Ronaldo, Canavilhas e os intocáveis

06-10-2019
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Fará sentido num mundo em que a comunicação e a informação se tornaram tão indispensáveis como o ar que respiramos e no qual os cidadãos são ao mesmo tempo produtores e consumidores de informação, haver cidadãos que se julgam intocáveis?

A resposta parece óbvia: não, não faz sentido. Porém, a realidade portuguesa mostra uma ideia diferente. Em Portugal há cidadãos que quando são criticados por outros cidadãos (particularmente se estes forem políticos) consideram que existe crime de lesa-pátria. Eles podem criticar todos mas nem todos os podem criticar a eles.

Na era das redes sociais e da tabloidização quase geral dos media tradicionais, se um político se atrever a criticar um jornalista numa rede social ou noutro qualquer espaço público logo caem sobre ele raios e coriscos porque se trata de um atentado à liberdade de imprensa.

Dois exemplos recentes com diferentes protagonistas ilustram bem o absurdo da situação: são eles, um tuite da deputada Gabriela Canavilhas criticando uma jornalista do Público a propósito de uma reportagem sobre a manifestação em defesa da escola pública e o gesto de Cristiano Ronaldo em França, ao atirar ao rio o microfone do jornalista da televisão do Correio da Manhã quando este lhe dirigia uma pergunta.

Os argumentos contra Gabriela Canavilhas vindos de membros da “classe” jornalística são confrangedores. Segundo eles, Canavilhas pôs em causa a liberdade de expressão ao perguntar se a jornalista tinha sido “despedida” por escrever “factos falsos”sobre a manifestação. Independentemente da substância da crítica, é estranho que se pense que um ou uma deputada não possa usar uma rede social para criticar uma jornalista quando os próprios jornalistas em redes sociais, em rádios e em televisões criticam, ridicularizam em programas de humor e em comentários, ofendem até, deputados, governantes e outros membros do campo político, usando a liberdade de expressão que negam a outros.

Gabriela Canavilhas, quer como deputada quer como cidadã, não possui obviamente poderes para demitir jornalistas, pelo que o seu escrito na rede social não passou de um fait-divers, (não muito feliz, diga-se) porém sem qualquer consequência. Tratou-se de uma opinião como qualquer outra. Mal iria um jornal que demitisse um jornalista porque um político criticou um texto seu!

O caso do microfone da CMTV que Ronaldo atirou ao rio, embora de contornos diferentes, provocou também reacções despropositadas, nomeadamente por parte do presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, ao afirmar que “está em causa um crime de atentado à liberdade de informação. e “um crime público”,

Independentemente de se tratar de Ronaldo, o seu gesto foi certamente fruto de um recalcado desprezo pelo Correio da Manhã devido à perseguição e à devassa da vida privada que lhe foi movida pelo jornal em determinados momentos, que aliás não mereceram na altura reprovação da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas.

A atitude de Ronaldo não é, naturalmente, recomendável. Mas simboliza a reacção de todos aqueles que se sentem vilipendiados por órgãos de comunicação social que não hesitam em usar todos os meios para atingirem os fins, os quais passam invariavelmente pela devassa da privacidade e, não raras vezes, pela mentira e pela calúnia.

O gesto de Ronaldo foi também a expressão de alguém que sendo tão poderoso e mundialmente famoso se sentiu um dia impotente perante um órgão de comunicação social que impunemente devassaou a privacidade da sua vida intima e familiar.

O microfone atirado ao rio simboliza a revolta daqueles que não sendo Ronaldos se sentem impotentes perante os que abusando da liberdade de expressão que negam a outros, se julgam intocáveis.

Fará sentido num mundo em que a comunicação e a informação se tornaram tão indispensáveis como o ar que respiramos e no qual os cidadãos são ao mesmo tempo produtores e consumidores de informação, haver cidadãos que se julgam intocáveis?

A resposta parece óbvia: não, não faz sentido. Porém, a realidade portuguesa mostra uma ideia diferente. Em Portugal há cidadãos que quando são criticados por outros cidadãos (particularmente se estes forem políticos) consideram que existe crime de lesa-pátria. Eles podem criticar todos mas nem todos os podem criticar a eles.

Na era das redes sociais e da tabloidização quase geral dos media tradicionais, se um político se atrever a criticar um jornalista numa rede social ou noutro qualquer espaço público logo caem sobre ele raios e coriscos porque se trata de um atentado à liberdade de imprensa.

Dois exemplos recentes com diferentes protagonistas ilustram bem o absurdo da situação: são eles, um tuite da deputada Gabriela Canavilhas criticando uma jornalista do Público a propósito de uma reportagem sobre a manifestação em defesa da escola pública e o gesto de Cristiano Ronaldo em França, ao atirar ao rio o microfone do jornalista da televisão do Correio da Manhã quando este lhe dirigia uma pergunta.

Os argumentos contra Gabriela Canavilhas vindos de membros da “classe” jornalística são confrangedores. Segundo eles, Canavilhas pôs em causa a liberdade de expressão ao perguntar se a jornalista tinha sido “despedida” por escrever “factos falsos”sobre a manifestação. Independentemente da substância da crítica, é estranho que se pense que um ou uma deputada não possa usar uma rede social para criticar uma jornalista quando os próprios jornalistas em redes sociais, em rádios e em televisões criticam, ridicularizam em programas de humor e em comentários, ofendem até, deputados, governantes e outros membros do campo político, usando a liberdade de expressão que negam a outros.

Gabriela Canavilhas, quer como deputada quer como cidadã, não possui obviamente poderes para demitir jornalistas, pelo que o seu escrito na rede social não passou de um fait-divers, (não muito feliz, diga-se) porém sem qualquer consequência. Tratou-se de uma opinião como qualquer outra. Mal iria um jornal que demitisse um jornalista porque um político criticou um texto seu!

O caso do microfone da CMTV que Ronaldo atirou ao rio, embora de contornos diferentes, provocou também reacções despropositadas, nomeadamente por parte do presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, ao afirmar que “está em causa um crime de atentado à liberdade de informação. e “um crime público”,

Independentemente de se tratar de Ronaldo, o seu gesto foi certamente fruto de um recalcado desprezo pelo Correio da Manhã devido à perseguição e à devassa da vida privada que lhe foi movida pelo jornal em determinados momentos, que aliás não mereceram na altura reprovação da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas.

A atitude de Ronaldo não é, naturalmente, recomendável. Mas simboliza a reacção de todos aqueles que se sentem vilipendiados por órgãos de comunicação social que não hesitam em usar todos os meios para atingirem os fins, os quais passam invariavelmente pela devassa da privacidade e, não raras vezes, pela mentira e pela calúnia.

O gesto de Ronaldo foi também a expressão de alguém que sendo tão poderoso e mundialmente famoso se sentiu um dia impotente perante um órgão de comunicação social que impunemente devassaou a privacidade da sua vida intima e familiar.

O microfone atirado ao rio simboliza a revolta daqueles que não sendo Ronaldos se sentem impotentes perante os que abusando da liberdade de expressão que negam a outros, se julgam intocáveis.

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