Malomil: Apátrida, de Isabel Moreira.

23-09-2019
marcar artigo

 

Apátrida – O que é a
pátria de cada um?, de Isabel Moreira, é  um livro que prolonga e aprofunda temáticas obsessivas,
quase fetichistas, e tópicos discursivos que caracterizam desde há muito a obra
desta autora. Além dos sucessos de vendas Correspondência Comercial e A Excelência no Atendimento, até agora Isabel Moreira publicara três livros: o solitário Pessoas só, seguido do palavroso Quando uma palavra não basta («candidato
ao prémio Saramago») e depois 160 páginas de Ansiedade.
Este é o quarto.

Segundo
a nota biográfica constante desta sua nova obra, Isabel Alves Moreira nasceu há
já 37 anos e, de momento, possui o grau académico «admitida a doutoramento» na
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É deputada e advogada por conta
própria, tendo várias publicações técnicas na área do Direito Constitucional. A
sua restante obra ficcional caracteriza-se pela «indefinição de género», refere
a nota biográfica.  

         Ao utilizar o conceito de apatridia
como tema/mote deste novo livro, Isabel Moreira convoca a um tempo a sua
formação de jusconstitucionalista de projecção nacional e a sua trajectória íntima
também de projecção nacional. Apátrida,
na verdade, é indissociável de um périplo
de vida marcado pelo sofrimento da distância em face da pátria de origem. A
autora nasceu no país-irmão (o Brasil), a 2 de Abril de 1976 e, de acordo com a sua biografia divulgada na página oficial do Parlamento, concluiu com
aproveitamento o 1º, o 2º e o 3º ciclos, o ensino secundário, a licenciatura em
Direito e o mestrado em Direito Constitucional, na vertente de Direitos
Fundamentais. A experiência do exílio, ademais motivado pela marca de brasa de um
regime tirânico, governado por elites opressoras e moralmente corruptas, adensa
a carga  − ou descarga −  autobiográfica da obra, convertendo este
livro, texto indefinível, também em testemunho cívico e grito de rebeldia contra
todas as formas de ditadura.   

         Isabel de Lima Mayer Alves Moreira
transporta consigo a convicção hippy chic
de que ser escritor é escrever palavras, mesmo que com erros de ortografia. Articulando
a literatura da abjecção e a
tentativa frustrada de se configurar como escritora
maldita, a autora explora as margens, levando esse absoluto desbordamento
muito para lá de todas as fronteiras, sobretudo as do bom senso. Numa escrita
de/em vertigem, em pulsão dilacerada e, acima de tudo, dilacerante (para os
leitores), o livro insere-se muito bem, todo ele, no perímetro da imbecilidade
literária e aí permanece quietinho, indecifrável e ofegante. Através de muitas
palavras, agrupadas de forma deliberadamente desconexa, o projecto perturbante
e petulante de Isabel Moreira, raiando o suicidário, fá-la mergulhar, com seus demónios
privados e de estimação (por ex., «o demónio do asfalto» − pág. 27), nos
abismos de uma insanidade que se suspeita teatralizada. Situa-se na margem, ou
na encenação desta. Em todo o caso, é sempre a partir do centro, e do seu
conforto, que a autora se projecta para a margem. Apátrida apresenta-se, pois, como uma convenção ficcionada em
estilo abdominal, que a Wook entrega ao domicílio dos leitores por uns
razoáveis € 10,98, mais portes de envio.  

O
ponto de chegada deste vórtice vocabular é a margem, a periferia da sanidade,
mas, insiste-se, a sua raiz é o centro, um lugar cómodo, bem servido de
transportes de toda a espécie. Isabel Moreira procura-se e acha-se no centro,
por razões familiares involuntárias (origens na alta burguesia lisboeta; pai
ministro de Salazar), mas também por uma demanda que, de forma radicalmente certeira,
intui sempre a melhor via da sua própria intervenção (carreira académica convencional,
ainda que abruptamente terminada em 2009; grupo parlamentar do Partido
Socialista). Há um sagaz oportunismo na escolha destes territórios significantes
e é essa subtilíssima estratégia retórica, mas também imagética, que permite à
autora direccionar-se e posicionar-se para as margens – e ultrapassá-las para
lá do limiar da inteligibilidade (pág. 35: «o gajo não sabe um cu do que se
passa»). O centro constitui assim o ponto ou orifício («um buraco diferente» −
pág. 25) de irradiação de uma marginalidade que, na representação da
narradora/poeta/constitucionalista, se configura como impositiva e compulsória,
até traquina. Mais ou menos como as crianças que dizem «xixi» e «cocó» e julgam
ter feito uma grande malandrice, sufocando o riso por temor à palmadita
iminente. Em troca, recebem apenas um calduço ligeiro e condescendente,
enquanto os adultos em seu redor sorriem com bonomia, sussurrando entre si que
o petiz até já vocaliza bem os dissílabos. Em Apátrida, a pauta é escabrosa, mas conformista e previsível. A
autora, coitadita, esbraceja alguns substantivos e mesmo advérbios, na vã tentativa
de ser «profunda» e escrever «literatura». Porém, não alcança mais do que o confessionalismo
típico de um diário íntimo de uma adolescente de Telheiras. Julga-se
provocatória, mas, no fundo, cumpre à risca as injunções do tipo de escrita que
artificialmente cultiva. Crê-se rebelde, quando, na realidade, é obediente e
betinha, fazendo a trote ou a galope tudo aquilo que dela se espera. Aliás, daqui
não se espera muito. Apátrida é tão original
e surpreendente como uma marquise de alumínio.  

