O troco é hoje (e outros assuntos)

12-01-2018
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E, agora, vamos ficar à espera do troco. Depois do frente a frente da semana passada, em que Santana mostrou que continua a ser o que sempre foi, tudo o que não precisávamos de Rui Rio era de ouvir novas justificações. Rui Rio percebeu-o e aproveitou bem o ensejo (outro olhar aqui ) proporcionado pela entrevista na SIC . Em vez de se justificar, preferiu “afinar” os temas que tinham ficado envolvidos em polémica. E, finalmente, pode dizer ao que vinha para a conquista da liderança do PSD. Depois da entrevista da manhã, no Público , Rio fez o pleno na comunicação social. Opiniões? Há várias. Até agora, a discussão entre os dois candidatos suscitou dúvidas generalizadas que a forma que escolheram para o seu primeiro debate interessasse, adiantasse, ou aproveitasse ao conhecimento dos militantes laranja, já que serão só eles o universo eleitoral da eleição, já este sábado. O país ficará a saber quem defrontará António Costa em 2019, se as coisas correrem conforme o previsto (e já se sabe que em política é sempre arriscado prever, sobretudo a grande distância). O Daniel Oliveira não lhes perdoou : “Um político impreparado para a guerra, um guerreiro impreparado para a política” e Ferreira Fernandes, no DN, também não ("Santana é refogado, Rio é acanhado"). O jornal I (não acessível, a menos que o compre) traz um pequeno dossiê sobre "Os calcanhares de Aquiles dos dois candidatos ao PSD" - e parece que Santana Lopes já queria o Novo Banco antes do Montepio). Quanto à página que o PSD vai virar no dia 13, vai também ter consequências no país: mais oposição seguramente ao Governo, quão dura logo se verá. Resta saber se a ano mais que meio já se entrará em clima eleitoral . Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos (visto que aparentemente os próprios militantes do PSD até já pensam em quem há de suceder a Rio ou a Santana, como salientou ontem na SIC Ângela Silva). O debate final entre ambos será já na quinta-feira, na Antena Um e na TSF. Questão não menos interessante foi a levantada por Honório Novo, do PCP, que ontem debateu o tema na televisão: será que os militantes do PSD precisam mesmo de encontrar diferenças substanciais entre duas pessoas do mesmo partido, da mesma faixa etária, da mesma área ideológica? Ou não será antes o de saber quem será mais capaz de ganhar eleições, e aí conta o carisma e a capacidade de mobilização e arregimentação das massas eleitorais? Ponto final neste primeiro ponto. Porque não consigo subalternizar este outro: Angola. É inevitável. A “revolução tranquila” (digo eu) faz o seu o seu caminho no país, pela mão de novo presidente, João Lourenço. A sua inédita conferência de imprensa ao fim de 100 dias de Governo (e confesso que não me lembro de nenhuma nestes termos feita pelo seu antecessor) teve honras de transmissão em direto nas televisões portuguesas... et pour cause. Não só porque falou sobre as relações com Portugal, mas também pelo que ele disse da situação em Angola. Sobre Portugal, nada de novo, diria. João Lourenço voltou a insistir que o caso Manuel Vicente não é casus belli, mas de litigância . A alegação da Justiça portuguesa para não aceitar a transferência do processo para Angola é vista como uma “ofensa” mas, para Portugal, essa posição tem sobretudo uma dimensão simbólica. Traduz-se na prática na impossibilidade das visitas ao mais alto nível do que à colocação de entraves ao normal fluir das relações. Foi isto mesmo que apurou o Expresso junto de fonte do Governo neste texto (“Portugal relativiza ameaças de Angola”). Mas há outros textos. Como este , no Público e que tem a opinião de Luciano Alvarez. O Negócios também aborda o tema. O problema é que o fluir normal das relações precisa de um empurrãozinho de cima, de vez em quando. O PR angolano diz que de Portugal só espera um gesto: a transferência do processo para Angola, mas isso é o que o Governo português não pode garantir. E JL sabe-o muito bem (ou não está em posição de querer entender, como dizia ontem Miguel Sousa Tavares). Se quiser relembrar-se do que está em causa, o DN explica . Mas adiante. Que João Lourenço é determinado e hábil já ninguém duvida. A expetativa era tanta que o Jornal de Angola titulava ontem em manchete a pergunta “O que vai João Lourenço dizer aos jornalistas?”. O seu recado a José Eduardo dos Santos de que espera que “ele cumpra a sua promessa de se retirar em 2018” é fino, muito fino, e “Zedu” deve tê-lo percebido muito bem, assim como eventuais aliados. Não menos claro foi o aviso sobre a corrupção, que deriva da impunidade. Dizê-lo em Angola não é coisa pouca, onde a elite do regime está comprometida em várias gerações. O Presidente angolano também não prometeu rosas – mas que vêm aí tempos difíceis, como o aumento do desemprego. Se as suas palavras continuarem a corresponder ao que tem feito, Angola está mesmo a mudar de página [Pode ler mais sobre este assunto aqui , aqui e, uff!, aqui ]. Esperemos que seja e se mantenha como uma revolução tranquila. O mesmo Jornal de Angola escolhe hoje para manchete uma promessa "quente" de JL - "Executivo vai rever contratos" (os de obras públicas de grandes dimensões que foram negociados pelo antigo Executivo e são desv antajosos para o Estado - para assinantes só, lamento)

