Intolerância da direita trauliteira

08-10-2018
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Por trás da designação “social-democrata” (no caso do PPD-PSD) e da designação “democrata-cristão” (no caso do CDS-PP) “escondem-se”, paradoxalmente à luz do dia, políticos reaccionários e ultraliberais que não toleram que um Governo do PS, sustentado na Assembleia da República pelos partidos da esquerda, se mantenha no poder, por mais moderado que seja. Essa gente tão impertinente, malcriada, facciosa e trauliteira, tem uma curiosíssima concepção do poder como privilégio natural e exclusivo da direita. Por isso, qualquer vitória da esquerda obtida por via democrática é vivida por essa direita como uma autêntica usurpação.

Não foi por acaso que tal direita erigiu como sua heroína a ex-Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal, cujo mandato foi caracterizado, sobretudo, por processos abertos contra políticos e outros personagens directa ou indirectamente ligados à esquerda, concretamente ao PS, deixando atrás de si, mergulhados no esquecimento, casos escandalosos de políticos ligados à direita, concretamente ao PPD-PSD e ao CDS-PP, ficando impunes exemplos de enriquecimento súbito e indecoroso, além de ignorar a acusação, feita pela Comissão Europeia, de fraude no “caso Tecnoforma”, que atingia Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas.

Pensamento político consistente é coisa que a direita trauliteira não tem - acha-o supérfluo. O seu objectivo imediato é regressar ao poder quanto antes. E para isso vale tudo, mesmo tirar olhos. Em Portugal, têm sido os políticos trauliteiros dos partidos da direita parlamentar, PPD-PSD e CDS-PP, a desempenhar o papel dos partidos populistas da extrema-direita pós-fascista por essa Europa fora.

As mesmas provocações, a mesma demagogia, a mesma agressividade brutal, o mesmo ódio às “esquerdas encostadas” brotam espontaneamente da boca e da pena de políticos tão reaccionários como Assunção Cristas, Nuno Melo ou Nuno Magalhães, do CDS-PP, assim como de Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim, Fernando Negrão, Paulo Rangel, Pedro Duarte ou André Ventura, sem esgotar os exemplos, porque eles são tantos, no PPD-PSD, a querer desalojar - ou mesmo defenestrar - quanto antes Rui Rio, apesar de ter sido democraticamente eleito presidente do partido há bem pouco tempo. É um fartar vilanagem!

Convirá não esquecer duas vozes grossas, uma fininha e outra excêntrica, que se ouvem lá ao fundo. As vozes grossas, ambas prenhes de rancor, são a de Cavaco Silva, falho de subtileza, boa educação e delicadeza, e a de Passos Coelho, mais contido mas nada subtil, a inquietar os seus apoiantes outrora indefectíveis que agora o querem substituir, substituindo Rui Rio. Já a voz fininha é a do “piqueno bruxo” da SIC, ex-ministro de Cavaco e ex-presidente do PPD-PSD, o Luís Marques Mendes, cujos “bitaites” do estilo “uma no cravo e outra na ferradura”, ora a favor de Marcelo PR ora contra Rui Rio, fazem todos os fretes que a direita espera dele, sempre tão expansivo, a gesticular e a esbracejar no ecrã do canal de televisão de Pinto Balsemão, um dos fundadores do PPD-PSD. Finalmente, em surdina, a voz excêntrica é de Santana Lopes, o eterno “perdedor” dentro do partido. E por isso o abandonou finalmente e se entregou “perdidamente” à paixão por uma “Aliança” que, à sua imagem e semelhança, promete ser populista e demagógica, além de politicamente inconsistente, embora capaz de perturbar o “equilíbrio natural” das “direitas encostadas” e a aliança que sempre fazem para exercer o poder.

É claro que não estou a defender Rui Rio! Mas é-me impossível deixar passar sem crítica a brutalidade, verbal e escrita, a que recorrem os trauliteiros do PPD-PSD e do CDS-PP não só contra o Governo das “esquerdas encostadas” (como diz Cristas) mas também contra Rui Rio - com o indecoroso apoio de jornalistas (?) de direita que já nem escondem o desejo de ver cair este Governo e, também, por falta de “nervo” e “contundência verbal”, o actual presidente eleito do PPD-PSD.

