Rodrigo Guedes de Carvalho: A César o que não é de César

06-05-2018
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Marcos Borga

1 - A manchete do “Expresso” é uma vergonha. Não a manchete, claro, entendamo-nos, o que ela nos revela. Está na altura de o dizer com todas as letras: uma vergonha. Vamos ter de atingir um ponto de revolta séria. São já demasiadas historietas de políticos pequenos e maiorzinhos que sem qualquer pudor arranjam, uma vez dentro do sistema, pequenos subterfúgios para jogar com as leis, pequenas ou maiores, sempre com o mesmo objectivo: ganharem ou pouparem dinheiro à conta do Estado, que é como quem diz, à custa do contribuinte. E começamos a ver, ou a confirmar, que o gosto pelo sistema é transversal. Portanto, um número considerável de deputados das ilhas que trabalham em Lisboa vão buscar reembolsos para pagar viagens que, afinal, nunca chegaram a pagar. Há vários nomes, mais ou menos conhecidos, e de uns sabe-se perfeitamente que valem tanto como o ar do tempo, hoje estão, amanhã não. Mas causa-me estranheza, para não utilizar outras palavras, que o nome de topo da lista seja o de Carlos César, histórico de um partido que volta e meia governa, Carlos César que é hoje a maior figura do partido, logo abaixo do primeiro-ministro. Conhecemo-lo porque... sempre o conhecemos. Faz parte do sistema desde sempre, e dá sinais de assim continuar. No topo, de uma maneira ou outra. Acontece que o topo é, ou deveria ser, o lugar de responsabilidade mais limpa e cristalina. É muito triste esta notícia que nos diz que muitos deputados, com o histórico socialista à cabeça, andam, conscientemente, a receber o que não poderiam receber, a César o que não lhe pertence. Sobretudo porque se sabe bem quem é que paga, basta olharmos para os nossos impostos.

Pedro Jorge Melo

2 - Anda por aí enorme zumzum por causa de uma crónica de jornal. Diz-se que “incendiou” as redes sociais. É sempre de desconfiar. De uma e outra coisa. Primeiro, dos que se apressam a gritar que isto e aquilo incendiou, quando muitas vezes só chamuscou, andou entre meia dúzia de amigos que se julgam o centro do universo, ou pelo menos líderes de opinião. Depois, a verdade é que hoje qualquer coisa ofende qualquer pessoa. Dito isto, que aplico à maioria dos casos, fui ler a crónica e interessa-me pouco se incendiou ou não. Não lhe achei piada. E sempre foi este (imagine-se) o meu problema com as tentativas de fazer humor: gosto que tenham piada. Havia uma responsabilidade acrescida, já que a crónica era assinada por um dos membros fundadores de um quarteto que marcou a última década, Gato Fedorento. Cresceram muito desde o seu inocente início. E crescer tanto, o que muitas vezes se esquece, eleva a fasquia. Por vezes, a alturas que dão vertigens. Dito de outra forma, se conhecemos os Gato Fedorento por serem tipos com muita graça, é um banho de água fria quando não têm. E é esse, entenda-se bem, o meu primeiro problema com a crónica. Não lhe acho graça. Não por (aparentemente) se tratar de humor negro, que com esse posso bem, aprecio e pratico. Só que não o tem quem quer. Não sei o que se passa nem quero saber, se José Diogo Quintela tem algum tipo de amargura pelo voo para outras altitudes que fez, merecidamente, Ricardo Araújo Pereira. Não sei se caiu no clássico “vou fazê-los falar de mim, dê por onde der”. A crónica tem um problema: quer provar alhos exibindo bugalhos. Aquela algaraviada muito cínica-negra-mas-de-dedo-na-ferida, que segundo os defensores de Quintela queria criticar o Estado e defender as crianças com cancro, da forma como estava escrita limitou-se, sim, a magoar as crianças com cancro e as famílias. Se era tudo uma ironia, era daquelas que dão a volta. São tanto, tanto, que mordem o rabo. E falham o alvo.

