PME têm de aceitar fazer parcerias

26-04-2018
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As estatísticas mais recentes são claras: o ano passado, o peso das exportações em termos reais atingiu os 42% do produto interno bruto (PIB) e as vendas de bens para o exterior aumentaram 5 mil milhões. Além disso, a economia cresceu 2,7%, influenciada pela procura interna, e a expectativa é de que, em 2018, o consumo privado em Portugal cresça 2,2% e ultrapasse o máximo do milénio.

Não há, portanto, dúvidas de que existe uma melhoria da economia e de que os principais protagonistas dessa melhoria são as pequenas e médias empresas (PME), não fossem elas 99,99% do tecido empresarial português e responsáveis por quase 80% do emprego.

Contudo, nada disto significa que tudo esteja bem com todas estas empresas e que não haja ainda dificuldades e muito a melhorar. Até porque se há números que oscilam com frequência são os da economia de um país e isso até já se verificou este ano em Portugal. Por exemplo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações aumentaram 9,6% quando comparadas com o mesmo mês de 2017, mas isso é menos do que os aumentos de mais 10% registados nos meses anteriores e voltou a ser menos do que as importações.

Os desafios que se colocam às PME são, por isso, muito maiores do que se pensa, principalmente se às questões económicas, financeiras e de concorrência se somarem outras como a adaptação à digitalização da economia. E por isso é que faz sentido debater esses desafios e dar sugestões e recomendações sobre como melhor os ultrapassar, diz Pedro Castro e Almeida.

Cooperar para ganhar massa crítica

Foi com esta premissa que o administrador do Santander Totta abriu o primeiro de seis debates que o banco está a organizar em parceria com o Expresso no âmbito do projeto “Empresas Mais Fortes”. Neste encontro, que decorreu na sede do banco, em Lisboa, estiveram o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, o presidente do IAPMEI, Jorge Marques dos Santos, o presidente do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas (FAE), Luís Filipe Pereira, a administradora da Agência Nacional de Inovação, Isabel Caetano e ainda o diretor-coordenador de negócios do Santander Totta, Carlos Santos Lima. E uma das recomendações que foram feitas às PME, transversais a todos os intervenientes, é de que, sozinhas, estas empresas não vão conseguir exportar mais, diversificar os mercados para onde vendem e concorrer com as empresas estrangeiras que são, no mercado global, a sua principal ameaça.

“A PME considera o seu vizinho como concorrente em vez de olhar para o vizinho como parceiro para concorrer no estrangeiro, mas tem de haver uma capacitação coletiva. As empresas têm de se aliar e cooperar umas com as outras, sem perder a independência, e têm de criar clusters com várias entidades do sector. E as associações têm de fazer um esforço brutal para sair da redoma de vaidades pessoais e criar verdadeiras associações que estejam ao serviço das empresas e não à procura de fundos comunitários ou de apoios para fazerem coisa pequeninas que não dão resultados”, diz Jorge Marques dos Santos, dando como exemplo o sector do calçado e o trabalho recente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICAPS).

Esta recomendação torna-se ainda mais significativa se se tiver em conta que a maioria das PME são microempresas, em média com três pessoas, e que as pequenas têm em média 18 pessoas, alertou Luís Filipe Pereira. Ou que “o número de empresas exportadoras continua limitado a 22 mil”, ou seja, “as exportações crescem mais do que as empresas que exportam”, diz Eurico Brilhante Dias. E ainda que essas vendas estão ainda muito concentradas em Espanha, Angola, França, Reino Unido e Itália e que é preciso diversificar os países para onde se exporta. Aliás, para Jorge Marques dos Santos, uma das formas de combater esta falta de diversificação passa pelas PME usarem as novas plataformas como a Uber ou a Amazon, que lhes permitem estar no mundo sem os custos de deslocação.

