um vídeo de Denzel Washington, que, por acaso, já tinha visto, onde ele diz cheio de razão: “Se não se lê a informação fica-se desinformado; se se lê fica-se mal informado”. Tem razão. E é pena.

Chamem-me o que quiserem Henrique Monteiro Mamadou Ba, Louçã… e já agora a CGD Facebook Twitter E-Mail Contactos do AutorFacebookTwitterEmail O título remete para três assuntos que nada têm a ver uns com os outros. É verdade. Outro aspeto indesmentível é que a sua importância é muito desigual. E, porém, qualquer coisa os une: a ignorância, a má-fé ou a falta de informação. Sigam o roteiro. Comecemos pelo português de origem senegalesa Mamadou Ba. Aproveitou um incidente para se tornar centro de um debate, sobretudo ao referir a Polícia como – cito – “bosta de bófia”. Mamadou é dirigente da SOS Racismo e assessor parlamentar de um partido. Deveria saber que não pode referir-se assim a uma corporação inteira porque tal configura uma intolerância da família do racismo que ele diz combater. Essa família é a das generalizações. Mamadou não pode proclamar ”bosta de bófia”, assim como sabe que nem todos os moradores do Bairro Jamaica são iguais (e haverá entre eles desordeiros), como já deve estar informado que os mais radicais e violentos na manifestação dos moradores daquele bairro, que se queria pacífica, nem sequer lá vivem. Ou seja, Mamadou é responsável moral (ele também) pelo aproveitamento de um caso para incentivar a radicalidade entre comunidades africanas e a polícia, sabendo, como sabe certamente, que podendo a PSP ter racistas e extremistas no seu seio, é composta essencialmente de pessoas razoáveis. O que se diz da PSP pode dizer-se de qualquer grupo, associação, comunidade. Mamadou, na sua ânsia de protagonismo, só sabe gritar que há racismo, sem tentar compreender o que se passou. Do mesmo mal – que poderíamos chamar desinformação precoce – sofre Joana Mortágua, que declarou logo, alto e bom som, que a culpa era da Polícia. Pode ser que seja, mas que tal exigir investigações sérias antes de proclamar os culpados? Ou Mortágua, Mamadou e outros são partidários da Rainha de Copas de “Alice no País das Maravilhas“, cuja doutrina era “primeiro corta-se a cabeça e depois faz-se o julgamento”. Dito isto, não tenho dúvida nenhuma de que há racismo – e muito - em Portugal e faço coro com o diretor do “DN” quando ele afirma: “A mim muita gente me dá lições de racismo, mas não toda a gente”. Mamadou contribui, ainda que involuntariamente, para acicatar o racismo existente que se tem traduzido de forma intolerável em algumas ações violentas e intimidatórias nos arredores de Lisboa. Há cada vez mais gente a falar sem saber o que diz. E pior, sem querer saber do que se passou. E, mais trágico, sem cuidar de ouvir as partes envolvidas nos processos. Sofrem todos do mesmo mal... Já o caso Louçã tem pouca importância, embora seja um pouco triste ver um ex-líder partidário, atual conselheiro de Estado e membro de um conselho do Banco de Portugal mostrar uma ignorância assaz notável. Com ironia, o ex-líder do BE pergunta por que não insurgem os do costume contra o facto de o Governo ter decretado que a expressão ‘Direitos do Homem’ devia passar a ser referida como ‘Direitos Humanos’. E escreve (neste mesmo jornal) sobre os que dizem que é questão de gramática ou os que acham que é tudo fruto do politicamente correto e agora ficam calados. “O Homem enxovalhado e ninguém diz nada sobre o escândalo?” – eis o título do professor Louçã. Convinha que o professor soubesse algumas coisas. Primeiro ‘Humain Rights’, que é o título da declaração da ONU de 10 de dezembro de 1948, significa ‘Direitos Humanos’ (caso fosse ‘Direitos do Homem’ seria ‘Men’s Rights’). Segundo: apesar de eu, tal como Rui Tavares referiu, pensar que já se dizia Direitos Humanos, é preciso saber que o vocábulo latim ‘homo’, de onde vem a palavra homem em português ou ‘homme’ em francês, etc. significa ser humano, homem ou mulher, como pode ler-se em qualquer dicionário de latim; homem especificamente dizia-se ‘vir’, de onde nos surgem termos como viril, que significa homem feito, por oposição a criança; verificar ainda que ‘equites virique’ traduz-se por soldados de cavalaria. Além do mais, a Liga Portuguesa para os Direitos Humanos é assim que se chama; como a Ordem Maçónica mista se chama Direito Humano. Ou seja, a expressão era comum antes de o Governo a determinar como obrigatória. O que os do costume criticam é a imposição do que não é comum. Louçã perceberá a abissal diferença. E, por último, a CGD. Toda a gente sabe o que se passou, agora que foi divulgado o relatório da EY. Não critico, pelo contrário, quem o deu à imprensa (salvo erro, Joana Amaral Dias), mas quem o divulga sem qualquer enquadramento. Embora nada me ligue à Caixa, sobretudo da altura em que Sócrates era primeiro-ministro e levou aos máximos a sua utilização como instrumento político, voltamos ao primeiro ponto: alguém quer saber a versão dos envolvidos antes de fazer o julgamento? Ou cortam as cabeças primeiro? Olhar para trás e dizer que foi tudo um erro é fácil, mas nessa altura em que eu, nas páginas do Expresso, critiquei as manobras que a CGD fez com Joe Berardo não senti que houvesse muita gente disposta ao mesmo. Enfim, prefiro aguardar para ver. E prefiro não julgar critérios passados com base nos critérios presentes. E aqui têm como Mamadou, Louçã e… já agora a CGD têm pontos de contacto. E como vai a informação. Ainda hoje me mandaram um vídeo de Denzel Washington, que, por acaso, já tinha visto, onde ele diz cheio de razão: “Se não se lê a informação fica-se desinformado; se se lê fica-se mal informado”. Tem razão. E é pena.

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