Bloco e PS entram no jogo do gato e do rato

11-10-2019
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Fernando Nunes da Silva, professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST), sempre fez uma perninha na política. Chegou a fazer "ticket" com Francisco Louçã numas autárquicas em Lisboa: Louçã foi candidato à Câmara e Nunes da Silva à Assembleia Municipal. Nunes da Silva esteve no Bloco no momento da sua fundação, tendo-se afastado mais tarde (embora apoiando por vezes candidaturas bloquistas). Foi vereador em Lisboa (eleito pelos Cidadãos por Lisboa) num Executivo de António Costa, de quem se distanciou e tornaria mais tarde crítico da sua atuação no município, em especial das política de urbanismo conduzida por Manuel Salgado. As legislativas de 2019 marcam o reencontro com o Bloco de Esquerda de um homem que conhece como poucos a praxis política do primeiro-ministro socialista. Nunes da Silva integra a lista de apoiantes do BE (a convite de Louçã, contou ao Expresso) e a presença no almoço da FIL foi o corolário lógico desse posicionamento.

"Somos gente de confiança e vimos pedir o vosso voto para acabar com os empecilhos que agrilhoam a nossa economia e a nossa democracia: o empecilho da injustiça, das rendas garantidas, o empecilho dos truques financeiros e o empecilho do encobrimento e da promiscuidade" Mariana Mortágua , cabeça de lista por Lisboa, devolvendo ao PS o mimo dos "empecilhos"

O almoço do Bloco em Lisboa ("mega-almoço", como é designado oficialmente), sempre a uma semana das eleições, mais do que um momento, é um acontecimento para qualquer campanha do Bloco. Num partido que arregimenta por regra um máximo de duas centenas de pessoas em iniciativas do género (no final da semana passada, em Penafiel, quem lá esteve fala entre 400 e 500, o que é uma exceção), meter cerca de milhar e meio de pessoas na mesma sala é um momento de apoteose. Voltou a acontecer neste sábado (embora no pavilhão da FIL estivesse cerca de uma dezena de mesas vazias)

Depois de dias de acalmia entre BE e PS (ou vice-versa), cuja tensão esteve ao rubro por causa da paternidade da 'geringonça', os bloquistas acordaram neste sábado com novo pronunciamento do primeiro-ministro sobre o que se passou no outono de 2015. "Esta solução teria sido impossível se o BE tivesse mais peso, e mais ainda se eles estivessem no Governo", disse António Costa ao Expresso, na edição agora nas bancas.

A dialética entre os dois partidos é agora diferente da que existia há uma semana, e as respostas deixaram de ser dadas à letra. Em boa verdade, até nem parecem ser verdadeiras réplicas. Mas no fundo são.

Poucas horas depois, no mega-almoço da FIL, em Lisboa, Catarina Martins afirmava: “O Governo nada teria feito sem o Bloco e o Partido Comunista Português”.

E prosseguiu a líder do Bloco: “As decisões da maioria foram graças aos três e gostámos desta cooperação, que sempre serviu para resolver os problemas deste país”.

E se ao Expresso António Costa traça um quadro de imprevisibilidade nos cenários pós-eleitorais ("Para mim, o quadro é muito mais incerto do que em 2015"), a coordenadora do Bloco como que abre portas a novos diálogos: “A nossa responsabilidade é hoje, como há quatro anos e em cada um dos nossos dias, a de vencer barreiras”.

De resto, Catarina Martins fez questão, no mega-almoço do Bloco que marca o último fim-de-semana de campanha, de recordar mais uma vez circunstâncias passadas há quatro anos: “A três semanas das eleições de 2015, disse a António Costa que faríamos um governo se aceitassem três condições – descongelar as pensões, não diminuir as contribuições das empresas para a segurança social e não facilitar os despedimentos”. Contudo, “o PS respondeu continuando a campanha a apelar à maioria absoluta”.

Do "projeto colonial português" ao "ataque sem tréguas ao racismo"

O comício deste domingo do Bloco - onde também intervieram a cabeça de lista por Lisboa, Mariana Mortágua, e o nº 2, Pedro Filipe Soares - foi também o momento em que a número 3 da lista, Beatriz Dias, apareceu pela primeira vez nesta campanha ao lado da líder.

Beatriz Dias, nascida no Senegal, está em lugar elegível e por isso deverá ser, com toda a probabilidade, eleita no dia 6 de outubro. Será a primeira deputada negra do Bloco e a "africana e portuguesa" (como a designou Catarina Martins) a sentar-se em São Bento.

A defesa de minorias étnicas e raciais surgiu assim com uma força e um peso da campanha do Bloco como ainda não se vira nesta campanha.

Beatriz Dias lembrou a "escravatura" e o "projeto colonial português", e "mitos de identidade cultural" que lhe estão associados, para afirmar que eles "têm dificultado o reconhecimento de manifestações de racismo estrutural na nossa sociedade".

A candidata negra do Bloco afirmou que está agora pela frente "o desafio de vencer a negação do racismo e conquistar a igualdade de direitos de toda a gente que vive em Portugal, independentemente da nacionalidade ou pertença étnico-racial”.

Dias apelou assim à “defesa intransigente da democracia”, de forma a haver “um combate sem tréguas ao racismo e à xenofobia”.