Mudar mentalidades e melhorar a gestão

A ideia das PME cooperarem entre si não é, contudo, fácil, e as instituições públicas de apoio sabem-no. Apesar de haver casos de sucesso, as principais queixas continuam a ser sobre a elevada carga fiscal, a burocracia e a falta de financiamento, nota Luís Filipe Pereira. “Nas PME, o problema é de gestão e não de financiamento. Há incentivos financeiros para que as empresas se associem e exportem e diversifiquem mercados em conjunto, mas existe um problema cultural que é preciso combater”, salienta o presidente do IAPMEI. De facto, nota por sua vez Luís Filipe Pereira, há um problema de gestão na maioria das PME. “A área estratégica é das mais relevantes numa empresa, mas nestas não há essa cultura e não há formação para isso”.

Estes são outros dos grandes desafios que as PME têm pela frente: a mudança de mentalidades, a melhoria das equipas de gestão e a formação dessas equipas. E uma das formas de fazer isso é colaborar com as universidades, como refere Isabel Caetano. Ou dar a conhecer os casos de sucesso de colaboração entre empresas. “Há inúmeros exemplos que têm de ser identificados”, repara.

Segundo Carlos Santos Lima, no Santander já há casos de empresas que não procuram o banco para obter financiamento, mas sim formação e no apoio à entrada em novos mercados. Nesse sentido, apesar de já terem apoiado as PME com 3,9 mil milhões de euros no âmbito de programas de apoio como o PME Investe e Capitalizar, têm estado também muito ativos a dar “formação gratuita e a oferecer estágios”.

Desafio: inovar

A formação e a mudança de mentalidade e da gestão é igualmente essencial noutro dos grandes desafios que as PME têm pela frente: o da inovação. Não só tecnológica, mas de métodos de trabalho, alerta Isabel Caetano. Para a administradora da ANI, para inovar numa empresa “é preciso ter resiliência”, mas também captar talento junto das universidades, mais uma vez, fazendo parcerias. “É preciso estimular as empresas a inovar e muito disso parte da concorrência”, acrescenta.

Contudo, o processo não é fácil. “Não podemos obrigar uma empresa a fazer inovação se ela não sentir necessidade disso”, refere Luís Filipe Pereira. E isso vê-se nos processos mais simples, diz Isabel Caetano. “Precisamos de melhorar muito a disponibilização de informação online, não só a mais básica sobre a empresa, mas também dos produtos e serviços que vendem”, conclui.

O sector

99

é a percentagem de PME no tecido empresarial português. Na Europa é 97%

3

é o número médio de pessoas que têm uma microempresa. Uma pequena tem 18 e uma média já tem 700

50

é a percentagem de empresas exportadoras que apenas vendem para um país, neste caso Espanha ou Angola

Qual o maior desafio para as empresas em 2018?

Eurico Brilhante Dias

Secretário de Estado da Internacionalização

“Do ponto de vista da internacionalização, o desafio é reduzir o risco pela diversificação de mercados e de clientes. E do ponto de vista dos recursos é captar talento. Estes são os dois grandes desafios que temos: captar talento que permita conseguir novos produtos e capacidade de internacionalização e, do ponto de vista da empresas exportadoras, diversificar mercado e risco, não só dentro da União Europeia mas também saindo do perímetro confortável, como é o caso do país vizinho ou de língua portuguesa. São muito importantes, mas não são onde Portugal deve permanecer. Neste sentido, o Governo lançou o programa Internacionalizar que tem quatro eixos. O primeiro, centralizar a informação a dar às PME, o segundo, capacitar os recursos humanos para a internacionalização, que continua a ser uma das grandes restrições à boa execução desses projetos, o terceiro o financiamento e o quarto fazer com que o AICEP e as câmaras de comércio funcionem como almofada na entrada para os mercados externos”.