Marcos Borga

1 - A manchete do “Expresso” é uma vergonha. Não a manchete, claro, entendamo-nos, o que ela nos revela. Está na altura de o dizer com todas as letras: uma vergonha. Vamos ter de atingir um ponto de revolta séria. São já demasiadas historietas de políticos pequenos e maiorzinhos que sem qualquer pudor arranjam, uma vez dentro do sistema, pequenos subterfúgios para jogar com as leis, pequenas ou maiores, sempre com o mesmo objectivo: ganharem ou pouparem dinheiro à conta do Estado, que é como quem diz, à custa do contribuinte. E começamos a ver, ou a confirmar, que o gosto pelo sistema é transversal. Portanto, um número considerável de deputados das ilhas que trabalham em Lisboa vão buscar reembolsos para pagar viagens que, afinal, nunca chegaram a pagar. Há vários nomes, mais ou menos conhecidos, e de uns sabe-se perfeitamente que valem tanto como o ar do tempo, hoje estão, amanhã não. Mas causa-me estranheza, para não utilizar outras palavras, que o nome de topo da lista seja o de Carlos César, histórico de um partido que volta e meia governa, Carlos César que é hoje a maior figura do partido, logo abaixo do primeiro-ministro. Conhecemo-lo porque... sempre o conhecemos. Faz parte do sistema desde sempre, e dá sinais de assim continuar. No topo, de uma maneira ou outra. Acontece que o topo é, ou deveria ser, o lugar de responsabilidade mais limpa e cristalina. É muito triste esta notícia que nos diz que muitos deputados, com o histórico socialista à cabeça, andam, conscientemente, a receber o que não poderiam receber, a César o que não lhe pertence. Sobretudo porque se sabe bem quem é que paga, basta olharmos para os nossos impostos.

Pedro Jorge Melo

2 - Anda por aí enorme zumzum por causa de uma crónica de jornal. Diz-se que “incendiou” as redes sociais. É sempre de desconfiar. De uma e outra coisa. Primeiro, dos que se apressam a gritar que isto e aquilo incendiou, quando muitas vezes só chamuscou, andou entre meia dúzia de amigos que se julgam o centro do universo, ou pelo menos líderes de opinião. Depois, a verdade é que hoje qualquer coisa ofende qualquer pessoa. Dito isto, que aplico à maioria dos casos, fui ler a crónica e interessa-me pouco se incendiou ou não. Não lhe achei piada. E sempre foi este (imagine-se) o meu problema com as tentativas de fazer humor: gosto que tenham piada. Havia uma responsabilidade acrescida, já que a crónica era assinada por um dos membros fundadores de um quarteto que marcou a última década, Gato Fedorento. Cresceram muito desde o seu inocente início. E crescer tanto, o que muitas vezes se esquece, eleva a fasquia. Por vezes, a alturas que dão vertigens. Dito de outra forma, se conhecemos os Gato Fedorento por serem tipos com muita graça, é um banho de água fria quando não têm. E é esse, entenda-se bem, o meu primeiro problema com a crónica. Não lhe acho graça. Não por (aparentemente) se tratar de humor negro, que com esse posso bem, aprecio e pratico. Só que não o tem quem quer. Não sei o que se passa nem quero saber, se José Diogo Quintela tem algum tipo de amargura pelo voo para outras altitudes que fez, merecidamente, Ricardo Araújo Pereira. Não sei se caiu no clássico “vou fazê-los falar de mim, dê por onde der”. A crónica tem um problema: quer provar alhos exibindo bugalhos. Aquela algaraviada muito cínica-negra-mas-de-dedo-na-ferida, que segundo os defensores de Quintela queria criticar o Estado e defender as crianças com cancro, da forma como estava escrita limitou-se, sim, a magoar as crianças com cancro e as famílias. Se era tudo uma ironia, era daquelas que dão a volta. São tanto, tanto, que mordem o rabo. E falham o alvo.

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