Angola votou em tranquilidade, só falta contar os votos

26-08-2017
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As eleições em Angola são sempre notícia em Portugal. Mas estas estão a ser seguidas em todo o mundo, porque assinalam a saída do poder de José Eduardo dos Santos – depois de 38 anos no poder, um recorde só batido pelo “vizinho” Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial – e porque decorreram num ambiente de grande normalidade que até a oposição e vários observadores internacionais foram reconhecendo. O dia de ir votar foi ontem. Hoje e amanhã contam-se os boletins, apesar de já ter sido anunciado um ou outro atraso. Mas os resultados provisórios devem ser divulgados entre hoje e amanhã . Passaram 38 anos desde o dia em que José Eduardo dos Santos substituiu Agostinho Neto, mas passaram também 15 anos sobre o fim da brutal guerra civil, com a vitória militar do MPLA e a morte de Jonas Savimbi. Esse momento trouxe a paz, ao fim de 41 anos consecutivos de guerra colonial e civil. O que se seguiu foi um período de paz ininterrupta e de um crescimento económico que embriagou muita gente mas enriqueceu poucos e, quase sempre, os do costume, transformando o país numa potência económica africana mas, em simultâneo, um dos mais desiguais do mundo, com uma distribuição de riqueza quase impercetível. A euforia do petróleo deu lugar a uma ressaca brutal, com a queda do preço do crude a arrastar o segundo maior produtor de petróleo de África – só ultrapassado pela Nigéria – para inesperadas dificuldades financeiras que dificilmente escaparão a uma intervenção do FMI e a uma desvalorização da moeda nos próximos meses. Esse choque de realidade já cairá nos braços de João Lourenço , o político-general, que, com toda a certeza vencerá as eleições e ocupará a cadeira do palácio da cidade alta. De lá, olhará para uma capital e um país onde 70% da população tem menos de 25 anos , uma memória cada vez mais longínqua da guerra e uma vontade (e necessidade) de melhorar a vida. A tarefa é hercúlea e será feita com um parlamento onde a oposição terá provavelmente um papel importante e o MPLA enfrenta uma das tarefas mais difícil de sempre: a de fazer uma transição sem beliscar José Eduardo dos Santos mas que mude tudo o que precisa de mudar num país que é uma panela de pressão demográfica, social e económica e que viu países como o Ruanda ou a Etiópia disparar em todos os índices internacionais , enquanto Angola contínua persistentemente na cauda da cauda, com uma riqueza potencial e um futuro extraordinário que poucos vislumbram e só uma previsível minoria agarra.

OUTRAS NOTÍCIAS

Um aviso da policia espanhola fez com que as autoridades holandesas cancelassem um concerto, ontem à noite, em Roterdão. A brigada de minas e armadilhas encontrou uma carrinha de matrícula espanhola com várias botijas de gás. O condutor, também espanhol, está a ser interrogado mas o caso não terá ligações com o atentado de Barcelona.

A ressaca do atentado nas Ramblas, em Barcelona, está a ser difícil. Além da dor e das perdas, Espanha continua a ser confrontada com eventuais falhas de prevenção, sobretudo por causa de não ter percebido que o imã de Ripoll era um potencial fautor de radicalização da comunidade.

A polícia catalã terá sido avisada pelas autoridades belgas há 17 meses sobre suspeitas que envolviam Abdelbaki es Satty, imã de Ripoll e cérebro da célula terrorista que atacou em Barcelona. Mas alguma descoordenação terá feito com que o aviso não tenha sido levado a sério.

O Daesh divulgou, entretanto, esta madrugada o seu primeiro vídeo em espanhol. A ameaça, que pode ser vista no El País., é clara: “con el permiso de Alá, Al Andalus volverá a ser lo que fue, tierra de califato”. A ameça é antiga, a conversa velha, mas não deixa de se ro primeiro vídeo de sempre do Daesh gravado em língua espanhola e lançado poucos dias depois do mais grave atentado desde Atocha.

As reformas antecipadas vão conhecer hoje novas regras, em especial para quem tem longas carreiras contributivas e vê, assim, acabar boa parte das penalizações que foram introduzidas nos últimos anos. As novas regras entram em vigor a 1 de Outubro e são explicadas num trabalho no Público. A legislação elimina as penalizações para quem começou a trabalhar com 14 anos ou menos e alargou o regime à função pública.

Apesar das mudanças, exigidas há muito pelos partidos à esquerda, há questões que ficam adiadas para nova discussão, nomeadamente as condições de acesso à reforma antecipada sem cortes aos 60 anos de idade e 40 de descontos e o alívio das penalizações para a generalidade dos trabalhadores.

