CTT. “Já há carteiros a fazer o trabalho de três”

20-12-2017
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A redução de mil trabalhadores nos CTT até 2020, leva o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações a afirmar que se essa vontade se concretizar “mais vale fecharem a porta”.

Os CTT querem cortar 800 postos de trabalho nos próximos três anos. É um dos pontos do plano de redução de custos, consequência da queda do tráfego do correio, confirmado num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O grupo emprega um total de 6.700 pessoas (6.200 efectivos e 500 contratados a termo). Para este ano, e já em curso, está a eliminação de 200 postos de trabalho o que redundará numa poupança entre cinco e seis milhões de euros.

“Entendemos que a Comissão Executiva dos CTT quer encerrar os serviços postais, ficar com o banco com a marca CTT e ficar com o que resta do património”, alerta à Renascença o dirigente sindical José Oliveira.

“Nesta altura, já temos carteiros a fazer o serviço de três. Já temos gente nas estações de correio a trabalhar fora de horas e muitas vezes sem gente para executar as funções”, alerta o dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações.

O sindicalista diz que ainda assim que o anuncio não os apanhou de surpresa. “São despedimentos e a Comissão Executiva tem designado isto como acordos amigáveis. Não eram assim tão amigáveis porque as entrevistas não eram assim tão amigáveis”, defende.

Para já os trabalhadores têm uma greve marcada para amanhã e sexta-feira, e José Oliveira vê este anúncio e a escolha do momento como uma forma de pressão para os trabalhadores.

O sindicalista afirma ainda que a criação do banco postal, para onde estão a ser canalizados a maior parte dos investimentos, deixa a descoberto a prestação do serviço público que estão obrigados a fazer.

“Basta entrar numa estação de correio que tem o banco postal, e chegam a passar duas horas à espera e ao lado está o balcão do banco todo bonito”, ilustra.

José Oliveira afirma que já há zonas do país onde o carteiro só vai uma vez por semana. “A qualidade do serviço está a cair muito”, considera.

“A redução do pessoal foi feita em número muito superior à percentagem da quebra do serviço”, explica.

O sindicalista avança ainda que a qualidade do serviço está a decrescer ao mesmo tempo que fica mais caro. “As franquias têm subido, algumas delas a 100%, coisa que nuca foi permitido quando a empresa foi pública”, invoca.

Acresce ainda que “o giro de distribuição está a ser feito por agenciado que põe a nossa porta pessoas que não sabemos de onde vêm. O trabalhador dos CTT sabemos quem é e está identificado, a partir do momento em que é agenciado põe lá quem quiser.”

O sindicato afecto à CGTP aponta ainda para as falhas que o serviço terá nas regiões do interior. “Vamos dizer à senhora que vive me Trás-os-Montes que utilize o seu computador? Ela que nem sabe onde o há-de ligar? Ela precisa das cartas”, reitera.

“Vamos pedir aos cidadãos que prescindam de um serviço que lhes chega à porta, estamos a falar de todo o interior do país. Dói ver como o interior tem sido descapitalizado em relação ao serviço”, remata.

PSD e CDS querem qualidade pública ou privada

PSD e CDS-PP defenderam esta quarta-feira que o essencial é garantir a qualidade do serviço prestado pelos CTT, independentemente da natureza pública ou privada da empresa, e questionaram a atuação do Governo nos últimos dois anos.

O vice-presidente da bancada do PSD Luís Leite Ramos disse aguardar pelas audições aprovadas na comissão parlamentar de Economia para perceber se este plano "põe em causa aquilo que está acordado no âmbito do contrato de concessão do serviço postal universal".

"Saber se a empresa é pública ou privada não é o que interessa neste momento, o que interessa é a qualidade do serviço", defendeu o deputado do PSD, remetendo para o fim do contrato de concessão, em 2020, a avaliação pelo governo que estiver em funções se este deve ser ou não prolongado.

Na mesma linha, o deputado do CDS-PP Hélder Amaral recusou centrar a discussão na "natureza da empresa", apontando no setor dos transportes vários exemplos de "péssimos serviços" prestados por entidades públicas.

"Há um contrato de concessão que é claro sobre as obrigações da empresa em termos de prestação do serviço público. Para nós, esse contrato tem regras muito claras e o Governo e a Anacom têm obrigação de fazer cumprir esse contrato", afirmou, sublinhando que o CDS-PP entende que o contrato "não deve sequer ser cumprido pelos mínimos".