OUTRAS NOTÍCIAS

Nomeações. Já se sabia, ou pelo menos suspeitava, agora é oficial. António Mexia e Luís Amado vão mesmo ser os candidatos propostos para administrador executivo (o primeiro) e presidente (o segundo), subsituindo Catroga. Se quer saber mesmo de que matéria é feito "o sobrevivente Mexia", leia esta investigação da Cristina Ferreira. É de longo fôlego.

Défice. O Primeiro-ministro antecipou-se e confirmou a boa notícia, antes do próprio ministro das Finanças. O défice ficará nos 1,2% mas, tal como o próprio diz, é preciso “olhar para 2018 com outro olhar por forma a vermos como podemos sustentar este crescimento”. A notícia é boa porque facilita a vida na Europa, mas também traz problemas em casa, porque os parceiros do Governo preferiam empregar os recursos em outras prioridades.

Prioridades. São essas que vamos conhecer já hoje, porque o habitual debate quinzenal foi antecipado para hoje devido à cimeira dos países do Sul que amanhã se realiza em Roma [recordatória: Portugal organizou a sua em janeiro de 2017, depois Madrid, em abril; em 2016 foi na Grécia]. O Governo escolheu como tema precisamente as prioridades políticas para 2018, enquanto o BE optou pela saúde e energia.

Emprego. Como anda tudo ligado, também saíram bem ao Governo os dados sobre o desemprego, que continua a diminuir – 8,2% segundo o INE. É a taxa mais baixa de sempre desde novembro de 2004. Num só ano (2016-2017), a população empregada aumentou em 159,1 mil pessoas. O Governo há de fazer valer essa boa notícia – sim , porque é – mas convém não esquecer que tipo de emprego está a ser criado. E aí, Dr. António Costa, há razões para uma satisfação moderada: mais emprego há, mas precário. A tendência não se alterou. Quem o diz é insuspeito na matéria porque estuda o assunto: o Observatório das crise, cujo último barómetro põe preto no branco os resultados. É uma batalha longa, essa.

Centeno. A dias de tomar posse como presidente do Eurogrupo (sábado, dia 13), o ministro das Finanças, que esteve em Bruxelas por causa disso mesmo, diz que no campo doméstico não há polémicas. “Há 45 anos que vejo jogos do Benfica e não espero deixar de os ver”, disse, a propósito do mais recente “caso” noticioso, o seu pedido de bilhetes ao clube para assistir a um clássico com o FC Porto. Aproveitou para negar também que o seu ministério tivesse alguma coisa a ver com a isenção de IMI de um imóvel gerido pelos filhos de Luís Filipe Vieira eventualmente teriam beneficiado (o IMI é do foro da Câmara, não das Finanças, recordou). Quem não acredita de todo na validade da polémica é Bagão Félix, que tratou a notícia como uma “noticiazeca”.