Não nos iludamos. Nem o PPD-PSD é social-democrata nem o CDS-PP democrata-cristão. Rui Rio bem tenta mas os trauliteiros não deixam. Já Cristas não tem esse problema, é tão trauliteira como Nuno Melo ou Nuno Magalhães, sem esquecer o ofegante Mota Soares, o inábil João Almeida e as espirra-canivetes Isabel Galriça Neto e Cecília Meireles. Estas direitas - com ou sem a “Aliança” de Santana Lopes pela trela - não têm outra política alternativa a oferecer ao País que não seja mais austeridade, mais empobrecimento da população, mais privatizações (desde logo no “mercado” da Saúde), mais subserviência perante os empresários, sem olhar à incompetência de muitos deles (exemplos não faltam, como se sabe), e com total rendição à plutocracia financeira e à ideologia neoliberal e securitária.

Além da brutalidade desta direita trauliteira, o que é mais inquietante é a pressão duríssima exercida pelo PCP contra o actual Governo, sobretudo por via dos seus sindicatos “sob influência”, como é o caso da FENPROF e dos seus professores, os quais nunca se atiraram com tanto furor contra os Governos de direita como já o fizeram contra o Governo PS de José Sócrates e como agora estão a fazer contra o Governo PS de António Costa. E é significativo que o sindicato de Mário Nogueira leve atrás dele o sindicato de professores da UGT, mais próximo do PPD-PSD e da ala direita do PS apoiante de António José Seguro, também ela com dificuldade em “engolir” a derrota infligida por António Costa, para bem do PS. E isto faz-me lembrar o Governo de coligação a que pertenci, entre PS e PPD-PSD, no qual era óbvio que este partido (que teve três presidentes nesse período) estava, como se dizia então, “com um pé no governo e outro na oposição”. Assim me parece hoje o PCP, com um pé na maioria parlamentar e outro na oposição ao Governo.

Para a União Europeia - e para o sistema de capitalismo selvagem e incontrolado que nela continua a vigorar - o futuro não se apresenta nada risonho. O frenético enriquecimento dos mais ricos, em detrimento dos assalariados, está cavar cada vez mais fundo o fosso que separa uns e outros, ou seja, a escassíssima minoria de uns e a enormíssima maioria dos outros. Sinal de que, por muitas e variadas razões - e esse fosso é uma delas -, a democracia se tornou cada vez mais virtual e os cidadãos se sentem cada vez mais impotentes para influenciar os poderes dominantes - sobretudo o poder da plutocracia financeira e das multinacionais, pelo qual o poder político se deixou subjugar. Por isso digo que, em Portugal, mais vale manter uma esquerda plural maioritária no Parlamento do que ter as direitas trauliteiras no Governo. Se o exemplo alastrar na Europa, tanto melhor!

Por trás da designação “social-democrata” (no caso do PPD-PSD) e da designação “democrata-cristão” (no caso do CDS-PP) “escondem-se”, paradoxalmente à luz do dia, políticos reaccionários e ultraliberais que não toleram que um Governo do PS, sustentado na Assembleia da República pelos partidos da esquerda, se mantenha no poder, por mais moderado que seja. Essa gente tão impertinente, malcriada, facciosa e trauliteira, tem uma curiosíssima concepção do poder como privilégio natural e exclusivo da direita. Por isso, qualquer vitória da esquerda obtida por via democrática é vivida por essa direita como uma autêntica usurpação.

Não foi por acaso que tal direita erigiu como sua heroína a ex-Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal, cujo mandato foi caracterizado, sobretudo, por processos abertos contra políticos e outros personagens directa ou indirectamente ligados à esquerda, concretamente ao PS, deixando atrás de si, mergulhados no esquecimento, casos escandalosos de políticos ligados à direita, concretamente ao PPD-PSD e ao CDS-PP, ficando impunes exemplos de enriquecimento súbito e indecoroso, além de ignorar a acusação, feita pela Comissão Europeia, de fraude no “caso Tecnoforma”, que atingia Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas.

Pensamento político consistente é coisa que a direita trauliteira não tem - acha-o supérfluo. O seu objectivo imediato é regressar ao poder quanto antes. E para isso vale tudo, mesmo tirar olhos. Em Portugal, têm sido os políticos trauliteiros dos partidos da direita parlamentar, PPD-PSD e CDS-PP, a desempenhar o papel dos partidos populistas da extrema-direita pós-fascista por essa Europa fora.

As mesmas provocações, a mesma demagogia, a mesma agressividade brutal, o mesmo ódio às “esquerdas encostadas” brotam espontaneamente da boca e da pena de políticos tão reaccionários como Assunção Cristas, Nuno Melo ou Nuno Magalhães, do CDS-PP, assim como de Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim, Fernando Negrão, Paulo Rangel, Pedro Duarte ou André Ventura, sem esgotar os exemplos, porque eles são tantos, no PPD-PSD, a querer desalojar - ou mesmo defenestrar - quanto antes Rui Rio, apesar de ter sido democraticamente eleito presidente do partido há bem pouco tempo. É um fartar vilanagem!

