O dia em que Jerónimo voltou à fábrica

11-10-2019
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Anabela, Fátima e Cecília deram a cara no call center da Randstat que a comitiva da CDU visitou, na Quinta do Lambert, em Lisboa. Há 1100 trabalhadores naquelas instalações, que trabalham para grandes empresas de telecomunicações e para a EDP, sempre em regime contrato precário. Uma cadeia de sub-contratação leva a que empresas de trabalho temporário recrutem trabalhadores para as empresas maiores, que assim ficam livres de encargos adicionais e de responsabilidades contratuais. Há trabalhadores com 20 e 30 anos de trabalho consecutivo para a EDP, sem nunca vislumbrarem a hipótese de entrada formal nos quadros da empresa à qual dão a voz e que nem os reconhece na lista de pessoal. Ah, e é claro que continuam sempre com o mesmo vencimento: o salário mínimo nacional. O mesmo que recebem os colegas que cheguem de novo ao call center.

O último comício do dia foi em Rio de Mouro, numa praceta que tinha como particularidade ser um espaço aberto a um amplo espectro partidário. Jerónimo discursou entre o "PS Barbeiro", de um lado - que oferecia cortes de barba e cabelo mesmo para além do horário habitual do comércio - e o "PC Rio" do outro, que prometia competência na resolução de qualquer problema informático. À hora do encontro dos comunista, porém, já se encontrava fechado e de grades corridas até ao chão. O comício teve ainda a particularidade de associar um conjunto diverso de celebrações, mostrando que o dia 1 de outubro é uma data carregada na agenda. Como os vários intervenientes fizeram questão de recordar, foi neste dia assinalado o 49º aniversário da CGTP e, também, o Dia Internacional do Idoso. Jerónimo, por seu lado, fez questão de lembrar que esta terça-feira entraram em vigor as alterações à lei laboral introduzidas pelo PS, uma data que só não é dia de luto nacional, porque para os comunistas, "não há luto quando há luta". E, claro, ela é para continuar..

"Cooomo é que é, cota?". O grito da operária, negra e de longas tranças a escorrer-lhe pelas costas, contrastou com o silêncio de todos os seus colegas que, antes, durante e depois, passavam o torniquete de saída da fábrica. Eram 17 horas, e mais um fim de turno de trabalho da plataforma de distribuição da Sonae, na Azambuja, despejava às centenas os trabalhadores para a porta. Jerónimo de Sousa esperava à saída. A rapariga, caiu-lhe literalmente nos braços. Jerónimo riu à gargalhada, pregou-lhe dois beijos e ela seguiu para a camioneta.

É ali que o líder comunista está em casa. Na fase final da campanha eleitoral, com quilómetros de estrada percorridos, dezenas de discursos proferidos, bandeiras agitadas, almoços e jantares festivos, Jerónimo tem ali uma trégua. Os homens e mulheres, de várias origens geográficas, raças ou religiões que saem da fábrica aos magotes não hesitam em cumprimentar o 'colega operário' que ali os espera. Há abraços, cumprimentos, beijos e até selfies sinceros. como se existisse um código secreto de identificação automática. "É um prazer enorme", diz uma operária que se agarra a Jerónimo e se despede com um "que maravilha" a saltar-lhe da boca diretamente do fundo da alma.

A campanha comunista tinha programado um dia inteiro de campanha "dedicado aos trabalhadores". Politicamente, a agenda era perfeita para assinalar uma das batalhas travadas pelo PCP contra o PS em torno da "questão fundamental" do código laboral. Rios de propostas e de ameaças comunistas, não serviram para travar o Governo socialista de avançar com um conjunto de alterações à lei que Jerónimo recusa a classificar como derrota, mas que se parece muito com isso... parece.

"Nada está perdido para todo o sempre", diz o líder à saída da fábrica. Os operários e as demonstrações espontâneas de "respeito e reconhecimento" compensam tudo o resto: os contratempos políticos, as sondagens com as quedas a pique, o cansaço de muitas horas, dias, meses e anos de combates eleitorais.

Jerónimo recusa atirar a toalha ao chão. Mesmo se a batalha eleitoral se avizinha gigantesca, reconhece que "é difícil", que "não está fácil" e até mesmo que todos os esforços feitos até aqui "podem não ser suficientes". O máximo de optimismo que consegue transmitir em matéria de prognósticos eleitorais não conseguiram ir além do "sentimento de que o nosso resultado ainda está em construção". Mas, ali, na Azambuja, entre os "seus", ganhou uma espécie de massagem política, que lhe devolveu o sorriso e o ânimo até à etapa seguinte. "Nesta vida, passamos por tristezas, problemas e desaires", reconhece um líder comunista emocionado. "Mas é para mim profundamente tocante receber todo este respeito e reconhecimento. Isto não tem preço".

Faltam quatro dias para o final da campanha. O tempo é curto e a tarefa de segurar um resultado eleitoral começa a parecer uma missão impossível. Jerónimo voltou à oposição e aos apelos à luta, porque "só pela luta é que isto lá vai". O tempo das tréguas sociais vividos com a era da 'geringonça' terminaram. RIP à "posição conjunta" e só no domingo se verá o que poderá renascer das cinzas da defunta maioria parlamentar de esquerda.