Autoeuropa. Há novas conversações esta semana, o ministro apela ao bom senso. Perante a turbulência por cusa dos novos horários de trabalho, o ministro que assinou a vinda do fabricante alemão para Portugal em 1991, Mira Amaral, adverte que a "VW pode levar a produção para Marrocos".

Venezuela. O ministro dos Negócios Estrangeiros está neste país e ouviu não poucas queixas dos membros da comunidade portuguesa. “Portugal pretende ver uma realidade de outros tempos”, acusou o presidente do Centro Português de Caracas. “Deu para perceber a dimensão das dificuldades”, comentou Augusto Santos Silva, a quem reclamaram que “basta de tanta indiferença de Lisboa” e que prometeu que vai ajudar. Foi duro, mas mais dura é a vida daquela gente, portugueses como nós.

Canábis. O seu uso para fins terapêuticos vai a votos esta semana no Parlamento pela mão do Bloco de Esquerda e do PAN. Uma carta aberta a pedir isso mesmo já tem quase 100 subscritores, na sua maioria médicos.

Turismo. Finalmente, uma noticia para nos manter o ego em alta: desta vez é a CBS a recomendar Portugal. Veja porquê.

LÁ FORA

Alemanha. Estamos na reta final para saber se vai haver grande coligação outra vez ou novas eleições. O round final entre CDU e SPD começou ontem e tem de terminar na quinta feira. Nota: as eleições na Alemanha foram há 100 dias! Leia o Financial Times para perceber, entre outras coisas, porque é que a Europa é umas das “tough issues”. A Deutsche Welle (em português) também fala do assunto.

Brexit. Aonde é que vai doer mais? Descubra aqui, "O Político" conta.

Coreias. Voltaram a falar, depois de dois anos de silêncio. A ideia é que os atletas do norte possam participar nos Jogos Olímpicos de Inverno, o que já está garantido. Mas há a esperança de que o encontro vá mais além da deplomacia desportiva ("O pior virá a seguir", adverte o Público)

Estados Unidos. De regresso ao cantinho do Trump por más razões, como (quase) de costume: o Presidente americano deu um prazo até setembro de 2019 para 250 mil salvadorenhos que residem no país para deixar os EUA ou procurarem uma via alternativa para a regularização da sua residência. O New York Times conta tudo. Por outro lado, o livro agora editado (Fire and Fury) revela que a Cssa Branca é agora um lugar habitado pela incerteza.

Europa. Um ano – mais uma vez – carregado de eleições. As cruciais: Itália, República Checa e Hungria (e, já agora, quem sabe na Alemanha). Fora da União, na Rússia. Leia tudo aqui em espanhol e aqui em francês (mais completo).

Espanha. O nome do Podemos, o novo partido de Espanha, já deu o que tinha a dar, consideram os próprios líderes, que querem mudar-lhe o nome para enfrentar as próximas eleições. As sondagens não lhe saem bem e a nova estratégia dos socialistas deixaram o Podemos “en los huesos”. Quem diria? Os tempos são mesmo de mudança. El Periódico conta como é.

FRASES

"Estes verdadeiros pastores de rebanhos de militantes controlam hoje a política nacional". Paulo de Morais, presidente da Frente Cívica, sobre as eleições no PSD

"Temos um ativismo que se traduz num escrutínio quase diário das ações do Governo", António Costa Pinto, investigador do ICS, sobre o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa

"A Justiça portuguesa trata a matéria com os pés - é cega, mas não devia ser burra", Ascenso Simões, deputado do PS, sobre o processo do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente.

"A petição em causa não passa de um ato chocarreiro e provocatório que, paradoxalmente, atesta a superioridade moral da democracia que consente até até dislates como este", Filipe Neto Brandão, deputado do PS sobre a petição que contesta que seja dado o nome de Mário Soares ao novo aeroporto do Montijo.

