Francisco Mendes da Silva: O Chega "coloca em causa todo o regime"

14-10-2019
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O Chega, partido de extrema-direita que conseguiu eleger um deputado nas eleições legislativas de domingo, "coloca em causa todo o regime", alerta Francisco Mendes da Silva, do CDS. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e jornal "Público", Francisco Mendes da Silva, membro da comissão política nacional do CDS, defende que a direita “vai ter de se entender” para poder ir a eleições e governar, mas exclui o Chega. O advogado vê com bons olhos uma candidatura de João Almeida à liderança do partido.

Depois deste resultado eleitoral, como é que se pode salvar um partido? O CDS corre o risco de desaparecer?

Assim como pouca gente previa um resultado desta dimensão, sou bastante relutante em traçar cenários catastrofistas. Obviamente que a situação política portuguesa mudou muito porque há uma fragmentação à direita e à esquerda, que é inevitável e que veio para ficar. Ela tem razões mais profundas do que a crise neste ou naquele partido e eu acho que é a continuação na política de uma segmentação que há na sociedade e no mundo, que resulta da democratização dos fluxos de informação. Como é que explica a derrocada do CDS?

Tem várias razões internas e externas. É obvio que o PSD e o CDS não iam ficar incólumes dos anos da troika. Desde logo porque fizeram o que tiveram de fazer e isso causou uma grande desconfiança do eleitorado. Houve também outras razões que não têm a ver só com o PSD e o CDS. O PS, de facto, colonizou o discurso da direita. Quando vemos os princípios que Mário Centeno impôs à governação do PS percebemos que quem ganhou o combate ideológico foi a direita.

" O que é que o CDS havia de fazer? Passar a dizer mal dos ciganos? Propor a redução do Parlamento para 100 deputados?"

Não houve um falhanço da liderança de Assunção Cristas? Houve, claro que sim. Já lá vou. Mas há razões de vária índole. Nesta campanha, Rui Rio falou muito de que também tinha o seu Centeno, mas porque é que o eleitorado de centro-direita gosta de Mário Centeno na sua generalidade? Porque Mário Centeno é o Vítor Gaspar de António Costa. Houve erros à direita, obviamente. Houve erros no PSD porque ficou demasiadamente à espera do diabo, que não veio, e houve erros estratégicos no CDS. No início do ano, estava com 9, 10% nas sondagens, talvez pudesse ter a sua afirmação como nunca. Então, o que é que aconteceu desde fevereiro?

Aconteceu a crise dos professores. Foi um erro de estratégia?

Não sei se foi um erro da medida ou se foi a gestão. O CDS tomou demasiado as dores. Hoje em dia, o CDS é visto como mais culpado do que o PSD. Não é só culpa da crise dos professores, mas de uma campanha que foi muito focada num eleitorado que se achava fixo. De nicho?

Não necessariamente. As europeias são eleições onde há muita abstenção. E há aquele princípio de que ganha ou tem um bom resultado quem conseguir mobilizar o seu eleitorado. Isso fez o CDS jogar para a claque. Mas esta estratégia tem um problema de ser muito cruel, ou seja, mostra os partidos ao espelho. Quando o CDS reparou que teve 6% ficou a perceber que é o seu eleitorado fiel.

Esse resultado também não foi fruto de se ter colocado as expectativas muito altas e de Cristas dizer que podia ser primeira-ministra? Agora, visto à distância, há, de facto, uma distância grande entre as ambições e o resultado. Ponho a questão ao contrário: o que é que um partido como o CDS podia fazer de diferente? O CDS enganou-se quando disse que o voto útil tinha desaparecido.

Se o CDS é tão corroído por este voto útil no PSD - e foi mais corroído do que pela Iniciativa Liberal ou pelo dr. Ventura - é porque o eleitorado vê o CDS e o PSD como sucedâneos. Houve uma evolução do eleitorado nos últimos 10 ou 20 anos, que mostra que é preciso começar a pensar num entendimento à direita. Há uma candidatura que já foi assumida, de Abel Matos Santos, da tendência Esperança em Movimento, e outras duas, de João Almeida e de Filipe Lobo d’Ávila, que estão em reflexão. Sente-se próximo de algum?

