Rápido, depressa, a correr. Cristas acelera

16-04-2018
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"There's nothing holding me back". Foi ao som de Shawn Mendes que Assunção Cristas subiu ao palco do pavilhão multiusos de Lamego, onde decorreu o XXVII congresso do CDS. Valeu de tudo para passar a ideia de que o CDS quer ser o principal adversário do PS de António Costa. A líder do partido repetiu à exaustão que está pronta para disputar a "primeira liga", que "está um passo à frente", que "é a escolha inequívoca" para quem votou PS em 2015 e "foi ao engano".

Sem complexos, sem hesitações, Assunção Cristas só tem olhos para António Costa. Quer ser o principal partido da direita, ambição não lhe falta, mas tanta ambição, surpreendentemente, deixa parte do partido desconfortável. O que fica de dois dias de congresso que arrancaram com uma homenagem ao histórico Adriano Moreira?

A democracia-cristã e as dores de crescimento

Enquanto partido de um dígito (até 2009), o CDS tinha o seu nicho de mercado. A partir do momento em que a ambição cresce, esta traz consigo também aquilo que se chamam as dores de crescimento. O CDS quer ser um partido "catch-all" da direita, como evidencia Assunção Cristas? Então, isso não desconfigurará a ideologia do partido? Como é que é possível caberem dentro do CDS várias sensibilidades? Estas são algumas das interrogações que os congressistas levaram ao palco no pavilhão multiusos em Lamego. Para o CDS, é uma discussão nova. Se fosse no PSD ou PS (os chamados grandes partidos), ninguém estranharia - todos cabem, todos têm o seu lugar. Num partido que não pode descer dos 11,7% que obteve nas últimas legislativas a que concorreu sozinho, a ambição desmedida traz também muitos receios. A ala mais conservadora acusou Cristas de estar a afastar-se da democracia-cristã, de ser demasiado pragmática. Adriano Moreira deu-lhe a benção, ainda assim, mas a líder não se esquivou a críticas também da Juventude Popular (JP), "mais radical", como a própria reconhece. O CDS, assumidamente, vai do conservadorismo da sua "jota", personificado em Francisco Rodrigues dos Santos, ao liberalismo económico de Adolfo Mesquita Nunes, a quem Cristas confiou o importante trabalho de coordenar o programa eleitoral para as legislativas. Adolfo já prometeu de antemão um lugar de deputado ao líder da JP em pleno congresso, a bem da coabitação.

Um passo à frente

Quantas formas há de mostrar trabalho e ambição? Infinitas, segundo Assunção. O CDS quer jogar na antecipação, um dos segredos do jogo político e assume-o: "Clareza na orientação política, afinco na definição de políticas"; "Vamos continuar a estar um passo à frente. E quando me perguntam se não estamos a dar um passo maior do que a perna, a resposta é simples: não duvidei nunca dos passos decididos de um partido que sabe onde está"; "Outros resignam-se, nós arregaçamos as mangas!".

Atropelar o PSD

Rui Rio reagiu com bonomia às declarações dos centristas de que Assunção é melhor do que ele. "Tem de cumprir o seu papel, tem naturalmente de dizer isso”, comentou, no final do discurso da líder do CDS. À entrada, não quis falar. No palanque, Cristas foi especialmente seca. Referiu-se ao PSD como "um partido amigo" e lembrou que esteve no congresso dos sociais-democratas, onde "atestou a convergência de preocupações temáticas". Vai ser sempre assim - a disputa entre os dois para marcar campo eleitoral. Rio foi claro ao dizer que não está preocupado, o histórico dos resultados mostram como nunca o PSD se deixou ultrapassar pelo CDS em legislativas.

Importante durante o congresso foi a intervenção de Telmo Correia a este respeito, ao dizer que o PSD deu "espaço" ao CDS para crescer mais ao encostar-se ao centro. E criticou-o por estender a mão ao PS depois das legislativas de 2019. Os centristas acham completamente errada a estratégia de Rio em oferecer-se como eventual parceiro do PS, caso este ganhe as eleições legislativas com maioria relativa e não consiga reeditar a geringonça. Para o CDS, Costa está decidido a governar com a esquerda e oferecer-lhe outra hipótese só servirá para o fortalecer nas negociações com PCP e BE.

