Jerónimo-todo-o-terreno

14-10-2019
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A frase do dia:

"Não tenho nenhuma razão para suspeitar da palavra do Presidente da República. Não devemos fazer juízos de valor numa questão tão sensível"

Jerónimo de Sousa, líder do PCP a propósito da polémica que marcou o dia sobre o alegado conhecimento de Marcelo Rebelo de Sousa do caso de Tancos

O momento:

Não será um, mas os vários momentos que fizeram a agenda do secretário geral comunista . No conjunto, tornaram o dia de campanha um momento totalmente inédito e fora do menu habitual das campanhas comunistas.A CDU levou Jerónimo para além da sua zona de conforto: não esteve só com operárias texteis ou num comício animado com música cubana. Esteve, também, numa exploração de cogumelos, no laboratorio de nanotecnologia e num jantar na Ribeira do Porto, entre candelabros e intelectuais. Ao quarto dia de campanha, o líder foi multitasking

O personagem:

Francisco Puga. Assim se chama o agricultor de Ponte de Lima que, à última hora, cancelou o convite feito à comitiva comunista para trazer a sua exploração de bovinos para a agenda da campanha para as Legislativas. O homem cria bovinos para a produção de carnes mas, depois de combinar tudo com a CDU temeu os efeitos que a divulgação mediática da sua quinta minhota podia ter entre as hostes vegetarianas. "Não quero polémicas com o PAN", disse aos jornalistas que, por engano, lhe foram bater ao portão. Já a CDU foi 'obrigada' a optar por uma exploração agrícola mais politicamente correcta.: os cogumelos e mostrou que mesmo a treinada máquina comunista por vezes tem de enfrentar imprevistos.

A fotografia:

O dia de campanha do líder comunista saiu do figurino habitual e dos terrenos certos e seguros. Nesta corrida eleitoral, nem só de comícios de indefectíveis se faz a conquista de votos e Jerónimo fez-se a estradas nunca dantes navegadas. Aguentou-se longe do eleitorado fiel e que já conhece de cor e salteada. Para estas Legislativas e depois de quatro anos de geringonça, o líder tornou-se um todo-o-terreno.

Em Braga, onde ainda há poucos anos se erguia a Bracalândia, ergue-se agora um gigante da tecnologia de ponta. Os portões estão cerrados, as entradas mais do que vigiadas, o espaço é imaculado. O centro de investigação de nanotecnologia é tão fora dos padrões habituais, que até nem sequer é considerado território nacional. Os investigadores que lá trabalham, mais os segredos dos progressos tecnologicos que vão acumulando, têm até estatuto equiparado ao de diplomatas e a reserva profissional é uma norma de conduta. As placas em inglês mostram bem que o Laboratório Iberico de Nanotecnologia não costuma entrar em disputas eleitorais. Mas, desta vez, entrou.

Jerónimo e a comitiva da CDU chegaram ao local previsto e cumpriram as regras da casa: identificaram-se, colocaram as faixas de visitantes ao pescoço (com as respectivas normas de segurança) e deixaram os jornalistas no hall, porque a reunião com os responsáveis não é pública e muito menos notória. Aqui, a conquista de eleitores parece uma tarefa bem dificil, tanto mais que muitos dos trabalhadores da casa são estrangeiros. Mas, o líder não parecia estar afectado, tratando de falar da investigação, da importância do apoio à Ciência e ao desenvolvimento, das propostas que o PCP tem vindo a fazer ao longo dos anos.

Os jornalistas ouviram. Como registaram a manhã de Jerónimo, passada na exploração de cogumelos, idealizada há dois anos por um jovem agricultor que deixou de lado o projeto de uma carreira na informática, para abraçar uma carreira na agricultura. A empresa pode até ser pequena, mas a vontade do proprietário em divulgá-la ao mundo parece gigante. "Não tenho envolvimento político", disse, quando questionado sobre a razão de receber a comitiva comunista em plena campanha. Carlos Amorim até "nem queria ir por aí", porque o último contacto com partidos foi com o PSD e, claro, isso não calhava bem no cenário preparado para receber Jerónimo.