O
campo semântico desta hemorragia emocional encontra-se logo definido na página
33, onde o autoritarismo é metonimicamente denunciado através da transnomição
onomatopaica «chiiiiiiiiiiiiiiiiiiu» (pág. 33, prorrogado no «cala as minhas
esplanadas» da pág. 51, e no ritmado «clique, clique, clique» da pág. 47). Apátrida assume-se como obra de
continuidade, mas também de ruptura e em ruptura, numa incessante busca
homicida, presente no projecto assassino de «matar o bailado dos qualificativos»
(pág. 11). Melhor dizendo, Apátrida foi
construída, por um empreiteiro de Alverca, em permanente disforia e completa transgressão
de todos os cânones. No jornal Público/Ípsilon,
de 30.05.2014, Maria da Conceição Caleiro caracterizou Apátrida como «um belo e doloroso livro, de recepção quase física»,
conferindo-lhe justissimamente a pontuação astrológica de quatro estrelas e um
cometa («um livro surpreendente e dos mais interessantes que se publicaram em
Portugal nos últimos tempos»). Na verdade, o texto é alvo de uma recepção
física, a que de imediato se segue a regurgitação, também física e biliar («vou
vomitar» − pág. 40; «o meu umbigo vomitado numa noite aterradora» − pág. 32;
«talvez nesse dia ausente tenha / entrado em sua casa e amparasse / o vómito» −
pág. 40; «esmurra o vomitado nas casas de banho» − pág. 34). Notamos, a
espaços, o eco de uma certa pecuária do desalento.

Trata-se,
inquestionavelmente, de uma obra de abordagem dorida, mesmo penosa, um cálculo renal literário. Maria da
Conceição Caleiro concluiu a sua recensão interrogando-se sobre o ponto-chave,
a questão crucial: «É quase indecidível se o não-alinhamento à direita do texto
é intencional ou descuido editorial».

         O problema do não-alinhamento à direita
do texto afigura-se, de facto, absolutamente nuclear para compreendermos a
economia narrativa deste Apátrida,
quer enquanto livro-objecto, quer na dimensão de objecto-livro. A teoria do descuido editorialista encontra-se refém
dos seus próprios postulados. Ao invés, a tese
intencionalista tem apoio no percurso público da autora, que vem confirmando
uma postura política, mas sobretudo ética, de rejeição estridente do
alinhamento à direita, em confronto furioso, mas nem sempre coerente, com o
fascismo das consciências e dos afectos, outrora presente em instituições sinistras
como a PIDE ou o campo de concentração do Chão Bom do Tarrafal (reaberto por portaria ministerial de 17 de Junho de 1961).   

É
também nesse contexto transgressor da «ordem» que deve ser situada a existência
de erros de ortografia, que Maria da Conceição Caleiro atribui a uma deficiência de
revisão editorial («talvez se justificasse uma revisão que eliminasse os erros
de ortografia»). É certo que o livro diz «externo» em lugar de «esterno» e
«gim» em vez de «gin», mas tudo isto, entre pecadilhos do mesmo calibre,
decorre da intenção de subverter a norma, instaurando, em seu lugar, uma
gramática alternativa e caótica, mais próxima da autenticidade demencial da
vida, de uma existência atravessada em cambiantes de tal forma sofridos e
pavorosos que não se coadunam com as mais elementares regras de
escrita.     

As
razões dos erros ortográficos de Apátrida,
ao invés de serem atribuídas a um desleixo do pobre revisor tipográfico, como
sustenta Maria da Conceição Caleiro, deverão buscar-se, porventura, quer nas deficiências
da formação básica da autora, processada em retrógrados colégios de freiras,
quer à sua proposta transgressiva de desconstrução de todas as convenções burguesas.
Já a indesculpável ausência, também apontada por Maria da Conceição Caleiro, de «uma
folhinha final antes da capa», encontra explicação plausível no actual contexto
de crise económico-financeira e do PAEFF mas também, ousamos dizê-lo, ao
propósito implícito de assinalar que esta é uma obra sempre inacabada, eterna e
internamente aberta a todas as recepções que, como se referiu, são
dominantemente físicas e, nesse âmbito, eminentemente corpóreas. A abertura e a
recepção, físicas e corpóreas, são totais e vorazmente carnívoras, ávidas da
plenitude dos sentidos, num experimentalismo sucessivo, às vezes múltiplo, e sempre
infindo. Enquanto houver portugueses…

