Comité Central decidiu primeiro e votou depois

15-11-2015
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Foi precisamente à hora marcada — nem um minuto a mais, nem um minuto a menos — que Jerónimo de Sousa anunciou ao país que o Comité Central tinha viabilizado o acordo político com o PS. A comunicação social resumiu e simplificou a mensagem, porque, na verdade, nem o líder comunista falou em acordo nem havia uma aprovação final do documento que o líder leu. Jerónimo não o podia fazer. Por um lado, porque o que os comunistas tinham passado horas a analisar era uma “posição conjunta do PS e do PCP”. Por outro, porque a proposta nem tinha sido posta à votação, na altura em que Jerónimo falou. Havia “uma unanimidade informal”, disse o líder. E foi quanto bastou para anunciar uma decisão histórica.

O léxico comunista não tem paralelo. No PCP há “unanimidade” e há “unanimidade informal”, que é uma coisa diferente. A primeira quer dizer que uma matéria foi sujeita a votação — sempre de braço no ar — e recolheu só votos favoráveis. A segunda, que um assunto foi discutido e encerrado, sem oposição de maior, mas também sem votação. E foi isto que aconteceu no domingo. Jerónimo de Sousa apresentou as conclusões do encontro precisamente às 19 horas. A reunião ainda decorria e seria retomada para durar até cerca das 22 horas. Sem votação, tinha um aval tácito na sala que “confirmou e autorizou” que os comunistas sustentam um Governo do PS “duradouro na perspetiva da legislatura”.

A reunião tinha começado às 11 horas e os 148 membros do Comité Central puderam pronunciar-se sobre o entendimento com o PS. Nada transpirou sobre o que se passou. “Foi uma discussão franca e aberta”, dizem uns. “Um debate ótimo” e “profícuo”, dizem outros membros do C.C. sempre recusando revelar quaisquer pormenores sobre o tom do debate e das críticas.

Ninguém estranha, aliás, que o assunto que marca uma mudança estratégica do PCP tenha sido anunciado e fechado tacitamente. A “unanimidade informal” é “um procedimento normal”, diz fonte comunista, que garante que a votação existiu, só que “no final dos trabalhos”, ou seja, mais de duas horas após a conferência de imprensa dada pelo secretário geral comunista. De facto, o Comité Central acabou por votar “o comunicado final da reunião”, ou seja, o mesmo lido aos jornalistas. Como o texto não se refere exclusivamente ao entendimento com o PS, a votação foi feita num pacote, que incluiu críticas a Cavaco, a moção de rejeição ao Governo PSD/CDS, o apelo à manifestação frente à AR e elogios à candidatura de Edgar Silva.

Quem está no Comité?

O momento político deu relevo ao Comité Central do PCP e protagonismo aos seus 148 membros, que na sua grande maioria são ilustres desconhecidos da cena política. O atual líder Jerónimo de Sousa faz, naturalmente, parte deste órgão. Assim como o ex-secretário geral, Carlos Carvalhas, a comissão política e o núcleo de dez membros do secretariado comunista. Por inerência de funções, nomes como Jorge Cordeiro, Luísa Araújo ou Albano Nunes integram o C.C. Os eurodeputados Ines Zuber e João Ferreira, tal como Ilda Figueiredo que deixou Bruxelas em 2011, também estão lá. João Oliveira, Francisco Lopes, António Filipe e Bruno Dias são os únicos elementos da bancada parlamentar a integrar este órgão, que junta antigos dirigentes como Bernardino Soares, Ruben de Carvalho e Agostinho Lopes. Há uma forte presença de sindicalistas da CGTP, desde logo com Arménio Carlos, mas também Graciete Cruz, Amável Alves e Fátima Messias.

O esforço de equilíbrio entre a componente operária e intelectual continua presente. Neste momento, há 41 operários no C.C., o que equivale a 35% do total. Uma percentagem ainda assim maior do que a da representação feminina, que reúne apenas um quarto das presenças. O Comité Central fez um enorme esforço de rejuvenescimento. O resultado está à vista, com uma diferença de idades que vai dos 21 anos de Francisca Goulart até aos 72 anos de Rui Namorado Rosa. Apenas 26 membros do comité central têm mais de 60 anos, o que equivale a uma percentagem de menos de 18%. Quase 35% dos dirigentes comunistas deste orgão têm menos de 40 anos e, sublinhe-se, há 11 membros com idades abaixo de 30 anos. São cerca de 8% apenas. Mas um sinal da mudança nos ventos da direção comunista.