Três prioridades

Assunção Cristas traçou claramente as suas três principais preocupações: demografia, território e inovação. Será nestas áreas que apresentará propostas. Rui Rio, que é líder do PSD há dois meses, está concentrado nos acordos em torno da descentralização e dos fundos europeus. Cristas desfiou propostas como a criação de uma rede de cuidadores, um estatuto fiscal para o interior e captação de investimento direto estrangeiro para a economia digital.

As eleições são amanhã

Enquanto Rui Rio considera que falta muito tempo para as eleições, o CDS já lá vai lançado. Sábado, Cristas apresntou como cabeça de lista ao Parlamento Europeu Nuno Melo e domingo juntou-lhe mais nomes: o de Luís Pedro Mota Soares e Raquel Vaz Pinto. Sobre legislativas, anunciou a composição do grupo que vai redigir o programa eleitoral.

Marcelo Rebelo de Sousa tem chamado várias vezes a atenção para o clima de pré-campanha eleitoral e tem razão. António Costa e os seus parceiros já estão em disputa constante e a fazer contas para as próximas legislativas. O CDS é o primeiro a apresentar candidaturas para as europeias de maio de 2018, à semelhança do que sucedeu no congresso anterior em Gondomar, quando a própria Assunção Cristas se lançou como candidata à Câmara de Lisboa.

Assunção "Rocky" Cristas

Cristas inaugurou a expressão de "esquerdas encostadas" para designar PS, PCP e BE. Foi um fim de semana a zurzir em António Costa, sem esquecer a tragédia dos fogos no último ano, o volte-face do PS para conquistar o poder em 2015, as promessas que fez e não cumpriu como, por exemplo, nas Unidades de Saúde Familiar. Dirigentes como Cecília Meireles ou Diogo Feio atacaram duramente o Governo socialista a quem acusam de se considerar "o dono da democracia". "Fazer pactos com este PS é como fazer pactos com belzebu", disse, sem papas na língua, Nuno Melo. Não foi, pois, de espantar que no fim do congresso a secretária-geral-adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, convidada para a sessão de encerramento, tenha reagido com azedume. Lembrou até com ironia que o PS está disponível para dialogar com o CDS sobre... o corte de 600 milhões de euros nas pensões que a coligação PSD/CDS admitiu durante a campanha de 2015.

"There's nothing holding me back". Foi ao som de Shawn Mendes que Assunção Cristas subiu ao palco do pavilhão multiusos de Lamego, onde decorreu o XXVII congresso do CDS. Valeu de tudo para passar a ideia de que o CDS quer ser o principal adversário do PS de António Costa. A líder do partido repetiu à exaustão que está pronta para disputar a "primeira liga", que "está um passo à frente", que "é a escolha inequívoca" para quem votou PS em 2015 e "foi ao engano".

Sem complexos, sem hesitações, Assunção Cristas só tem olhos para António Costa. Quer ser o principal partido da direita, ambição não lhe falta, mas tanta ambição, surpreendentemente, deixa parte do partido desconfortável. O que fica de dois dias de congresso que arrancaram com uma homenagem ao histórico Adriano Moreira?

A democracia-cristã e as dores de crescimento

Enquanto partido de um dígito (até 2009), o CDS tinha o seu nicho de mercado. A partir do momento em que a ambição cresce, esta traz consigo também aquilo que se chamam as dores de crescimento. O CDS quer ser um partido "catch-all" da direita, como evidencia Assunção Cristas? Então, isso não desconfigurará a ideologia do partido? Como é que é possível caberem dentro do CDS várias sensibilidades? Estas são algumas das interrogações que os congressistas levaram ao palco no pavilhão multiusos em Lamego. Para o CDS, é uma discussão nova. Se fosse no PSD ou PS (os chamados grandes partidos), ninguém estranharia - todos cabem, todos têm o seu lugar. Num partido que não pode descer dos 11,7% que obteve nas últimas legislativas a que concorreu sozinho, a ambição desmedida traz também muitos receios. A ala mais conservadora acusou Cristas de estar a afastar-se da democracia-cristã, de ser demasiado pragmática. Adriano Moreira deu-lhe a benção, ainda assim, mas a líder não se esquivou a críticas também da Juventude Popular (JP), "mais radical", como a própria reconhece. O CDS, assumidamente, vai do conservadorismo da sua "jota", personificado em Francisco Rodrigues dos Santos, ao liberalismo económico de Adolfo Mesquita Nunes, a quem Cristas confiou o importante trabalho de coordenar o programa eleitoral para as legislativas. Adolfo já prometeu de antemão um lugar de deputado ao líder da JP em pleno congresso, a bem da coabitação.