Convirá não esquecer duas vozes grossas, uma fininha e outra excêntrica, que se ouvem lá ao fundo. As vozes grossas, ambas prenhes de rancor, são a de Cavaco Silva, falho de subtileza, boa educação e delicadeza, e a de Passos Coelho, mais contido mas nada subtil, a inquietar os seus apoiantes outrora indefectíveis que agora o querem substituir, substituindo Rui Rio. Já a voz fininha é a do “piqueno bruxo” da SIC, ex-ministro de Cavaco e ex-presidente do PPD-PSD, o Luís Marques Mendes, cujos “bitaites” do estilo “uma no cravo e outra na ferradura”, ora a favor de Marcelo PR ora contra Rui Rio, fazem todos os fretes que a direita espera dele, sempre tão expansivo, a gesticular e a esbracejar no ecrã do canal de televisão de Pinto Balsemão, um dos fundadores do PPD-PSD. Finalmente, em surdina, a voz excêntrica é de Santana Lopes, o eterno “perdedor” dentro do partido. E por isso o abandonou finalmente e se entregou “perdidamente” à paixão por uma “Aliança” que, à sua imagem e semelhança, promete ser populista e demagógica, além de politicamente inconsistente, embora capaz de perturbar o “equilíbrio natural” das “direitas encostadas” e a aliança que sempre fazem para exercer o poder.

É claro que não estou a defender Rui Rio! Mas é-me impossível deixar passar sem crítica a brutalidade, verbal e escrita, a que recorrem os trauliteiros do PPD-PSD e do CDS-PP não só contra o Governo das “esquerdas encostadas” (como diz Cristas) mas também contra Rui Rio - com o indecoroso apoio de jornalistas (?) de direita que já nem escondem o desejo de ver cair este Governo e, também, por falta de “nervo” e “contundência verbal”, o actual presidente eleito do PPD-PSD.

Não nos iludamos. Nem o PPD-PSD é social-democrata nem o CDS-PP democrata-cristão. Rui Rio bem tenta mas os trauliteiros não deixam. Já Cristas não tem esse problema, é tão trauliteira como Nuno Melo ou Nuno Magalhães, sem esquecer o ofegante Mota Soares, o inábil João Almeida e as espirra-canivetes Isabel Galriça Neto e Cecília Meireles. Estas direitas - com ou sem a “Aliança” de Santana Lopes pela trela - não têm outra política alternativa a oferecer ao País que não seja mais austeridade, mais empobrecimento da população, mais privatizações (desde logo no “mercado” da Saúde), mais subserviência perante os empresários, sem olhar à incompetência de muitos deles (exemplos não faltam, como se sabe), e com total rendição à plutocracia financeira e à ideologia neoliberal e securitária.

Além da brutalidade desta direita trauliteira, o que é mais inquietante é a pressão duríssima exercida pelo PCP contra o actual Governo, sobretudo por via dos seus sindicatos “sob influência”, como é o caso da FENPROF e dos seus professores, os quais nunca se atiraram com tanto furor contra os Governos de direita como já o fizeram contra o Governo PS de José Sócrates e como agora estão a fazer contra o Governo PS de António Costa. E é significativo que o sindicato de Mário Nogueira leve atrás dele o sindicato de professores da UGT, mais próximo do PPD-PSD e da ala direita do PS apoiante de António José Seguro, também ela com dificuldade em “engolir” a derrota infligida por António Costa, para bem do PS. E isto faz-me lembrar o Governo de coligação a que pertenci, entre PS e PPD-PSD, no qual era óbvio que este partido (que teve três presidentes nesse período) estava, como se dizia então, “com um pé no governo e outro na oposição”. Assim me parece hoje o PCP, com um pé na maioria parlamentar e outro na oposição ao Governo.

Para a União Europeia - e para o sistema de capitalismo selvagem e incontrolado que nela continua a vigorar - o futuro não se apresenta nada risonho. O frenético enriquecimento dos mais ricos, em detrimento dos assalariados, está cavar cada vez mais fundo o fosso que separa uns e outros, ou seja, a escassíssima minoria de uns e a enormíssima maioria dos outros. Sinal de que, por muitas e variadas razões - e esse fosso é uma delas -, a democracia se tornou cada vez mais virtual e os cidadãos se sentem cada vez mais impotentes para influenciar os poderes dominantes - sobretudo o poder da plutocracia financeira e das multinacionais, pelo qual o poder político se deixou subjugar. Por isso digo que, em Portugal, mais vale manter uma esquerda plural maioritária no Parlamento do que ter as direitas trauliteiras no Governo. Se o exemplo alastrar na Europa, tanto melhor!

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