Coletes Amarelos. “Muro de betão” para as centrais sindicais

19-12-2018
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As centrais sindicais nacionais, a UGT e a CGTP, demarcam-se, por completo, do protesto que está a ser organizado, nas redes sociais, através do movimento “Vamos parar Portugal como forma de protesto”, para esta sexta-feira, dia 21. A iniciativa, envolta em secretismo, foi convocada na sequência dos protestos, em França, dos coletes amarelos, mas tanto Arménio Carlos, da CGTP, como Carlos Silva, da UGT, consideram que a “luta” se faz nos locais de trabalho, ou através do diálogo social.

“É um muro de betão e nós não sabemos quem está por detrás disto”, explicou ao i, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, a partir de Bruxelas, considerando que o caso dos movimentos que levam a protestos como os de França obriga a uma reflexão, mas também a uma crítica: “Estes movimentos inorgânicos beliscam a democracia e até consideram os sindicatos obsoletos, pensam que os sindicatos não fazem nada, fazem parte do regime, querem parar os países, e não interessam as consequências”.

Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP, vai mais longe na análise e faz uma colagem ideológica do movimento, anónimo, que se gerou nas redes sociais: “O objetivo aqui destas movimentações é desviar as atenções daquilo que, neste momento, é preciso responder – aos problemas dos trabalhadores e das populações – e procurar aqui reforçar as posições da extrema direita. Que está numa fase difícil em Portugal e que procura aproveitar a situação”.

Tanto a CGTP como a UGT preferem separar as águas entre aquilo que são as reivindicações dos trabalhadores e das populações do protesto anunciado na rede social Facebook. “É necessário separar aquilo que são as reivindicações justas dos trabalhadores e da população, quer por melhores condições de vida e de trabalho, quer por melhores transportes, quer por respostas adequadas no âmbito da Saúde, da Educação, da Justiça. Outra coisa, é uma movimentação desta natureza que encerra claramente outros objetivos que não têm nada a ver com estas preocupações, embora falando nalgumas delas”, defendeu ao i Arménio Carlos, o líder da CGTP.

Também Carlos Silva, da UGT, lança dúvidas sobre os reais objetivos do protesto, previsto para vários pontos do país, sobretudo junto a acessos como os da ponte 25 de Abril, que liga Lisboa e Almada, e os da Avenida dos Aliados, no Porto.

“Uma coisa é fazerem-se manifestações, usarem-se palavras de ordem, às vezes muito violentas, outra coisa é colocar em causa o património público, a segurança do Estado, a segurança dos cidadãos”, começou por explicar Carlos Silva. O dirigente sindical acrescenta que as “centrais sindicais europeias, e em particular as portuguesas, não podem alinhar nem alimentar este tipo de manifestações”, alertando que o protesto é um direito, mas que deve ser sempre realizado de “forma pacífica e ordeira”.

A avaliação dos sindicatos converge na demarcação do protesto, mas a CGTP é mais clara no ataque à iniciativa. “Não nos revemos, nem admitiremos qualquer tipo de contacto e de estabelecimento de relações com movimentos deste tipo de natureza que não tem, enfim, resposta para os problemas dos trabalhadores e das populações, nem para o desenvolvimento do País. Pelo contrário, querem instabilidade para dar força à extrema direita”, frisou Arménio Carlos, sublinhando que “de extrema direita, nós já tivemos uma que foi o fascismo durante 48 anos”.

Ora, apesar da colagem do movimento à extrema direita, por parte da CGTP, o próprio PNR (Partido Nacional Renovador) afiançou ao i que não faz parte da organização dos protestos, porque “não pode controlar”. E um dos membros do movimento, Anabela Andry, chegou a garantir, na passada semana, que não faz parte de nenhum partido, uma ideia extensível a outros elementos que se mobilizaram nas redes sociais para preparar o protesto.

Incógnita e apreensão entre socialistas Como ninguém sabe qual será o efeito do protesto, a ordem na PSP foi para mobilizar efetivos – pelo menos 20 mil – e desenvolver uma estratégia com reuniões preparatórias com os organizadores da iniciativa para prevenir eventuais problemas. Mesmo no executivo e no PS, o sentimento é o mesmo: cautela, alguma apreensão, mas sobretudo incerteza, porque ninguém sabe qual será a dimensão da iniciativa, que visa, segundo a partilha de reivindicações nas redes sociais, exigir combustíveis mais baratos, aumento do salário mínimo nacional, melhor Serviço Nacional de Saúde, ou simplesmente contestar a classe política.