Do Abel Matos Santos, com quem tenho uma relação cordial, estou nos antípodas.

"Abel Matos Santos costuma dizer que pessoas como eu estão a abastardar a matriz do CDS. Quem está a abastardar a matriz do CDS é ele"

Foi um dos críticos da liderança de Assunção Cristas. O que o dr. Abel Matos Santos costuma dizer é que pessoas como eu estão a abastardar a matriz do CDS. Quem está a abastardar a matriz do CDS é ele. A matriz do CDS é ser o partido do Freitas do Amaral, Lucas Pires e Adriano Moreira. É o partido abrangente no centro-direita que vai do centro à direita na direita democrática. O dr. Abel Matos Santos tem toda a liberdade para defender o que defende, mas é obvio que ele, apesar de se dizer que é democrata-cristão, representa em Portugal as tendências da direita que vêm lá de fora, Le Pen, Bolsonaro. Mais conservadoras e à direita?

Conservador sou eu. Mais à direita?

Uma direita iliberal, digamos assim. E em relação aos outros dois potenciais candidatos?

Eu estarei do lado de alguém que consiga e que queira fazer do CDS o que sempre quis ser: que é um partido que federa as várias tendências da direita democrática. Sou um conservador muito mais liberal do que a média do CDS. O João Almeida é a pessoa que conheço melhor, tenho uma história de vida política, sou amigo dele há 20 anos, acho que ele tem condições. O Filipe Lobo d'Ávila, também tenho uma boa amizade com ele, mas não sei tanto o que ele pensa. Sente-se mais próximo de João Almeida?

Não me sinto mais próximo porque não sei o que ele vem defender para o CDS. O que estou a dizer é que eu, do que conheço de João Almeida e dos seus princípios, presumo que se esteja a preparar para fazer uma candidatura abrangente.

O Chega, partido de extrema-direita que conseguiu eleger um deputado nas eleições legislativas de domingo, "coloca em causa todo o regime", alerta Francisco Mendes da Silva, do CDS. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e jornal "Público", Francisco Mendes da Silva, membro da comissão política nacional do CDS, defende que a direita “vai ter de se entender” para poder ir a eleições e governar, mas exclui o Chega. O advogado vê com bons olhos uma candidatura de João Almeida à liderança do partido.

Depois deste resultado eleitoral, como é que se pode salvar um partido? O CDS corre o risco de desaparecer?

Assim como pouca gente previa um resultado desta dimensão, sou bastante relutante em traçar cenários catastrofistas. Obviamente que a situação política portuguesa mudou muito porque há uma fragmentação à direita e à esquerda, que é inevitável e que veio para ficar. Ela tem razões mais profundas do que a crise neste ou naquele partido e eu acho que é a continuação na política de uma segmentação que há na sociedade e no mundo, que resulta da democratização dos fluxos de informação. Como é que explica a derrocada do CDS?

Tem várias razões internas e externas. É obvio que o PSD e o CDS não iam ficar incólumes dos anos da troika. Desde logo porque fizeram o que tiveram de fazer e isso causou uma grande desconfiança do eleitorado. Houve também outras razões que não têm a ver só com o PSD e o CDS. O PS, de facto, colonizou o discurso da direita. Quando vemos os princípios que Mário Centeno impôs à governação do PS percebemos que quem ganhou o combate ideológico foi a direita.

" O que é que o CDS havia de fazer? Passar a dizer mal dos ciganos? Propor a redução do Parlamento para 100 deputados?"