Foi precisamente à hora marcada — nem um minuto a mais, nem um minuto a menos — que Jerónimo de Sousa anunciou ao país que o Comité Central tinha viabilizado o acordo político com o PS. A comunicação social resumiu e simplificou a mensagem, porque, na verdade, nem o líder comunista falou em acordo nem havia uma aprovação final do documento que o líder leu. Jerónimo não o podia fazer. Por um lado, porque o que os comunistas tinham passado horas a analisar era uma “posição conjunta do PS e do PCP”. Por outro, porque a proposta nem tinha sido posta à votação, na altura em que Jerónimo falou. Havia “uma unanimidade informal”, disse o líder. E foi quanto bastou para anunciar uma decisão histórica.

O léxico comunista não tem paralelo. No PCP há “unanimidade” e há “unanimidade informal”, que é uma coisa diferente. A primeira quer dizer que uma matéria foi sujeita a votação — sempre de braço no ar — e recolheu só votos favoráveis. A segunda, que um assunto foi discutido e encerrado, sem oposição de maior, mas também sem votação. E foi isto que aconteceu no domingo. Jerónimo de Sousa apresentou as conclusões do encontro precisamente às 19 horas. A reunião ainda decorria e seria retomada para durar até cerca das 22 horas. Sem votação, tinha um aval tácito na sala que “confirmou e autorizou” que os comunistas sustentam um Governo do PS “duradouro na perspetiva da legislatura”.

A reunião tinha começado às 11 horas e os 148 membros do Comité Central puderam pronunciar-se sobre o entendimento com o PS. Nada transpirou sobre o que se passou. “Foi uma discussão franca e aberta”, dizem uns. “Um debate ótimo” e “profícuo”, dizem outros membros do C.C. sempre recusando revelar quaisquer pormenores sobre o tom do debate e das críticas.

Ninguém estranha, aliás, que o assunto que marca uma mudança estratégica do PCP tenha sido anunciado e fechado tacitamente. A “unanimidade informal” é “um procedimento normal”, diz fonte comunista, que garante que a votação existiu, só que “no final dos trabalhos”, ou seja, mais de duas horas após a conferência de imprensa dada pelo secretário geral comunista. De facto, o Comité Central acabou por votar “o comunicado final da reunião”, ou seja, o mesmo lido aos jornalistas. Como o texto não se refere exclusivamente ao entendimento com o PS, a votação foi feita num pacote, que incluiu críticas a Cavaco, a moção de rejeição ao Governo PSD/CDS, o apelo à manifestação frente à AR e elogios à candidatura de Edgar Silva.

Quem está no Comité?

O momento político deu relevo ao Comité Central do PCP e protagonismo aos seus 148 membros, que na sua grande maioria são ilustres desconhecidos da cena política. O atual líder Jerónimo de Sousa faz, naturalmente, parte deste órgão. Assim como o ex-secretário geral, Carlos Carvalhas, a comissão política e o núcleo de dez membros do secretariado comunista. Por inerência de funções, nomes como Jorge Cordeiro, Luísa Araújo ou Albano Nunes integram o C.C. Os eurodeputados Ines Zuber e João Ferreira, tal como Ilda Figueiredo que deixou Bruxelas em 2011, também estão lá. João Oliveira, Francisco Lopes, António Filipe e Bruno Dias são os únicos elementos da bancada parlamentar a integrar este órgão, que junta antigos dirigentes como Bernardino Soares, Ruben de Carvalho e Agostinho Lopes. Há uma forte presença de sindicalistas da CGTP, desde logo com Arménio Carlos, mas também Graciete Cruz, Amável Alves e Fátima Messias.

O esforço de equilíbrio entre a componente operária e intelectual continua presente. Neste momento, há 41 operários no C.C., o que equivale a 35% do total. Uma percentagem ainda assim maior do que a da representação feminina, que reúne apenas um quarto das presenças. O Comité Central fez um enorme esforço de rejuvenescimento. O resultado está à vista, com uma diferença de idades que vai dos 21 anos de Francisca Goulart até aos 72 anos de Rui Namorado Rosa. Apenas 26 membros do comité central têm mais de 60 anos, o que equivale a uma percentagem de menos de 18%. Quase 35% dos dirigentes comunistas deste orgão têm menos de 40 anos e, sublinhe-se, há 11 membros com idades abaixo de 30 anos. São cerca de 8% apenas. Mas um sinal da mudança nos ventos da direção comunista.

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