O QUE LI

Ou andei a ler e terminei num ápice: um clássico precursor do neorealismo, Ferreira de Castro, “Terra Fria” (Cavalo de Ferro). Do autor, que dividiu a vida entre o Brasil e Portugal, só tinha lido o seu best-seller, “A Selva”, há longuíssimo tempo, desconfio de quando fiz literatura portuguesa no liceu. Razões de trabalho levaram-me agora até este romance - “um drama da vida rural, construído como uma tragédia antiga” - e cheguei à conclusão que a boa literatura é intemporal e lê-se sempre com imenso prazer. Trata-se de um drama, um dramalhão mesmo, de “um realismo vigorosamente embebido de sentido trágico”, que decorre num país que hoje já não existe (o livro é de 1934), felizmente! Mas dei por mim incapaz de parar, curiosa do enredo e agarrada pela escrita. Para quem não conhece, recordo: Ferreira de Castro, nascido em 1898, emigrou para o Brasil aos 12 anos, com a instrução primária. Aos 14 escreveu o seu primeiro romance e tornou-se um jornalista conhecido. Acabou por regressar a Portugal, onde a censura não lhe deu tréguas.

Preparo-me agora para encetar o novo livro de António Costa Pinto e António Rapaz, "Presidentes e (Semi) Presidencialismo nas Democracias Contemporâneas". É o Presidente Marcelo em exame, e não só, claro. Se gosta de ler em suporte digital, está aqui. Mas pode comprá-lo, que já está à venda. Eu para livros sou mais papel, confesso.

Também vi este pequeno filme, que não queria que o leitor perdesse: o discurso de Oprah Winfrey nos Globos de Ouro, que lhe valeu uma ovação de pé. Já dizem que vai ser candidata às próximas presidenciais americanas.

E ri-me a sério com esta coisa engraçada. Fala do seu (nosso) problema do pós festas do Natal e Ano Novo e dá-nos sobejas razões para o corrigir. Vá lá, são só dois minutos de humor visual. E faça o favor de começar bem o dia!

Nós estaremos sempre por cá para o acompanhar!

