O punk renasceu em Paris e isso merece ser celebrado

24-01-2018
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O punk está vivo. Ou nem chegou a morrer, se recuarmos ao ano de 1981 e usarmos o grito de guerra que os escoceses "The Exploited" lançaram em formato música: Punk's Not Dead.

O punk não morreu. Esteve apenas adormecido e à espera que alguém pegasse nele e o voltasse a ligar ao microfone. E o desconstruísse. Ou trabalhasse nele e lhe desse uma nova imagem.

Aconteceu em Paris, no dia 17 de janeiro de 2018. O punk voltou a acordar com “(A)way to Punk”, a coleção outono-inverno 2018/19 que Hugo Costa levou a Paris, inserido na dinâmica internacional do Portugal Fashion. Mais moderno e colorido - muito mais colorido - o movimento da contracultura, da aparência agressiva, do sarcasmo, da anarquia mas também da moda, da música e do comportamento social, saiu do coma em que tinha caído há décadas.

Não houve calças skinny rasgadas, blusões de cabedal, correntes, moicanas, riffs de guitarra nem moches. Houve renascimento, sim, mas de maneira transfigurada na coleção que Hugo Costa apresentou em modo-performance-de-quase-três-horas no número 43 da Rua de Notre Dame de Nazareth da capital francesa. Foi a sua quarta participação consecutiva no calendário oficial da Semana de Moda de Paris.

"Esta coleção é punk na reação e não tanto na parte estética. É contracultura e questiona um bocado aquilo que a marca andava a fazer. Claro que a coleção não tem pele nem metal, mas quisemos criar looks mais fortes e agressivos. É uma reação ao que fiz no passado. Pegar em formas que já usávamos e trabalhar com elas de forma diferente. Usar peças do avesso e elas serem funcionais na mesma, por exemplo", explica o designer.

No espaço de paredes brancas surgiram instalações de ecrãs com vídeos a passar em loop, luzes de néon e fluorescentes, cabos elétricos, redes, um espaço onde se podia experimentar algumas peças da coleção e tirar fotografias numa sala rodeada de espelhos, e até um balde cheio de gelo e cerveja. O punk também é isto. E o "isto" é cortar com os paradigmas instalados.

Não foi um desfile tradicional. Foi uma performance onde quem assistia podia conviver entre si e estar mais próximo da roupa que os modelos usavam, e isso só acrescenta valor à experiência. Estava ali tudo pela roupa, pela marca, pela moda, mas também pelo convívio. E, ao contrário do punk, o ritmo não foi "sempre a abrir".

"É um bocado o pensamento do miúdo que começa a querer ser independente em casa e começa a formar as suas próprias ideias. É como se fosse ao roupeiro do pai, pegasse num fato e o começasse a cortar e a desconstruir para o tornar mais próximo da sua linguagem. Isso implica que incorpores mais o vestuário clássico, o acabado com o inacabado e aquele aspeto de costumização", diz.

Este novo punk de Hugo Costa é 'streetwear', 'genderless' e confortável. Pinta-se de azul, rosa, cinzento e roxo. E, arrisque-se dizer, é talvez a melhor coleção que alguma vez apresentou. Adulta, com estilo e sentido de estilo. Uma coleção bem pensada e muito bem executada.

"Acho mesmo que é a minha melhor coleção. Pelo menos é com essa ideia que parto sempre que começo uma coleção nova, mas esta acho mesmo que é. Todo o processo, a quantidade de pormenores, o styling mais complexo, as peças e o acabamento das peças, o trabalho de cor, o plano da coleção. Ou seja, tudo isso reflete que eu também estou mais maduro."

Além da roupa, Hugo Costa apresentou uma coleção de óculos de sol, numa parceria com a marca 'CUSCUZ'. De madeira, feitos à mão e com um desenho algo futurista, o designer viu assim uma vontade antiga ser feita realidade.

"Eu acredito em colaborações. E neste caso fazia sentido juntar-me a uma marca que eu gosto e desenhar óculos em parceria. Isso funcionou também como uma troca de experiências... eu tive maior noção da parte técnica dos acessórios feitos à mão e a CUSCUZ ganhou mais conhecimento na parte do negócio, comercial", termina.

Ugo Camera

Depois de Paris, o Portugal Fashion viaja até Roma para o desfile de três designers que ainda estão a dar os primeiros passos na moda nacional e internacional: David Catalán, Nycole e Inês Torcato, da plataforma Bloom.

