A ministra zombie

04-07-2017
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Pedir a demissão de alguém durante uma tragédia é só parvo. A explicação é simples - e devia ser óbvia: naquele primeiro momento, ninguém sabe exatamente o que aconteceu, porque aconteceu. A prioridade tem de ser apagar as chamas, ajudar as vítimas, evitar males maiores. Sim, há a questão da responsabilidade política, mas essa pode - e deve - esperar. Não é prioritária. Sobretudo quando morrem pessoas e há o risco de morrerem muitas mais. Imolar um cordeiro em plena catástrofe não responde a nenhuma pergunta, não apaga chamas, não salva vidas.

Agora que o fogo foi extinto, que os mortos estão contados e os prejuízos calculados, esse tempo chegou: há responsabilidades que não podem ser descuradas.

Constança Urbano de Sousa não é bombeira. Nem GNR. Nem especialista em telecomunicações. Não sabe antecipar trovoadas secas e, seguramente, perceberá pouco de ordenamento do território e de florestas. Mas foi ela a escolhida por António Costa para ser ministra da Administração Interna. E, no caso concreto dos incêndios, a tarefa dela tem tanto de simples como de complexa: garantir que o Estado está preparado para responder a um flagelo que atinge o país todos os anos - os incêndios. A ela cabe-lhe escolher as pessoas certas, assegurar que os meios necessários estão disponíveis, prevenir eventuais lacunas que possam surgir.

À ministra da Administração Interna, como a qualquer outro líder, exige-se liderança. E um bom líder não é aquele que sabe tudo - é aquele que sabe rodear-se dos melhores. Que os sabe identificar. Que não tem medo da própria sombra. Que não tem medo de decidir. Porque essa mensagem acaba por passar e, no caso da política, dá-lhe peso político. Mais: ajuda na afirmação de um ministro. O problema é que Constança Urbano de Sousa, claramente, não é isto.

Um líder, digno desse nome, vê-se nas situações mais difíceis. É no meio do caos que os melhores sobressaem. Quando ninguém sabe o que fazer. Quando o desespero impera. Quando tudo parece perdido. Um líder é o que decide. O que tem sentido prático. O que não tem medo de agir e consegue defender as próprias decisões. Não delega noutros a sua própria responsabilidade. É o que dá a cara. É o que tem estofo para disfarçar as fragilidades, sabendo, de antemão, que essas fragilidades vão fragilizar outros.

Aquilo a que o país tem assistido desde o dia 17 de junho é absolutamente vergonhoso. E a primeira envergonhada devia ser Constança Urbano de Sousa. Morreram 64 pessoas. 64. Não duvido, nem por um segundo, do peso que isso representa do ponto de vista emocional para a ministra. Mas também tenho poucas dúvidas das responsabilidades que ela tem e que ainda não assumiu.

O que falhou? Alguém falhou? Porque falhou? Foste tu. Não, foste tu. Sempre foi assim. Foi? Claro que foi. Qualquer que seja a pergunta que o primeiro-ministro faça, a resposta acaba sempre a comprometer a ministra. Ministra? Qual ministra? Aquela que o país viu a chorar? A que passou penosas horas num posto de comando onde nada estava a ser comandado? Falharam as comunicações. Falhou o planeamento. Falhou o Estado. O Estado, senhora ministra, é você.

Por si só, a demissão de Constança Urbano de Sousa, já vários o disseram, não resolve nada. Não é imolando um cordeiro que se restitui a vida a 64 pessoas. Mas o Estado tem de ser mais do que isto. O Estado tem de ser o último garante de um povo. Dos que perderam a vida. Dos que perderam a família, os amigos e conhecidos. Dos que perderam uma vida de trabalho. O Estado, senhora ministra, quando falha, tem de assumir essas falhas. O Estado tem de ser um líder. Porque há gente à espera de respostas e com pouca paciência para jogos políticos.

António Costa pode até manter Constança Urbano de Sousa como ministra. Mas isso não faz dela ministra. Faz dela um zombie político.

