Os sete nomes de Ferro Rodrigues para o futuro do PS

12-06-2018
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Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e antigo secretário-geral do PS, falou ao congresso sem renegar as suas raízes numa linha mais à esquerda (chegou aos socialistas via MES), deixou recados sobre Justiça quando falou da existência de "processos judiciais para criminalizar políticas", mas sobretudo quis passar testemunho.

O político sénior, que ocupa um dos cargos reservados a senadores da República (lembrou antecessores na presidência da AR, mas só socialistas), lançou os nomes de sete jovens que para o futuro garantem a renovação geracional do PS: "É a vossa vez de travar os combates". E enumerou: Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos, João Galamba, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Pedro Delgado Alves, Ana Mendes Godinho. Quem são e onde estão os escolhidos de Ferro? Um denominador comum: emanam todos do costismo.

alberto frias

Ana Catarina Mendes, 45 anos: escolhida para número dois no Rato

Foi escolhida por António Costa para número dois no partido. É a mulher de Almada, que presidiu à federação de Setúbal, que comandou a campanha interna nas primárias que levou Costa à liderança, e que conquistou o lugar cimeiro no Largo do Rato como secretária-geral adjunta. Podia ter sido líder da JS em 2000, mas perdeu a eleição para Jamila Madeira, num congresso traumático para essa geração. Viu fugir a eleição por um voto que estava rasurado. Esse momento deixou marcas para o futuro. É uma possível candidata à liderança, quando esse cenário se colocar.

António Pedro Ferreira

Pedro Nuno Santos, 41 anos: o sucessor na pole position

Não fez o caminho do costismo - como outros costistas da sua geração que foram passando pelos gabinetes do atual primeiro-ministro -, mas foi fazendo um percurso próprio. Liderou a JS e pelo menos os dois secretários-gerais que lhe sucederam pertencem à sua linhagem e dinastia: Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. Do tempo da jota, ficou com as ligações a uma geração que sempre o viu como o líder natural. Quando chegar a hora, muitos desses antigos dirigentes da JS estarão em posições de liderança em concelhias e federações do partido. Como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, tem um papel de quase-ministro no Governo e é o óleo da "geringonça". É certamente um papel mais relevante do que o de muitos ministros. Apesar de ser filho de um industrial, posiciona-se à esquerda, fala do operariado - algo que pouco se ouvia no PS - e acha que o Estado deve ser o motor da sociedade e da economia. Tudo junto, é isto o "pedronunismo". A preparar-se sem pressa, é o dirigente em melhor posição para tomar conta do PS quando Costa sair. Se achar que é o melhor momento.

Foto José Carlos Carvalho

João Galamba, 43 anos: o porta-voz destituído

É incendiário nas redes sociais. É polémico nas televisões. Tem uma enorme visibilidade e capacidade de influência na opinião pública, mas tem a desvantagem de ser um cristão-novo no PS em relação a outros nomes da lista de Ferro. Ganhou relevância no consulado de Sócrates, mas caiu na hierarquia pouco tempo depois de dizer que qualquer socialista se sentiria "envergonhado" com as acusações ao antigo primeiro-ministro. É um economista de esquerda, tem posições próximas do Bloco, que agora vai passar por uma fase mais discreta por ter deixado de ser porta-voz do partido. Pode ter um papel no futuro (já disse que gostaria de ser ministro), mas dificilmente chegará à liderança. O futuro, porém...

Marcos Borga

Fernando Medina, 45 anos: o continuador da obra em Lisboa

Quando António Costa o levou para as listas autárquicas em 2013 já se sabia que era para lhe suceder na Câmara de Lisboa. Nas autárquicas do ano passado, ganhou em nome próprio, mas perdeu a maioria absoluta. É mais um potencial sucessor que deve a Costa a abertura de um caminho. Não é uma máquina de votos, mas tem a seu favor um registo de sobriedade e representa uma linha mais moderada (como se viu no seu discurso do congresso), que pode fazer o contraponto ao esquerdismo de Pedro Nuno. Apesar de lhe correr esquerda no sangue - é filho de dois resistentes anti-fascistas que chegaram a posições de relevo no PCP. Tem a seu favor a experiência executiva, mas tem como desvantagem a falta de aparelho e de tropas.

