as palavras são armas

30-08-2019
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«o futuro está nas nossas mãos» Gosto de os ver, gola de penas na base do pescoço nu, grandes, calmos, certos de que o mais irrequieto dos seres é presa sua. Tudo questão de tempo!... De grande acuidade visual, bico forte, distinguem das alturas o alimento de que se nutrem: cadáveres em decomposição. Ninguém mata um abutre. A sociedade protege-os, são-nos úteis. Falo-vos do abutre-preto ou pica-osso, um anjo ao lado dos outros: os viscosos, bem vestidos, mente desregrada, vivendo da dor e da angústia, com o certeiro e glacial sentido do lucro. Pululam pelas cidades, vilas, na mais pequena aldeia ou lugares. Dividindo entre si o sofrimento alheio, apercebem-se à distância da lágrima retida, do íntimo soluço, do choro ou do lamento. Não me refiro ao respeitável cangalheiro, «pica-osso» por onde todos passaremos um dia, mas sim ao traficante de influências que recebe por debaixo das tábuas do caixão o fruto da sua ignomínia. Usurpador de lugares públicos, escória de uma sociedade que auto-promove as suas próprias exéquias. Focos de gangrena num corpo social que vão condicionando a própria vida ou morte da política que os gera. Fragilizados somos na dor e na doença; a quem nos dirigirmos, onde nos socorrermos quando a angústia nos despedaça e pesa? Meu pobre Alentejo que assassinado vens sendo, triste seara a tua… como o teu pão se transforma em sangue e podridão! Terra onde floresce o suicídio, resposta ao futuro que não enxergam. Encerraram-te as minas, as charruas estão ao abandono; na ampla planície o muro do desespero fecha-te o horizonte. Homens e mulheres de bem, gente impoluta, para quem o significado de honra não perdeu sentido. Recuperem a vossa expressão de revolta. Intelectuais, expressão que viril devia ser deste povo tolhido num mar de lodo em vagas sucessivas de corrupção, submersos que vão ficando de indignidade e opróbrio, afirmem a vossa voz, – têm meios para o fazer – gritem, nem que seja da janela, mas gritem, não miem, para que possamos sentir o orgulho necessário à nossa sobrevivência, sendo o que somos nesta pátria que os “abutres” nos sonegaram, mas reivindicamos nossa. O acesso ao trabalho, à saúde, «privados asseguram 40% dos cuidados de saúde em Portugal - LUSA 14 Setembro 2010» a uma velhice condigna são-nos negados enquanto a burra dos banqueiros floresce. O bolo gerado pela miséria é grande – desemprego igual a salários baixos – a gula ainda maior. O resplendor dos cifrões (continuemos a chamar-lhes cifrões) ofusca valores universais. Ser solidário vem dando lugar ao salve-se quem puder. Se puder!... E enquanto a escória semeia o desânimo e a resignação, nós não baixaremos os braços repetindo à exaustão a mensagem que Francisco Lopes nos sugere: «É preciso transformar desânimos e resignações em esperança combativa. Confiem nas vossas próprias forças! Mobilizem a vossa vontade, energia e capacidades! O futuro de um Portugal mais justo e desenvolvido está nas vossas mãos!» Está nas nossas mãos!


«o futuro está nas nossas mãos» Gosto de os ver, gola de penas na base do pescoço nu, grandes, calmos, certos de que o mais irrequieto dos seres é presa sua. Tudo questão de tempo!... De grande acuidade visual, bico forte, distinguem das alturas o alimento de que se nutrem: cadáveres em decomposição. Ninguém mata um abutre. A sociedade protege-os, são-nos úteis. Falo-vos do abutre-preto ou pica-osso, um anjo ao lado dos outros: os viscosos, bem vestidos, mente desregrada, vivendo da dor e da angústia, com o certeiro e glacial sentido do lucro. Pululam pelas cidades, vilas, na mais pequena aldeia ou lugares. Dividindo entre si o sofrimento alheio, apercebem-se à distância da lágrima retida, do íntimo soluço, do choro ou do lamento. Não me refiro ao respeitável cangalheiro, «pica-osso» por onde todos passaremos um dia, mas sim ao traficante de influências que recebe por debaixo das tábuas do caixão o fruto da sua ignomínia. Usurpador de lugares públicos, escória de uma sociedade que auto-promove as suas próprias exéquias. Focos de gangrena num corpo social que vão condicionando a própria vida ou morte da política que os gera. Fragilizados somos na dor e na doença; a quem nos dirigirmos, onde nos socorrermos quando a angústia nos despedaça e pesa? Meu pobre Alentejo que assassinado vens sendo, triste seara a tua… como o teu pão se transforma em sangue e podridão! Terra onde floresce o suicídio, resposta ao futuro que não enxergam. Encerraram-te as minas, as charruas estão ao abandono; na ampla planície o muro do desespero fecha-te o horizonte. Homens e mulheres de bem, gente impoluta, para quem o significado de honra não perdeu sentido. Recuperem a vossa expressão de revolta. Intelectuais, expressão que viril devia ser deste povo tolhido num mar de lodo em vagas sucessivas de corrupção, submersos que vão ficando de indignidade e opróbrio, afirmem a vossa voz, – têm meios para o fazer – gritem, nem que seja da janela, mas gritem, não miem, para que possamos sentir o orgulho necessário à nossa sobrevivência, sendo o que somos nesta pátria que os “abutres” nos sonegaram, mas reivindicamos nossa. O acesso ao trabalho, à saúde, «privados asseguram 40% dos cuidados de saúde em Portugal - LUSA 14 Setembro 2010» a uma velhice condigna são-nos negados enquanto a burra dos banqueiros floresce. O bolo gerado pela miséria é grande – desemprego igual a salários baixos – a gula ainda maior. O resplendor dos cifrões (continuemos a chamar-lhes cifrões) ofusca valores universais. Ser solidário vem dando lugar ao salve-se quem puder. Se puder!... E enquanto a escória semeia o desânimo e a resignação, nós não baixaremos os braços repetindo à exaustão a mensagem que Francisco Lopes nos sugere: «É preciso transformar desânimos e resignações em esperança combativa. Confiem nas vossas próprias forças! Mobilizem a vossa vontade, energia e capacidades! O futuro de um Portugal mais justo e desenvolvido está nas vossas mãos!» Está nas nossas mãos!

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