         Se, como assinala a ex-ministra e
pianista Gabriela Canavilhas na contracapa do livro, «Isabel Moreira não pára
de surpreender», é também um facto que existe uma linha de continuidade
temática e estilística, substantiva e formal, numa obra vulcânica, sulfurosa, que surge
caracterizada por uma cadência torrencial de palavras, aluvião semântico de
frases despojadas de sentido que obrigam o leitor a reencontrar-se, mesmo que a
muito esforço e sem sucesso algum, com uma textura linguística impermeável à
compreensão. Nesse sentido, Apátrida
é também uma obra de resistência (talvez melhor, de re-sistência ou mesmo de
re-sis-tência), que apela à desistência (de-sistência) do leitor, impedindo, de
forma militante e raivosa, a descoberta de um qualquer sentido no arrazoado de caracteres
que Isabel Moreira despejou às noites sobre um écran em branco.

         O corpo e as suas excrescências
regulares são centrais neste universo efervescente de delírio condoído e moído,
patente logo na página 8, e na referência dela constante a um «estrume de dor».
Estrume de dor constitui-se como metáfora
e síntese perfeitas destas 104 páginas, impressas na Bloco Gráfico, Lda. (à Maia). 

Menos
apreensíveis, porque remetendo para um âmbito mais íntimo ainda que exposto sem
pudores nem tabus, se afiguram alusões de tipo confessional, tais como: «estou
peganhenta» (pág. 12), «fumei três ganzas e bebi uma garrafa de vinho tinto»
(pág. 38), «fui a um bar e comi coisas verdes» (pág. 39), o assaz enigmático «e
tal e tal e o caralho» (pág. 15) ou o nauseabundo «dói-me o útero / e de
repente tudo cheira mal,» (pág. 19), e ainda «o meu útero, desde então,
gentilmente destruído» (pág. 67), a que se poderiam acrescentar, em momentos
mais dinâmicos e alvoroçados, «aquele entra e sai ritmado, gramatical,» (pág.
19), o «tirando três dedos femininos de dentro dela» (pág. 41) ou, numa
aproximação mais esclarecida e penetrante, «metendo o que pode no que vai dar a
umas trompas laqueadas» (pág. 41). Retenha-se ainda o trecho central da página
77, em torno do qual gravitam diversos eixos narrativos:

         «tantos gajos, mães, eu tão bêbeda,

         meticulosa, um a um, odor a odor, nos

         pescoços,
nas virilhas, nos cus, onde

         fosse, respirar gajo a gajo à procura
de

         um cheiro familiar

         familiar

         nós»

 

Estas
imagens, muito tributárias de uma herança democrata-cristã que combina bem a Rerum Novarum e o Moleskine, desaguam,
enfim, «num charco, um charco de esperma a tapar a primeira marca de ter sido
mãe» (pág. 33). No fim, a pestilência letal: «morro a procurar o teu cheiro em
duas ancas» (pág. 74). Isabel Moreira transfere a mecânica de autoflagelação
presente noutros momentos da sua obra (recorde-se o arrepiante «esfregar urtigas no sexo», do blogue «Consolação», texto de 2010) para uma pulsão castigadora da
lucidez do seu público. A comunidade, já vasta, dos seus leitores e admiradores
não gostará de ver que, em apenas duas páginas (pp. 42-43), esta «menina-lobo
que uiva culpas» começa por se alimentar frugalmente («comeu uma colherada de
batatas» − pág. 42) para, logo a seguir, ser alvo de uma bárbara agressão («a
menina leva um estalo na cara» − pág. 43), agravada pela obrigatoriedade de
proceder a serviços de limpeza doméstica numa posição desconfortável («eu de
mãos atadas nas costas a lamber o chão.» − pág. 53). Note-se, em todo o caso,
que este trabalho linguístico foi objecto da justa e devida remuneração
pecuniária («o amigo que me enfiava uma nota no sexo» − pág. 53). Encontramo-nos,
portanto, fora do âmbito da «unilateralidade sem dolo» que a autora denuncia na
página 68.          

No
corpus literário que agora celebra
com desnudada e espumante exuberância, a autora debate-se entre «a gaveta
mortuária das palavras» (pág. 11) e a «desistência das palavras» (pág. 23),
optando por um acto de não-desistência, pelo que este livro, livro-em-devir  (work in progress), é também promessa, ou
ameaça, de que outras obras virão, assim haja vida e saúde e nós cá todos a
ver.