E, agora, vamos ficar à espera do troco. Depois do frente a frente da semana passada, em que Santana mostrou que continua a ser o que sempre foi, tudo o que não precisávamos de Rui Rio era de ouvir novas justificações. Rui Rio percebeu-o e aproveitou bem o ensejo (outro olhar aqui ) proporcionado pela entrevista na SIC . Em vez de se justificar, preferiu “afinar” os temas que tinham ficado envolvidos em polémica. E, finalmente, pode dizer ao que vinha para a conquista da liderança do PSD. Depois da entrevista da manhã, no Público , Rio fez o pleno na comunicação social. Opiniões? Há várias. Até agora, a discussão entre os dois candidatos suscitou dúvidas generalizadas que a forma que escolheram para o seu primeiro debate interessasse, adiantasse, ou aproveitasse ao conhecimento dos militantes laranja, já que serão só eles o universo eleitoral da eleição, já este sábado. O país ficará a saber quem defrontará António Costa em 2019, se as coisas correrem conforme o previsto (e já se sabe que em política é sempre arriscado prever, sobretudo a grande distância). O Daniel Oliveira não lhes perdoou : “Um político impreparado para a guerra, um guerreiro impreparado para a política” e Ferreira Fernandes, no DN, também não ("Santana é refogado, Rio é acanhado"). O jornal I (não acessível, a menos que o compre) traz um pequeno dossiê sobre "Os calcanhares de Aquiles dos dois candidatos ao PSD" - e parece que Santana Lopes já queria o Novo Banco antes do Montepio). Quanto à página que o PSD vai virar no dia 13, vai também ter consequências no país: mais oposição seguramente ao Governo, quão dura logo se verá. Resta saber se a ano mais que meio já se entrará em clima eleitoral . Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos (visto que aparentemente os próprios militantes do PSD até já pensam em quem há de suceder a Rio ou a Santana, como salientou ontem na SIC Ângela Silva). O debate final entre ambos será já na quinta-feira, na Antena Um e na TSF. Questão não menos interessante foi a levantada por Honório Novo, do PCP, que ontem debateu o tema na televisão: será que os militantes do PSD precisam mesmo de encontrar diferenças substanciais entre duas pessoas do mesmo partido, da mesma faixa etária, da mesma área ideológica? Ou não será antes o de saber quem será mais capaz de ganhar eleições, e aí conta o carisma e a capacidade de mobilização e arregimentação das massas eleitorais? Ponto final neste primeiro ponto. Porque não consigo subalternizar este outro: Angola. É inevitável. A “revolução tranquila” (digo eu) faz o seu o seu caminho no país, pela mão de novo presidente, João Lourenço. A sua inédita conferência de imprensa ao fim de 100 dias de Governo (e confesso que não me lembro de nenhuma nestes termos feita pelo seu antecessor) teve honras de transmissão em direto nas televisões portuguesas... et pour cause. Não só porque falou sobre as relações com Portugal, mas também pelo que ele disse da situação em Angola. Sobre Portugal, nada de novo, diria. João Lourenço voltou a insistir que o caso Manuel Vicente não é casus belli, mas de litigância . A alegação da Justiça portuguesa para não aceitar a transferência do processo para Angola é vista como uma “ofensa” mas, para Portugal, essa posição tem sobretudo uma dimensão simbólica. Traduz-se na prática na impossibilidade das visitas ao mais alto nível do que à colocação de entraves ao normal fluir das relações. Foi isto mesmo que apurou o Expresso junto de fonte do Governo neste texto (“Portugal relativiza ameaças de Angola”). Mas há outros textos. Como este , no Público e que tem a opinião de Luciano Alvarez. O Negócios também aborda o tema. O problema é que o fluir normal das relações precisa de um empurrãozinho de cima, de vez em quando. O PR angolano diz que de Portugal só espera um gesto: a transferência do processo para Angola, mas isso é o que o Governo português não pode garantir. E JL sabe-o muito bem (ou não está em posição de querer entender, como dizia ontem Miguel Sousa Tavares). Se quiser relembrar-se do que está em causa, o DN explica . Mas adiante. Que João Lourenço é determinado e hábil já ninguém duvida. A expetativa era tanta que o Jornal de Angola titulava ontem em manchete a pergunta “O que vai João Lourenço dizer aos jornalistas?”. O seu recado a José Eduardo dos Santos de que espera que “ele cumpra a sua promessa de se retirar em 2018” é fino, muito fino, e “Zedu” deve tê-lo percebido muito bem, assim como eventuais aliados. Não menos claro foi o aviso sobre a corrupção, que deriva da impunidade. Dizê-lo em Angola não é coisa pouca, onde a elite do regime está comprometida em várias gerações. O Presidente angolano também não prometeu rosas – mas que vêm aí tempos difíceis, como o aumento do desemprego. Se as suas palavras continuarem a corresponder ao que tem feito, Angola está mesmo a mudar de página [Pode ler mais sobre este assunto aqui , aqui e, uff!, aqui ]. Esperemos que seja e se mantenha como uma revolução tranquila. O mesmo Jornal de Angola escolhe hoje para manchete uma promessa "quente" de JL - "Executivo vai rever contratos" (os de obras públicas de grandes dimensões que foram negociados pelo antigo Executivo e são desv antajosos para o Estado - para assinantes só, lamento)

OUTRAS NOTÍCIAS

Nomeações. Já se sabia, ou pelo menos suspeitava, agora é oficial. António Mexia e Luís Amado vão mesmo ser os candidatos propostos para administrador executivo (o primeiro) e presidente (o segundo), subsituindo Catroga. Se quer saber mesmo de que matéria é feito "o sobrevivente Mexia", leia esta investigação da Cristina Ferreira. É de longo fôlego.

Défice. O Primeiro-ministro antecipou-se e confirmou a boa notícia, antes do próprio ministro das Finanças. O défice ficará nos 1,2% mas, tal como o próprio diz, é preciso “olhar para 2018 com outro olhar por forma a vermos como podemos sustentar este crescimento”. A notícia é boa porque facilita a vida na Europa, mas também traz problemas em casa, porque os parceiros do Governo preferiam empregar os recursos em outras prioridades.