A manchete do Diário de Notícias vai para um estudo da Prevenção Rodoviária, que diz que 214 mil condutores usam o telemóvel ao volante nas ruas de Lisboa. Segundo o estudo, por cada milhão de condutores 212 mil estão em permanência a utilizar o telemóvel. Desses, 77 mil estarão a usar o aparelho enquanto conduzem e 137 mil enquanto estão parados nos semáforos.

O JN também aposta numa manchete com condutores, mas neste caso sobre os testes para despistar drogas que a GNR e a PSP fizeram em ano e meio. Os dados dizem que são apanhados quatro condutores com droga por semana, com Braga e Faro no topo e a Canábis a liderar a lista das drogas usadas. Já agora, a infração custa seis pontos na carta.

A greve de inspetores do SEF, marcada para hoje e amanhã, foi desconvocada. A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, reuniu-se ontem os dirigentes do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF e o governo autorizou a contratação de mais 100 inspetores.

Os enfermeiros obstetras regressaram aos protestos e recusam fazer os seus trabalhos especializados. A guerra destes profissionais já é pública há algum tempo mas entrou agora uma ova fase. Simplificando, estes enfermeiros especializados defendem que o seu trabalho é muito desvalorizado face ao dos médicos.

Os salários dos licenciados caíram 9% em cinco anos, divulga o Negócios. Segundo o jornal os licenciados estão a passar ao lado da recuperação de salários e em média estão a receber menos 9% do que em 2011. O aumento da população com ensino superior e o controlo de admissões na Função Pública podem ajudar a explicar porquê.

Ainda no Negócios, a manchete é sobre a acusação que a Sonae faz aos concorrentes por causa das promoções que dominam as vendas dos super e hipermercados. A "intensidade promocional" está "em níveis pouco razoáveis", segundo Luís Reis, num altura em que 45% dos produtos são vendidos em promoção.

A passagem do Sporting à fase de grupos na Champions domina as capas dos desportivos. “De mão-cheia” (A Bola), “Temos Leão” (Record), “Leão exporta chapa 5” (O Jogo), são os títulos que resumem uma goleada de 5-1 na Roménia.

O sorteio da fase de grupos é hoje e ninguém está a salvo de apanhar um ou outro tubarão. Mas as regras ditam que tanto o Benfica como o Porto estejam mais protegidos. O Sporting, menos habituado a estas andanças, deve ter um sorteio mais difícil. Hoje, às 17h, já se saberá com quem jogam as equipas portuguesas.

Hoje é também o dia em que Braga e Marítimo jogam a passagem à fase de grupos da Liga Europa.

FRASES

“Houve um período do dia em que caíram bastantes reclamações, mas por comparação com o dia 31 de agosto de 2012 (eleições anteriores) foi sem dúvida muito mais calmo, muito mais tranquilo”. Luaty Beirão, ativista angolano, sobre as eleições que decorreram ontem

“A coragem de Graça Fonseca é importante para os que lutam por uma sociedade mais justa”. Carlos Moedas, comissário europeu

“Nos meus dois anos aqui tem sido isto: fazer coisas que o Sporting nunca tinha conseguido”. Jorge Jesus, treinador dos leões, num momento de grande modéstia

O QUE EU ANDO A LER

Li nas férias e recomendo vivamente: Os Romanov, de Simon Sebag Montefiore. A Editorial Presença editou o primeiro volume de uma obra espetacular que traça a biografia da dinastia melhor sucedida dos tempos modernos.

Na contracapa, uma citação de Antony Beevor põe as coisas de forma direta: “Em comparação, A Guerra dos Tronos parece um conto para crianças”. Não há exagero de Beevor, porque aquilo que Montefiore nos conta nestas primeiras quinhentas páginas é uma epopeia extraordinária de génio, loucura, guerra, política, paixão e traição (de todos as formas e feitios), caprichos e uma ambição imperial sem par.

Simon Sebag Montefiore (um artigo já antigo, mas bom, da Vanity Fair explica bem quem é o autor) ficou famoso com a biografia de Estaline (já distribuída com o Expresso) e pega agora na família que traçou a história da Rússia desde 1613 até à revolução de 1917. Para percebermos a importância dos Romanov basta uma pequena citação da introdução do livro:

“(…) os Romanov foram os construtores imperiais mais espetaculares desde os mongóis. Estima-se que depois de chegarem ao trono, em 1613, o Império Russo cresceu 142 quilómetros quadrados por dia ou 52000 quilómetros quadrados por ano. Em finais do século XIX, governavam um sexto da superfície do planeta e ainda estavam em expansão.”

Para leituras mais rápidas, mas com um ou outro personagem que podia ter saído dos Romanov, já sabe, é só ir espreitando o Expresso Online. Ao fim do dia chega o Expresso Diário e amanhã chega bem cedo outro Expresso Curto.