Pedir a demissão de alguém durante uma tragédia é só parvo. A explicação é simples - e devia ser óbvia: naquele primeiro momento, ninguém sabe exatamente o que aconteceu, porque aconteceu. A prioridade tem de ser apagar as chamas, ajudar as vítimas, evitar males maiores. Sim, há a questão da responsabilidade política, mas essa pode - e deve - esperar. Não é prioritária. Sobretudo quando morrem pessoas e há o risco de morrerem muitas mais. Imolar um cordeiro em plena catástrofe não responde a nenhuma pergunta, não apaga chamas, não salva vidas.

Agora que o fogo foi extinto, que os mortos estão contados e os prejuízos calculados, esse tempo chegou: há responsabilidades que não podem ser descuradas.

Constança Urbano de Sousa não é bombeira. Nem GNR. Nem especialista em telecomunicações. Não sabe antecipar trovoadas secas e, seguramente, perceberá pouco de ordenamento do território e de florestas. Mas foi ela a escolhida por António Costa para ser ministra da Administração Interna. E, no caso concreto dos incêndios, a tarefa dela tem tanto de simples como de complexa: garantir que o Estado está preparado para responder a um flagelo que atinge o país todos os anos - os incêndios. A ela cabe-lhe escolher as pessoas certas, assegurar que os meios necessários estão disponíveis, prevenir eventuais lacunas que possam surgir.

À ministra da Administração Interna, como a qualquer outro líder, exige-se liderança. E um bom líder não é aquele que sabe tudo - é aquele que sabe rodear-se dos melhores. Que os sabe identificar. Que não tem medo da própria sombra. Que não tem medo de decidir. Porque essa mensagem acaba por passar e, no caso da política, dá-lhe peso político. Mais: ajuda na afirmação de um ministro. O problema é que Constança Urbano de Sousa, claramente, não é isto.

Um líder, digno desse nome, vê-se nas situações mais difíceis. É no meio do caos que os melhores sobressaem. Quando ninguém sabe o que fazer. Quando o desespero impera. Quando tudo parece perdido. Um líder é o que decide. O que tem sentido prático. O que não tem medo de agir e consegue defender as próprias decisões. Não delega noutros a sua própria responsabilidade. É o que dá a cara. É o que tem estofo para disfarçar as fragilidades, sabendo, de antemão, que essas fragilidades vão fragilizar outros.

Aquilo a que o país tem assistido desde o dia 17 de junho é absolutamente vergonhoso. E a primeira envergonhada devia ser Constança Urbano de Sousa. Morreram 64 pessoas. 64. Não duvido, nem por um segundo, do peso que isso representa do ponto de vista emocional para a ministra. Mas também tenho poucas dúvidas das responsabilidades que ela tem e que ainda não assumiu.

O que falhou? Alguém falhou? Porque falhou? Foste tu. Não, foste tu. Sempre foi assim. Foi? Claro que foi. Qualquer que seja a pergunta que o primeiro-ministro faça, a resposta acaba sempre a comprometer a ministra. Ministra? Qual ministra? Aquela que o país viu a chorar? A que passou penosas horas num posto de comando onde nada estava a ser comandado? Falharam as comunicações. Falhou o planeamento. Falhou o Estado. O Estado, senhora ministra, é você.

Por si só, a demissão de Constança Urbano de Sousa, já vários o disseram, não resolve nada. Não é imolando um cordeiro que se restitui a vida a 64 pessoas. Mas o Estado tem de ser mais do que isto. O Estado tem de ser o último garante de um povo. Dos que perderam a vida. Dos que perderam a família, os amigos e conhecidos. Dos que perderam uma vida de trabalho. O Estado, senhora ministra, quando falha, tem de assumir essas falhas. O Estado tem de ser um líder. Porque há gente à espera de respostas e com pouca paciência para jogos políticos.

António Costa pode até manter Constança Urbano de Sousa como ministra. Mas isso não faz dela ministra. Faz dela um zombie político.

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