Fernando Nunes da Silva, professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST), sempre fez uma perninha na política. Chegou a fazer "ticket" com Francisco Louçã numas autárquicas em Lisboa: Louçã foi candidato à Câmara e Nunes da Silva à Assembleia Municipal. Nunes da Silva esteve no Bloco no momento da sua fundação, tendo-se afastado mais tarde (embora apoiando por vezes candidaturas bloquistas). Foi vereador em Lisboa (eleito pelos Cidadãos por Lisboa) num Executivo de António Costa, de quem se distanciou e tornaria mais tarde crítico da sua atuação no município, em especial das política de urbanismo conduzida por Manuel Salgado. As legislativas de 2019 marcam o reencontro com o Bloco de Esquerda de um homem que conhece como poucos a praxis política do primeiro-ministro socialista. Nunes da Silva integra a lista de apoiantes do BE (a convite de Louçã, contou ao Expresso) e a presença no almoço da FIL foi o corolário lógico desse posicionamento.

"Somos gente de confiança e vimos pedir o vosso voto para acabar com os empecilhos que agrilhoam a nossa economia e a nossa democracia: o empecilho da injustiça, das rendas garantidas, o empecilho dos truques financeiros e o empecilho do encobrimento e da promiscuidade" Mariana Mortágua , cabeça de lista por Lisboa, devolvendo ao PS o mimo dos "empecilhos"

O almoço do Bloco em Lisboa ("mega-almoço", como é designado oficialmente), sempre a uma semana das eleições, mais do que um momento, é um acontecimento para qualquer campanha do Bloco. Num partido que arregimenta por regra um máximo de duas centenas de pessoas em iniciativas do género (no final da semana passada, em Penafiel, quem lá esteve fala entre 400 e 500, o que é uma exceção), meter cerca de milhar e meio de pessoas na mesma sala é um momento de apoteose. Voltou a acontecer neste sábado (embora no pavilhão da FIL estivesse cerca de uma dezena de mesas vazias)

Depois de dias de acalmia entre BE e PS (ou vice-versa), cuja tensão esteve ao rubro por causa da paternidade da 'geringonça', os bloquistas acordaram neste sábado com novo pronunciamento do primeiro-ministro sobre o que se passou no outono de 2015. "Esta solução teria sido impossível se o BE tivesse mais peso, e mais ainda se eles estivessem no Governo", disse António Costa ao Expresso, na edição agora nas bancas.

A dialética entre os dois partidos é agora diferente da que existia há uma semana, e as respostas deixaram de ser dadas à letra. Em boa verdade, até nem parecem ser verdadeiras réplicas. Mas no fundo são.

Poucas horas depois, no mega-almoço da FIL, em Lisboa, Catarina Martins afirmava: “O Governo nada teria feito sem o Bloco e o Partido Comunista Português”.

E prosseguiu a líder do Bloco: “As decisões da maioria foram graças aos três e gostámos desta cooperação, que sempre serviu para resolver os problemas deste país”.

E se ao Expresso António Costa traça um quadro de imprevisibilidade nos cenários pós-eleitorais ("Para mim, o quadro é muito mais incerto do que em 2015"), a coordenadora do Bloco como que abre portas a novos diálogos: “A nossa responsabilidade é hoje, como há quatro anos e em cada um dos nossos dias, a de vencer barreiras”.

De resto, Catarina Martins fez questão, no mega-almoço do Bloco que marca o último fim-de-semana de campanha, de recordar mais uma vez circunstâncias passadas há quatro anos: “A três semanas das eleições de 2015, disse a António Costa que faríamos um governo se aceitassem três condições – descongelar as pensões, não diminuir as contribuições das empresas para a segurança social e não facilitar os despedimentos”. Contudo, “o PS respondeu continuando a campanha a apelar à maioria absoluta”.

Do "projeto colonial português" ao "ataque sem tréguas ao racismo"

O comício deste domingo do Bloco - onde também intervieram a cabeça de lista por Lisboa, Mariana Mortágua, e o nº 2, Pedro Filipe Soares - foi também o momento em que a número 3 da lista, Beatriz Dias, apareceu pela primeira vez nesta campanha ao lado da líder.

Beatriz Dias, nascida no Senegal, está em lugar elegível e por isso deverá ser, com toda a probabilidade, eleita no dia 6 de outubro. Será a primeira deputada negra do Bloco e a "africana e portuguesa" (como a designou Catarina Martins) a sentar-se em São Bento.

A defesa de minorias étnicas e raciais surgiu assim com uma força e um peso da campanha do Bloco como ainda não se vira nesta campanha.

Beatriz Dias lembrou a "escravatura" e o "projeto colonial português", e "mitos de identidade cultural" que lhe estão associados, para afirmar que eles "têm dificultado o reconhecimento de manifestações de racismo estrutural na nossa sociedade".

A candidata negra do Bloco afirmou que está agora pela frente "o desafio de vencer a negação do racismo e conquistar a igualdade de direitos de toda a gente que vive em Portugal, independentemente da nacionalidade ou pertença étnico-racial”.

Dias apelou assim à “defesa intransigente da democracia”, de forma a haver “um combate sem tréguas ao racismo e à xenofobia”.

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