A
este propósito do ver/não-ver, sublinhe-se que a visualidade é patente nos
constantes (des)encontros desta obra com a recusa de qualquer pragmatismo, num
escrutínio minucioso, quase espeleológico, da ontologia do Ser (o Sein, à Morais Soares, nº 14, c/v). É
dessa inquirição cruciante que Isabel Moreira extrai um dos tópicos mais densos
e recorrentes do seu trabalho: deus, um gajo sempre grafado com minúscula. Em metafísico
diálogo com um Criador implacável e severíssimo, de matriz conservadora e veterotestamentária,
Apátrida imprime à abordagem do
divino um sentido agreste de permanente impugnação e desafio, nas franjas da apostasia.
Os dispositivos são vários: árvores «tão altas que esmurram deus» (pág. 22), «o
choro inútil de deus» (pág. 27), «deus a dar cabo de tudo» (pág. 32), «a
cegueira de um tiro de deus amarelo ao máximo ao nosso encontro» (pág. 28,
bisando a pág. 102 com «a cegueira de um tiro de deus amarelo máximo ao nosso
encontro»). O mais conseguido de todos ocorre sob condições meteorológicas algo
adversas, com «deus a mijar-se de medo pelas pernas abaixo naquele temporal»
(pág. 98).

Neste
cruzamento improvável, quase choque frontal, entre a inspiração tutelar de Rui
Nunes e o ferrete freudiano do doutor Alves Moreira, a autora adere plenamente ao
cáustico, mas na versão Primavera/Verão 2014. Na página 41, aparece
inopinadamente um cigano com uns trocos no bolso, que pergunta à plateia: «−
posso levar um bacano?». Podes.        

Quase
no final do livro, após conhecermos uma «manicura perdida no cabeleireiro de
algés» (pág. 73), somos surpreendidos por aquilo que parece ser um acidente
rodoviário, mas, vendo bem, talvez não seja. Ou talvez seja. O ponto é de todo em
todo irrelevante e secundário para a percepção do sentido global de uma obra de
várias espessuras e tessituras em que nada do que lá está é o que parece, pois
nada se conjuga com nada, excepto a presunção de Isabel Moreira de que escreveu
literatura e a convicção da Temas e Debates de que um livro de alguém que vai muito
ao Prós e Contras sempre venderá
alguma coisinha.

         A metamorfose corpórea e a distorção
anatómica são expedientes que transportam o leitor para um não-lugar (o
não-lugar da ausência), em que a percepção do que se lê é severamente punida pela
hegemonia, quase tirânica, da escanzelada sofreguidão de Isabel Moreira em colocar palavras
atrás de palavras, limitando a isso o seu gesto criativo, ou seja, rasurando a
intervenção dos códigos inibidores da pura dejecção verbal. Enquanto houver um
teclado e um portátil com bateria, teremos golfadas de angústia. É sob esta
perspectiva, a perspectiva baconiana da distorção anatómica, que devem ser
compreendidas, por exemplo, as referências a «um intestino prolongado pela
garganta», constante da página 44, e a um «útero invertido», da página 48. Ou, mais
gastronomicamente, um dos muitos trechos Maddie MacCann de Apátrida: «− Onde está o meu pai? Eis a pergunta que lhe come a
pálpebras enquanto mastiga lombo de vaca e lágrimas de desaparecimento do pai.»
(pág. 46).

         A insalubridade vivencial é exaltada de
modo mais lateral do que noutras obras de Isabel Moreira, estando, ainda assim,
presente de forma visível, apesar de fugaz. O exercício físico, por exemplo,
encontra-se limitado ao encaixe carnal de exclusivo fito orgásmico,
erradicando-se por via político-administrativa práticas como o badminton e o ténis de mesa, até porque,
como bem sabeis, «quem faz muito desporto demora a vir-se» (pág. 49). Ainda que
catártica, esta focalização do trabalho dos corpos na ginástica sexuada
(«morde-lhe as mamas» − pág. 52) é susceptível de gerar equívocos e até algumas
frustrações, nomeadamente quando um dos interlocutores não se mostra à altura das
viscerais exigências («− és uma puta velha que não faz um homem vir-se.» − pág.
49). No limite, «− assim dói» (pág. 48), tanto mais que, numa evocação críptica
de Bertolucci, se confessa: «eu também
não gosto de manteiga» (pág. 23; itálico no original).

 A violência, extrema e arrebatada, é resultado,
mas também reverso, da ausência de pátria, dessa a-patridia existencial personificada na presença tão ansiada quanto
intermitente do pai/pau, tal como apreendemos o sentido do diálogo da página
70:

«−
quem és tu, pai?

 − disseste pai?


não, disse pau.»

 

Jurista-constitucionalista,
Isabel Moreira aprofunda em Apátrida
temas presentes na sua já apreciável obra, produzindo um livro que se lê num
fôlego sobretudo quando está fechado.