António Pedro Ferreira

Mariana Vieira da Silva, 40 anos: o braço direito de Costa no Governo

Filha do ministro Vieira da Silva, conquistou um lugar próprio como secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro. Nos bastidores é a organizadora do Governo, responsável pela comunicação do Executivo, e braço-direito de António Costa. Foi a coordenadora da moção do secretário-geral, mas fez um discurso frouxo e burocrático no congresso. Tem de melhorar a oratória se quiser competir no futuro por lugares mais relevantes. Mas já é uma potencial ministra num novo governo socialista.

Pedro Delgado Alves, 37 anos: à esquerda pela transparência

Jurista, deputado, professor na Faculdade de Direito de Lisboa, presidente da junta de Freguesia do Lumiar, foi líder da JS na linha de Pedro Nuno Santos. É o socialista que coordena os trabalhos do seu grupo parlamentar na comissão eventual para a transparência na política: não é um pacote bem visto em muitos setores do PS (por exemplo, Sérgio Sousa Pinto é muito crítico). Pela sua ação passará agora uma parte do discurso do PS sobre a prevenção da corrupção e escrutínio dos políticos de que falava Carlos César no discurso do congresso.

António Pedro Ferreira

Ana Mendes Godinho, 46 anos: a relevância do motor do Turismo

A secretária de Estado do Turismo lidera uma pasta onde um ministro da Economia "tímido", com pouca notoriedade, permite aos "ajudantes" brilhar como se fossem verdadeiros ministros. Ana Mendes Godinho, jurista, lidera uma pasta fundamental para o país, o sucesso do turismo tem sido decisivo no desempenho económico de Portugal, apesar de se ter tornado num dos ódios de estimação de alguma esquerda. Mendes Godinho inverteu essa lógica com inteligência, explicando ao congresso como, com este Governo, a intervenção do Estado na atividade turística tem permitido não só crescimento, mas também "criação de oportunidades" no Interior, mais emprego e mais qualificação, com medidas de discriminação positiva.

Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e antigo secretário-geral do PS, falou ao congresso sem renegar as suas raízes numa linha mais à esquerda (chegou aos socialistas via MES), deixou recados sobre Justiça quando falou da existência de "processos judiciais para criminalizar políticas", mas sobretudo quis passar testemunho.

O político sénior, que ocupa um dos cargos reservados a senadores da República (lembrou antecessores na presidência da AR, mas só socialistas), lançou os nomes de sete jovens que para o futuro garantem a renovação geracional do PS: "É a vossa vez de travar os combates". E enumerou: Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos, João Galamba, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Pedro Delgado Alves, Ana Mendes Godinho. Quem são e onde estão os escolhidos de Ferro? Um denominador comum: emanam todos do costismo.

alberto frias

Ana Catarina Mendes, 45 anos: escolhida para número dois no Rato

Foi escolhida por António Costa para número dois no partido. É a mulher de Almada, que presidiu à federação de Setúbal, que comandou a campanha interna nas primárias que levou Costa à liderança, e que conquistou o lugar cimeiro no Largo do Rato como secretária-geral adjunta. Podia ter sido líder da JS em 2000, mas perdeu a eleição para Jamila Madeira, num congresso traumático para essa geração. Viu fugir a eleição por um voto que estava rasurado. Esse momento deixou marcas para o futuro. É uma possível candidata à liderança, quando esse cenário se colocar.

António Pedro Ferreira

Pedro Nuno Santos, 41 anos: o sucessor na pole position

Não fez o caminho do costismo - como outros costistas da sua geração que foram passando pelos gabinetes do atual primeiro-ministro -, mas foi fazendo um percurso próprio. Liderou a JS e pelo menos os dois secretários-gerais que lhe sucederam pertencem à sua linhagem e dinastia: Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. Do tempo da jota, ficou com as ligações a uma geração que sempre o viu como o líder natural. Quando chegar a hora, muitos desses antigos dirigentes da JS estarão em posições de liderança em concelhias e federações do partido. Como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, tem um papel de quase-ministro no Governo e é o óleo da "geringonça". É certamente um papel mais relevante do que o de muitos ministros. Apesar de ser filho de um industrial, posiciona-se à esquerda, fala do operariado - algo que pouco se ouvia no PS - e acha que o Estado deve ser o motor da sociedade e da economia. Tudo junto, é isto o "pedronunismo". A preparar-se sem pressa, é o dirigente em melhor posição para tomar conta do PS quando Costa sair. Se achar que é o melhor momento.

