A ruptura democrática de esquerda.

16-10-2018
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Há uns dias na Madeira, Jerónimo de Sousa produziu uma declaração (proposta?) surpreendente, vinda de quem veio. Sou insuspeito. Há largos anos que defendo a “ruptura democrática de esquerda” de que fala Jerónimo de Sousa. Aliás, o meu retorno à política partidária com o Bloco, depois de muitos anos de afastamento, foi com o pensamento voltado para uma convergência das esquerdas.Mas tenho sérias razões para duvidar da bondade desta proposta. O PCP tem uma cultura de controlo e de vanguarda nos movimentos sociais e sindicais que impedem qualquer unidade na diferença. Para não ir muito longe, lembremos-nos do congresso da CGTP de há um mês atrás que reforçou o controlo do PCP e afastou sindicalistas de outras correntes de esquerda, apesar das críticas de muitos dirigentes sindicais, defendendo um alargamento da representatividade. Não me parece ser uma declaração para levar a sério, com muita pena minha. O PCP está mais a jogar no terreno da táctica política, procurando retirar proveito partidário, da contestação e do descontentamento, às medidas do governo de Sócrates, do que verdadeiramente interessado em romper com a "situação".Uma política de unidade na diferença exige humildade, responsabilidade, “desapego” ideológico, consensos, mestria, inteligência, face à complexidade de opiniões, de interesses, de responsabilidades, que a cada momento há que dar respostas, em nome dos grandes princípios da esquerda; um estado e uma justiça social.A esquerda unida que defendo vai mais longe: a capacidade de colocar em causa ideias feitas, verdades inquestionáveis, capaz de arquitectar um modelo orgânico e de intervenção que case todas as esquerdas, em volta de princípios e de máximos denominadores comuns e de valores intransferíveis da esquerda. Um programa e uma estrutura destas seriam, naturalmente, pela amplitude e pluralidade, de tipo reformista mas de uma ruptura profunda com os modelos de desenvolvimento capitalista e nesse pressuposto assumir-se definitivamente como uma alternativa séria, respeitável e credível.Dir-me-ão, que um programa destes é impossível; que arrasta oportunismos, protagonismos, aproveitamentos carreiristas. É verdade. Mas todos os projectos políticos arrastariam essas dificuldades. Está na natureza das pessoas. E quanto mais aberto e plural for o projecto mais dificuldades suportará. Mas esse é o risco que todos teremos de correr se quisermos, de facto e não nas palavras, construir uma alternativa séria de esquerda, de poder, capaz de defender os direitos sociais, os serviços universais, lutar por uma sociedade melhor, mais justa, mais solidária, mais igual e mais digna.Mas há sempre as outras alternativas: continuar acantonados nas nossas “certezas” ideológicas, nas nossas ortodoxias, mas de uma coisa podemos ter a certeza; é que de vitória em vitória ou de derrota em derrota, conforma os ângulos ideológicos, caminharemos para a derrota final. E quem sofre hoje que se lixe…O caminho de unidade das esquerdas não é uma utopia. Há que fazer experiências. As pessoas verdadeiramente de esquerda exigem que se não fiquem pelas palavras, depois de apelos idênticos, vindos do Bloco, dos Renovadores, de muitos militantes socialistas, na órbita de Manuel Alegre.


Há uns dias na Madeira, Jerónimo de Sousa produziu uma declaração (proposta?) surpreendente, vinda de quem veio. Sou insuspeito. Há largos anos que defendo a “ruptura democrática de esquerda” de que fala Jerónimo de Sousa. Aliás, o meu retorno à política partidária com o Bloco, depois de muitos anos de afastamento, foi com o pensamento voltado para uma convergência das esquerdas.Mas tenho sérias razões para duvidar da bondade desta proposta. O PCP tem uma cultura de controlo e de vanguarda nos movimentos sociais e sindicais que impedem qualquer unidade na diferença. Para não ir muito longe, lembremos-nos do congresso da CGTP de há um mês atrás que reforçou o controlo do PCP e afastou sindicalistas de outras correntes de esquerda, apesar das críticas de muitos dirigentes sindicais, defendendo um alargamento da representatividade. Não me parece ser uma declaração para levar a sério, com muita pena minha. O PCP está mais a jogar no terreno da táctica política, procurando retirar proveito partidário, da contestação e do descontentamento, às medidas do governo de Sócrates, do que verdadeiramente interessado em romper com a "situação".Uma política de unidade na diferença exige humildade, responsabilidade, “desapego” ideológico, consensos, mestria, inteligência, face à complexidade de opiniões, de interesses, de responsabilidades, que a cada momento há que dar respostas, em nome dos grandes princípios da esquerda; um estado e uma justiça social.A esquerda unida que defendo vai mais longe: a capacidade de colocar em causa ideias feitas, verdades inquestionáveis, capaz de arquitectar um modelo orgânico e de intervenção que case todas as esquerdas, em volta de princípios e de máximos denominadores comuns e de valores intransferíveis da esquerda. Um programa e uma estrutura destas seriam, naturalmente, pela amplitude e pluralidade, de tipo reformista mas de uma ruptura profunda com os modelos de desenvolvimento capitalista e nesse pressuposto assumir-se definitivamente como uma alternativa séria, respeitável e credível.Dir-me-ão, que um programa destes é impossível; que arrasta oportunismos, protagonismos, aproveitamentos carreiristas. É verdade. Mas todos os projectos políticos arrastariam essas dificuldades. Está na natureza das pessoas. E quanto mais aberto e plural for o projecto mais dificuldades suportará. Mas esse é o risco que todos teremos de correr se quisermos, de facto e não nas palavras, construir uma alternativa séria de esquerda, de poder, capaz de defender os direitos sociais, os serviços universais, lutar por uma sociedade melhor, mais justa, mais solidária, mais igual e mais digna.Mas há sempre as outras alternativas: continuar acantonados nas nossas “certezas” ideológicas, nas nossas ortodoxias, mas de uma coisa podemos ter a certeza; é que de vitória em vitória ou de derrota em derrota, conforma os ângulos ideológicos, caminharemos para a derrota final. E quem sofre hoje que se lixe…O caminho de unidade das esquerdas não é uma utopia. Há que fazer experiências. As pessoas verdadeiramente de esquerda exigem que se não fiquem pelas palavras, depois de apelos idênticos, vindos do Bloco, dos Renovadores, de muitos militantes socialistas, na órbita de Manuel Alegre.

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