Jorge Marques dos Santos

Presidente do IAPMEI

“Para as empresas portuguesas poderem combater no mercado global têm de ter massa crítica. Se agirem individualmente dificilmente vão conseguir vingar e crescer. O importante é que se habituem a trabalhar em conjunto. O sector do calçado é um excelente exemplo disso. Todos juntos conseguiram criar a marca Portuguese Shoes. É também importante que se associem para fazer frente aos desafios da digitalização. Este processo tem as suas vantagens, que é o não depender da localização geográfica, mas aumenta a necessidade de agilização, mas as empresas portuguesas têm de fazer parte desta transformação porque senão serão vítimas de quem lá estiver”.

Isabel Caetano

Administradora da Agência Nacional de Inovação

“As PME portuguesas têm pela frente o grande desafio da transformação digital e que não é apenas de Portugal, mas sim das PME na Europa e em todo o mundo. Elas têm de ser capazes de competir nesse âmbito e transformar conhecimento em produtos. Para isto, é preciso criar estratégias de colaboração, envolvendo não só as grandes empresas, mas também as PME e as instituições que podem contribuir para a inovação e investigação e desenvolvimento. As universidades e outras instituições de ensino são agentes absolutamente essenciais porque são capazes de contribuir para a identificação de soluções para as empresas serem mais competitivas e para a formação de pessoas com um maior perfil de qualificação. As universidades são essenciais na ajuda à captação de talento”.

Luís Filipe Pereira

Presidente do FAE

“Além dos desafios habituais, como a captação de mercados ou a concorrência, as PME estão hoje confrontadas com algumas dificuldades que também são desafios. Ao nível dos recursos, porque há algumas que estão insuficientemente capitalizadas, ao nível do acesso ao crédito, é preciso viabilizar melhores condições para as PME, e também ao nível da captação de melhores profissionais. Depois há o problema da intensidade fiscal e da burocracia que pode ser combatido com políticas públicas, mas também o desafio das competências de gestão. Nas PME há lugar para uma reflexão quanto ao futuro da empresa, porque o raciocínio estratégico tem de estar presente também nas pequenas empresas. Por fim, há outro aspeto que é o da internacionalização. Estamos num mundo cada vez mais global e a digitalização veio acelerar esse aspeto e encurtar as distâncias. Hoje uma empresa portuguesa pode estar a competir com outra mesmo sem estar fisicamente no mesmo local”.

Carlos Santos Lima

Diretor- -coordenador de negócios do Santander Totta

“Os desafios são muitos e dependem dos sectores que estamos a falar, mas o tema da exportação está na ordem do dia e vai continuar a estar, tal como está e estará a inovação e também a forma como vamos tornar as empresas mais robustas. Programas como o Capitalizaralgo têm sido relevantes nesse sentido nos últimos anos, e temos também novos subsegmentos que têm surgido em Portugal agarrados aos grandes sectores como o turismo, o que fez com que muitas empresas tenham crescido e, agora, o desafio é acomodar todas elas. A banca tem ajudado no financiamento, mas o Santander tem também uma oferta muito ligada à edição e à criação de tecnologias”.

O que é o projeto

Ao longo dos próximos meses, “Empresas Mais Fortes”, projeto do Expresso e do Santander, vai olhar para os principais desafios que condicionam as PME este ano. Este foi o primeiro de seis debates a que pode assistir através do Facebook Live (envie-nos as suas questões). Os temas que analisaremos no Expresso:

Pagar e receber a horas

É um dos principais obstáculos na tesouraria das empresas, apesar dos mecanismos existentes

Maximizar fundos comunitários

Os fundos ainda não chegam a todas as PME e a maximização do Compete e do Horizonte 2020 é prioritária

Trabalhar no mercado global

Novos mercados apresentam novos desafios. E a retoma mundial está a levar as empresas portuguesas a novas geografias

Financiar a inovação

Crescer sem inovar é difícil. Crescer sem investir também. São desafios prementes para as empresas

Crescer

As PME portuguesas precisam de ganhar escala internacional e de recursos para conseguirem concorrer no novo mercado

Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de março de 2018

As estatísticas mais recentes são claras: o ano passado, o peso das exportações em termos reais atingiu os 42% do produto interno bruto (PIB) e as vendas de bens para o exterior aumentaram 5 mil milhões. Além disso, a economia cresceu 2,7%, influenciada pela procura interna, e a expectativa é de que, em 2018, o consumo privado em Portugal cresça 2,2% e ultrapasse o máximo do milénio.