 

 

António Araújo

 

  

 

 

 

 

Apátrida – O que é a
pátria de cada um?, de Isabel Moreira, é  um livro que prolonga e aprofunda temáticas obsessivas,
quase fetichistas, e tópicos discursivos que caracterizam desde há muito a obra
desta autora. Além dos sucessos de vendas Correspondência Comercial e A Excelência no Atendimento, até agora Isabel Moreira publicara três livros: o solitário Pessoas só, seguido do palavroso Quando uma palavra não basta («candidato
ao prémio Saramago») e depois 160 páginas de Ansiedade.
Este é o quarto.

Segundo
a nota biográfica constante desta sua nova obra, Isabel Alves Moreira nasceu há
já 37 anos e, de momento, possui o grau académico «admitida a doutoramento» na
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É deputada e advogada por conta
própria, tendo várias publicações técnicas na área do Direito Constitucional. A
sua restante obra ficcional caracteriza-se pela «indefinição de género», refere
a nota biográfica.  

         Ao utilizar o conceito de apatridia
como tema/mote deste novo livro, Isabel Moreira convoca a um tempo a sua
formação de jusconstitucionalista de projecção nacional e a sua trajectória íntima
também de projecção nacional. Apátrida,
na verdade, é indissociável de um périplo
de vida marcado pelo sofrimento da distância em face da pátria de origem. A
autora nasceu no país-irmão (o Brasil), a 2 de Abril de 1976 e, de acordo com a sua biografia divulgada na página oficial do Parlamento, concluiu com
aproveitamento o 1º, o 2º e o 3º ciclos, o ensino secundário, a licenciatura em
Direito e o mestrado em Direito Constitucional, na vertente de Direitos
Fundamentais. A experiência do exílio, ademais motivado pela marca de brasa de um
regime tirânico, governado por elites opressoras e moralmente corruptas, adensa
a carga  − ou descarga −  autobiográfica da obra, convertendo este
livro, texto indefinível, também em testemunho cívico e grito de rebeldia contra
todas as formas de ditadura.   

         Isabel de Lima Mayer Alves Moreira
transporta consigo a convicção hippy chic
de que ser escritor é escrever palavras, mesmo que com erros de ortografia. Articulando
a literatura da abjecção e a
tentativa frustrada de se configurar como escritora
maldita, a autora explora as margens, levando esse absoluto desbordamento
muito para lá de todas as fronteiras, sobretudo as do bom senso. Numa escrita
de/em vertigem, em pulsão dilacerada e, acima de tudo, dilacerante (para os
leitores), o livro insere-se muito bem, todo ele, no perímetro da imbecilidade
literária e aí permanece quietinho, indecifrável e ofegante. Através de muitas
palavras, agrupadas de forma deliberadamente desconexa, o projecto perturbante
e petulante de Isabel Moreira, raiando o suicidário, fá-la mergulhar, com seus demónios
privados e de estimação (por ex., «o demónio do asfalto» − pág. 27), nos
abismos de uma insanidade que se suspeita teatralizada. Situa-se na margem, ou
na encenação desta. Em todo o caso, é sempre a partir do centro, e do seu
conforto, que a autora se projecta para a margem. Apátrida apresenta-se, pois, como uma convenção ficcionada em
estilo abdominal, que a Wook entrega ao domicílio dos leitores por uns
razoáveis € 10,98, mais portes de envio.  

O
ponto de chegada deste vórtice vocabular é a margem, a periferia da sanidade,
mas, insiste-se, a sua raiz é o centro, um lugar cómodo, bem servido de
transportes de toda a espécie. Isabel Moreira procura-se e acha-se no centro,
por razões familiares involuntárias (origens na alta burguesia lisboeta; pai
ministro de Salazar), mas também por uma demanda que, de forma radicalmente certeira,
intui sempre a melhor via da sua própria intervenção (carreira académica convencional,
ainda que abruptamente terminada em 2009; grupo parlamentar do Partido
Socialista). Há um sagaz oportunismo na escolha destes territórios significantes
e é essa subtilíssima estratégia retórica, mas também imagética, que permite à
autora direccionar-se e posicionar-se para as margens – e ultrapassá-las para
lá do limiar da inteligibilidade (pág. 35: «o gajo não sabe um cu do que se
passa»). O centro constitui assim o ponto ou orifício («um buraco diferente» −
pág. 25) de irradiação de uma marginalidade que, na representação da
narradora/poeta/constitucionalista, se configura como impositiva e compulsória,
até traquina. Mais ou menos como as crianças que dizem «xixi» e «cocó» e julgam
ter feito uma grande malandrice, sufocando o riso por temor à palmadita
iminente. Em troca, recebem apenas um calduço ligeiro e condescendente,
enquanto os adultos em seu redor sorriem com bonomia, sussurrando entre si que
o petiz até já vocaliza bem os dissílabos. Em Apátrida, a pauta é escabrosa, mas conformista e previsível. A
autora, coitadita, esbraceja alguns substantivos e mesmo advérbios, na vã tentativa
de ser «profunda» e escrever «literatura». Porém, não alcança mais do que o confessionalismo
típico de um diário íntimo de uma adolescente de Telheiras. Julga-se
provocatória, mas, no fundo, cumpre à risca as injunções do tipo de escrita que
artificialmente cultiva. Crê-se rebelde, quando, na realidade, é obediente e
betinha, fazendo a trote ou a galope tudo aquilo que dela se espera. Aliás, daqui
não se espera muito. Apátrida é tão original
e surpreendente como uma marquise de alumínio.  