PS pondera e esquerda quer reversão

O PS defendeu a avaliação ponderada da situação dos CTT, enquanto bloquistas, comunistas e ecologistas exigiram a reversão da privatização da empresa de serviço postal-

Em declarações aos jornalistas no parlamento, os representantes dos vários partidos expressaram preocupação relativamente ao futuro da empresa, originalmente "Correios, Telégrafos e Telefones", e dos seus trabalhadores.

"A situação laboral é em si mesma um problema, mas coloca outros. Não é possível cumprir o contrato de concessão e integralmente o serviço público cortando de forma massiva nos trabalhadores, aqueles que prestam esse serviço. O PS quer ouvir no parlamento as partes", afirmou o deputado socialista Tiago Brandão Ribeiro.

O deputado do BE José Soeiro classificou o processo de privatização conduzido pelo Governo PSD/CDS-PP como "uma tragédia do ponto de vista económico e político", pois "a empresa alienou património, tem muito menos trabalhadores e um grau de incumprimento do serviço público e obrigações a que está obrigada pelo contrato de concessão que já levou a [reguladora] ANACOM a passar multas".

"O projeto agora anunciado agrava e radicaliza o processo de degradação e desmantelamento da empresa. Com menos 800 trabalhadores como é possível cumprirem as obrigações que, hoje, já não cumprem com os trabalhadores que têm?", questionou o bloquista, alertando para o facto de os CTT, "todos os anos", distribuírem "mais dividendos [10 milhões de euros, em 2016] do que o resultado líquido da empresa".

"Os produtos que são comprados pela Internet não vêm pela Internet, vêm pelo correio", declarou também o comunista Bruno Dias, acrescentando que "o que está a acontecer é um ataque e desmantelamento do serviço público postal que é entendido por esta gestão privada dos Correios não como o objetivo principal e razão de ser da empresa, mas como um obstáculo à realização de mais lucros, rendimentos e mais-valias"

Segundo Bruno Dias, "quem está a mais nos CTT não são os trabalhadores", mas antes "estes grupos económicos que se apoderaram daquilo que deve ser de todos".

"É urgente o país arrepiar caminho e assumir do ponto de vista político a necessidade de voltar a ter a empresa na gestão pública e ao serviço do país", disse, relatando casos de cartas ou faturas "com três semanas de atraso quando há 30 anos demorava três dias" ou de distribuição de correspondência somente uma vez por semana em certas regiões.

A redução de mil trabalhadores nos CTT até 2020, leva o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações a afirmar que se essa vontade se concretizar “mais vale fecharem a porta”.

Os CTT querem cortar 800 postos de trabalho nos próximos três anos. É um dos pontos do plano de redução de custos, consequência da queda do tráfego do correio, confirmado num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O grupo emprega um total de 6.700 pessoas (6.200 efectivos e 500 contratados a termo). Para este ano, e já em curso, está a eliminação de 200 postos de trabalho o que redundará numa poupança entre cinco e seis milhões de euros.

“Entendemos que a Comissão Executiva dos CTT quer encerrar os serviços postais, ficar com o banco com a marca CTT e ficar com o que resta do património”, alerta à Renascença o dirigente sindical José Oliveira.

“Nesta altura, já temos carteiros a fazer o serviço de três. Já temos gente nas estações de correio a trabalhar fora de horas e muitas vezes sem gente para executar as funções”, alerta o dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações.

O sindicalista diz que ainda assim que o anuncio não os apanhou de surpresa. “São despedimentos e a Comissão Executiva tem designado isto como acordos amigáveis. Não eram assim tão amigáveis porque as entrevistas não eram assim tão amigáveis”, defende.

Para já os trabalhadores têm uma greve marcada para amanhã e sexta-feira, e José Oliveira vê este anúncio e a escolha do momento como uma forma de pressão para os trabalhadores.

O sindicalista afirma ainda que a criação do banco postal, para onde estão a ser canalizados a maior parte dos investimentos, deixa a descoberto a prestação do serviço público que estão obrigados a fazer.

“Basta entrar numa estação de correio que tem o banco postal, e chegam a passar duas horas à espera e ao lado está o balcão do banco todo bonito”, ilustra.

José Oliveira afirma que já há zonas do país onde o carteiro só vai uma vez por semana. “A qualidade do serviço está a cair muito”, considera.

“A redução do pessoal foi feita em número muito superior à percentagem da quebra do serviço”, explica.

O sindicalista avança ainda que a qualidade do serviço está a decrescer ao mesmo tempo que fica mais caro. “As franquias têm subido, algumas delas a 100%, coisa que nuca foi permitido quando a empresa foi pública”, invoca.