Não há, portanto, dúvidas de que existe uma melhoria da economia e de que os principais protagonistas dessa melhoria são as pequenas e médias empresas (PME), não fossem elas 99,99% do tecido empresarial português e responsáveis por quase 80% do emprego.

Contudo, nada disto significa que tudo esteja bem com todas estas empresas e que não haja ainda dificuldades e muito a melhorar. Até porque se há números que oscilam com frequência são os da economia de um país e isso até já se verificou este ano em Portugal. Por exemplo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações aumentaram 9,6% quando comparadas com o mesmo mês de 2017, mas isso é menos do que os aumentos de mais 10% registados nos meses anteriores e voltou a ser menos do que as importações.

Os desafios que se colocam às PME são, por isso, muito maiores do que se pensa, principalmente se às questões económicas, financeiras e de concorrência se somarem outras como a adaptação à digitalização da economia. E por isso é que faz sentido debater esses desafios e dar sugestões e recomendações sobre como melhor os ultrapassar, diz Pedro Castro e Almeida.

Cooperar para ganhar massa crítica

Foi com esta premissa que o administrador do Santander Totta abriu o primeiro de seis debates que o banco está a organizar em parceria com o Expresso no âmbito do projeto “Empresas Mais Fortes”. Neste encontro, que decorreu na sede do banco, em Lisboa, estiveram o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, o presidente do IAPMEI, Jorge Marques dos Santos, o presidente do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas (FAE), Luís Filipe Pereira, a administradora da Agência Nacional de Inovação, Isabel Caetano e ainda o diretor-coordenador de negócios do Santander Totta, Carlos Santos Lima. E uma das recomendações que foram feitas às PME, transversais a todos os intervenientes, é de que, sozinhas, estas empresas não vão conseguir exportar mais, diversificar os mercados para onde vendem e concorrer com as empresas estrangeiras que são, no mercado global, a sua principal ameaça.

“A PME considera o seu vizinho como concorrente em vez de olhar para o vizinho como parceiro para concorrer no estrangeiro, mas tem de haver uma capacitação coletiva. As empresas têm de se aliar e cooperar umas com as outras, sem perder a independência, e têm de criar clusters com várias entidades do sector. E as associações têm de fazer um esforço brutal para sair da redoma de vaidades pessoais e criar verdadeiras associações que estejam ao serviço das empresas e não à procura de fundos comunitários ou de apoios para fazerem coisa pequeninas que não dão resultados”, diz Jorge Marques dos Santos, dando como exemplo o sector do calçado e o trabalho recente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICAPS).

Esta recomendação torna-se ainda mais significativa se se tiver em conta que a maioria das PME são microempresas, em média com três pessoas, e que as pequenas têm em média 18 pessoas, alertou Luís Filipe Pereira. Ou que “o número de empresas exportadoras continua limitado a 22 mil”, ou seja, “as exportações crescem mais do que as empresas que exportam”, diz Eurico Brilhante Dias. E ainda que essas vendas estão ainda muito concentradas em Espanha, Angola, França, Reino Unido e Itália e que é preciso diversificar os países para onde se exporta. Aliás, para Jorge Marques dos Santos, uma das formas de combater esta falta de diversificação passa pelas PME usarem as novas plataformas como a Uber ou a Amazon, que lhes permitem estar no mundo sem os custos de deslocação.