Não houve um falhanço da liderança de Assunção Cristas? Houve, claro que sim. Já lá vou. Mas há razões de vária índole. Nesta campanha, Rui Rio falou muito de que também tinha o seu Centeno, mas porque é que o eleitorado de centro-direita gosta de Mário Centeno na sua generalidade? Porque Mário Centeno é o Vítor Gaspar de António Costa. Houve erros à direita, obviamente. Houve erros no PSD porque ficou demasiadamente à espera do diabo, que não veio, e houve erros estratégicos no CDS. No início do ano, estava com 9, 10% nas sondagens, talvez pudesse ter a sua afirmação como nunca. Então, o que é que aconteceu desde fevereiro?

Aconteceu a crise dos professores. Foi um erro de estratégia?

Não sei se foi um erro da medida ou se foi a gestão. O CDS tomou demasiado as dores. Hoje em dia, o CDS é visto como mais culpado do que o PSD. Não é só culpa da crise dos professores, mas de uma campanha que foi muito focada num eleitorado que se achava fixo. De nicho?

Não necessariamente. As europeias são eleições onde há muita abstenção. E há aquele princípio de que ganha ou tem um bom resultado quem conseguir mobilizar o seu eleitorado. Isso fez o CDS jogar para a claque. Mas esta estratégia tem um problema de ser muito cruel, ou seja, mostra os partidos ao espelho. Quando o CDS reparou que teve 6% ficou a perceber que é o seu eleitorado fiel.

Esse resultado também não foi fruto de se ter colocado as expectativas muito altas e de Cristas dizer que podia ser primeira-ministra? Agora, visto à distância, há, de facto, uma distância grande entre as ambições e o resultado. Ponho a questão ao contrário: o que é que um partido como o CDS podia fazer de diferente? O CDS enganou-se quando disse que o voto útil tinha desaparecido.

Se o CDS é tão corroído por este voto útil no PSD - e foi mais corroído do que pela Iniciativa Liberal ou pelo dr. Ventura - é porque o eleitorado vê o CDS e o PSD como sucedâneos. Houve uma evolução do eleitorado nos últimos 10 ou 20 anos, que mostra que é preciso começar a pensar num entendimento à direita. Há uma candidatura que já foi assumida, de Abel Matos Santos, da tendência Esperança em Movimento, e outras duas, de João Almeida e de Filipe Lobo d’Ávila, que estão em reflexão. Sente-se próximo de algum?

Do Abel Matos Santos, com quem tenho uma relação cordial, estou nos antípodas.

"Abel Matos Santos costuma dizer que pessoas como eu estão a abastardar a matriz do CDS. Quem está a abastardar a matriz do CDS é ele"

Foi um dos críticos da liderança de Assunção Cristas. O que o dr. Abel Matos Santos costuma dizer é que pessoas como eu estão a abastardar a matriz do CDS. Quem está a abastardar a matriz do CDS é ele. A matriz do CDS é ser o partido do Freitas do Amaral, Lucas Pires e Adriano Moreira. É o partido abrangente no centro-direita que vai do centro à direita na direita democrática. O dr. Abel Matos Santos tem toda a liberdade para defender o que defende, mas é obvio que ele, apesar de se dizer que é democrata-cristão, representa em Portugal as tendências da direita que vêm lá de fora, Le Pen, Bolsonaro. Mais conservadoras e à direita?

Conservador sou eu. Mais à direita?

Uma direita iliberal, digamos assim. E em relação aos outros dois potenciais candidatos?

Eu estarei do lado de alguém que consiga e que queira fazer do CDS o que sempre quis ser: que é um partido que federa as várias tendências da direita democrática. Sou um conservador muito mais liberal do que a média do CDS. O João Almeida é a pessoa que conheço melhor, tenho uma história de vida política, sou amigo dele há 20 anos, acho que ele tem condições. O Filipe Lobo d'Ávila, também tenho uma boa amizade com ele, mas não sei tanto o que ele pensa. Sente-se mais próximo de João Almeida?

Não me sinto mais próximo porque não sei o que ele vem defender para o CDS. O que estou a dizer é que eu, do que conheço de João Almeida e dos seus princípios, presumo que se esteja a preparar para fazer uma candidatura abrangente.

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