Direção do CDS recusa classificar Vox como extrema-direita

22-05-2019
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Os títulos começaram a multiplicar-se nos sites noticiosos no domingo de manhã. Uma entrevista feita pela Lusa ao cabeça de lista do CDS às eleições europeias, Nuno Melo, trazia um destaque controverso: o candidato - e atual eurodeputado - referia-se ao espanhol Vox como um partido de direita, mas não de extrema-direita, comparando-o ao Aliança de Pedro Santana Lopes e considerando que teria lugar na família política europeia do CDS e do PSD: o Partido Popular Europeu. O rastilho pegou e, no dia seguinte, Paulo Rangel já aproveitava o tema para atacar o adversário do mesmo campo político. Assunção Cristas guardava silêncio e nem Adolfo Mesquita Nunes ou Pedro Mota Soares (número dois da lista) assumiram aquele termo ao Expresso.

Os dias foram de alguma desorientação no partido: não há uma resposta única sobre se a posição de Nuno Melo reflete a posição oficial do partido e multiplicam-se as comparações com o também espanhol Podemos e a extrema-esquerda, que os centristas dizem ser alvo de maior benevolência. Finalmente, esta segunda-feira, Assunção Cristas falou sobre o assunto - mas foi para recusar "qualificar partidos", deixando assim por esclarecer se subscreve ou não a posição de Nuno Melo e se considera o partido de Santiago Abascal extremista. Contactado pelo Expresso, Pedro Mota Soares remeteu para as declarações da presidente do CDS. Na prática, mais silêncio.

A líder só acrescentou um comentário à sua recusa em comentar as declarações de Melo: "Há critérios diferentes à esquerda e à direita", defendeu Cristas. Mas a resposta vaga da presidente pode ser vista com estranheza, tendo em conta que a atual direção se tem distinguido precisamente por ter recentrado o partido - há mesmo causas que têm sobretudo a ver com a chamada agenda fraturante, como as quotas para mulheres, em que Cristas tem ido abertamente contra a opinião maioritária do seu partido.

Vox está "muito mais à direita" do que o CDS

Então, o que justifica este silêncio? As opiniões não são consensuais: se a ala mais à direita defende a posição de Nuno Melo, fontes mais próximas da direção recusam contrariar diretamente o seu candidato, mas assumem que o Vox é "muito mais à direita" do que o CDS, cujo partido irmão em Espanha será o Partido Popular (PP) - que já começou a classificar o Vox como extremista. A nova formação nascida na Andaluzia caracteriza-se por posições duras relativas à imigração e defende a revogação da lei contra a violência de género.

A posição da ala mais progressista do partido poderá ficar mais clara tendo em conta o artigo que o ex-vice presidente e conselheiro de Assunção Cristas, Adolfo Mesquita Nunes, publicou esta terça-feira no "Jornal de Negócios", um texto em tom muito crítico, em que carateriza as posições do "Vox" como "propositadamente equívocas" mas, ainda assim, defende que seria um erro chamar ao partido extremista. Porquê? Em resumo, Mesquita Nunes argumenta que se estaria a alienar os milhões de eleitores que ali depositaram os seus votos, motivados por problemas como a corrupção e o independentismo catalão e não propriamente por serem de direita radical.

Assim, e mesmo na ala mais liberal do CDS, não há quem assuma para o Vox o rótulo de extrema-direita. E o PSD já veio aproveitar o espaço vazio para se distinguir. Logo na segunda-feira, o cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, considerou que "não há qualquer dúvida" sobre a natureza extremista do Vox, apontando como exemplos a sua "ideologia marcadamente nacionalista” e o programa “discriminatório” em relação às mulheres para argumentar que este, a ser eleito para o Parlamento Europeu, não terá lugar no PPE.

Schengen, feminismo e Islão

Na entrevista que deu azo a toda a polémica, Nuno Melo aconselhava quem cataloga o Vox como um partido de extrema-direita a "ler o programa do Vox", defendendo que o partido tem uma agenda política coincidente com a do PP, com mais ênfase na defesa de tradições como a tauromaquia e a caça. Mas há muito mais nas cem medidas que o partido de Abascal apresentou e que mostram uma posição muito dura em relação à imigração e à circulação na Europa, críticas ao Islão e ao feminismo e propostas que alteram o sistema de subvenções aos partidos.

Nesse elenco de propostas, encontram-se exemplos como a proibição "para a vida" de se legalizar a situação dos imigrantes que entrem ilegalmente; as quotas de imigração para nacionalidades que "partilhem idioma e laços de amizade e cultura" com Espanha; o fecho de "mesquitas fundamentalistas"; a construção de um "muro intransponível" em Ceuta e Melilla; a exclusão do ensino do Islão da escola pública; a suspensão do espaço Schegen "até haver a garantia europeia de que os criminosos não o usarão para fugir da Justiça"; a revogação da lei contra a violência de género (por se considerar discriminatória para os homens) ou o fim das subvenções públicas para os partidos. Fora as medidas concretas, há outros sinais que colam o Vox à extrema-direita: ainda na semana passada, no comício que fechou a campanha eleitoral das legislativas (em que o Vox conseguiu 10,75% dos votos, o que se traduz em 24 deputados), os apoiantes de Abascal cantavam sem pudores o hino franquista da Legião Espanhola: "El novio de la muerte".