Prioridades. São essas que vamos conhecer já hoje, porque o habitual debate quinzenal foi antecipado para hoje devido à cimeira dos países do Sul que amanhã se realiza em Roma [recordatória: Portugal organizou a sua em janeiro de 2017, depois Madrid, em abril; em 2016 foi na Grécia]. O Governo escolheu como tema precisamente as prioridades políticas para 2018, enquanto o BE optou pela saúde e energia.

Emprego. Como anda tudo ligado, também saíram bem ao Governo os dados sobre o desemprego, que continua a diminuir – 8,2% segundo o INE. É a taxa mais baixa de sempre desde novembro de 2004. Num só ano (2016-2017), a população empregada aumentou em 159,1 mil pessoas. O Governo há de fazer valer essa boa notícia – sim , porque é – mas convém não esquecer que tipo de emprego está a ser criado. E aí, Dr. António Costa, há razões para uma satisfação moderada: mais emprego há, mas precário. A tendência não se alterou. Quem o diz é insuspeito na matéria porque estuda o assunto: o Observatório das crise, cujo último barómetro põe preto no branco os resultados. É uma batalha longa, essa.

Centeno. A dias de tomar posse como presidente do Eurogrupo (sábado, dia 13), o ministro das Finanças, que esteve em Bruxelas por causa disso mesmo, diz que no campo doméstico não há polémicas. “Há 45 anos que vejo jogos do Benfica e não espero deixar de os ver”, disse, a propósito do mais recente “caso” noticioso, o seu pedido de bilhetes ao clube para assistir a um clássico com o FC Porto. Aproveitou para negar também que o seu ministério tivesse alguma coisa a ver com a isenção de IMI de um imóvel gerido pelos filhos de Luís Filipe Vieira eventualmente teriam beneficiado (o IMI é do foro da Câmara, não das Finanças, recordou). Quem não acredita de todo na validade da polémica é Bagão Félix, que tratou a notícia como uma “noticiazeca”.

Autoeuropa. Há novas conversações esta semana, o ministro apela ao bom senso. Perante a turbulência por cusa dos novos horários de trabalho, o ministro que assinou a vinda do fabricante alemão para Portugal em 1991, Mira Amaral, adverte que a "VW pode levar a produção para Marrocos".

Venezuela. O ministro dos Negócios Estrangeiros está neste país e ouviu não poucas queixas dos membros da comunidade portuguesa. “Portugal pretende ver uma realidade de outros tempos”, acusou o presidente do Centro Português de Caracas. “Deu para perceber a dimensão das dificuldades”, comentou Augusto Santos Silva, a quem reclamaram que “basta de tanta indiferença de Lisboa” e que prometeu que vai ajudar. Foi duro, mas mais dura é a vida daquela gente, portugueses como nós.

Canábis. O seu uso para fins terapêuticos vai a votos esta semana no Parlamento pela mão do Bloco de Esquerda e do PAN. Uma carta aberta a pedir isso mesmo já tem quase 100 subscritores, na sua maioria médicos.

Turismo. Finalmente, uma noticia para nos manter o ego em alta: desta vez é a CBS a recomendar Portugal. Veja porquê.

LÁ FORA

Alemanha. Estamos na reta final para saber se vai haver grande coligação outra vez ou novas eleições. O round final entre CDU e SPD começou ontem e tem de terminar na quinta feira. Nota: as eleições na Alemanha foram há 100 dias! Leia o Financial Times para perceber, entre outras coisas, porque é que a Europa é umas das “tough issues”. A Deutsche Welle (em português) também fala do assunto.

Brexit. Aonde é que vai doer mais? Descubra aqui, "O Político" conta.