Foto José Carlos Carvalho

João Galamba, 43 anos: o porta-voz destituído

É incendiário nas redes sociais. É polémico nas televisões. Tem uma enorme visibilidade e capacidade de influência na opinião pública, mas tem a desvantagem de ser um cristão-novo no PS em relação a outros nomes da lista de Ferro. Ganhou relevância no consulado de Sócrates, mas caiu na hierarquia pouco tempo depois de dizer que qualquer socialista se sentiria "envergonhado" com as acusações ao antigo primeiro-ministro. É um economista de esquerda, tem posições próximas do Bloco, que agora vai passar por uma fase mais discreta por ter deixado de ser porta-voz do partido. Pode ter um papel no futuro (já disse que gostaria de ser ministro), mas dificilmente chegará à liderança. O futuro, porém...

Marcos Borga

Fernando Medina, 45 anos: o continuador da obra em Lisboa

Quando António Costa o levou para as listas autárquicas em 2013 já se sabia que era para lhe suceder na Câmara de Lisboa. Nas autárquicas do ano passado, ganhou em nome próprio, mas perdeu a maioria absoluta. É mais um potencial sucessor que deve a Costa a abertura de um caminho. Não é uma máquina de votos, mas tem a seu favor um registo de sobriedade e representa uma linha mais moderada (como se viu no seu discurso do congresso), que pode fazer o contraponto ao esquerdismo de Pedro Nuno. Apesar de lhe correr esquerda no sangue - é filho de dois resistentes anti-fascistas que chegaram a posições de relevo no PCP. Tem a seu favor a experiência executiva, mas tem como desvantagem a falta de aparelho e de tropas.

António Pedro Ferreira

Mariana Vieira da Silva, 40 anos: o braço direito de Costa no Governo

Filha do ministro Vieira da Silva, conquistou um lugar próprio como secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro. Nos bastidores é a organizadora do Governo, responsável pela comunicação do Executivo, e braço-direito de António Costa. Foi a coordenadora da moção do secretário-geral, mas fez um discurso frouxo e burocrático no congresso. Tem de melhorar a oratória se quiser competir no futuro por lugares mais relevantes. Mas já é uma potencial ministra num novo governo socialista.

Pedro Delgado Alves, 37 anos: à esquerda pela transparência

Jurista, deputado, professor na Faculdade de Direito de Lisboa, presidente da junta de Freguesia do Lumiar, foi líder da JS na linha de Pedro Nuno Santos. É o socialista que coordena os trabalhos do seu grupo parlamentar na comissão eventual para a transparência na política: não é um pacote bem visto em muitos setores do PS (por exemplo, Sérgio Sousa Pinto é muito crítico). Pela sua ação passará agora uma parte do discurso do PS sobre a prevenção da corrupção e escrutínio dos políticos de que falava Carlos César no discurso do congresso.

António Pedro Ferreira

Ana Mendes Godinho, 46 anos: a relevância do motor do Turismo

A secretária de Estado do Turismo lidera uma pasta onde um ministro da Economia "tímido", com pouca notoriedade, permite aos "ajudantes" brilhar como se fossem verdadeiros ministros. Ana Mendes Godinho, jurista, lidera uma pasta fundamental para o país, o sucesso do turismo tem sido decisivo no desempenho económico de Portugal, apesar de se ter tornado num dos ódios de estimação de alguma esquerda. Mendes Godinho inverteu essa lógica com inteligência, explicando ao congresso como, com este Governo, a intervenção do Estado na atividade turística tem permitido não só crescimento, mas também "criação de oportunidades" no Interior, mais emprego e mais qualificação, com medidas de discriminação positiva.

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