As eleições em Angola são sempre notícia em Portugal. Mas estas estão a ser seguidas em todo o mundo, porque assinalam a saída do poder de José Eduardo dos Santos – depois de 38 anos no poder, um recorde só batido pelo “vizinho” Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial – e porque decorreram num ambiente de grande normalidade que até a oposição e vários observadores internacionais foram reconhecendo. O dia de ir votar foi ontem. Hoje e amanhã contam-se os boletins, apesar de já ter sido anunciado um ou outro atraso. Mas os resultados provisórios devem ser divulgados entre hoje e amanhã . Passaram 38 anos desde o dia em que José Eduardo dos Santos substituiu Agostinho Neto, mas passaram também 15 anos sobre o fim da brutal guerra civil, com a vitória militar do MPLA e a morte de Jonas Savimbi. Esse momento trouxe a paz, ao fim de 41 anos consecutivos de guerra colonial e civil. O que se seguiu foi um período de paz ininterrupta e de um crescimento económico que embriagou muita gente mas enriqueceu poucos e, quase sempre, os do costume, transformando o país numa potência económica africana mas, em simultâneo, um dos mais desiguais do mundo, com uma distribuição de riqueza quase impercetível. A euforia do petróleo deu lugar a uma ressaca brutal, com a queda do preço do crude a arrastar o segundo maior produtor de petróleo de África – só ultrapassado pela Nigéria – para inesperadas dificuldades financeiras que dificilmente escaparão a uma intervenção do FMI e a uma desvalorização da moeda nos próximos meses. Esse choque de realidade já cairá nos braços de João Lourenço , o político-general, que, com toda a certeza vencerá as eleições e ocupará a cadeira do palácio da cidade alta. De lá, olhará para uma capital e um país onde 70% da população tem menos de 25 anos , uma memória cada vez mais longínqua da guerra e uma vontade (e necessidade) de melhorar a vida. A tarefa é hercúlea e será feita com um parlamento onde a oposição terá provavelmente um papel importante e o MPLA enfrenta uma das tarefas mais difícil de sempre: a de fazer uma transição sem beliscar José Eduardo dos Santos mas que mude tudo o que precisa de mudar num país que é uma panela de pressão demográfica, social e económica e que viu países como o Ruanda ou a Etiópia disparar em todos os índices internacionais , enquanto Angola contínua persistentemente na cauda da cauda, com uma riqueza potencial e um futuro extraordinário que poucos vislumbram e só uma previsível minoria agarra.

OUTRAS NOTÍCIAS

Um aviso da policia espanhola fez com que as autoridades holandesas cancelassem um concerto, ontem à noite, em Roterdão. A brigada de minas e armadilhas encontrou uma carrinha de matrícula espanhola com várias botijas de gás. O condutor, também espanhol, está a ser interrogado mas o caso não terá ligações com o atentado de Barcelona.

A ressaca do atentado nas Ramblas, em Barcelona, está a ser difícil. Além da dor e das perdas, Espanha continua a ser confrontada com eventuais falhas de prevenção, sobretudo por causa de não ter percebido que o imã de Ripoll era um potencial fautor de radicalização da comunidade.

A polícia catalã terá sido avisada pelas autoridades belgas há 17 meses sobre suspeitas que envolviam Abdelbaki es Satty, imã de Ripoll e cérebro da célula terrorista que atacou em Barcelona. Mas alguma descoordenação terá feito com que o aviso não tenha sido levado a sério.

O Daesh divulgou, entretanto, esta madrugada o seu primeiro vídeo em espanhol. A ameaça, que pode ser vista no El País., é clara: “con el permiso de Alá, Al Andalus volverá a ser lo que fue, tierra de califato”. A ameça é antiga, a conversa velha, mas não deixa de se ro primeiro vídeo de sempre do Daesh gravado em língua espanhola e lançado poucos dias depois do mais grave atentado desde Atocha.

As reformas antecipadas vão conhecer hoje novas regras, em especial para quem tem longas carreiras contributivas e vê, assim, acabar boa parte das penalizações que foram introduzidas nos últimos anos. As novas regras entram em vigor a 1 de Outubro e são explicadas num trabalho no Público. A legislação elimina as penalizações para quem começou a trabalhar com 14 anos ou menos e alargou o regime à função pública.

Apesar das mudanças, exigidas há muito pelos partidos à esquerda, há questões que ficam adiadas para nova discussão, nomeadamente as condições de acesso à reforma antecipada sem cortes aos 60 anos de idade e 40 de descontos e o alívio das penalizações para a generalidade dos trabalhadores.