Coreias. Voltaram a falar, depois de dois anos de silêncio. A ideia é que os atletas do norte possam participar nos Jogos Olímpicos de Inverno, o que já está garantido. Mas há a esperança de que o encontro vá mais além da deplomacia desportiva ("O pior virá a seguir", adverte o Público)

Estados Unidos. De regresso ao cantinho do Trump por más razões, como (quase) de costume: o Presidente americano deu um prazo até setembro de 2019 para 250 mil salvadorenhos que residem no país para deixar os EUA ou procurarem uma via alternativa para a regularização da sua residência. O New York Times conta tudo. Por outro lado, o livro agora editado (Fire and Fury) revela que a Cssa Branca é agora um lugar habitado pela incerteza.

Europa. Um ano – mais uma vez – carregado de eleições. As cruciais: Itália, República Checa e Hungria (e, já agora, quem sabe na Alemanha). Fora da União, na Rússia. Leia tudo aqui em espanhol e aqui em francês (mais completo).

Espanha. O nome do Podemos, o novo partido de Espanha, já deu o que tinha a dar, consideram os próprios líderes, que querem mudar-lhe o nome para enfrentar as próximas eleições. As sondagens não lhe saem bem e a nova estratégia dos socialistas deixaram o Podemos “en los huesos”. Quem diria? Os tempos são mesmo de mudança. El Periódico conta como é.

FRASES

"Estes verdadeiros pastores de rebanhos de militantes controlam hoje a política nacional". Paulo de Morais, presidente da Frente Cívica, sobre as eleições no PSD

"Temos um ativismo que se traduz num escrutínio quase diário das ações do Governo", António Costa Pinto, investigador do ICS, sobre o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa

"A Justiça portuguesa trata a matéria com os pés - é cega, mas não devia ser burra", Ascenso Simões, deputado do PS, sobre o processo do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente.

"A petição em causa não passa de um ato chocarreiro e provocatório que, paradoxalmente, atesta a superioridade moral da democracia que consente até até dislates como este", Filipe Neto Brandão, deputado do PS sobre a petição que contesta que seja dado o nome de Mário Soares ao novo aeroporto do Montijo.

O QUE LI

Ou andei a ler e terminei num ápice: um clássico precursor do neorealismo, Ferreira de Castro, “Terra Fria” (Cavalo de Ferro). Do autor, que dividiu a vida entre o Brasil e Portugal, só tinha lido o seu best-seller, “A Selva”, há longuíssimo tempo, desconfio de quando fiz literatura portuguesa no liceu. Razões de trabalho levaram-me agora até este romance - “um drama da vida rural, construído como uma tragédia antiga” - e cheguei à conclusão que a boa literatura é intemporal e lê-se sempre com imenso prazer. Trata-se de um drama, um dramalhão mesmo, de “um realismo vigorosamente embebido de sentido trágico”, que decorre num país que hoje já não existe (o livro é de 1934), felizmente! Mas dei por mim incapaz de parar, curiosa do enredo e agarrada pela escrita. Para quem não conhece, recordo: Ferreira de Castro, nascido em 1898, emigrou para o Brasil aos 12 anos, com a instrução primária. Aos 14 escreveu o seu primeiro romance e tornou-se um jornalista conhecido. Acabou por regressar a Portugal, onde a censura não lhe deu tréguas.

Preparo-me agora para encetar o novo livro de António Costa Pinto e António Rapaz, "Presidentes e (Semi) Presidencialismo nas Democracias Contemporâneas". É o Presidente Marcelo em exame, e não só, claro. Se gosta de ler em suporte digital, está aqui. Mas pode comprá-lo, que já está à venda. Eu para livros sou mais papel, confesso.

Também vi este pequeno filme, que não queria que o leitor perdesse: o discurso de Oprah Winfrey nos Globos de Ouro, que lhe valeu uma ovação de pé. Já dizem que vai ser candidata às próximas presidenciais americanas.

E ri-me a sério com esta coisa engraçada. Fala do seu (nosso) problema do pós festas do Natal e Ano Novo e dá-nos sobejas razões para o corrigir. Vá lá, são só dois minutos de humor visual. E faça o favor de começar bem o dia!

Nós estaremos sempre por cá para o acompanhar!

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