O líder comunista parece estar bem nos vários cenários por onde passou durante o dia. Aqui no Minho agrícola, ou na etapa seguinte: uma sala cheia de operários da indústria textil, que o esperavam em Pevidem com palmas e gritos de que "a CDU avança com toda a confiança". Xana, Maria José e Carina, subiram ao palco da Junta de Freguesia para contarem a Jerónimo as suas experiências de trabalho, sem horários, sem condições e sempre com o salário mínimo. "É um sector um bocado complicado", dizia uma. "O ambiente é horrível e os gritos constantes", diz outra. "A vida toda é com o mesmo salário: o menor possível", conclui outra.

A distância desta realidade para a da Nanotecnologia não se mede em quilómetros, mas em séculos. Jerónimo ouve e aproveita para lembrar o que o PCP fez, ou o que tentou fazer, mas o PS não deixou. Pede "coragem para votar na CDU", porque afinal sempre se está em campanha eleitoral e "todos os votos contam" para uma batalha que está longe de estar ganha.

ana baião

As duas etapas finais do dia, trazem o líder comunista para dois ambientes diferentes. Primeiro, no restaurante Monchique, em plena Ribeira do Porto, Jerónimo é recebido por um grupo de artistas e intelectuais portuenses, num ambiente de velas e candelabros, a que dificilmente se associa uma iniciativa do PCP. Mas as palmas, as bandeiras e os slogans são os mesmos. Tal como o palanque reservado para o secretário geral comunista falar, mais uma vez do Orçamento que os comunistas queriam aumentar na Cultura, mas o PS não deixou.

Mais palmas, sempre muitas palmas quando Jerónimo termina o discurso, que não seria o último do dia. Faltava um comício, num pequeno largo de Gaia, onde um grupo de musicos cubanos aquecia o ambiente noturno, até à chegada do líder. Poucas mulheres ensaiavam um passo de dança, mas foi preciso Jerónimo chegar - e sentar-se na linha da frente - para o concerto chegar ao rubro. "Comandante Che Guevara" é uma receita de sucesso nos encontros de militantes. Voltou a ser, mesmo no Norte do país. Mas a noite era de campanha e Jerónimo subiu depois ao palco para falar da "grande batalha" de 6 de outubro, do esforço que é preciso repartir por todos para salvar o resultado. "Sejam todos candidatos", desafiou o líder. E em tom de desabafo, acabou a dizer que "é uma batalha exigente, sem dúvida". "Não vai ser fácil", disse.

O dia de campanha também não foi.

A frase do dia:

"Não tenho nenhuma razão para suspeitar da palavra do Presidente da República. Não devemos fazer juízos de valor numa questão tão sensível"

Jerónimo de Sousa, líder do PCP a propósito da polémica que marcou o dia sobre o alegado conhecimento de Marcelo Rebelo de Sousa do caso de Tancos

O momento:

Não será um, mas os vários momentos que fizeram a agenda do secretário geral comunista . No conjunto, tornaram o dia de campanha um momento totalmente inédito e fora do menu habitual das campanhas comunistas.A CDU levou Jerónimo para além da sua zona de conforto: não esteve só com operárias texteis ou num comício animado com música cubana. Esteve, também, numa exploração de cogumelos, no laboratorio de nanotecnologia e num jantar na Ribeira do Porto, entre candelabros e intelectuais. Ao quarto dia de campanha, o líder foi multitasking

O personagem:

Francisco Puga. Assim se chama o agricultor de Ponte de Lima que, à última hora, cancelou o convite feito à comitiva comunista para trazer a sua exploração de bovinos para a agenda da campanha para as Legislativas. O homem cria bovinos para a produção de carnes mas, depois de combinar tudo com a CDU temeu os efeitos que a divulgação mediática da sua quinta minhota podia ter entre as hostes vegetarianas. "Não quero polémicas com o PAN", disse aos jornalistas que, por engano, lhe foram bater ao portão. Já a CDU foi 'obrigada' a optar por uma exploração agrícola mais politicamente correcta.: os cogumelos e mostrou que mesmo a treinada máquina comunista por vezes tem de enfrentar imprevistos.

A fotografia:

O dia de campanha do líder comunista saiu do figurino habitual e dos terrenos certos e seguros. Nesta corrida eleitoral, nem só de comícios de indefectíveis se faz a conquista de votos e Jerónimo fez-se a estradas nunca dantes navegadas. Aguentou-se longe do eleitorado fiel e que já conhece de cor e salteada. Para estas Legislativas e depois de quatro anos de geringonça, o líder tornou-se um todo-o-terreno.