Anabela, Fátima e Cecília deram a cara no call center da Randstat que a comitiva da CDU visitou, na Quinta do Lambert, em Lisboa. Há 1100 trabalhadores naquelas instalações, que trabalham para grandes empresas de telecomunicações e para a EDP, sempre em regime contrato precário. Uma cadeia de sub-contratação leva a que empresas de trabalho temporário recrutem trabalhadores para as empresas maiores, que assim ficam livres de encargos adicionais e de responsabilidades contratuais. Há trabalhadores com 20 e 30 anos de trabalho consecutivo para a EDP, sem nunca vislumbrarem a hipótese de entrada formal nos quadros da empresa à qual dão a voz e que nem os reconhece na lista de pessoal. Ah, e é claro que continuam sempre com o mesmo vencimento: o salário mínimo nacional. O mesmo que recebem os colegas que cheguem de novo ao call center.

O último comício do dia foi em Rio de Mouro, numa praceta que tinha como particularidade ser um espaço aberto a um amplo espectro partidário. Jerónimo discursou entre o "PS Barbeiro", de um lado - que oferecia cortes de barba e cabelo mesmo para além do horário habitual do comércio - e o "PC Rio" do outro, que prometia competência na resolução de qualquer problema informático. À hora do encontro dos comunista, porém, já se encontrava fechado e de grades corridas até ao chão. O comício teve ainda a particularidade de associar um conjunto diverso de celebrações, mostrando que o dia 1 de outubro é uma data carregada na agenda. Como os vários intervenientes fizeram questão de recordar, foi neste dia assinalado o 49º aniversário da CGTP e, também, o Dia Internacional do Idoso. Jerónimo, por seu lado, fez questão de lembrar que esta terça-feira entraram em vigor as alterações à lei laboral introduzidas pelo PS, uma data que só não é dia de luto nacional, porque para os comunistas, "não há luto quando há luta". E, claro, ela é para continuar..

"Cooomo é que é, cota?". O grito da operária, negra e de longas tranças a escorrer-lhe pelas costas, contrastou com o silêncio de todos os seus colegas que, antes, durante e depois, passavam o torniquete de saída da fábrica. Eram 17 horas, e mais um fim de turno de trabalho da plataforma de distribuição da Sonae, na Azambuja, despejava às centenas os trabalhadores para a porta. Jerónimo de Sousa esperava à saída. A rapariga, caiu-lhe literalmente nos braços. Jerónimo riu à gargalhada, pregou-lhe dois beijos e ela seguiu para a camioneta.

É ali que o líder comunista está em casa. Na fase final da campanha eleitoral, com quilómetros de estrada percorridos, dezenas de discursos proferidos, bandeiras agitadas, almoços e jantares festivos, Jerónimo tem ali uma trégua. Os homens e mulheres, de várias origens geográficas, raças ou religiões que saem da fábrica aos magotes não hesitam em cumprimentar o 'colega operário' que ali os espera. Há abraços, cumprimentos, beijos e até selfies sinceros. como se existisse um código secreto de identificação automática. "É um prazer enorme", diz uma operária que se agarra a Jerónimo e se despede com um "que maravilha" a saltar-lhe da boca diretamente do fundo da alma.

A campanha comunista tinha programado um dia inteiro de campanha "dedicado aos trabalhadores". Politicamente, a agenda era perfeita para assinalar uma das batalhas travadas pelo PCP contra o PS em torno da "questão fundamental" do código laboral. Rios de propostas e de ameaças comunistas, não serviram para travar o Governo socialista de avançar com um conjunto de alterações à lei que Jerónimo recusa a classificar como derrota, mas que se parece muito com isso... parece.

"Nada está perdido para todo o sempre", diz o líder à saída da fábrica. Os operários e as demonstrações espontâneas de "respeito e reconhecimento" compensam tudo o resto: os contratempos políticos, as sondagens com as quedas a pique, o cansaço de muitas horas, dias, meses e anos de combates eleitorais.

Jerónimo recusa atirar a toalha ao chão. Mesmo se a batalha eleitoral se avizinha gigantesca, reconhece que "é difícil", que "não está fácil" e até mesmo que todos os esforços feitos até aqui "podem não ser suficientes". O máximo de optimismo que consegue transmitir em matéria de prognósticos eleitorais não conseguiram ir além do "sentimento de que o nosso resultado ainda está em construção". Mas, ali, na Azambuja, entre os "seus", ganhou uma espécie de massagem política, que lhe devolveu o sorriso e o ânimo até à etapa seguinte. "Nesta vida, passamos por tristezas, problemas e desaires", reconhece um líder comunista emocionado. "Mas é para mim profundamente tocante receber todo este respeito e reconhecimento. Isto não tem preço".

Faltam quatro dias para o final da campanha. O tempo é curto e a tarefa de segurar um resultado eleitoral começa a parecer uma missão impossível. Jerónimo voltou à oposição e aos apelos à luta, porque "só pela luta é que isto lá vai". O tempo das tréguas sociais vividos com a era da 'geringonça' terminaram. RIP à "posição conjunta" e só no domingo se verá o que poderá renascer das cinzas da defunta maioria parlamentar de esquerda.

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