Um passo à frente

Quantas formas há de mostrar trabalho e ambição? Infinitas, segundo Assunção. O CDS quer jogar na antecipação, um dos segredos do jogo político e assume-o: "Clareza na orientação política, afinco na definição de políticas"; "Vamos continuar a estar um passo à frente. E quando me perguntam se não estamos a dar um passo maior do que a perna, a resposta é simples: não duvidei nunca dos passos decididos de um partido que sabe onde está"; "Outros resignam-se, nós arregaçamos as mangas!".

Atropelar o PSD

Rui Rio reagiu com bonomia às declarações dos centristas de que Assunção é melhor do que ele. "Tem de cumprir o seu papel, tem naturalmente de dizer isso”, comentou, no final do discurso da líder do CDS. À entrada, não quis falar. No palanque, Cristas foi especialmente seca. Referiu-se ao PSD como "um partido amigo" e lembrou que esteve no congresso dos sociais-democratas, onde "atestou a convergência de preocupações temáticas". Vai ser sempre assim - a disputa entre os dois para marcar campo eleitoral. Rio foi claro ao dizer que não está preocupado, o histórico dos resultados mostram como nunca o PSD se deixou ultrapassar pelo CDS em legislativas.

Importante durante o congresso foi a intervenção de Telmo Correia a este respeito, ao dizer que o PSD deu "espaço" ao CDS para crescer mais ao encostar-se ao centro. E criticou-o por estender a mão ao PS depois das legislativas de 2019. Os centristas acham completamente errada a estratégia de Rio em oferecer-se como eventual parceiro do PS, caso este ganhe as eleições legislativas com maioria relativa e não consiga reeditar a geringonça. Para o CDS, Costa está decidido a governar com a esquerda e oferecer-lhe outra hipótese só servirá para o fortalecer nas negociações com PCP e BE.

Três prioridades

Assunção Cristas traçou claramente as suas três principais preocupações: demografia, território e inovação. Será nestas áreas que apresentará propostas. Rui Rio, que é líder do PSD há dois meses, está concentrado nos acordos em torno da descentralização e dos fundos europeus. Cristas desfiou propostas como a criação de uma rede de cuidadores, um estatuto fiscal para o interior e captação de investimento direto estrangeiro para a economia digital.

As eleições são amanhã

Enquanto Rui Rio considera que falta muito tempo para as eleições, o CDS já lá vai lançado. Sábado, Cristas apresntou como cabeça de lista ao Parlamento Europeu Nuno Melo e domingo juntou-lhe mais nomes: o de Luís Pedro Mota Soares e Raquel Vaz Pinto. Sobre legislativas, anunciou a composição do grupo que vai redigir o programa eleitoral.

Marcelo Rebelo de Sousa tem chamado várias vezes a atenção para o clima de pré-campanha eleitoral e tem razão. António Costa e os seus parceiros já estão em disputa constante e a fazer contas para as próximas legislativas. O CDS é o primeiro a apresentar candidaturas para as europeias de maio de 2018, à semelhança do que sucedeu no congresso anterior em Gondomar, quando a própria Assunção Cristas se lançou como candidata à Câmara de Lisboa.

Assunção "Rocky" Cristas

Cristas inaugurou a expressão de "esquerdas encostadas" para designar PS, PCP e BE. Foi um fim de semana a zurzir em António Costa, sem esquecer a tragédia dos fogos no último ano, o volte-face do PS para conquistar o poder em 2015, as promessas que fez e não cumpriu como, por exemplo, nas Unidades de Saúde Familiar. Dirigentes como Cecília Meireles ou Diogo Feio atacaram duramente o Governo socialista a quem acusam de se considerar "o dono da democracia". "Fazer pactos com este PS é como fazer pactos com belzebu", disse, sem papas na língua, Nuno Melo. Não foi, pois, de espantar que no fim do congresso a secretária-geral-adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, convidada para a sessão de encerramento, tenha reagido com azedume. Lembrou até com ironia que o PS está disponível para dialogar com o CDS sobre... o corte de 600 milhões de euros nas pensões que a coligação PSD/CDS admitiu durante a campanha de 2015.

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