O
campo semântico desta hemorragia emocional encontra-se logo definido na página
33, onde o autoritarismo é metonimicamente denunciado através da transnomição
onomatopaica «chiiiiiiiiiiiiiiiiiiu» (pág. 33, prorrogado no «cala as minhas
esplanadas» da pág. 51, e no ritmado «clique, clique, clique» da pág. 47). Apátrida assume-se como obra de
continuidade, mas também de ruptura e em ruptura, numa incessante busca
homicida, presente no projecto assassino de «matar o bailado dos qualificativos»
(pág. 11). Melhor dizendo, Apátrida foi
construída, por um empreiteiro de Alverca, em permanente disforia e completa transgressão
de todos os cânones. No jornal Público/Ípsilon,
de 30.05.2014, Maria da Conceição Caleiro caracterizou Apátrida como «um belo e doloroso livro, de recepção quase física»,
conferindo-lhe justissimamente a pontuação astrológica de quatro estrelas e um
cometa («um livro surpreendente e dos mais interessantes que se publicaram em
Portugal nos últimos tempos»). Na verdade, o texto é alvo de uma recepção
física, a que de imediato se segue a regurgitação, também física e biliar («vou
vomitar» − pág. 40; «o meu umbigo vomitado numa noite aterradora» − pág. 32;
«talvez nesse dia ausente tenha / entrado em sua casa e amparasse / o vómito» −
pág. 40; «esmurra o vomitado nas casas de banho» − pág. 34). Notamos, a
espaços, o eco de uma certa pecuária do desalento.

Trata-se,
inquestionavelmente, de uma obra de abordagem dorida, mesmo penosa, um cálculo renal literário. Maria da
Conceição Caleiro concluiu a sua recensão interrogando-se sobre o ponto-chave,
a questão crucial: «É quase indecidível se o não-alinhamento à direita do texto
é intencional ou descuido editorial».

         O problema do não-alinhamento à direita
do texto afigura-se, de facto, absolutamente nuclear para compreendermos a
economia narrativa deste Apátrida,
quer enquanto livro-objecto, quer na dimensão de objecto-livro. A teoria do descuido editorialista encontra-se refém
dos seus próprios postulados. Ao invés, a tese
intencionalista tem apoio no percurso público da autora, que vem confirmando
uma postura política, mas sobretudo ética, de rejeição estridente do
alinhamento à direita, em confronto furioso, mas nem sempre coerente, com o
fascismo das consciências e dos afectos, outrora presente em instituições sinistras
como a PIDE ou o campo de concentração do Chão Bom do Tarrafal (reaberto por portaria ministerial de 17 de Junho de 1961).   

É
também nesse contexto transgressor da «ordem» que deve ser situada a existência
de erros de ortografia, que Maria da Conceição Caleiro atribui a uma deficiência de
revisão editorial («talvez se justificasse uma revisão que eliminasse os erros
de ortografia»). É certo que o livro diz «externo» em lugar de «esterno» e
«gim» em vez de «gin», mas tudo isto, entre pecadilhos do mesmo calibre,
decorre da intenção de subverter a norma, instaurando, em seu lugar, uma
gramática alternativa e caótica, mais próxima da autenticidade demencial da
vida, de uma existência atravessada em cambiantes de tal forma sofridos e
pavorosos que não se coadunam com as mais elementares regras de
escrita.     

As
razões dos erros ortográficos de Apátrida,
ao invés de serem atribuídas a um desleixo do pobre revisor tipográfico, como
sustenta Maria da Conceição Caleiro, deverão buscar-se, porventura, quer nas deficiências
da formação básica da autora, processada em retrógrados colégios de freiras,
quer à sua proposta transgressiva de desconstrução de todas as convenções burguesas.
Já a indesculpável ausência, também apontada por Maria da Conceição Caleiro, de «uma
folhinha final antes da capa», encontra explicação plausível no actual contexto
de crise económico-financeira e do PAEFF mas também, ousamos dizê-lo, ao
propósito implícito de assinalar que esta é uma obra sempre inacabada, eterna e
internamente aberta a todas as recepções que, como se referiu, são
dominantemente físicas e, nesse âmbito, eminentemente corpóreas. A abertura e a
recepção, físicas e corpóreas, são totais e vorazmente carnívoras, ávidas da
plenitude dos sentidos, num experimentalismo sucessivo, às vezes múltiplo, e sempre
infindo. Enquanto houver portugueses…