Os títulos começaram a multiplicar-se nos sites noticiosos no domingo de manhã. Uma entrevista feita pela Lusa ao cabeça de lista do CDS às eleições europeias, Nuno Melo, trazia um destaque controverso: o candidato - e atual eurodeputado - referia-se ao espanhol Vox como um partido de direita, mas não de extrema-direita, comparando-o ao Aliança de Pedro Santana Lopes e considerando que teria lugar na família política europeia do CDS e do PSD: o Partido Popular Europeu. O rastilho pegou e, no dia seguinte, Paulo Rangel já aproveitava o tema para atacar o adversário do mesmo campo político. Assunção Cristas guardava silêncio e nem Adolfo Mesquita Nunes ou Pedro Mota Soares (número dois da lista) assumiram aquele termo ao Expresso.

Os dias foram de alguma desorientação no partido: não há uma resposta única sobre se a posição de Nuno Melo reflete a posição oficial do partido e multiplicam-se as comparações com o também espanhol Podemos e a extrema-esquerda, que os centristas dizem ser alvo de maior benevolência. Finalmente, esta segunda-feira, Assunção Cristas falou sobre o assunto - mas foi para recusar "qualificar partidos", deixando assim por esclarecer se subscreve ou não a posição de Nuno Melo e se considera o partido de Santiago Abascal extremista. Contactado pelo Expresso, Pedro Mota Soares remeteu para as declarações da presidente do CDS. Na prática, mais silêncio.

A líder só acrescentou um comentário à sua recusa em comentar as declarações de Melo: "Há critérios diferentes à esquerda e à direita", defendeu Cristas. Mas a resposta vaga da presidente pode ser vista com estranheza, tendo em conta que a atual direção se tem distinguido precisamente por ter recentrado o partido - há mesmo causas que têm sobretudo a ver com a chamada agenda fraturante, como as quotas para mulheres, em que Cristas tem ido abertamente contra a opinião maioritária do seu partido.

Vox está "muito mais à direita" do que o CDS

Então, o que justifica este silêncio? As opiniões não são consensuais: se a ala mais à direita defende a posição de Nuno Melo, fontes mais próximas da direção recusam contrariar diretamente o seu candidato, mas assumem que o Vox é "muito mais à direita" do que o CDS, cujo partido irmão em Espanha será o Partido Popular (PP) - que já começou a classificar o Vox como extremista. A nova formação nascida na Andaluzia caracteriza-se por posições duras relativas à imigração e defende a revogação da lei contra a violência de género.

A posição da ala mais progressista do partido poderá ficar mais clara tendo em conta o artigo que o ex-vice presidente e conselheiro de Assunção Cristas, Adolfo Mesquita Nunes, publicou esta terça-feira no "Jornal de Negócios", um texto em tom muito crítico, em que carateriza as posições do "Vox" como "propositadamente equívocas" mas, ainda assim, defende que seria um erro chamar ao partido extremista. Porquê? Em resumo, Mesquita Nunes argumenta que se estaria a alienar os milhões de eleitores que ali depositaram os seus votos, motivados por problemas como a corrupção e o independentismo catalão e não propriamente por serem de direita radical.

Assim, e mesmo na ala mais liberal do CDS, não há quem assuma para o Vox o rótulo de extrema-direita. E o PSD já veio aproveitar o espaço vazio para se distinguir. Logo na segunda-feira, o cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, considerou que "não há qualquer dúvida" sobre a natureza extremista do Vox, apontando como exemplos a sua "ideologia marcadamente nacionalista” e o programa “discriminatório” em relação às mulheres para argumentar que este, a ser eleito para o Parlamento Europeu, não terá lugar no PPE.

Schengen, feminismo e Islão

Na entrevista que deu azo a toda a polémica, Nuno Melo aconselhava quem cataloga o Vox como um partido de extrema-direita a "ler o programa do Vox", defendendo que o partido tem uma agenda política coincidente com a do PP, com mais ênfase na defesa de tradições como a tauromaquia e a caça. Mas há muito mais nas cem medidas que o partido de Abascal apresentou e que mostram uma posição muito dura em relação à imigração e à circulação na Europa, críticas ao Islão e ao feminismo e propostas que alteram o sistema de subvenções aos partidos.

Nesse elenco de propostas, encontram-se exemplos como a proibição "para a vida" de se legalizar a situação dos imigrantes que entrem ilegalmente; as quotas de imigração para nacionalidades que "partilhem idioma e laços de amizade e cultura" com Espanha; o fecho de "mesquitas fundamentalistas"; a construção de um "muro intransponível" em Ceuta e Melilla; a exclusão do ensino do Islão da escola pública; a suspensão do espaço Schegen "até haver a garantia europeia de que os criminosos não o usarão para fugir da Justiça"; a revogação da lei contra a violência de género (por se considerar discriminatória para os homens) ou o fim das subvenções públicas para os partidos. Fora as medidas concretas, há outros sinais que colam o Vox à extrema-direita: ainda na semana passada, no comício que fechou a campanha eleitoral das legislativas (em que o Vox conseguiu 10,75% dos votos, o que se traduz em 24 deputados), os apoiantes de Abascal cantavam sem pudores o hino franquista da Legião Espanhola: "El novio de la muerte".

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