Acresce ainda que “o giro de distribuição está a ser feito por agenciado que põe a nossa porta pessoas que não sabemos de onde vêm. O trabalhador dos CTT sabemos quem é e está identificado, a partir do momento em que é agenciado põe lá quem quiser.”

O sindicato afecto à CGTP aponta ainda para as falhas que o serviço terá nas regiões do interior. “Vamos dizer à senhora que vive me Trás-os-Montes que utilize o seu computador? Ela que nem sabe onde o há-de ligar? Ela precisa das cartas”, reitera.

“Vamos pedir aos cidadãos que prescindam de um serviço que lhes chega à porta, estamos a falar de todo o interior do país. Dói ver como o interior tem sido descapitalizado em relação ao serviço”, remata.

PSD e CDS querem qualidade pública ou privada

PSD e CDS-PP defenderam esta quarta-feira que o essencial é garantir a qualidade do serviço prestado pelos CTT, independentemente da natureza pública ou privada da empresa, e questionaram a atuação do Governo nos últimos dois anos.

O vice-presidente da bancada do PSD Luís Leite Ramos disse aguardar pelas audições aprovadas na comissão parlamentar de Economia para perceber se este plano "põe em causa aquilo que está acordado no âmbito do contrato de concessão do serviço postal universal".

"Saber se a empresa é pública ou privada não é o que interessa neste momento, o que interessa é a qualidade do serviço", defendeu o deputado do PSD, remetendo para o fim do contrato de concessão, em 2020, a avaliação pelo governo que estiver em funções se este deve ser ou não prolongado.

Na mesma linha, o deputado do CDS-PP Hélder Amaral recusou centrar a discussão na "natureza da empresa", apontando no setor dos transportes vários exemplos de "péssimos serviços" prestados por entidades públicas.

"Há um contrato de concessão que é claro sobre as obrigações da empresa em termos de prestação do serviço público. Para nós, esse contrato tem regras muito claras e o Governo e a Anacom têm obrigação de fazer cumprir esse contrato", afirmou, sublinhando que o CDS-PP entende que o contrato "não deve sequer ser cumprido pelos mínimos".

PS pondera e esquerda quer reversão

O PS defendeu a avaliação ponderada da situação dos CTT, enquanto bloquistas, comunistas e ecologistas exigiram a reversão da privatização da empresa de serviço postal-

Em declarações aos jornalistas no parlamento, os representantes dos vários partidos expressaram preocupação relativamente ao futuro da empresa, originalmente "Correios, Telégrafos e Telefones", e dos seus trabalhadores.

"A situação laboral é em si mesma um problema, mas coloca outros. Não é possível cumprir o contrato de concessão e integralmente o serviço público cortando de forma massiva nos trabalhadores, aqueles que prestam esse serviço. O PS quer ouvir no parlamento as partes", afirmou o deputado socialista Tiago Brandão Ribeiro.

O deputado do BE José Soeiro classificou o processo de privatização conduzido pelo Governo PSD/CDS-PP como "uma tragédia do ponto de vista económico e político", pois "a empresa alienou património, tem muito menos trabalhadores e um grau de incumprimento do serviço público e obrigações a que está obrigada pelo contrato de concessão que já levou a [reguladora] ANACOM a passar multas".

"O projeto agora anunciado agrava e radicaliza o processo de degradação e desmantelamento da empresa. Com menos 800 trabalhadores como é possível cumprirem as obrigações que, hoje, já não cumprem com os trabalhadores que têm?", questionou o bloquista, alertando para o facto de os CTT, "todos os anos", distribuírem "mais dividendos [10 milhões de euros, em 2016] do que o resultado líquido da empresa".

"Os produtos que são comprados pela Internet não vêm pela Internet, vêm pelo correio", declarou também o comunista Bruno Dias, acrescentando que "o que está a acontecer é um ataque e desmantelamento do serviço público postal que é entendido por esta gestão privada dos Correios não como o objetivo principal e razão de ser da empresa, mas como um obstáculo à realização de mais lucros, rendimentos e mais-valias"

Segundo Bruno Dias, "quem está a mais nos CTT não são os trabalhadores", mas antes "estes grupos económicos que se apoderaram daquilo que deve ser de todos".

"É urgente o país arrepiar caminho e assumir do ponto de vista político a necessidade de voltar a ter a empresa na gestão pública e ao serviço do país", disse, relatando casos de cartas ou faturas "com três semanas de atraso quando há 30 anos demorava três dias" ou de distribuição de correspondência somente uma vez por semana em certas regiões.

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