A manchete do Diário de Notícias vai para um estudo da Prevenção Rodoviária, que diz que 214 mil condutores usam o telemóvel ao volante nas ruas de Lisboa. Segundo o estudo, por cada milhão de condutores 212 mil estão em permanência a utilizar o telemóvel. Desses, 77 mil estarão a usar o aparelho enquanto conduzem e 137 mil enquanto estão parados nos semáforos.

O JN também aposta numa manchete com condutores, mas neste caso sobre os testes para despistar drogas que a GNR e a PSP fizeram em ano e meio. Os dados dizem que são apanhados quatro condutores com droga por semana, com Braga e Faro no topo e a Canábis a liderar a lista das drogas usadas. Já agora, a infração custa seis pontos na carta.

A greve de inspetores do SEF, marcada para hoje e amanhã, foi desconvocada. A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, reuniu-se ontem os dirigentes do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF e o governo autorizou a contratação de mais 100 inspetores.

Os enfermeiros obstetras regressaram aos protestos e recusam fazer os seus trabalhos especializados. A guerra destes profissionais já é pública há algum tempo mas entrou agora uma ova fase. Simplificando, estes enfermeiros especializados defendem que o seu trabalho é muito desvalorizado face ao dos médicos.

Os salários dos licenciados caíram 9% em cinco anos, divulga o Negócios. Segundo o jornal os licenciados estão a passar ao lado da recuperação de salários e em média estão a receber menos 9% do que em 2011. O aumento da população com ensino superior e o controlo de admissões na Função Pública podem ajudar a explicar porquê.

Ainda no Negócios, a manchete é sobre a acusação que a Sonae faz aos concorrentes por causa das promoções que dominam as vendas dos super e hipermercados. A "intensidade promocional" está "em níveis pouco razoáveis", segundo Luís Reis, num altura em que 45% dos produtos são vendidos em promoção.

A passagem do Sporting à fase de grupos na Champions domina as capas dos desportivos. “De mão-cheia” (A Bola), “Temos Leão” (Record), “Leão exporta chapa 5” (O Jogo), são os títulos que resumem uma goleada de 5-1 na Roménia.

O sorteio da fase de grupos é hoje e ninguém está a salvo de apanhar um ou outro tubarão. Mas as regras ditam que tanto o Benfica como o Porto estejam mais protegidos. O Sporting, menos habituado a estas andanças, deve ter um sorteio mais difícil. Hoje, às 17h, já se saberá com quem jogam as equipas portuguesas.

Hoje é também o dia em que Braga e Marítimo jogam a passagem à fase de grupos da Liga Europa.

FRASES

“Houve um período do dia em que caíram bastantes reclamações, mas por comparação com o dia 31 de agosto de 2012 (eleições anteriores) foi sem dúvida muito mais calmo, muito mais tranquilo”. Luaty Beirão, ativista angolano, sobre as eleições que decorreram ontem

“A coragem de Graça Fonseca é importante para os que lutam por uma sociedade mais justa”. Carlos Moedas, comissário europeu

“Nos meus dois anos aqui tem sido isto: fazer coisas que o Sporting nunca tinha conseguido”. Jorge Jesus, treinador dos leões, num momento de grande modéstia

O QUE EU ANDO A LER

Li nas férias e recomendo vivamente: Os Romanov, de Simon Sebag Montefiore. A Editorial Presença editou o primeiro volume de uma obra espetacular que traça a biografia da dinastia melhor sucedida dos tempos modernos.

Na contracapa, uma citação de Antony Beevor põe as coisas de forma direta: “Em comparação, A Guerra dos Tronos parece um conto para crianças”. Não há exagero de Beevor, porque aquilo que Montefiore nos conta nestas primeiras quinhentas páginas é uma epopeia extraordinária de génio, loucura, guerra, política, paixão e traição (de todos as formas e feitios), caprichos e uma ambição imperial sem par.

Simon Sebag Montefiore (um artigo já antigo, mas bom, da Vanity Fair explica bem quem é o autor) ficou famoso com a biografia de Estaline (já distribuída com o Expresso) e pega agora na família que traçou a história da Rússia desde 1613 até à revolução de 1917. Para percebermos a importância dos Romanov basta uma pequena citação da introdução do livro:

“(…) os Romanov foram os construtores imperiais mais espetaculares desde os mongóis. Estima-se que depois de chegarem ao trono, em 1613, o Império Russo cresceu 142 quilómetros quadrados por dia ou 52000 quilómetros quadrados por ano. Em finais do século XIX, governavam um sexto da superfície do planeta e ainda estavam em expansão.”

Para leituras mais rápidas, mas com um ou outro personagem que podia ter saído dos Romanov, já sabe, é só ir espreitando o Expresso Online. Ao fim do dia chega o Expresso Diário e amanhã chega bem cedo outro Expresso Curto.

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