Falhas dos sindicatos? A forma como se criou um movimento, colocando a PSP em alerta, já levou personalidades como o comentador televisivo Marques Mendes a lembrar que o caso dos coletes amarelos em Franca e o protesto marcado para dia 21 são preocupantes. “Estão a surgir em Portugal movimentos inorgânicos. Os sindicatos falharam porque são sempre mais do mesmo. Podem surgir outras situações diferentes, inorgânicas, e criar o caos. Se a moda pega...”, alertou Mendes no passado domingo, na SIC. Carlos Silva, da UGT, ouviu o antigo líder do PSD, e discorda, porque “não são os sindicatos que falharam, são os Estados que falham”.

Para o dirigente sindical, a “culpa é menos dos sindicatos do que dos partidos políticos” e adianta que o executivo socialista tem responsabilidades num eventual descontentamento, porque “não tem sabido aproveitar o diálogo social para chamar os sindicatos à mesa”.

Arménio Carlos, da CGTP, lembra que tem havido um número muito superior de pré-avisos de greves, dois terços delas são para o setor privado, refutando a ideia de perda de espaço dos sindicatos ou de alguma falha.

“Os movimentos inorgânicos surgem da internet e os sindicatos estão nos locais de trabalho. E é ali que está o confronto entre o trabalho e o capital. Ou seja, podem existir movimentos, pode haver movimentação, mas uma coisa é certa, nenhum movimento inorgânico substituiu até hoje os sindicatos e por uma razão simples: os problemas fundamentais dos trabalhadores estão nos locais de trabalho. Aí são os sindicatos que têm um papel preponderante”, concluiu o líder da CGTP.

Sobre o protesto do próximo dia 21, Carlos Silva, da UGT, espera que decorra de forma ordeira porque Portugal “é uma nação pacífica”. E deixa um aviso: “Cabe às autoridades tomarem as devidas precauções para que um eventual movimento pacífico, e ordeiro, não se transforme – ou não seja – palco para o surgimento de forças que são antidemocráticas”.

As centrais sindicais nacionais, a UGT e a CGTP, demarcam-se, por completo, do protesto que está a ser organizado, nas redes sociais, através do movimento “Vamos parar Portugal como forma de protesto”, para esta sexta-feira, dia 21. A iniciativa, envolta em secretismo, foi convocada na sequência dos protestos, em França, dos coletes amarelos, mas tanto Arménio Carlos, da CGTP, como Carlos Silva, da UGT, consideram que a “luta” se faz nos locais de trabalho, ou através do diálogo social.

“É um muro de betão e nós não sabemos quem está por detrás disto”, explicou ao i, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, a partir de Bruxelas, considerando que o caso dos movimentos que levam a protestos como os de França obriga a uma reflexão, mas também a uma crítica: “Estes movimentos inorgânicos beliscam a democracia e até consideram os sindicatos obsoletos, pensam que os sindicatos não fazem nada, fazem parte do regime, querem parar os países, e não interessam as consequências”.

Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP, vai mais longe na análise e faz uma colagem ideológica do movimento, anónimo, que se gerou nas redes sociais: “O objetivo aqui destas movimentações é desviar as atenções daquilo que, neste momento, é preciso responder – aos problemas dos trabalhadores e das populações – e procurar aqui reforçar as posições da extrema direita. Que está numa fase difícil em Portugal e que procura aproveitar a situação”.

Tanto a CGTP como a UGT preferem separar as águas entre aquilo que são as reivindicações dos trabalhadores e das populações do protesto anunciado na rede social Facebook. “É necessário separar aquilo que são as reivindicações justas dos trabalhadores e da população, quer por melhores condições de vida e de trabalho, quer por melhores transportes, quer por respostas adequadas no âmbito da Saúde, da Educação, da Justiça. Outra coisa, é uma movimentação desta natureza que encerra claramente outros objetivos que não têm nada a ver com estas preocupações, embora falando nalgumas delas”, defendeu ao i Arménio Carlos, o líder da CGTP.

Também Carlos Silva, da UGT, lança dúvidas sobre os reais objetivos do protesto, previsto para vários pontos do país, sobretudo junto a acessos como os da ponte 25 de Abril, que liga Lisboa e Almada, e os da Avenida dos Aliados, no Porto.