         Se, como assinala a ex-ministra e
pianista Gabriela Canavilhas na contracapa do livro, «Isabel Moreira não pára
de surpreender», é também um facto que existe uma linha de continuidade
temática e estilística, substantiva e formal, numa obra vulcânica, sulfurosa, que surge
caracterizada por uma cadência torrencial de palavras, aluvião semântico de
frases despojadas de sentido que obrigam o leitor a reencontrar-se, mesmo que a
muito esforço e sem sucesso algum, com uma textura linguística impermeável à
compreensão. Nesse sentido, Apátrida
é também uma obra de resistência (talvez melhor, de re-sistência ou mesmo de
re-sis-tência), que apela à desistência (de-sistência) do leitor, impedindo, de
forma militante e raivosa, a descoberta de um qualquer sentido no arrazoado de caracteres
que Isabel Moreira despejou às noites sobre um écran em branco.

         O corpo e as suas excrescências
regulares são centrais neste universo efervescente de delírio condoído e moído,
patente logo na página 8, e na referência dela constante a um «estrume de dor».
Estrume de dor constitui-se como metáfora
e síntese perfeitas destas 104 páginas, impressas na Bloco Gráfico, Lda. (à Maia). 

Menos
apreensíveis, porque remetendo para um âmbito mais íntimo ainda que exposto sem
pudores nem tabus, se afiguram alusões de tipo confessional, tais como: «estou
peganhenta» (pág. 12), «fumei três ganzas e bebi uma garrafa de vinho tinto»
(pág. 38), «fui a um bar e comi coisas verdes» (pág. 39), o assaz enigmático «e
tal e tal e o caralho» (pág. 15) ou o nauseabundo «dói-me o útero / e de
repente tudo cheira mal,» (pág. 19), e ainda «o meu útero, desde então,
gentilmente destruído» (pág. 67), a que se poderiam acrescentar, em momentos
mais dinâmicos e alvoroçados, «aquele entra e sai ritmado, gramatical,» (pág.
19), o «tirando três dedos femininos de dentro dela» (pág. 41) ou, numa
aproximação mais esclarecida e penetrante, «metendo o que pode no que vai dar a
umas trompas laqueadas» (pág. 41). Retenha-se ainda o trecho central da página
77, em torno do qual gravitam diversos eixos narrativos:

         «tantos gajos, mães, eu tão bêbeda,

         meticulosa, um a um, odor a odor, nos

         pescoços,
nas virilhas, nos cus, onde

         fosse, respirar gajo a gajo à procura
de

         um cheiro familiar

         familiar

         nós»

 

Estas
imagens, muito tributárias de uma herança democrata-cristã que combina bem a Rerum Novarum e o Moleskine, desaguam,
enfim, «num charco, um charco de esperma a tapar a primeira marca de ter sido
mãe» (pág. 33). No fim, a pestilência letal: «morro a procurar o teu cheiro em
duas ancas» (pág. 74). Isabel Moreira transfere a mecânica de autoflagelação
presente noutros momentos da sua obra (recorde-se o arrepiante «esfregar urtigas no sexo», do blogue «Consolação», texto de 2010) para uma pulsão castigadora da
lucidez do seu público. A comunidade, já vasta, dos seus leitores e admiradores
não gostará de ver que, em apenas duas páginas (pp. 42-43), esta «menina-lobo
que uiva culpas» começa por se alimentar frugalmente («comeu uma colherada de
batatas» − pág. 42) para, logo a seguir, ser alvo de uma bárbara agressão («a
menina leva um estalo na cara» − pág. 43), agravada pela obrigatoriedade de
proceder a serviços de limpeza doméstica numa posição desconfortável («eu de
mãos atadas nas costas a lamber o chão.» − pág. 53). Note-se, em todo o caso,
que este trabalho linguístico foi objecto da justa e devida remuneração
pecuniária («o amigo que me enfiava uma nota no sexo» − pág. 53). Encontramo-nos,
portanto, fora do âmbito da «unilateralidade sem dolo» que a autora denuncia na
página 68.          

No
corpus literário que agora celebra
com desnudada e espumante exuberância, a autora debate-se entre «a gaveta
mortuária das palavras» (pág. 11) e a «desistência das palavras» (pág. 23),
optando por um acto de não-desistência, pelo que este livro, livro-em-devir  (work in progress), é também promessa, ou
ameaça, de que outras obras virão, assim haja vida e saúde e nós cá todos a
ver.