Mudar mentalidades e melhorar a gestão

A ideia das PME cooperarem entre si não é, contudo, fácil, e as instituições públicas de apoio sabem-no. Apesar de haver casos de sucesso, as principais queixas continuam a ser sobre a elevada carga fiscal, a burocracia e a falta de financiamento, nota Luís Filipe Pereira. “Nas PME, o problema é de gestão e não de financiamento. Há incentivos financeiros para que as empresas se associem e exportem e diversifiquem mercados em conjunto, mas existe um problema cultural que é preciso combater”, salienta o presidente do IAPMEI. De facto, nota por sua vez Luís Filipe Pereira, há um problema de gestão na maioria das PME. “A área estratégica é das mais relevantes numa empresa, mas nestas não há essa cultura e não há formação para isso”.

Estes são outros dos grandes desafios que as PME têm pela frente: a mudança de mentalidades, a melhoria das equipas de gestão e a formação dessas equipas. E uma das formas de fazer isso é colaborar com as universidades, como refere Isabel Caetano. Ou dar a conhecer os casos de sucesso de colaboração entre empresas. “Há inúmeros exemplos que têm de ser identificados”, repara.

Segundo Carlos Santos Lima, no Santander já há casos de empresas que não procuram o banco para obter financiamento, mas sim formação e no apoio à entrada em novos mercados. Nesse sentido, apesar de já terem apoiado as PME com 3,9 mil milhões de euros no âmbito de programas de apoio como o PME Investe e Capitalizar, têm estado também muito ativos a dar “formação gratuita e a oferecer estágios”.

Desafio: inovar

A formação e a mudança de mentalidade e da gestão é igualmente essencial noutro dos grandes desafios que as PME têm pela frente: o da inovação. Não só tecnológica, mas de métodos de trabalho, alerta Isabel Caetano. Para a administradora da ANI, para inovar numa empresa “é preciso ter resiliência”, mas também captar talento junto das universidades, mais uma vez, fazendo parcerias. “É preciso estimular as empresas a inovar e muito disso parte da concorrência”, acrescenta.

Contudo, o processo não é fácil. “Não podemos obrigar uma empresa a fazer inovação se ela não sentir necessidade disso”, refere Luís Filipe Pereira. E isso vê-se nos processos mais simples, diz Isabel Caetano. “Precisamos de melhorar muito a disponibilização de informação online, não só a mais básica sobre a empresa, mas também dos produtos e serviços que vendem”, conclui.

O sector

99

é a percentagem de PME no tecido empresarial português. Na Europa é 97%

3

é o número médio de pessoas que têm uma microempresa. Uma pequena tem 18 e uma média já tem 700

50

é a percentagem de empresas exportadoras que apenas vendem para um país, neste caso Espanha ou Angola

Qual o maior desafio para as empresas em 2018?

Eurico Brilhante Dias

Secretário de Estado da Internacionalização

“Do ponto de vista da internacionalização, o desafio é reduzir o risco pela diversificação de mercados e de clientes. E do ponto de vista dos recursos é captar talento. Estes são os dois grandes desafios que temos: captar talento que permita conseguir novos produtos e capacidade de internacionalização e, do ponto de vista da empresas exportadoras, diversificar mercado e risco, não só dentro da União Europeia mas também saindo do perímetro confortável, como é o caso do país vizinho ou de língua portuguesa. São muito importantes, mas não são onde Portugal deve permanecer. Neste sentido, o Governo lançou o programa Internacionalizar que tem quatro eixos. O primeiro, centralizar a informação a dar às PME, o segundo, capacitar os recursos humanos para a internacionalização, que continua a ser uma das grandes restrições à boa execução desses projetos, o terceiro o financiamento e o quarto fazer com que o AICEP e as câmaras de comércio funcionem como almofada na entrada para os mercados externos”.