“Uma coisa é fazerem-se manifestações, usarem-se palavras de ordem, às vezes muito violentas, outra coisa é colocar em causa o património público, a segurança do Estado, a segurança dos cidadãos”, começou por explicar Carlos Silva. O dirigente sindical acrescenta que as “centrais sindicais europeias, e em particular as portuguesas, não podem alinhar nem alimentar este tipo de manifestações”, alertando que o protesto é um direito, mas que deve ser sempre realizado de “forma pacífica e ordeira”.

A avaliação dos sindicatos converge na demarcação do protesto, mas a CGTP é mais clara no ataque à iniciativa. “Não nos revemos, nem admitiremos qualquer tipo de contacto e de estabelecimento de relações com movimentos deste tipo de natureza que não tem, enfim, resposta para os problemas dos trabalhadores e das populações, nem para o desenvolvimento do País. Pelo contrário, querem instabilidade para dar força à extrema direita”, frisou Arménio Carlos, sublinhando que “de extrema direita, nós já tivemos uma que foi o fascismo durante 48 anos”.

Ora, apesar da colagem do movimento à extrema direita, por parte da CGTP, o próprio PNR (Partido Nacional Renovador) afiançou ao i que não faz parte da organização dos protestos, porque “não pode controlar”. E um dos membros do movimento, Anabela Andry, chegou a garantir, na passada semana, que não faz parte de nenhum partido, uma ideia extensível a outros elementos que se mobilizaram nas redes sociais para preparar o protesto.

Incógnita e apreensão entre socialistas Como ninguém sabe qual será o efeito do protesto, a ordem na PSP foi para mobilizar efetivos – pelo menos 20 mil – e desenvolver uma estratégia com reuniões preparatórias com os organizadores da iniciativa para prevenir eventuais problemas. Mesmo no executivo e no PS, o sentimento é o mesmo: cautela, alguma apreensão, mas sobretudo incerteza, porque ninguém sabe qual será a dimensão da iniciativa, que visa, segundo a partilha de reivindicações nas redes sociais, exigir combustíveis mais baratos, aumento do salário mínimo nacional, melhor Serviço Nacional de Saúde, ou simplesmente contestar a classe política.

Falhas dos sindicatos? A forma como se criou um movimento, colocando a PSP em alerta, já levou personalidades como o comentador televisivo Marques Mendes a lembrar que o caso dos coletes amarelos em Franca e o protesto marcado para dia 21 são preocupantes. “Estão a surgir em Portugal movimentos inorgânicos. Os sindicatos falharam porque são sempre mais do mesmo. Podem surgir outras situações diferentes, inorgânicas, e criar o caos. Se a moda pega...”, alertou Mendes no passado domingo, na SIC. Carlos Silva, da UGT, ouviu o antigo líder do PSD, e discorda, porque “não são os sindicatos que falharam, são os Estados que falham”.

Para o dirigente sindical, a “culpa é menos dos sindicatos do que dos partidos políticos” e adianta que o executivo socialista tem responsabilidades num eventual descontentamento, porque “não tem sabido aproveitar o diálogo social para chamar os sindicatos à mesa”.

Arménio Carlos, da CGTP, lembra que tem havido um número muito superior de pré-avisos de greves, dois terços delas são para o setor privado, refutando a ideia de perda de espaço dos sindicatos ou de alguma falha.

“Os movimentos inorgânicos surgem da internet e os sindicatos estão nos locais de trabalho. E é ali que está o confronto entre o trabalho e o capital. Ou seja, podem existir movimentos, pode haver movimentação, mas uma coisa é certa, nenhum movimento inorgânico substituiu até hoje os sindicatos e por uma razão simples: os problemas fundamentais dos trabalhadores estão nos locais de trabalho. Aí são os sindicatos que têm um papel preponderante”, concluiu o líder da CGTP.

Sobre o protesto do próximo dia 21, Carlos Silva, da UGT, espera que decorra de forma ordeira porque Portugal “é uma nação pacífica”. E deixa um aviso: “Cabe às autoridades tomarem as devidas precauções para que um eventual movimento pacífico, e ordeiro, não se transforme – ou não seja – palco para o surgimento de forças que são antidemocráticas”.

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