A
este propósito do ver/não-ver, sublinhe-se que a visualidade é patente nos
constantes (des)encontros desta obra com a recusa de qualquer pragmatismo, num
escrutínio minucioso, quase espeleológico, da ontologia do Ser (o Sein, à Morais Soares, nº 14, c/v). É
dessa inquirição cruciante que Isabel Moreira extrai um dos tópicos mais densos
e recorrentes do seu trabalho: deus, um gajo sempre grafado com minúscula. Em metafísico
diálogo com um Criador implacável e severíssimo, de matriz conservadora e veterotestamentária,
Apátrida imprime à abordagem do
divino um sentido agreste de permanente impugnação e desafio, nas franjas da apostasia.
Os dispositivos são vários: árvores «tão altas que esmurram deus» (pág. 22), «o
choro inútil de deus» (pág. 27), «deus a dar cabo de tudo» (pág. 32), «a
cegueira de um tiro de deus amarelo ao máximo ao nosso encontro» (pág. 28,
bisando a pág. 102 com «a cegueira de um tiro de deus amarelo máximo ao nosso
encontro»). O mais conseguido de todos ocorre sob condições meteorológicas algo
adversas, com «deus a mijar-se de medo pelas pernas abaixo naquele temporal»
(pág. 98).

Neste
cruzamento improvável, quase choque frontal, entre a inspiração tutelar de Rui
Nunes e o ferrete freudiano do doutor Alves Moreira, a autora adere plenamente ao
cáustico, mas na versão Primavera/Verão 2014. Na página 41, aparece
inopinadamente um cigano com uns trocos no bolso, que pergunta à plateia: «−
posso levar um bacano?». Podes.        

Quase
no final do livro, após conhecermos uma «manicura perdida no cabeleireiro de
algés» (pág. 73), somos surpreendidos por aquilo que parece ser um acidente
rodoviário, mas, vendo bem, talvez não seja. Ou talvez seja. O ponto é de todo em
todo irrelevante e secundário para a percepção do sentido global de uma obra de
várias espessuras e tessituras em que nada do que lá está é o que parece, pois
nada se conjuga com nada, excepto a presunção de Isabel Moreira de que escreveu
literatura e a convicção da Temas e Debates de que um livro de alguém que vai muito
ao Prós e Contras sempre venderá
alguma coisinha.

         A metamorfose corpórea e a distorção
anatómica são expedientes que transportam o leitor para um não-lugar (o
não-lugar da ausência), em que a percepção do que se lê é severamente punida pela
hegemonia, quase tirânica, da escanzelada sofreguidão de Isabel Moreira em colocar palavras
atrás de palavras, limitando a isso o seu gesto criativo, ou seja, rasurando a
intervenção dos códigos inibidores da pura dejecção verbal. Enquanto houver um
teclado e um portátil com bateria, teremos golfadas de angústia. É sob esta
perspectiva, a perspectiva baconiana da distorção anatómica, que devem ser
compreendidas, por exemplo, as referências a «um intestino prolongado pela
garganta», constante da página 44, e a um «útero invertido», da página 48. Ou, mais
gastronomicamente, um dos muitos trechos Maddie MacCann de Apátrida: «− Onde está o meu pai? Eis a pergunta que lhe come a
pálpebras enquanto mastiga lombo de vaca e lágrimas de desaparecimento do pai.»
(pág. 46).

         A insalubridade vivencial é exaltada de
modo mais lateral do que noutras obras de Isabel Moreira, estando, ainda assim,
presente de forma visível, apesar de fugaz. O exercício físico, por exemplo,
encontra-se limitado ao encaixe carnal de exclusivo fito orgásmico,
erradicando-se por via político-administrativa práticas como o badminton e o ténis de mesa, até porque,
como bem sabeis, «quem faz muito desporto demora a vir-se» (pág. 49). Ainda que
catártica, esta focalização do trabalho dos corpos na ginástica sexuada
(«morde-lhe as mamas» − pág. 52) é susceptível de gerar equívocos e até algumas
frustrações, nomeadamente quando um dos interlocutores não se mostra à altura das
viscerais exigências («− és uma puta velha que não faz um homem vir-se.» − pág.
49). No limite, «− assim dói» (pág. 48), tanto mais que, numa evocação críptica
de Bertolucci, se confessa: «eu também
não gosto de manteiga» (pág. 23; itálico no original).

 A violência, extrema e arrebatada, é resultado,
mas também reverso, da ausência de pátria, dessa a-patridia existencial personificada na presença tão ansiada quanto
intermitente do pai/pau, tal como apreendemos o sentido do diálogo da página
70:

«−
quem és tu, pai?

 − disseste pai?


não, disse pau.»

 

Jurista-constitucionalista,
Isabel Moreira aprofunda em Apátrida
temas presentes na sua já apreciável obra, produzindo um livro que se lê num
fôlego sobretudo quando está fechado.

 

 

António Araújo

 

  

 

 

 

marcar artigo