Em Braga, onde ainda há poucos anos se erguia a Bracalândia, ergue-se agora um gigante da tecnologia de ponta. Os portões estão cerrados, as entradas mais do que vigiadas, o espaço é imaculado. O centro de investigação de nanotecnologia é tão fora dos padrões habituais, que até nem sequer é considerado território nacional. Os investigadores que lá trabalham, mais os segredos dos progressos tecnologicos que vão acumulando, têm até estatuto equiparado ao de diplomatas e a reserva profissional é uma norma de conduta. As placas em inglês mostram bem que o Laboratório Iberico de Nanotecnologia não costuma entrar em disputas eleitorais. Mas, desta vez, entrou.

Jerónimo e a comitiva da CDU chegaram ao local previsto e cumpriram as regras da casa: identificaram-se, colocaram as faixas de visitantes ao pescoço (com as respectivas normas de segurança) e deixaram os jornalistas no hall, porque a reunião com os responsáveis não é pública e muito menos notória. Aqui, a conquista de eleitores parece uma tarefa bem dificil, tanto mais que muitos dos trabalhadores da casa são estrangeiros. Mas, o líder não parecia estar afectado, tratando de falar da investigação, da importância do apoio à Ciência e ao desenvolvimento, das propostas que o PCP tem vindo a fazer ao longo dos anos.

Os jornalistas ouviram. Como registaram a manhã de Jerónimo, passada na exploração de cogumelos, idealizada há dois anos por um jovem agricultor que deixou de lado o projeto de uma carreira na informática, para abraçar uma carreira na agricultura. A empresa pode até ser pequena, mas a vontade do proprietário em divulgá-la ao mundo parece gigante. "Não tenho envolvimento político", disse, quando questionado sobre a razão de receber a comitiva comunista em plena campanha. Carlos Amorim até "nem queria ir por aí", porque o último contacto com partidos foi com o PSD e, claro, isso não calhava bem no cenário preparado para receber Jerónimo.

O líder comunista parece estar bem nos vários cenários por onde passou durante o dia. Aqui no Minho agrícola, ou na etapa seguinte: uma sala cheia de operários da indústria textil, que o esperavam em Pevidem com palmas e gritos de que "a CDU avança com toda a confiança". Xana, Maria José e Carina, subiram ao palco da Junta de Freguesia para contarem a Jerónimo as suas experiências de trabalho, sem horários, sem condições e sempre com o salário mínimo. "É um sector um bocado complicado", dizia uma. "O ambiente é horrível e os gritos constantes", diz outra. "A vida toda é com o mesmo salário: o menor possível", conclui outra.

A distância desta realidade para a da Nanotecnologia não se mede em quilómetros, mas em séculos. Jerónimo ouve e aproveita para lembrar o que o PCP fez, ou o que tentou fazer, mas o PS não deixou. Pede "coragem para votar na CDU", porque afinal sempre se está em campanha eleitoral e "todos os votos contam" para uma batalha que está longe de estar ganha.

ana baião

As duas etapas finais do dia, trazem o líder comunista para dois ambientes diferentes. Primeiro, no restaurante Monchique, em plena Ribeira do Porto, Jerónimo é recebido por um grupo de artistas e intelectuais portuenses, num ambiente de velas e candelabros, a que dificilmente se associa uma iniciativa do PCP. Mas as palmas, as bandeiras e os slogans são os mesmos. Tal como o palanque reservado para o secretário geral comunista falar, mais uma vez do Orçamento que os comunistas queriam aumentar na Cultura, mas o PS não deixou.

Mais palmas, sempre muitas palmas quando Jerónimo termina o discurso, que não seria o último do dia. Faltava um comício, num pequeno largo de Gaia, onde um grupo de musicos cubanos aquecia o ambiente noturno, até à chegada do líder. Poucas mulheres ensaiavam um passo de dança, mas foi preciso Jerónimo chegar - e sentar-se na linha da frente - para o concerto chegar ao rubro. "Comandante Che Guevara" é uma receita de sucesso nos encontros de militantes. Voltou a ser, mesmo no Norte do país. Mas a noite era de campanha e Jerónimo subiu depois ao palco para falar da "grande batalha" de 6 de outubro, do esforço que é preciso repartir por todos para salvar o resultado. "Sejam todos candidatos", desafiou o líder. E em tom de desabafo, acabou a dizer que "é uma batalha exigente, sem dúvida". "Não vai ser fácil", disse.

O dia de campanha também não foi.

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