Jorge Marques dos Santos

Presidente do IAPMEI

“Para as empresas portuguesas poderem combater no mercado global têm de ter massa crítica. Se agirem individualmente dificilmente vão conseguir vingar e crescer. O importante é que se habituem a trabalhar em conjunto. O sector do calçado é um excelente exemplo disso. Todos juntos conseguiram criar a marca Portuguese Shoes. É também importante que se associem para fazer frente aos desafios da digitalização. Este processo tem as suas vantagens, que é o não depender da localização geográfica, mas aumenta a necessidade de agilização, mas as empresas portuguesas têm de fazer parte desta transformação porque senão serão vítimas de quem lá estiver”.

Isabel Caetano

Administradora da Agência Nacional de Inovação

“As PME portuguesas têm pela frente o grande desafio da transformação digital e que não é apenas de Portugal, mas sim das PME na Europa e em todo o mundo. Elas têm de ser capazes de competir nesse âmbito e transformar conhecimento em produtos. Para isto, é preciso criar estratégias de colaboração, envolvendo não só as grandes empresas, mas também as PME e as instituições que podem contribuir para a inovação e investigação e desenvolvimento. As universidades e outras instituições de ensino são agentes absolutamente essenciais porque são capazes de contribuir para a identificação de soluções para as empresas serem mais competitivas e para a formação de pessoas com um maior perfil de qualificação. As universidades são essenciais na ajuda à captação de talento”.

Luís Filipe Pereira

Presidente do FAE

“Além dos desafios habituais, como a captação de mercados ou a concorrência, as PME estão hoje confrontadas com algumas dificuldades que também são desafios. Ao nível dos recursos, porque há algumas que estão insuficientemente capitalizadas, ao nível do acesso ao crédito, é preciso viabilizar melhores condições para as PME, e também ao nível da captação de melhores profissionais. Depois há o problema da intensidade fiscal e da burocracia que pode ser combatido com políticas públicas, mas também o desafio das competências de gestão. Nas PME há lugar para uma reflexão quanto ao futuro da empresa, porque o raciocínio estratégico tem de estar presente também nas pequenas empresas. Por fim, há outro aspeto que é o da internacionalização. Estamos num mundo cada vez mais global e a digitalização veio acelerar esse aspeto e encurtar as distâncias. Hoje uma empresa portuguesa pode estar a competir com outra mesmo sem estar fisicamente no mesmo local”.

Carlos Santos Lima

Diretor- -coordenador de negócios do Santander Totta

“Os desafios são muitos e dependem dos sectores que estamos a falar, mas o tema da exportação está na ordem do dia e vai continuar a estar, tal como está e estará a inovação e também a forma como vamos tornar as empresas mais robustas. Programas como o Capitalizaralgo têm sido relevantes nesse sentido nos últimos anos, e temos também novos subsegmentos que têm surgido em Portugal agarrados aos grandes sectores como o turismo, o que fez com que muitas empresas tenham crescido e, agora, o desafio é acomodar todas elas. A banca tem ajudado no financiamento, mas o Santander tem também uma oferta muito ligada à edição e à criação de tecnologias”.

O que é o projeto

Ao longo dos próximos meses, “Empresas Mais Fortes”, projeto do Expresso e do Santander, vai olhar para os principais desafios que condicionam as PME este ano. Este foi o primeiro de seis debates a que pode assistir através do Facebook Live (envie-nos as suas questões). Os temas que analisaremos no Expresso:

Pagar e receber a horas

É um dos principais obstáculos na tesouraria das empresas, apesar dos mecanismos existentes

Maximizar fundos comunitários

Os fundos ainda não chegam a todas as PME e a maximização do Compete e do Horizonte 2020 é prioritária

Trabalhar no mercado global

Novos mercados apresentam novos desafios. E a retoma mundial está a levar as empresas portuguesas a novas geografias

Financiar a inovação

Crescer sem inovar é difícil. Crescer sem investir também. São desafios prementes para as empresas

Crescer

As PME portuguesas precisam de ganhar escala internacional e de recursos para conseguirem concorrer no novo mercado

Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de março de 2018

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