um conselho de virtudes

14-10-2019
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Por indicação do Presidente da República, Bagão Félix vai integrar o Conselho de Estado.

Na sua edição de 16.10.2010, a revista Única (do Expresso) apresentou um trabalho sobre a elaboração do Orçamento de Estado por vários ministros das finanças em exercícios anteriores. É nesse quadro que aparece um depoimento de Bagão Félix, ministro da Segurança Social e do Trabalho de Durão Barroso que passou a ministro das Finanças de Santana Lopes.
Passo a citar.
«No novo posto, e como é tradicional, Bagão Félix começou a ouvir os colegas de executivo, para a elaboração do OE para 2005. Num desses encontros reuniu com o ministro Fernando Negrão, sem se recordar que tinha sido ele o seu sucessor na pasta da Segurança Social. Logo nos minutos iniciais, Bagão Félix começou a demolir severamente muitas das propostas que Negrão trazia escritas. "Lembro-me de lhe dizer que algumas delas nem sequer faziam grande sentido", recorda hoje Bagão Félix. Fernando Negrão foi ouvindo tudo com paciência e serenidade. Até que, numa das observações mais críticas, não aguentou mais: "Vai-me perdoar, senhor ministro, mas permita-me que lhe recorde que eu não alterei uma única linha ao documento que o senhor mesmo escreveu quando estava neste agora meu Ministério, para elaborar o orçamento." Bagão Félix engoliu em seco: "Foi uma lição de vida para mim. Mostra como as coisas mudam, consoante a perspectiva que temos delas", admite o ex-ministro das Finanças.»Fim de citação.
É extraordinária a lata. Bagão Félix consegue contemplar com "ar filosófico" («foi uma lição de vida»), até com uma certa candura, algo que é um cancro da vida pública: responsáveis que em cada circunstância "acham" o que lhes vai na cabeça como se o mundo "lá fora" fosse apenas cenário, que mudam de "visão" como quem muda de camisa, que fazem o seu papel como se estivessem num grande teatro e não a jogar com a vida de todos nós - e tudo isso "consoante a perspectiva". Assim se percebe como tanta gente anda por aí a dizer certas coisas, como se não tivesse nada a ver com "isto". Nem todos chegam é ao ponto de confessar tão abertamente o que valem as suas opiniões neste momento - já que elas poderiam ser completamente diferentes se estivessem noutra "perspectiva".

(Republicação. As republicações servem para as pessoas não perderem as memórias.)

Por indicação do Presidente da República, Bagão Félix vai integrar o Conselho de Estado.

Na sua edição de 16.10.2010, a revista Única (do Expresso) apresentou um trabalho sobre a elaboração do Orçamento de Estado por vários ministros das finanças em exercícios anteriores. É nesse quadro que aparece um depoimento de Bagão Félix, ministro da Segurança Social e do Trabalho de Durão Barroso que passou a ministro das Finanças de Santana Lopes.
Passo a citar.
«No novo posto, e como é tradicional, Bagão Félix começou a ouvir os colegas de executivo, para a elaboração do OE para 2005. Num desses encontros reuniu com o ministro Fernando Negrão, sem se recordar que tinha sido ele o seu sucessor na pasta da Segurança Social. Logo nos minutos iniciais, Bagão Félix começou a demolir severamente muitas das propostas que Negrão trazia escritas. "Lembro-me de lhe dizer que algumas delas nem sequer faziam grande sentido", recorda hoje Bagão Félix. Fernando Negrão foi ouvindo tudo com paciência e serenidade. Até que, numa das observações mais críticas, não aguentou mais: "Vai-me perdoar, senhor ministro, mas permita-me que lhe recorde que eu não alterei uma única linha ao documento que o senhor mesmo escreveu quando estava neste agora meu Ministério, para elaborar o orçamento." Bagão Félix engoliu em seco: "Foi uma lição de vida para mim. Mostra como as coisas mudam, consoante a perspectiva que temos delas", admite o ex-ministro das Finanças.»Fim de citação.
É extraordinária a lata. Bagão Félix consegue contemplar com "ar filosófico" («foi uma lição de vida»), até com uma certa candura, algo que é um cancro da vida pública: responsáveis que em cada circunstância "acham" o que lhes vai na cabeça como se o mundo "lá fora" fosse apenas cenário, que mudam de "visão" como quem muda de camisa, que fazem o seu papel como se estivessem num grande teatro e não a jogar com a vida de todos nós - e tudo isso "consoante a perspectiva". Assim se percebe como tanta gente anda por aí a dizer certas coisas, como se não tivesse nada a ver com "isto". Nem todos chegam é ao ponto de confessar tão abertamente o que valem as suas opiniões neste momento - já que elas poderiam ser completamente diferentes se estivessem noutra "perspectiva".

(Republicação. As republicações servem para as pessoas não perderem as memórias.)

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