*O Expresso viajou a convite do Portugal Fashion

O punk está vivo. Ou nem chegou a morrer, se recuarmos ao ano de 1981 e usarmos o grito de guerra que os escoceses "The Exploited" lançaram em formato música: Punk's Not Dead.

O punk não morreu. Esteve apenas adormecido e à espera que alguém pegasse nele e o voltasse a ligar ao microfone. E o desconstruísse. Ou trabalhasse nele e lhe desse uma nova imagem.

Aconteceu em Paris, no dia 17 de janeiro de 2018. O punk voltou a acordar com “(A)way to Punk”, a coleção outono-inverno 2018/19 que Hugo Costa levou a Paris, inserido na dinâmica internacional do Portugal Fashion. Mais moderno e colorido - muito mais colorido - o movimento da contracultura, da aparência agressiva, do sarcasmo, da anarquia mas também da moda, da música e do comportamento social, saiu do coma em que tinha caído há décadas.

Não houve calças skinny rasgadas, blusões de cabedal, correntes, moicanas, riffs de guitarra nem moches. Houve renascimento, sim, mas de maneira transfigurada na coleção que Hugo Costa apresentou em modo-performance-de-quase-três-horas no número 43 da Rua de Notre Dame de Nazareth da capital francesa. Foi a sua quarta participação consecutiva no calendário oficial da Semana de Moda de Paris.

"Esta coleção é punk na reação e não tanto na parte estética. É contracultura e questiona um bocado aquilo que a marca andava a fazer. Claro que a coleção não tem pele nem metal, mas quisemos criar looks mais fortes e agressivos. É uma reação ao que fiz no passado. Pegar em formas que já usávamos e trabalhar com elas de forma diferente. Usar peças do avesso e elas serem funcionais na mesma, por exemplo", explica o designer.

No espaço de paredes brancas surgiram instalações de ecrãs com vídeos a passar em loop, luzes de néon e fluorescentes, cabos elétricos, redes, um espaço onde se podia experimentar algumas peças da coleção e tirar fotografias numa sala rodeada de espelhos, e até um balde cheio de gelo e cerveja. O punk também é isto. E o "isto" é cortar com os paradigmas instalados.

Não foi um desfile tradicional. Foi uma performance onde quem assistia podia conviver entre si e estar mais próximo da roupa que os modelos usavam, e isso só acrescenta valor à experiência. Estava ali tudo pela roupa, pela marca, pela moda, mas também pelo convívio. E, ao contrário do punk, o ritmo não foi "sempre a abrir".

"É um bocado o pensamento do miúdo que começa a querer ser independente em casa e começa a formar as suas próprias ideias. É como se fosse ao roupeiro do pai, pegasse num fato e o começasse a cortar e a desconstruir para o tornar mais próximo da sua linguagem. Isso implica que incorpores mais o vestuário clássico, o acabado com o inacabado e aquele aspeto de costumização", diz.

Este novo punk de Hugo Costa é 'streetwear', 'genderless' e confortável. Pinta-se de azul, rosa, cinzento e roxo. E, arrisque-se dizer, é talvez a melhor coleção que alguma vez apresentou. Adulta, com estilo e sentido de estilo. Uma coleção bem pensada e muito bem executada.

"Acho mesmo que é a minha melhor coleção. Pelo menos é com essa ideia que parto sempre que começo uma coleção nova, mas esta acho mesmo que é. Todo o processo, a quantidade de pormenores, o styling mais complexo, as peças e o acabamento das peças, o trabalho de cor, o plano da coleção. Ou seja, tudo isso reflete que eu também estou mais maduro."

Além da roupa, Hugo Costa apresentou uma coleção de óculos de sol, numa parceria com a marca 'CUSCUZ'. De madeira, feitos à mão e com um desenho algo futurista, o designer viu assim uma vontade antiga ser feita realidade.

"Eu acredito em colaborações. E neste caso fazia sentido juntar-me a uma marca que eu gosto e desenhar óculos em parceria. Isso funcionou também como uma troca de experiências... eu tive maior noção da parte técnica dos acessórios feitos à mão e a CUSCUZ ganhou mais conhecimento na parte do negócio, comercial", termina.

Ugo Camera

Depois de Paris, o Portugal Fashion viaja até Roma para o desfile de três designers que ainda estão a dar os primeiros passos na moda nacional e internacional: David Catalán, Nycole e Inês Torcato, da plataforma Bloom.

*O Expresso viajou a convite do Portugal Fashion

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